sexta-feira, 23 de setembro de 2016

UMA JUÍZA CRITICA A MERITOCRACIA

* Honório de Medeiros


Li um texto de uma juíza chamada Fernanda Orsomarzo acerca de meritocracia e condição social que me chamou a atenção. Você pode lê-lo em http://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/juiza-paranaense-fernanda-orsomarzo-viraliza-ao-criticar-meritocracia/.


Fernanda Orsomarzo critica a meritocracia a partir de uma constatação óbvia e de uma conclusão ingênua.


A constatação é a de que saiu na frente de outras pessoas que gostariam de ser juízes, por ser branca, classe média, ter estudado em colégios particulares, falar inglês, com pais participativos, etc, etc...

A conclusão é a de que, portanto, condenemos a meritocracia, porque naturaliza a pobreza, normaliza a desigualdade social e produz esquecimento.

Acabemos, pois, conclui-se da leitura do texto, com a idéia de mérito, posto que ela é injusta. Somente seria justa, se e somente se, as condições de competição fossem iguais para todos.

Agora cabe perguntar: e como obteríamos essas condições iguais para todos? A doutora não nos diz. Mas supondo que as condições fossem iguais para todos, como a escolha seria feita? Quero crer que pelo mérito, claro.

Então o problema não é o mérito em si, mas a pobreza, a desigualdade social, e o esquecimento pelo Estado.

Ao invés de atacar o mérito que levou a Doutora a ser escolhida entre iguais (ou não?), deveriam ser atacadas as condições que o impedem de ser justo, digamos assim.

Quero crer que apesar dos pesares, dentre os concorrentes no concurso que a Doutora prestou o mérito nos proporcionou o melhor. E nós não conhecemos uma outra forma de conseguir esse resultado.

Até por uma razão muito simples: mantida essa premissa da qual parte o raciocínio da juíza, não teríamos eleições, pois é inegável que muitos candidatos saem na frente de outros, no que concerne até mesmo à capacidade de articular suas idéias de forma a torná-las mais persuasivas, em decorrência da educação que receberam. Se não há condições iguais de concorrer, não pode haver mérito; e se houver mérito, perpetua-se o poder daqueles que por uma ou outra razão, similar a aquelas das quais fez uso a Doutora em seu concurso, partiram na frente.

E a quem entregaríamos a responsabilidade da escolha dos nossos juízes, dos nossos dirigentes, se não houver concurso e eleição? Aos mais preparados? E quem tem mérito para fazer tal escolha? A igreja? O partido? A revolução?

A mim me parece que ao invés de condenar a arma, a Doutora deveria ter condenado quem a utilizou.

COMO SURGE UMA MUDANÇA?

* Honório de Medeiros

Como surge uma nova seita religiosa em uma região qualquer? Que questões foram levadas em consideração pelos seus criadores para optar por essa região? Aparentemente um deles, preponderante, foi não existir, na região, outra igreja da mesma seita. Ou, mesmo, qualquer tipo de igreja ou seita.

Como surge uma célula de venda de drogas em uma região qualquer? Que questões foram levadas em consideração por seus criadores para optar por essa região? Aparentemente um deles, preponderante, foi não existir, na região, outra célula da mesma organização criminosa. Ou, mesmo, qualquer tipo de organização criminosa.

Levando em consideração a história da ocupação do Oeste americano ou dos Sertões brasileiros, como surgiu a ideia de ocupá-los? Quais fatores foram levados em consideração para que essa ideia surgisse? Um deles, preponderante, é o fato de que a região estava disponível para a ocupação, dada a fragilidade daqueles que lá estavam.

Pensemos, então, em vírus e bactérias. Em vendedores ambulantes, na expansão da área urbana, nos vírus de computador. Nos políticos. Seguem eles o mesmo padrão? Aparentemente seguem.

Aqui não se elege como objeto a ser analisado a natureza moral do "alvo", "meta", a ser alcançada. Trata-se de chamar a atenção para o "como" acontece o desenrolar do processo de expansão de um determinado sistema.

A lógica é a mesma, o padrão é o mesmo. Constatar esse padrão é uma decorrência natural de um processo lógico de natureza indutiva.  Melhor: de uma intuição, um "insight" testável cujos testes, à nossa disposição para uma pesquisa até mesmo mediana, parecem corroborá-las.

Ou seja, todo sistema tende à própria expansão. Sub-sistemas tendem à expansão dentro do sistema, utilizando o mesmo padrão. Todos eles buscam o "espaço vazio". Ou atacam sistemas ou sub-sistemas mais frágeis, para ocupar seu espaço. Tal conclusão não é nenhuma novidade. É esse padrão que a Lei da Seleção Natural descreve.

A pergunta que se faz, agora, é a seguinte: o que leva o "sistema" a se expandir, a atacar? E, como corolário: essa "motivação" é intrínseca ou extrínseca aos agentes da expansão? Será intrínseca ao sistema ou sub-sistema e extrínseca ao espaço vazio ou frágil a ser ocupado?

terça-feira, 20 de setembro de 2016

AS FASES DA VIDA

*Honório de Medeiros

Até certo momento da vida nossa luta é para ser conforme a tribo, o grupo; depois, a luta será para estabelecermos diferença entre nós e esse grupo, a tribo; um pouco mais para a frente nós nos abrimos para percebermos aquilo que, nos outros, é único, e esse único nos atrai ou  nos causa repulsa ou indiferença; se nos atrai, fomos fisgados. Se não chega esse momento no qual é preciso firmar nossa diferença para com o grupo, a tribo, então é preciso temer: há algo de errado na nossa vida, na nossa mente, na nossa alma.