quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

AQUELE BEIJO QUE EU TE DEI



Honório de Medeiros
 
O beijo que eu presenciara, entre dois adolescentes, qual a Madeleine de Proust, me remeteu para um passado distante, no qual minha memória se deleitou e se abateu com as imagens borradas de vultos que transitavam em nosso entorno, sons não identificáveis e odores misturados de perfumes e suor, enquanto sentados por sobre um batente qualquer, nós, eu e ela, de quem sequer lembro o nome, ou mesmo o rosto, exceto, apenas, o vulto esmaecido de um rosto claro, cabelos negros, lisos, cortados curtos à moda Príncipe Valente, e lábios cheios, fartos, trocamos meu primeiro beijo.

                      Dias mágicos aos quais fui conduzido pelo trem no qual meu pai, um dia, muito antes, havia sido chefe. Somente isso já valera a pena. A sensação de liberdade que a primeira viagem sozinho originou foi alimentada pelas cervejas tomadas com o amigo recém-adquirido no restaurante para o qual minha curiosidade me impeliu.  Ali meu pai trabalhara, durante muito tempo.

Na chegada, na cidadezinha onde iria haver o casamento de uma prima distante, eu me misturei com uma legião de parentes desconhecidos aos quais eu me apresentava como representante dos meus pais. Entre homem e menino, logo, logo, porém, me esqueci da missão diplomática que me havia sido confiada, e me aventurei com alguns primos por uma caminhada até uma fazenda remota na esperança de em lá chegando, saciaríamos nossa fome com mangas saborosas que embora fartamente consumidas, não resolveram o problema que somente a bondade de um morador, ao nos oferecer farinha amassada com feijão de corda e rapadura, finalmente deixou para trás. Como esquecer o sabor e o cheiro daquele almoço inesperado?

                       À noite, o casamento e, em seguida, a festa no Mercado. Lá, olhares e um convite para uma dança canhestra, logo esquecida, nos aproximou. Sentamo-nos em um batente qualquer. Pouco nos dissemos. Em um momento especial, no qual o tempo e o espaço pareciam suspensos, nos beijamos naturalmente, e o beijo teve um sabor de bala de hortelã e de algo mais que não sei descrever.

Não creio que alguém esqueça o primeiro beijo. Nunca esqueci o meu. Já na volta para minha cidade natal, no mesmo trem, eu me perguntava se algum dia ainda conseguiria encontra-la. Dentro de mim achava que não, mas nutria alguma esperança.

Não porque ansiasse por outros beijos seus, ou mesmo porque lhe tivesse algum afeto irrompido naquela noite especial. Não por que quisesse ter a saudade erótica de um corpo que a noite festiva apresentara apenas nuançado. Não se trata disso. O que eu queria era observar, até mesmo distante, de longe, e gravar para todo o sempre, e assim pudesse convocar quando desejasse a lembrança detalhada daquela bela adolescente que uma noite, na qual quase não nos falamos, me deu meu primeiro beijo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, CONCLUSÃO


Coronel Rodolpho Fernandes: a história os uniu...
 
 
Massilon: em lados opostos.
 
 
Honório de Medeiros
 
Terá sido assim que tudo aconteceu? Concretamente não se sabe. Os indícios, entretanto, estão aí, para quem quiser analisá-los, relacioná-los e descobrir o que eles formam.
 
São fortes esses indícios. São como pontos de uma malha, intersecções de uma rede, elementos possivelmente conectados formando uma unidade, aguardando que alguém consiga tirá-los da sombra e trazê-los para a luz do sol, revelando a verdade que o tempo cada vez mais condena ao esquecimento.
 
Os personagens são todos fartamente citados na literatura acerca do assunto. Uns mais, outros menos: o Coronel Rodolpho Fernandes; o Coronel Francisco Pinto; o jagunço/cangaceiro Massilon Leite; Lampião, o rei do cangaço; o Coronel Isaías Arruda; os coronéis apodienses; os coronéis paraibanos; o Governador José Augusto Bezerra de Medeiros.
 
É difícil acreditar que todas as questões levantadas e não respondidas teriam respostas circunscritas à própria causa específica que as fez surgir, sem que houvesse qualquer relação entre as mesmas que suscitasse uma conexão, uma unidade de propósitos.
 
Essa teoria, evidentemente, ainda está sob o domínio da especulação: talvez jamais venha a ser descartada ou encampada definitivamente, se não surgir algum fato novo, como alguma correspondência, algum diário, relato, guardada em baús, armários ou armazéns, em propriedades rurais ou imóveis urbanos, coberta pelo pó do tempo.
 
Há muito que pode ser dito para negar essa teoria, a de que o ataque de Lampião a Mossoró foi resultado de um complô político que visava assassinar o Cel. Rodolpho Fernandes. Tal complô, se houve, foi um dos últimos espasmos[1] do coronelismo que sob a forma pela qual ficou conhecido, ditou os rumos do Sertão nordestino, o Sertão de Lampião e Pe. Cícero, dos cantadores de viola, dos jagunços, das volantes, do final do ciclo do couro, até a chegada de Getúlio Vargas e do Estado Novo.
 
Esse coronelismo sucumbiu à presença do Estado. O coronelismo, não.
 
Então resta dizer, à guisa de conclusão, que as coisas podem não ter acontecido como descrito até agora.
 
Mas que poderia ter sido assim, isso poderia...


[1] O último mesmo, até onde se sabe, foi o assassinato do Cel. Chico Pinto, de Apodi, na famosa campanha do Partido Popular contra o Interventor Mário Câmara.

domingo, 9 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL, FELIZ ANO NOVO, FELIZ FÉRIAS!

rosasdocotidiano.blogspot.com
 
 
Eu lhes desejo, caros leitores, feliz natal, feliz ano novo e, quando for o caso, feliz férias.
Quanto a mim, é o caso.
Que Deus nos abençoe a todos, inclusive os que Nele não acreditam.
E, se possível, que mande chuva para o Sertão e juízo, muito juízo, para todos os homens!
 
Honório de Medeiros