terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ATÉ LOGO MAIS!

Amigos:

Este blog vai dar um tempo.

Preciso terminar um livro - ele tem que estar pronto para ser lançado em Agosto, no Crato, no II Cariri Cangaço.

Depois, veremos.

Muito obrigado.

Honório de Medeiros

ESQUERDA E DIREITA

abrobrinhaspsicodelicas.blogspot.com

Ronda por aí a idéia de que “esquerda” e “direita”, no Brasil, e mesmo no mundo, não mais seriam conceitos distintos um do outro. Principalmente no que diz respeito à economia. Nada tão distante da realidade, mas é fácil entender a razão – hoje, graças a um colossal, persistente e antigo processo midiático, o capitalismo, enquanto visão do mundo se tornou praticamente hegemônico. Isso mesmo: quase não há ninguém que sustente, com alguma consistência, um ideário de esquerda.


Tal se deve a vários fatores, mas dois são fundamentais e ambos estão entrelaçados pelo mesmo núcleo. Dizem respeito à queda do “Muro de Berlim” e, no Brasil, ao aviltamento do PT. O que os une é o fato de ambos, tanto a URSS quanto o PT, jamais terem sido de esquerda. Quando muito abrigavam, por falta de opção, pessoas de esquerda.



A esquerda é, ontologicamente, fulcrada no valor “solidariedade”, enquanto a direito se firma na competição. Subjacente à noção de que somos essencialmente competitivos, não solidários, está o corolário do lucro e da ambição. Para a esquerda, devemos solidarizar o lucro; para a direita devemos e podemos lucrar com a solidariedade.



A esquerda é, ontologicamente, anticapitalista. Isso significa dizer que, para ela, os meios de produção devem ser socializados. Ou seja, não deve haver muito na mão de poucos, mas, sim, um pouco na mão de todos no que diz respeito à produção e ao gozo do lucro. Ao invés da produção de capital financeiro, o socialismo quer a produção do capital social. Nesse sentido, tanto faz opor-se ao capitalismo de Estado intervencionista quanto ao capitalismo de Estado Mínimo – este uma verdadeira utopia retórica criada nos laboratórios dos economistas à soldo do grande capital para engabelar os inocentes úteis e os inúteis, igualmente.


A esquerda é, ontologicamente, anti-autoritária. Ela denuncia, posiciona-se contra, rebela-se, e não aceita qualquer imposição do Estado sobre a Sociedade à reboque de uma miragem tal qual um futuro idealizado, como nos apresentam os tecnopolíticos de plantão que pensam serem possuidores dos remédios milagrosos necessários para catapultar este ou aquele país à redenção sócio-econômica destruindo, pela base, as conquistas sociais dos últimos anos. Por ser anti-autoritária, a esquerda tem um compromisso imediato e direto com a Sociedade, nunca com o Estado, este um instrumento de opressão cujos fundamentos ontológicos, sob os quais repousa sua suposta legitimidade, são flatus vocis.


A verdade é que do ponto de vista da propaganda o capitalismo, ou seja, a direita, apregoa que ganhou a guerra. Não mesmo. Quando menos se espera a Sociedade resiste, e o colossal processo de exploração através do qual cada dia mais um número maior tem menos, fica exposto a olho nu. Neste momento mesmo alguns, até então desavisados, mas puros de intenção, percebem onde estão metidos e apontam as fragilidades e inconsistências de um modelo que se firma no que pode arrancar, enquanto mais-valia, do grosso da população. São os arautos de uma nova era, a da aldeia global da qual nos falou Marshall McLuhan, onde qualquer informação é, sob todos os ângulos que se possam imaginar, do domínio de todos.

EM CAJAZEIRAS, O CINZA


“Um radialista”. Assim, secamente, Seu Antônio Gomes me identificou o morto cujo enterro passava pela esquina onde estávamos postados em Cajazeiras, Paraíba. Até que o enterro passasse não lhe dera atenção. Observara, fascinado, aquela fila coleante a se arrastar molemente ocupando todos os espaços da rua. Era sempre assim, fosse enterro, manifestação, passeata política, desfile: um fluxo constituído por unidades individuais aparentemente diferentes, mas idênticas em essência. O ser humano. Esse compósito de vilania e santidade arrastando-se em grupo do nada para o nada.

