quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O TEMPO NÃO PARA

* Honório de Medeiros

Hoje, mais que nunca, muitos recusam a aparência de sua própria idade.

Querem, à fina força, parecer jovens. 

Pintam os cabelos, lambuzam-se com cremes, fazem plásticas, entregam-se às academias, põem aparelhos nos dentes.

Fazem a alegria de cabeleireiros, esteticistas, cirurgiões-plásticos, donos de academias, dentistas... 

Não se vêem como de fato estão – simulacros.

Não se percebem como de fato são - inocentes úteis.

Cazuza estava certo: "Tuas ideias não correspondem aos fatos / O tempo não para".

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A SOLIDÃO DOS IDOSOS



* Honório de Medeiros                   

Todos os dias quando caminho vejo sentado, em uma pequena praça, um idoso solitário a olhar para o tempo.

Às vezes, ao seu lado, fica sua acompanhante, uma bela moça que o trás e o leva de volta, sempre em silêncio.

Breve restará, aos que não são jovens, esse silêncio eloquente, o murmúrio dos iguais, a palavra paga, os fragmentos empoeirados da memória.

Ou, quem sabe, apenas saber ouvir, se houver quem lhes queira falar.

domingo, 16 de outubro de 2016

DE ALGO SÓRDIDO

* Honório de Medeiros

Ao longo dos séculos o avanço do processo civilizatório se caracteriza, dentre outras conquistas, por rechaçarmos a sordidez.

Falo em reagirmos, por exemplo, ao preconceito, algo sórdido em si mesmo. Claro que não todos. Mas o processo é assim mesmo, um vir-a-ser pleno de obstáculos.

Para não deixar dúvida: os dicionários dizem que sordidez é grande sujeira, imundície. E, por metáfora, ambiente de degeneração moral.

Não tenho muita esperança em sermos, individualmente, lúcidos quanto a perceber e denunciar a sordidez, em todos seus matizes, tão logo a identifiquemos.

Às vezes estamos de tal formas submersos na lama que somos incapazes de nos dar conta daquilo que acontece ao nosso lado. Somos ou estamos alienados, por assim dizer.

Ou, por outra, sabemos que algo está acontecendo, pensamos que é sórdido, mas nos dizemos que não é conosco, é algo muito distante, passageiro, há outras questões mais importantes com as quais se preocupar, e assim por diante...

Então, é tarde demais.

Por exemplo: que tipo de "música" nossos adolescentes estão escutando, dançando, cantando? 

Prepare-se, você terá uma surpresa. Um grande sucesso entre eles é de autoria da Mc Carol. Esse "Mc" que antecede o nome da funkeira carioca, sim, nós estamos falando de funk, significa "mestre de cerimônia", e é como se fosse um título nobiliárquico.

Pois bem, e continuando: um dos grandes sucessos do funk nacional, é da autoria de Mc Carol. Título: "Liga pra SAMU".

O estribilho da "música" é o seguinte: "Liga pra SAMU / Liga pra SAMU / Ela quis transar com três / Deu hemorragia no cu."