sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

DIÁRIO DE VIAGEM

Estou no Alto Oeste.

Sediado em Pau dos Ferros, mais precisamente.

Eu e Carlos Santos fomos visitar, ontem, o jornalista Jânio Rêgo em Doutor Severiano, na sua Catingueira, onde ele se refugia, de vez em quando, dos afazeres do dia-a-dia, contemplando, até onde a vista alcança, o verde das serras que margeiam a estrada para Ereré, Ceará. Terras que foram do fidalgo de grande porte e altivez serena Seu Chico Petronilo. Conseguimos arrancar um almoço de primeira, como somente as casas-grandes do Sertão sabem fazer.

Vamos ainda a São Miguel - prentendo levar Carlos Santos até a Casa Grande dos Diógenes, em Pereiro, Ceará, uma maravilha do Século XVIII em pleno Sertão. Quem quiser saber mais acerca da Casa Grande leia "A Estranha Pereiro", aqui mesmo neste blog, um pouco mais abaixo.

Depois é visitar os amigos em Pau dos Ferros: Etelânio Figueiredo, Laércio Souza, João Batista Fontes, Maria Rêgo, Santídio Fernandes, Nilton Figueirêdo, Comadre Neli Suassuna, a família, os amigos de ontem e de hoje. Todos.

Comer a peixada de Ernandes Lima. Receber as bençãos de Áurea Lima e Dona Dulce de Queiróz.

Quem sabe encontrar José Edmilson de Hollanda pelas calçadas.

Botar as cadeiras na calçada e sorver o sereno da noite.

Depois, Martins, onde pontifica o Senhor de Cajuais, o grande François Silvestre, e o clima é ameno e a conversa corre solta. Ouvir, também, a gargalhada de Raimunda enquanto comemos a galinhada que somente ela sabe preparar. Quem sabe temos a sorte de encontrar Dona Manolita Pereira em seu chalé encantado no Sítio Canto? E poderemos, então, sorver um Porto enquanto a vista se derrama pela imensidão das serras?

Viver, enfim, cumprir essa sina com leveza e galhardia...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

DICA DE LEITURA


obookclub.files.wordpress.com

Do blog de Bárbara

http://www.barbarademedeiros.blogspot.com/

"A dica de leitura de hoje é de um livro que eu li e gostei tanto, que no meu gosto superou até o romance de Edward e Bella, em Crepúsculo. A história é muito mais romântico, se passa antigamente e depois que eu a li, a saga Crepúsculo se tornou chata. Se trata do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. É uma história que eu recomendo muitissímo, e emocionante do início ao fim. Não tem nenhum vampiro, mas nem por isso é chato. A autora sabe como prender nossa atenção do início ao fim, e nos deixar com aquele gostinho que quero mais toda vez que lemos. Espero que vocês gostem."

A ESTÁTUA


3.bp.blogspot.com

“Quem terá sido aquele?” Passávamos ao lado da praça. Pequena, retangular, sem bancos – como pode?, pensei – duas castanheiras raquíticas postas aleatoriamente, os restos algo arruinados de contornos de cimento e mosaico guardando o que outrora fora um projeto de jardim e, no centro, a estátua, ou melhor, o busto e seu olhar fixo, fitando o vazio.

“A imobilidade das estátuas me incomoda”, continuou. Propus pararmos e descobrirmos quem teria sido o homenageado. Estacionamos. Ao longe, por trás – ou pela frente? – uma pequena capela antecedida por um cruzeiro de madeira relativamente grande, postado em um pedestal também retangular de cimento. Em uma placa feita de metal barato, corroída pela ferrugem, um nome e uma data, talvez a da inauguração. Nada mais. Sobre o topo do busto excrementos dos pombos que rurulavam ao nosso redor, nitidamente incomodados com a quebra de sua rotina, compunham uma estranha e irregular coroa esbranquiçada.
“E agora?”. Apontei para algumas pessoas que passavam ao lado. “Vamos perguntar a elas”. Em vão nosso esforço. Eles bem que tentaram. Não sabiam quem tinha sido. Olharam um para o outro e arriscaram dizer que ouviram falar que fora um homem muito rico. Só.