Seu Antônio, como eu, estava de braços cruzados olhando o enterro. Seu olhar era sardônico. Um olhar que combinava bem com o rosto magro, de feições indefinidas, comuns. Deveria ter sessenta e poucos anos. Cabelos grisalhos, abundantes, cortados curtos, displicentemente penteados para trás. Ao observá-lo tive a sensação de que ele parecia um elemento estranho à paisagem. Não combinava com Cajazeiras, uma cidade que, sendo grande para os padrões do Sertão, disso nada extraíra de bom, assim como não guardara o que de bom havia de quando era pequena. Era como uma questão de foco. Ele parecia deslocado não por que estivesse no centro da cidade, em pleno comércio, mas, sim, por que estava ali como se fosse um estrangeiro em pleno Sertão. A roupa não dizia nada, nem os sapatos, nem qualquer adereço, até por que não os havia, excetuando o relógio que, como tudo nele, também era muito discreto.

“O senhor não é daqui.” “Sou e não sou. Nasci aqui há uns sessenta e tantos anos atrás, e voltei há uns poucos dias para vender uma terra que me coube por herança.” E me perguntou o que eu fazia em Cajazeiras. Falei-lhe de minha pesquisa acerca de Massilon e que acabara de voltar de Missão Velha, no Ceará, terra onde o Cel. Isaias Arruda “reinara” na década de 20. Agora já estávamos sentados numa lanchonete que colocara aquelas mesas e cadeiras de metal com imensas logomarcas de cerveja na calçada. Mesas e cadeiras sujas, evidentemente. Como não era possível tomar um café respeitável, pedíramos água mineral. “Ah, o cangaço”, disse, e perguntou: “descobriu algo em Missão Velha?”. Sim, eu havia descoberto, mas não queria falar acerca de cangaço. Será que eu conseguiria transmitir oralmente, para aquele estranho, um homem educado, percebia-se facilmente isso, minhas impressões de viagem? Será que eu conseguiria prender sua atenção durante um tempo suficiente para dizer-lhe uma crônica elaborada com fragmentos de imagens e palavras? O que significaria tudo isso quando cada um fosse para seu lado e um tempo razoável tivesse passado desde então?

O cariri é verde, muito verde para ser Sertão, comecei. E Missão Velha parece uma cidadezinha perdida no tempo, uma Macondo. Lá, quando chegamos, fomos direto para o coração da cidade. Estacionamos. Seria dia de feira? Não, é que o pagamento da “esmola oficial do governo federal” era naquele dia. As feiras, como eram antigamente, não existem mais. Não há mais cantadores de viola, coquistas, literatura de cordel, contadores de “causos”, vendedores de drogas milagrosas, rezadeiras, adivinhos, mágicos, circos mambembes... Há tipos estranhos, é impossível não haver: uma mulher de mais de sessenta anos, horrorosamente maquiada, vestida como uma adolescente, a carne sobrando por sobre a barra da minissaia, a abraçar freneticamente uma comadre a quem aparentemente não via há muito tempo e lhe responder em cima da bucha quando ela dissera “mulher, você já tem muitos janeiros, né?; “tenho, mas você não fica atrás não, não é criatura?” E virando-se para o lado, tangeu o marido que empurrava um carrinho de sorvete caseiro: “vai, vai, que aqui é conversa de mulher”. O sorveteiro obedeceu, mas como vingança, ao passar por mim que observava deliciado a cena, levou a mão ao lado da cabeça, e fez, com o indicador apontado para si e desenhando um círculo, o comentário final: “é tudo doida”.

