Massilon Leite
Por Honório de Medeiros
Não há dúvida quanto a Jesuíno Brilhante ter nascido no Rio Grande do Norte. Tanto Raul Fernandes, em “A Marcha de Lampião”, quanto Frederico Pernambucano de Mello, em “Guerreiros do Sol”, mencionam seu nascimento em Patu; outros escreveram mais longamente acerca do “cangaceiro romântico”, que tirava dos ricos para dar aos pobres e casava moças desonradas, inclusive Raimundo Nonato, autor de obra homônima editada pela Pongetti em 1970. Jesuíno até filme mereceu, em 1972.
Quanto a Massilon, a história é outra. Pernambucano de Mello, reputado como uma das maiores autoridades do Brasil em cangaço diz que Massilon nasceu Luis Gomes, Rio Grande do Norte, mas Raul Fernandes, em obra citada, afirma que o cangaceiro veio ao mundo em Patos, na Paraíba, tendo seu pai se mudado, tempos depois, para Luis Gomes, mais especificamente para o Sítio “Japão”, nas raízes da serra, caso em que, estando certo o filho de Rodolfo Fernandes, herói da resistência mossoroense a Lampião, o Rio Grande do Norte somente teve, então, um cangaceiro nele originado.
Massilon começa a despertar curiosidade a partir do nome. Raul Fernandes cognomina-o de “Benevides ou Massilon”, Massilon Leite; Pernambucano de Mello vai pelo mesmo caminho: “Massilon Leite, o Benevides”. Há quem diga, no entanto, que ele era da família Diógenes, do Jaguaribe, Ceará. Talvez seja coincidência, mas um dos maiores escritores sacros da igreja católica foi Jean Baptiste Massilon (1663-1724). Algum padre de cultura avantajada, perdido nos ermos do Sertão, teria resolvido homenagear o orador que estudara no seminário, batizando o menino com esse nome? Tudo é possível.
Uma das lendas que envolvem Massilon está a de que sendo tropeiro, viajante das estradas que vão de Luis Gomes para Mossoró, teria visto a filha de Rodolfo Fernandes, Julieta, e por ela se apaixonado, razão pela qual, mesmo conhecendo todas as ruas e becos da cidade e, portanto, seu tamanho e importância, não teria hesitado em convencer Lampião da viabilidade do assédio: o que ele queria era rapta-la. Raul Fernandes, nem qualquer outro estudioso do cangaço mencionam essa hipótese, mas a lenda existe.
Com o fracasso do ataque a Mossoró Massilon foi embora para o Piauí no início de 1928 e dele nunca mais a história ouviu falar. Mas mesmo essa informação é controversa. Alguns dizem que ele teria ido embora para o Mato Grosso e que voltara, sim, algumas vezes para visitar sua família muito tempo depois. O resto é silêncio. Curiosamente nunca qualquer historiador norteriograndense tentou encontrar familiares do cangaceiro em Luis Gomes ou mesmo na Paraíba. Se existirem talvez pudessem esclarecer algumas dúvidas em relação à Massilon que, entre outras coisas, notabilizou-se por não aceitar tortura as vítimas suas e dos seus companheiros. Childerico Fernandes e sua esposa, Dna. Bebela, que receberam Lampião e seu bando fugindo de Mossoró na fazenda “Veneza”, no relato de Raul Fernandes, dizem que ele os protegeu várias vezes tendo se queixado, inclusive, que não era bandido e que pretendia deixar o cangaço tão logo chegasse ao Ceará. Tudo indica que, de fato, ele fez isso mesmo...
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