“Agora é uma questão de honra”. Fatigamo-nos perguntando aos passantes. Nada. Sugeri irmos à Prefeitura. Pegamos o carro e fomos embora, não sem um último olhar para o busto, ou melhor, para os olhos imobilizados olhando o infinito além da realidade que o cercava, indiferente a sol, chuva, vento, poeira e cocô de pombos.

Na Prefeitura mandaram-nos logo até o chefe do arquivo-morto, um velhinho inquieto, seco, mirrado, de bigodinho fino à lá Rodolfo Valentino, tão carcomido quanto os papéis que ele guardava e com os quais se confundia de uma forma tão perfeita que nenhuma literatura conseguiria expressar. “Aquele”, perguntou, “ah, faz tempo...” “Foi um homem rico que doou terras para a construção de uns prédios para a Igreja”. “Não tem mais parentes aqui”.

“Por que não limpam o busto e colocam uma placa explicando quem ele foi?” “Bom, meu senhor, como pode ver eu sou apenas um guarda-livros. O Prefeito é outro”. “E onde ele está?” “Que eu saiba, viajando.”

Depois, a estrada. “A glória é vã, a glória é vã, a glória é vã”, repetia meu amigo, como a querer inculcar definitivamente, em seu espírito, essa concepção acerca da fatuidade da luta do homem para sobressair. A seu tempo e a seu modo, mesmo aqueles que ocuparam por um longo período a atenção dos homens terminam desconhecidos quando confrontamos aquilo que ele realmente foi com sua descrição feita pelos historiadores. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, tu és pó e ao pó retornarás”, prosseguia ele, enquanto sua cantilena confundia-se com o barulho do motor do carro, a paisagem passava rápida e nós, aos poucos, esquecíamos esse episódio que muito depois seria um borrão na nossa memória e uma crônica misto de muita fantasia, pouca realidade e alguma verdade.

CORTESIA




“Ainda sou tosco, rude, sequer conheço a cortesia e a cortesia, você sabe, dá a medida de um homem...” (“Um Sentido para a Vida”; Antoine de Saint-Exupery).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

BILHETE DE LAURENCE NÓBREGA



Bárbara

Bilhete de Laurence Nóbrega para Bárbara, depois de ler seu "O Sentido da Vida", neste blog:

"Espero que a missão de Bárbara seja bem difícil, para que ele demore muito por aqui.

Eu, quando mais moço, achava que não viveria muito, pois era o mais afoito dos filhos do meu Pai. Não morri cedo, não corri nem tornei-me herói, desmentindo Millor.

Mas acho que já resolvi tudo e aproveito para, enquanto o trem não chega, passear por esta cidade para onde me mandaram a serviço. Observo prédios e pessoas, procurando descobrir a beleza da sua arquitetura e a nobreza do seu caráter.

Faço novos e melhores amigos e, com eles, aprendo e me divirto muito.

Talvez, se vier de novo por aqui, não cometa os mesmos erros e dê mais valor ao que realmente importa. Talvez, quem sabe, novamente não seja importante, mas necessário, pelo menos para alguns.

Vida longa para Bárbara.

Laurence"

A APLICAÇÃO DO MÉTODO CIENTÍFICO NO ESTUDO DO FENÔMENO DO CANGAÇO


1.bp.blogspot.com

SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço)
Por Honório de Medeiros

01. A aplicação do método científico no estudo dos fenômenos sociais pressupõe a admissão do postulado de Émile Durkheim, qual seja o de que, para sua aplicação, fato social equivaleria a fato natural.

02. Ao próprio postulado fato social = fato natural aplica-se o método científico que o demonstra verdadeiro.

03. O método científico consiste, grosso modo, em propor teorias que sejam testáveis e, em seguida, testa-las para corroborá-las ou nega-las.