DA ARTE DE ROMPER UM GRANDE AMOR

clube.atrativa.com.br

Muito tempo depois a encontrei em um café, contemplando o mundo lá fora com aqueles seus olhos azuis maravilhosos através das volutas da fumaça do cigarro. Após os cumprimentos de praxe, não resisti e lhe perguntei como sobrevivera ao fim do seu casamento, tão minuciosamente condenado ao fracasso, segundo sua própria avaliação, quando nos vimos pela última vez. Ela sorriu, espreguiçou-se como uma gata, tomou lentamente um gole de café e me perguntou se eu queria saber a história toda ou somente o desfecho, com algumas pinceladas óbvias como arremate.

Antes de lhe dizer que não dispensava os detalhes lembrei-me que parte do seu fascínio era a administração do silêncio, e este nos induzia a supor regiões misteriosas do seu pensamento onde a fantasia bordava, junto com a realidade, situações fascinantes para quem soubesse ousar e tivesse coragem de receber. Já naquele tempo ela reinava impune, a tripudiar das vãs tentativas dos conquistadores ávidos e tímidos admiradores, sem que as recusas constantes diminuíssem a admiração que granjeava. Nela, nada se eximia de seduzir, mas mesmo assim um dia sucumbira a uma paixão inesperada e violenta, que a retirara do circuito das festas e badalações.

Desde o começo nós, seus amigos, percebêramos que não daria certo. Sutilmente sua liberdade fora sendo restringida – logo a dela, tão essencial a si. Aos poucos, milímetro por milímetro, fora cedendo sem notar, encantada por uma proposta enleadora de construção do futuro a dois, mão a mão, através da imagem de uma ponte afetiva que terminaria no infinito. Embora apaixonada foi através da persuasiva magia da visualização de um amor único, daqueles que nutrem uma alma só em dois corpos distintos, que ocorrera a derrubada das suas últimas resistências.

Mas finalmente despertou e a ânsia de viver livre, solta, cobrou sua fatura. Passou a se sentir sufocada e a perceber as invisíveis amarras que lhe prendiam o vôo. Queria ir embora, queria sumir, queria desaparecer, mas havia um obstáculo, um sério senão a impedir sua liberdade: o orgulho desmedido, o egocentrismo concentrado, a incontida auto-imagem que seu companheiro fazia de si mesmo. Não era possível que o relacionamento fosse desfeito sem que a explicação a ser dada para isso preservasse sua posição social e o alto conceito que fazia de si mesmo.

“Eu não podia dizer-lhe que ia embora por que o amor acabara; seu orgulho não aceitaria ser trocado por nada, por coisa alguma. Ele não admitiria nunca que não fora capaz de segurar-me e apaixonada, que eu nada mais sentia exceto um afeto meio dependente do alívio do afastamento definitivo. Tive, então, que criar uma paixão inexistente por outro e, pior, por alguém abaixo da escala de valores que ele prezava. Assim, libertei-me, e ele pode dizer por aí, quando questionado, que eu havia sido uma aposta perdida por que mal avaliada, incapaz de perceber a qualidade do sentimento que despertara, alçada a um nível incompatível com minha ausência de sofisticação e, assim, depois, tinha sido levada de volta, através de um "qualquer", ao mundo ao qual realmente pertencia”.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ARIANO SUASSUNA: A ARISTOCRACIA PELO ESPÍRITO

poemia.wordpress.com

Ariano Suassuna

Ariano Suassuna: Madrugada alta. Casa de Eriberto Suassuna, meu compadre, em Pau dos Ferros, primo do autor de "A Pedra do Reino". Acabei de ler a apresentação que o maior escritor nordestino, uma ilha de qualidade no universo literário brasileiro, fez da obra de outro parente seu, Raimundo Suassuna, acerca da genealogia da família que lhes deu o sobrenome.

Ariano, a quem Raimundo Suassuna pedira que fizesse uma apresentação "simpática", de seu livro, praticamente escreveu um ensaio onde, entre outras coisas, abordou duas coisas que me chamaram a atenção: na primeira delas conta de seu orgulho por ser um "Suassuna"; e, na segunda, estabelece o seu conceito de "aristocracia".

