sábado, 15 de outubro de 2016

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A RETÓRICA É UMA TÉCNICA DE OBTENÇÃO E MANUTENÇÃO DO PODER

* Honório de Medeiros

Na verdade a Retórica é uma técnica de obtenção e manutenção do Poder.

Muito além de uma técnica de persuasão, como propõem alguns teóricos. A persuasão é, apenas, um dos instrumentos da Retórica, tal como a manipulação ou a sedução.

Embora se costume dizer que a Retórica seja uma técnica de persuasão, de convencimento, ela é muito mais que isso. Pressupõe a existência, em polos distintos, de alguém a almejar que o Outro faça ou deixe de fazer algo, e a existência desse Outro.

Há uma tentativa de circunscrever a Retórica ao espaço da persuasão, quando a vontade do Outro cede, por vontade própria, posto que convencido, à vontade do persuasor.

Nada menos verdadeiro: na tentativa de persuasão do Outro, por mais ética que tenha sido, uma vez que ocorra, a vontade do persuasor se impôs à do persuadido alterando sua percepção das coisas e dos fenômenos.

Como a ninguém é dada a primazia de saber o que é certo ou errado, se o Outro é persuadido sem que sua percepção das coisas ou fenômenos tenha ocorrido por si mesma, sem interferência externa, então temos, mesmo se inconsciente, uma imposição de vontade.

Evidente que no mundo das verdades da ciência não se há de falar em persuasão: aqui a demonstração lógica se impõe por si mesma.

Nessa perspectiva da persuasão a ocultação inconsciente da intenção da imposição da vontade do persuasor pressupõe, na maioria das vezes, uma crença, a fé nos próprios desígnios de quem persuade. Mas nem sempre é assim. Aquele que tenta persuadir não raro o faz deliberadamente, querendo influenciar o Outro a modificar sua vontade, mesmo respeitando regras éticas no que diz respeito ao seu procedimento, tentando evitar a manipulação. O persuasor pensa: “quero persuadir, não manipular”.

Em tese, seria esse um dos alicerces da Democracia.

A manipulação, por sua vez, é "la bête noire" da Retórica. Aqui não há limite ético quanto à intenção da alteração da vontade do Outro.

Assim ocorre, também, no que diz respeito à sedução.

Qual a diferença entre manipulação e sedução? Sutil. Somente pode ser percebida por intermédio da introdução da noção de “vontade”.

Essa noção, segundo Hannah Arendt[1], foi introduzida na discussão filosófica por intermédio de São Paulo, em sua famosa Carta aos Romanos. E, através dela, podemos entender que o “eu quero” nem sempre corresponde ao “eu posso”.

Ou seja, minha vontade pode determinar claramente o rumo a ser seguido, entretanto não consigo me colocar em movimento.

Na manipulação[2], mesmo que enganado, vez que manipulado, a vontade do Outro adere à vontade do persuasor; na sedução, a vontade do Outro é contra, mas cede por não ter forças para a recusa.

Na sedução o Outro não é enganado e não muda sua percepção das coisas ou fenômenos, entretanto não é possível resistir ao sedutor.

Seja persuasão, seja manipulação, seja sedução, todas são instrumentos da Retórica, que é uma técnica de Poder, e têm, como objetivo, fazer com que a vontade de quem a utiliza influencie, no sentido de alterá-la, as ações do Outro.

[1] Responsabilidade e Julgamento; ARENDT, Hanna.

[2] Justiça versus Segurança Jurídica e Outros Fragmentos; de MEDEIROS FILHO, Francisco Honório

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A POLÍCIA DO PENSAMENTO

* Honório de Medeiros


A polícia do pensamento está por aí, solta, desenfreada, equivocada, semeando nulidades e destilando ódio seletivo às vezes com sutileza, às vezes com uma brutalidade sem igual.

Recentemente perguntei a uma adolescente, de quem respeito o senso crítico, qual era a reação dos seus colegas às suas ideias, a seu ceticismo, a sua procura incessante de explicações que ultrapassem o embate ideológico raso dos dias de hoje. Ela respondeu que não se manifestava, ninguém sabia o que, de fato ela pensava. E pontuou: "temo o ostracismo social ao qual seria condenada em meu curso". 

Você encontra esses policiais, e não se dá conta do mal que semeiam. Estão nas escolas, universidades, igrejas, teatros, festas. Em todos os lugares. Como são fundamentalistas, seja de esquerda ou de direita, supõem serem portadores de alguma revelação extraordinária que lhes garante o direito de doutrinar quem quer que seja. 

Medíocres, raciocinam por estereótipos, palavras-de-ordem. Gritam, agridem, oprimem silenciosamente.

Fazem bullying.

Não aceitam não serem aceitos.

Não conhecem nada, não sabem nada, não se aprofundam em nada. Seu conhecimento é superficial, de leitura - quando há - de orelhas-de-livros, imediatista, e puramente literal.

Aqueles que não comungam com suas ideias, que não aceitam receber a "revelação", que não suportam essa patrulha ideológica, são considerados alienados, perdidos, e, se resistem, adversários que não merecem outro tratamento senão o aniquilamento intelectual, social, e, às vezes, até mesmo físico.

São todos inocentes úteis, massa de manobra de seus títeres. São a bucha-do-canhão com a qual seus mentores atacam os inadvertidos e os advertidos. E, em sua ousadia, até mesmo os poucos que têm coragem de lhes apontar o dedo e denunciar sua insensatez.

Nada tão semelhante quanto a esquerda e a direita, quando fundamentalista. Põem debaixo das asas seus bandidos, adoram odiar visceralmente seus inimigos, e sacralizam seus líderes.

O que muda é a cor da camisa. Quando muda.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

DEVO, NÃO NEGO, PAGO QUANDO PUDER

* Honório de Medeiros

Li atentamente a Nota do Governo do RN explicando atrasos nos pagamentos aos servidores.

Em síntese é o seguinte: "devo, não nego, pago quando puder".

Muito mais interessantes foram as postagens no Twitter feitas pela Secretária-Chefe do Gabinete do Governador, Tatiana Mendes Cunha.

Transparecendo indignação com o tratamento recebido pelo RN e outros Estados do Nordeste por parte do Governo Federal, a Secretária, renomada administrativista, diz: "Sempre fomos politicamente fracos, ao ponto de não criarmos condições nem para contrair dívidas".

E remata: "O alicerce do Pacto Federativo é o tratamento igual e proporcional para todos os entes federados. Manter a harmonia entre os Estados".

Essa indignação vem a calhar. Afinal o Governo Federal, para ajudar o Rio de Janeiro, editou a Medida Provisória 734/2016, pela qual lhe concedeu um apoio financeiro de R$ 2,9 bilhões. Tais recursos foram liberados desprovidos de necessidade de restituição e em parcela única.

De novo: liberados em parcela única e sem necessidade de restituição.

Não basta, entretanto, esse blá-blá-blá. Aos poucos que entendem do assunto, é desnecessário; para os muitos que não entendem, é conversa jogada fora.

Em tempos extraordinários, medidas extraordinárias: por que não judicializar a questão? Por que os Governadores diretamente atingidos por esse tratamento injusto e, como deixa transparecer a Secretária-Chefe do Gabinete Civil, até mesmo ilegal, não procuram a Justiça, após Decreto de Calamidade Pública?

Sem o pagamento da remuneração dos servidores a economia do Estado do RN não funciona. Isso é básico, elementar. E os resultados do não-pagamento são danosos em curto prazo, mas perversos, terríveis, a médio e longo prazos. 

Então é preciso atitude. Mais que nunca. Antes que seja tarde.