04. Se não for passível de teste a teoria formulada não pertence à ciência, e, assim, não pode ser declarada verdadeira ou falsa.

05. A implicação dessas teorias se revela até mesmo no âmbito jurídico, no que diz respeito à possibilidade de danos materiais e/ou morais (p. ex. a afirmação de que Jerônimo Rosado foi coiteiro de Lampião).

06. Revela-se, também, como vetor necessário a ser observado no que diz respeito à seriedade com a qual os pesquisadores do Cangaço devem ou deveriam querer obter da mídia e do meio acadêmico.

07. Revela-se, por fim, para afastar o pouco respeito com o qual é tratado, às vezes, o tema, ao situá-lo como algo especificamente menor ou pequeno, nordestino e folclórico, no sentido negativo dos termos. Nesse sentido não podemos confundir as afirmações feitas pela ciência, alusivas ao tema, com o tratamento a ele dado, por exemplo, pela literatura de cordel. São dimensões distintas. Quando misturadas vamos encontrar literatura querendo ser ciência e ciência que é literatura (p. ex. a comparação entre cangaceiros e samurais), ou seja, confusão que ressalta o aspecto menor, preconceituoso quanto ao nordestino, e folclórico no sentido negativo.

08. Exemplos de enunciados ou afirmações formuladas sem a devida preocupação com o método científico:

a) A afirmação de que Lampião era um estrategista militar. Basta consultar A Arte da Guerra, de Sun Tzu; O Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi; ou a obra de Carl von Clousewitz acerca da guerra e nos lembrarmos do ataque a Mossoró que essa teoria cai por terra. A suposta capacidade militar de Lampião era resultado de um misto de esperteza banal, coragem contra os fracos, corrupção e incompetência das forças policiais;

b) A afirmação de que Lampião é um produto do meio. Essa afirmação é tautológica – todos somos produto do meio. O problema é o juízo de valor que é construído a partir dessa afirmação banal. Pensemos assim: se o meio conduz à criminalidade, a favela da Rocinha inteira, com seus 100.000 habitantes, seria formada por criminosos. Lampião poderia ter fugido do crime da mesma forma como muitos fugiram sem entrar no cangaço, mesmo tendo passado pelo que ele passou;

c) A afirmação de que Lampião era um revolucionário. Esta é hilariante. Lampião voltou sua crueldade especialmente contra fracos e oprimidos. Acaso há algum episódio de luta sua contra os coronéis, inclusive aqueles que o traíram, como Zé Pereira e Isaías Arruda?

d) A afirmação de que o cangaço foi um fenômeno resultante de conflitos agrários. Esta é uma perspectiva pequena por que decorrente de outra maior – complexa e determinante – de conflitos resultantes de relações de poder. Ou seja, em uma perspectiva macro, o problema da terra foi um problema de Poder. Mas tal problema não engendra um determinismo no sentido marxista do termo. O que se quer dizer é que não há uma relação direta entre conflito por terras e cangaço, haja vista os cangaceiros que entraram no cangaço por que optaram pela vida bandida, insuflados pela aura mítica que envolvia o cangaço. É o mesmo fenômeno que leva filhos da classe média ou alta a optarem pelo banditismo;

e) A afirmação de que Lampião não morreu em Angicos. Aqui robustecemos o aspecto lendário, mítico, tipicamente artístico, em detrimento da ciência. Qual a prova acerca da possibilidade de Lampião não ter morrido em Angicos? Nenhuma. Acaso quem conheceu Lampião e viu sua cabeça decapitada não teria imediatamente denunciado a fraude caso esta tivesse existido?

f) A afirmação de que Jerônimo Rosado foi coiteiro de Lampião;

g) A afirmação de que Jerônimo Rosado é um herói da resistência mossoroense;

h) A estética do cangaço defendida por Pernambucano de Mello. A afirmação correta seria: a estética do bando de Lampião. Não há qualquer manifestação estética nos outros cangaceiros. É puro marketing;

i) A comparação entre cangaceiros e samurais;

j) A afirmação de que Lampião não era cruel, brutal, monstruoso (basta lembrar o episódio do assassinato dos soldados, um por um, com punhal, ajoelhados em sua frente, até o basta de Maria Bonita);

l) A teoria do "escudo ético", de Pernambucano de Mello;

l) A afirmação do motivo romântico de Massilon para invadir Mossoró.