É preciso que se diga que o orgulho de Ariano com o fato de pertencer a essa lendária família nordestina é decorrente da intensa, profunda, ligação que ela tem com o Sertão, naquilo que lhe é mais peculiar, e é onipresente na bela e estranha produção literária e postura existencial do mais (ou talvez único) "gauche" dos nossos escritores membros da Academia Brasileira de Letras.

Aristocracia: Ariano Suassuna entende que existe uma aristocracia pelo espírito, que é profundamente diferente daquela resultante de títulos nobiliárquicos. Ele estabelece essa diferença confrontando o "homem", na sua acepção mais densa, com o "cortesão". Neste caso, chega a manifestar, implicitamente ou não, um verdadeiro asco dos títulos comprados, recebidos por favores prestados através de subserviência, barganhados, ou oriundos de qualquer outra forma utilizada por serviçais do poder que caracterizam, em última instância, o comportamento dos alpinistas sociais.

A verdadeira aristocracia, para Ariano, é aquela adquirida pelo espírito. Essa nobiliarquia, na sua concepção, é decorrente de uma postura moral ilibada, aliada a um exponencial senso de honra e vocação pública. Aristocrata, então, seria Albert Schweitzer, Gandhi, Albert Sabin, entre outros. Nunca Churchill, Kennedy ou outros menos ilustres.

Titãs morais, verdadeiros cavaleiros da távola redonda, homens sem mácula e sem medo, sempre à disposição dos injustiçados ou a serviço de causas mais que nobres. Individualidades poderosas, que se recusaram ser conduzidas, cooptadas, amordaçadas. Não aceitam ser a folha que o rio leva para o mar; muito antes, pelo contrário, assemelham-se às represas que domam a marcha das águas.

Essa aristocracia pelo espírito de Ariano é fecundada, em termos ideológicos, por um socialismo que lembra o cristianismo primitivo em sua perspectiva ética. É como se ele cresse que a verdadeira revolução seria aquela promovida através da encampação da dignidade como único fulcro da conduta humana, legitimando-a.

É um contraponto dialético da ética burguesa que, exposta a olho nu por suas contradições básicas, mostra a conduta humana amesquinhada por obra e graça da lógica do capitalismo. Esse burguês, caricato, cortesão, jamais diria: "ao Rei tudo, menos a honra", mas, sim, "à elite tudo, até o bolso".

Trata-se de uma crítica ética ao capitalismo. A busca do lucro, revestida pelo fetiche ideológico da "competição", da "livre concorrência", amesquinha o homem que aceita participar de tal jogo. Um aristocrata pelo espírito, cuja conduta é calcada na honra, no senso de justiça pública, recusa-se a aceitar uma competição cujo resultado final seja a obtenção de um ideal tal como, por exemplo, a obtenção de lucro.

Talvez haja algo de quixotesco na dimensão humana de Ariano Suassuna. É interessante, entretanto, observar o quanto sua concepção filosófica, nesse aspecto, aproxima-se daquela professada por Saint-Exupèry, aristocrata pelo espírito e por genealogia, conde, em seus escritos de "Cidadela".

E, por outra, do "bushido", o caminho do samurai. Note-se que Yukio Mishima, em seu comentário acerca do "Hagakure", um manual escrito por um samurai, para samurais, critica asperamente os nobres por ele chamados de "aristocratas de contas de despesas". Ou seja, tanto para Ariano, quanto para Saint-Exupèry e Mishima, o homem, assim considerado, é aquele que transcendeu o apequenamento, o amesquinhamento inerente à ética do capitalismo, da qual nos fala Max Weber, e tornou-se um aristocrata pelo espírito.

Aristocrata pelo Espírito: Não considerei correto o título "aristocrata do espírito". Difícil dizer por quê. Acho que "aristocrata pelo espírito" expressa com maior clareza a idéia de uma nobreza obtida através do espírito - tudo aquilo que caracteriza o humano, como a razão, incluindo, inclusive, o seu pendor místico.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O PATRIARCA DA FAMÍLIA DIÓGENES


Por Kennedy Diógenes

http://www.familiadiogenes.blog.digi.com.br/

Revisitar o passado, baseando-se em pesquisas metodológicas e fontes primárias e originais, na busca da origem familiar, ao contrário do que possa parecer, é empolgante e surpreendente.