09. Na verdade o estudo do fenômeno do cangaço deve avançar para um novo patamar, um novo paradigma. Esse novo paradigma é o da aplicação do método da ciência, devemos trabalhar com a análise e interpretação de todo o material existente, uma vez que provavelmente não há mais fontes primárias de pesquisa.

10. Assim, precisamos estudar a relação entre Coronelismo, feudalismo e cangaço.

11. Estudar o papel do Poder e das Forças Públicas em relação ao Cangaço.

12. Estudar o papel da Igreja em relação ao cangaço. Não somente Pe. Cícero mas aqueles lenientes com os coronéis que acoitavam. Não se trata de denunciar, mas de entender.

13. Estudar, por exemplo, o papel das forças políticas em Mossoró na época da invasão de Lampião: por que a conduta omissiva do Juiz e do Promotor da cidade quanto ao exercício de suas atribuições? Por que a conduta da Polícia matando Jararaca?

14. Por fim propor e discutir um novo conceito para cangaço, dentro de uma perspectiva científica que identifique o geral no particular e afaste, de vez, o estudo do fenômeno do cangaço do mero "contar casos".

FUNDAMENTOS DE ARTE MARCIAL APLICÁVEIS À GUERRA ELEITORAL



“Em combate, conheça o ritmo do inimigo, utilize um ritmo que ele não possa prever, perturbe-lhe o ritmo e vença” (“GAIJIN”; Marc Olden).

ENÉZIO LEITE, IRMÃO CAÇULA DE MASSILON


Enézio Leite

Fotografia de Enézio Leite quando jovem, irmão caçula de Massilon, o único dos irmãos que voltou a ver, em Imperatriz, no Maranhão, muitos anos depois da década de 20, Manuel Leite, o "Pinga-Fogo". 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"NÓS NOS OMITIMOS, CONSENTIMOS E NÃO FAZEMOS NADA!"


1.bp.blogspot.com

Deu no blog de Noblat

oglobo.globo.com/noblat

"Do leitor que se assina Oswaldo Cruz Gribel:

Noblat: você disse na sua coluna de hoje: “Só prendendo”. O grande, imenso problema do país é a falta de justiça, piso para todos os outros.
Nós, você, eu e todos, permitimos que a falta de justiça seja a vilã da Nação. Falamos em impunidade e, assim, encobrimos o verdadeiro problema.

O Brasil deve ser o país que mais pune no mundo, porém pune os inocentes. Quando um corrupto não vai para a cadeia, e o STF jamais mandou um que seja, a criança que acabou de nascer é a punida porque vai beber menos 40% de leite do que poderia para pagar imposto e eles desviarem.

O jovem com um ensino de pior qualidade, os adultos com falta de segurança. Estrutura, saneamento etc, os idosos com a nossa péssima Saúde.

Quando o Pimenta Neves fica solto, a vítima é a punida, os parentes e amigos da vítima também. Para não punir um criminoso punimos inúmeros inocentes.

O Fantástico mostrou que no Brasil o número de vítimas de trânsito é uma catástrofe e, mostrou também que, até hoje, apenas um foi punido e porque os parentes da vítima mobilizaram os vizinhos para pressionar o julgamento.

Disse, ainda, que na Alemanha, onde não existe limite de velocidade, as pessoas seguem as placas e quase não há acidentes. Pudera, lá eles sabem que são responsáveis pelos seus atos e que por eles responderão com rigor.

Aqui, um juiz que matou um empregado de supermercado com um tiro nas costas porque ele não quis abrir o estabelecimento exclusivamente para ele, foi apenas aposentado.

Nós admitimos que assim seja, nós nos omitimos, nós consentimos, nós não fazemos nada como se não fosse conosco, até o dia que a injustiça bata à nossa porta.

Aí choramos, pedimos justiça, tentamos mobilizar a sociedade. Mas é tarde. Não criamos o hábito de justiça que é uma virtude neutra.

Justiça não é só para mim, para os meus. Caso não façamos nada hoje, legaremos o caos para as futuras gerações e a culpa será nossa, os omissos.

"QOHÉLET" (O ECLESIASTES)


i.s8.com.br

Capa de "Qohélet", Haroldo de Campos

“QOHÉLET” / O Que Sabe (Eclesiastes), poema sapiencial, “transcriado” por Haroldo de Campos, com a colaboração especial de Jacó Guinsburg, coleção “Signos”, 2ª edição, editora Perspectiva.

Segundo Guinsburg (...) “Buscando na fonte original do hebraico a locução do verbo bíblico, com os recursos da estética e da crítica de vanguarda, o transpoeta (Haroldo de Campos) comunica, na plenitude da invenção poética, a complexa gama da meditação quase nietzscheana do homem às voltas consigo mesmo e com seu destino”. 
O Eclesiastes:

1. Palavras de Qohélet filho de Davi
rei em Jerusalém

2. Névoa de nadas disse O-que-sabe
névoa de nadas tudo névoa nada

3. Que proveito para o homem
De todo o seu afã
fadiga de afazeres sob o sol

4. Geração-que-vai e geração-que-vem
e a terra durando para sempre

5. E o sol desponta e o sol se põe
E ao mesmo ponto
Aspira de onde ele reponta

6. Vai rumo ao sul
e volve rumo ao norte
Volve revolve e o vento vai
e às voltas revolto o vento volta

7. Todos os rios correm para o mar
e o mar não replena
Ao lugar onde os rios acorrem
para lá de novo correm

8. Tudo tédio palavras
como dizê-lo em palavras
O olho não se sacia de ver
e o ouvido não se satura de ouvir

9. Aquilo que já foi é aquilo que será
e aquilo que foi feito é aquilo que será
e aquilo que foi feito aquilo se fará
E não há nada de novo sob o sol

10. Vê-se algo se diz eis o novo
Já foi era outrora
fora antes de nós noutras eras (...)

Agora, os mesmos primeiros versos do Eclesiastes na Bíblia (Tradução Ecumênica), 1994, aprovada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, tradução do francês:

1. Palavras de Qohélet, filho de David,
rei de Jerusalém

2. Vaidade das vaidades, diz Qohélet,
vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

3. Que proveito tira o homem
de todos os trabalhos com que se
afadiga sob o sol?

4. Uma geração passa, outra vem,
e a terra permanece sempre.

5. O sol se levanta, o sol se põe,
procurando lugar de onde se erguerá
de novo.

6. O vento vai para o sul e vira para o norte,
gira, gira e vai embora,
sempre retoma o seu curso, o vento.

7. Os rios todos correm para o mar
e o mar nunca fica cheio;
para o lugar onde correm os rios,
para lá retornam.

8. Todas as palavras estão gastas,
não se consegue mais dizê-las;
o olho não se sacia do que vê,
o ouvido não se enche do que ouve.

9. O que foi é o que será,
o que se fez é o que se fará:
nada de novo sob o sol!

10. Se algo existe de que se possa dizer:
“Vede, isto é novo!”,
- já existe desde os séculos
que houve antes de nós (...)