Há décadas, estabeleceu-se a crença de que a família Diógenes descendia do filho mais novo do Capitão Domingos Paes Botão, Diogo Diógenes Paes Botão, e da índia batizada com o nome de Antônia da Purificação, que havia sido resgatada por aquele de uma matilha de cães.

Entretanto, a possibilidade de um nobre português ter se casado com uma índia em pleno século XVIII sempre me causou estranheza, sendo dínamo da continuidade da pesquisa acerca da realidade dos fatos.

Na verdade, após confrontar a estória verbal da Origem dos Diógenes com outros dados históricos e as pesquisas bem documentadas publicadas no Livro “Famílias Cearenses 7 – Ipueiras dos Targinos”, do escritor e pesquisador cearense Francisco Augusto de Araújo Lima, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, verifiquei que, possivelmente, estávamos redondamente enganados.

É pacífico que a estória da Família Diógenes se inicia com Domingos Paes Botão, que nasceu na Freguesia de Botão, Concelho e Distrito de Coimbra, Portugal, em data não estabelecida (possivelmente entre 1640-1660), sendo este local de nascimento a origem de seu sobrenome “Botão”, porque era comum se integrar ao seu nome o nome do lugar de onde se procedia.

O Capitão Domingos Paes Botão chegou à Colônia de Portugal na Missão dos Homens de São Francisco, comandada pelo Capitão-Mor Bartolomeu Nabo (de) Correia, entre 1682 e 1686, para um plano de ocupação do território cearense, a do Sertão-de-dentro, adquirindo uma Sesmaria, juntamente com seu cunhado, José da Fonseca Ferreira, denominada Sítio Cascavel, passada, em 20/10/1690, a Manuel Rodrigues de Bulhões, originando o atual município de Cascavel/CE.

Não há documentos encontrados que comprovem que a migração de Domingos Paes Botão (Sênior) do Sítio Cascavel tenha se motivado pelos constantes conflitos com os índios Pacajus, da Região dos Rios Açu e Jaguaribe, além dos Icós e dos Carateús, sendo estes combatidos e vencidos pelo sertanista Fernão Carrilho em 1693 e 1694, quando Capitão-Mor Interino do Ceará. Mas é fato que Domingos Paes Botão se estabeleceu em Icó/CE, após uma passagem pela pujante Aquiraz, conhecida como a primeira capital do Ceará, uma vez que foi constatada incidência de fartos documentos históricos de seus descendentes próximos neste município.

Casado com Sebastiana da Assunção Fonseca Ferreira, irmã de José da Fonseca Ferreira e Antônio da Fonseca Ferreira, Domingos Sênior (Capitão Domingos Paes Botão) e esta tiveram dois filhos, Genoveva de Assunção e Manoel Diógenes Paes Botão, além de uma enteada chamada Isabel Eça, deduzindo-se que Domingos Paes Botão tenha se casado duas vezes, com duas irmãs, Maria e Sebastiana, como era de costume nos casos de viuvez.

A primeira filha, Genoveva da Assunção, natural do Rio São Francisco, adotando o nome da mãe, como costume da época, casou-se, possivelmente em 1709 (data transmitida oralmente), com o Sargento-Mor Manoel Peixoto da Silva Távora, sesmeiro, natural da Freguesia de Távora (Santa Maria), Concelho de Arco de Valdevez, Distrito de Viana do Castelo, Portugal, e tiveram quatro filhas, quais sejam Isabel da Silva Távora, Teresa de Jesus Maria, Maria Francisca Peixota (álibi Maria d´Afonsequa) e Ana Maria de Jesus (álibi Ana Maria Peixotta), iniciando a Família Távora.