O JORNAL "O GLOBO" PERGUNTOU, JOAQUIM BARBOSA RESPONDEU


abobado.files.wordpress.com

Joaquim Barbosa

Transcrito do blog CHICO BRUNO Política e Cia. Iltda (03/01/2010)

http://www.chicobruno.com.br/

"Qual a opinião do senhor sobre os movimentos sociais no Brasil?

 JOAQUIM: Temos um problema cultural sério: a passividade com que a sociedade assiste a práticas chocantes de corrupção. Há tendência a carnavalizar e banalizar práticas que deveriam provocar reação furiosa na população. Infelizmente, no Brasil, às vezes, assistimos à trivialização dessas práticas através de brincadeiras, chacotas, piadas. Tudo isso vem confortar a situação dos corruptos. Basta comparar a reação da sociedade brasileira em relação a certas práticas políticas com a reação em outros países da America Latina. É muito diferente."

A BÍBLIA


files.iprenoagape.webnode.com

A Bíblia

“Sobretudo, no caso, se tivermos presente a hipótese do poeta visionário William Blake, segundo a qual a Bíblia é o ‘grande código’ da arte (da literatura) ocidental, hipótese endossada e elaborada criticamente por Northop Frye”(“Qohélete”; Haroldo de Campos).

domingo, 10 de janeiro de 2010

JUSTIÇA BRASILEIRA

Deu no blog de Reinaldo Azevedo:

"O TEXTO DE UMA JUÍZA E UMA FOTO ESCANDALOSA

Domingo, 10 de janeiro de 2010

Ontem, na página Tendências/Debates da Folha, uma juíza chamada Kenarik Boujikian Felippe escreveu um artigo defendendo com veemência a tal Comissão da Verdade e a punição aos torturadores. Mandaram-me trechos do artigo e eu chutei cá com os meus botões: aposto que ela pertence àquela tal Associação Juízes para a Democracia. Na mosca! É co-fundadora e secretária da associação. A tese da valente magistrada é que pode haver punição mesmo na vigência da Lei da Anistia, que não precisa ser extinta, porque a tortura não está entre os “crimes políticos e conexos” para os quais se prevê o perdão… Ah, bom! A esquerda brasileira sempre nos dando lições, não é? Cesare Battisti, o terrorista-fetiche de Tarso Genro, cometeu, segundo o ministro, “crime político”; já os torturadores teriam cometido crime comum, que não se enquadra na categoria de “conexo”. Já os atos terroristas da esquerda eram, claro!, crimes políticos. Os argumentos são conhecidos, e já os contestei, creio, mais de uma centena de vezes. Vou demonstrar qual é a praia de Kenarik de outro modo. Vejam esta foto. Volto em seguida.




Viram? Aquele que está no centro, de barba, segurando um quadro é João Pedro Stedile, o chefão do MST, o movimento viciado em cometer crimes - na VEJA desta semana, ficamos sabendo que os sem-terra se transformaram agora em contumazes desmatadores da Amazônia. E o que ele faz ali? Ora, está recebendo uma homenagem da ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA!!!

Sim, vocês entenderam direito. Os bravos magistrados da dita-cuja resolveram homenagear o MST pelo conjunto da obra. Kenarik é aquela senhora de vestido preto e braços cruzados ao lado de Stedile. Se quiser mais detalhes, vá à página do próprio MST.

Reparem: a tarefa de um juiz é, afinal de contas, julgar. E isso significa que os próprios atos do MST podem ser objeto do seu escrutínio. Se for um desses valentes da tal associação, já conhecemos o veredito antes mesmo de conhecer o caso ou a causa. Homenagear o movimento significa endossar os seus métodos, endossando também os seus crimes.

Uma das coisas encantadoras dessa foto é aquele rapaz ao lado de Kenarik ostentando a camiseta com a palavra “Cuba”. Cuba é aquele país em que a oposição está na cadeia, onde a tortura a presos é, na prática, uma política de estado.

Kenarik, em sua sede implacável de justiça, não se constrange em aparecer nesse retrato, como se vê. Não custa lembrar que o decreto dos Direitos Humanos, em defesa do qual ela escreveu, extingue, na prática, a propriedade privada e cria uma categoria acima dos juízes."

JOAQUIM BARBOSA


notasjudiciosas.files.wordpress.com

Joaquim Barbosa

Judiciário tem responsabilidade pela corrupção, diz ministro do STF

Publicada em 02/01/2010 às 19h02m

O Globo

RIO - O ministro Joaquim Barbosa, do STF, se revela descrente da política e deixa clara sua dificuldade para escolher bons candidatos quando votar nas eleições de 2010. Além disso, é um crítico feroz da Justiça: "O Judiciário tem parcela grande de responsabilidade pelo aumento da corrupção em nosso país", disse, em entrevista a Carolina Brígido, publicada na edição deste domingo do GLOBO.

- O Judiciário teria de ser reinventado - afirmou.

Joaquim Barbosa, há dois anos, ganhou notoriedade por relatar o processo do mensalão do PT e do governo Lula. Em 2009, convenceu os colegas a abrir processo contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) para apurar se ele teve participação no mensalão do PSDB mineiro. Nesta entrevista, o ministro não quis comentar o mensalão do DEM, que estourou recentemente no governo de José Roberto Arruda, do Distrito Federal.

O GLOBO: O senhor é descrente da política?

JOAQUIM: Tal como é praticada no Brasil, sim. Porque a impunidade é hoje problema crucial do país. A impunidade no Brasil é planejada, é deliberada. As instituições concebidas para combatê-la são organizadas de forma que elas sejam impotentes, incapazes na prática de ter uma ação eficaz.

O GLOBO: A quais instituições o senhor se se refere?

JOAQUIM: Falo especialmente dos órgãos cuja ação seria mais competente em termos de combate à corrupção, especialmente do Judiciário. A Polícia e o Ministério Público, não obstante as suas manifestas deficiências e os seus erros e defeitos pontuais, cumprem razoavelmente o seu papel. Porém, o Poder Judiciário tem uma parcela grande de responsabilidade pelo aumento das práticas de corrupção em nosso país. A generalizada sensação de impunidade verificada hoje no Brasil decorre em grande parte de fatores estruturais, mas é também reforçada pela atuação do Poder Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas interpretações lenientes e muitas vezes cúmplices para com os atos de corrupção e, sobretudo, com a sua falta de transparência no processo de tomada de decisões. Para ser minimamente eficaz, o Poder Judiciário brasileiro precisaria ser reinventado.

JOAQUIM BARBOSA E O COMEÇO DE 2010


mesquita.blog.br

Joaquim Barbosa

Por Vitor Hugo Soares

oglobo.globo.com/noblat

Nestes últimos anos criei o habito de observar de Salvador os passos e descompassos do presidente da República – primeiro o tucano Fernando Henrique Cardoso, depois o petista Luis Inácio Lula da Silva – em seus dias de repouso na Base Naval de Aratu.

Desta vez, no entanto, peguei a Linha Verde rumo ao Litoral Norte, quando Lula instalou a família, auxiliares e sua caixa de isopor na praia de Inema, magnífico recanto da Baia de Todos os Santos - com um dia de atraso em razão do bafafá de fim de ano em Brasília com o Nelson Jobim, da Defesa, e os ministro militares no ataque para impedir a revisão da Lei da Anistia abrindo espaço para punir torturadores, como já fizera o Chile e acaba de fazer a Argentina esta semana.

Nada de arrependimento, muito pelo contrário.

Molhar os pés nas praias de Guarajuba na chegada do ano novo, mesmo como recomendação médica, não tem preço. Além disso, é um banho de prazer e emoção fazer, no ano novo, o percurso de volta para a cidade da Bahia passando pela sempre linda Arembepe: O éden dos hippies do país e do mundo nos anos 60, que o visionário baiano Glauber Rocha também escolheu para representar o Paraíso em “A Idade da Terra”, um de seus mais intrigantes e polêmicos filmes.