O segundo e último filho do Capitão Domingos Paes Botão e Sebastiana/Maria, Manoel Diógenes Paes Botão, é o primeiro desta linhagem a receber o nome Diógenes, sendo o patriarca desta Família. Nasceu precisamente no ano de 1698, e foi batizado na Capela de Gonçalo do Potengi, no Rio Grande do Norte, segundo Certidão de Batismo encontrada nos Livros Eclesiásticos desta Freguesia.

O Capitão Manoel Diógenes Paes Botão viveu, ora em sua Fazenda Monte Vistoso, Riacho do Sangue, Jaguaretama, ora na Região de Santa Rosa, Jaguaribara, e morreu aos 71 anos, em Icó/CE, em 14 de agosto de 1769, sendo sepultado na Igreja Matriz de N. Srª. Da Expectação do Iço. A tradição oral dá conta de que foi político influente na Região, mas suas atividades e feitos devem ser objeto de aprofundamento de pesquisa.

Casou-se, Manoel Diógenes, com Antônia da Rocha Tavares, álibi Antônia da Purificação, filha mais velha de Luís Paes Botão, natural do Reino de Angola, e Josefa Ferreira da Rocha Tavares, natural do Icó, possivelmente da etnia branca, uma vez que sua família era natural da Freguesia de Arneiroz, possuindo, ainda, mais duas irmãs e um irmão. Como antedito, normalmente a filha usava o sobrenome da mãe.

Registre-se, portanto, que a esposa do primeiro Diógenes não era índia, mas mestiça, mais provavelmente, ou negra, filha de um ex-escravo de Domingos Paes Botão (por isso seu sobrenome Paes Botão).

Da União de Manoel Diógenes e Antônia da Purificação nasceram três filhos legítimos e uma filha exposta, quais sejam: a) Diogo Paes Botão, que não há quase registros eclesiais. Possivelmente inupto; b) Cosme Diógenes Paes Botão, nascido em Icó, que viveu com Maria dos Prazeres, pais de Bernardo da Costa Pereira, casado, com geração não BOTÃO ou Diógenes. Posteriormente, Cosme Diógenes se casou com Maria Saldanha, e tiveram, como filhos, José Diógenes Paes Botão e Cornélio Diógenes Paes Botão, que continuaram a família Diógenes. Cosme Diógenes faleceu antes de 26 de novembro de 1772; c) Domingos Paes Botão Neto, nasceu em Iço, Coronel de Cavalaria do Icó, casou-se, em 23 de fevereiro de 1778, com uma parente sua (primo de 2ª grau), Teresa de Jesus Maria, Icoense, filha do Licenciado Miguel da Silva e de Teresa Maria de Jesus, esta filha de Genoveva e Manoel Peixoto da Silva Távora. Dessa união nasceram os seguintes filhos: Capitão Domingos Paes Botão Jr, Damião Diógenes Paes Botão, Antônio Paes Botão, Maria Paes Botão e Cosme Diógenes Paes Botão. Registre-se, ainda, que o Cel. Domingos Neto teve um caso com uma índia do Ceará chamada de Narcisa Dias, tendo um filho chamado de Quirino de Oliveira, que conviveu de forma pacífica com a família BOTÃO, casando-se na sua raça, com uma índia, Albina Vieira de Oliveira, com quem teve sete filhos, mas nenhum herdou o sobrenome paterno; d) Luíza de Melo Rocha, filha EXPOSTA. Há uma boa probabilidade de Luíza ser filha legítima de Manoel Diógenes, nascida antes do casamento com Antônia da Purificação. Luíza de Melo Rocha foi criada na convivência da família BOTÃO e se casou com Manoel da Silva Monteiro, tendo oito filhos, todos sem o sobrenome Diógenes e/ou Paes Botão.

Portanto, Manoel Diógenes e Antônia da Purificação e seus filhos são os primeiros membros da Família Diógenes, os primeiros Diógenes brasileiros, iniciando a saga desta família e perpetuando seu nome na História.

Fonte: LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Famílias Cearenses 7 – IPUEIRAS dos TARGINOS, Ed. Artes Digitais, Fortaleza, 2006.