Também motivo de amargura e decepções fatais para o mestre do cinema brasileiro.

A bem da verdade, a mais recente estada do presidente na Bahia não teve a mesma graça de anos passados.
Gerou pouca informação e quase nenhum lance inesperado e fora da rotina.

Salvo a incrível imagem de Lula instalando sua caixa de isopor na límpida praia privativa de Inema.

Sem falar, é claro, nas ciumeiras e trocas de farpas políticas entre o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima e o governador petista, Jaques Wagner, em prévia para Lula ver o que será a encarniçada disputa pelo Palácio de Ondina este ano, com o DEM de Paulo Souto também na raia.

O melhor de tudo mesmo foi emergir em 2010 e verificar que nem tudo está perdido.

Poder observar que, ao lado das catástrofes das chuvas e desabamentos, ajudados por omissões mortais dos governos nas regiões Sudeste e Sul; que além do riso, com as marcas do cinismo e da certeza da impunidade do governador José Roberto Arruda, no Distrito Federal; que para lá da farra parlamentar na Assembléia da Bahia com dinheiro do erário - prática estimulada e que segue intocável no Senado presidido por José Sarney -, ainda é possível avistar a luz no fim do túnel.

A esperança transparece principalmente nas palavras firmes e candentes do ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Para surpresa de alguns, que o julgavam nocauteado, mas para estímulo e contentamento dos que confiavam em que tudo não passava de merecido repouso de guerreiro, eis que magistrado carioca ressurge no rinque.

E com a mesma força e pegada de antigos e inesquecíveis combates na Suprema Corte do País e nos grandes debates de interesse público.

Que bom voltar do Litoral Norte da Bahia e poder ler nos primeiros dias de 2010 (3 de janeiro para ser exato), nas páginas do jornal O GLOBO, as palavras firmes do ministro Barbosa falando com a repórter Carolina Brígido e quebrando a corrente de desvios de princípios e cumplicidade vigente na terra Tupy nos dias que correm.

Barbosa se diz um descrente da política, como a que se pratica hoje no Brasil. E dá os motivos: “Porque a impunidade é hoje problema crucial no país.

A impunidade no Brasil é planejada, é deliberada. As instituições concebidas para combatê-la são organizadas de forma que elas sejam impotentes, incapazes na prática de ter uma ação eficaz”.

Quer mais, para confirmar a sinceridade do ministro e afastar qualquer ranço de corporativismo em suas palavras, como é comum nas entrevistas que estamos nos acostumando a ler por aqui?

Barbosa fala essencialmente do que ele mais conhece nas entranhas, dos setores que a sociedade mais espera uma ação séria e competente no combate à corrupção, especialmente do Judiciário, como assinala o ministro.

"A Polícia e o Ministério Público, não obstante as suas manifestas deficiências e os seus erros e defeitos pontuais, cumprem razoavelmente o seu papel. Porém, o Poder Judiciário tem uma parcela grande de responsabilidade pelo aumento das práticas de corrupção em nosso país. A generalizada sensação de impunidade verificada hoje no Brasil decorre em grande parte de fatores estruturais, mas é também reforçada pela atuação do Poder Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas interpretações lenientes e muitas vezes cúmplices para com os atos de corrupção e, sobretudo, com a sua falta de transparência no processo de tomada de decisões. Para ser minimamente eficaz o Poder Judiciário brasileiro precisaria ser reinventado”, prega o ministro Joaquim Barbosa.

E mais não digo, por considerar que a leitura em sua integralidade das palavras do magistrado do Supremo na entrevista de O Globo é quase um dever de cidadania para brasileiros de todas as idades, os mais jovens principalmente.

Corra quem ainda não as leu, para recuperar essas palavras alentadoras do guerreiro ministro do Supremo.

Antes que o silêncio leniente e da cumplicidade recaia sobre elas.