quinta-feira, 5 de outubro de 2017

DO ILEGAL E MORALMENTE INCORRETO

* Honório de Medeiros

Algo não é moralmente correto porque é legal. Tampouco algo não é legal porque é moralmente correto. Mas se for ilegal é moralmente incorreto. E se incorreto moralmente, é ilegal.
 Ilegal e imoral.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O GOVERNO DO RN TEM RECEITA PARA COLOCAR EM DIA O PAGAMENTO DOS SERVIDORES

* Honório de Medeiros

O Portal da Transparência do Rio Grande do Norte nos informa o seguinte, em relação ao pagamento de DESPESAS, no período janeiro a setembro de 2016:

Total Pago de Janeiro a Setembro de 2016: R$ 4.472.647.102,52.

Quanto ao pagamento de DESPESAS no período janeiro a setembro de 2017:

Total Pago de Janeiro a Setembro de 2017 R$ 5.106.559.826,55.

Ou seja, a DESPESA do Governo do Rio Grande do Norte cresceu:

R$ 633.912.724,03 (seiscentos e trinta e três milhões, novecentos e doze milhões, setecentos e vinte e quatro mil reais e três centavos).

O Portal também nos informa a RECEITA REALIZADA, no mesmo período de janeiro a setembro de 2016:

Realizada até Set/2016: R$ 7.085.696.647,62.

Quanto à RECEITA REALIZADA no período janeiro a setembro de 2017:

Realizada até Set/2017: R$ 7.606.562.257,47

Ou seja, a RECEITA REALIZADA cresceu:

R$ 520.865.609,85 (quinhentos e vinte milhões, oitocentos e sessenta e cinco mil, seiscentos e nove reais e oitenta e cinco centavos).

O que esses dados nos permitem inferir?

Tais dados nos permitem inferir que o Governo do Estado do Rio Grande do Norte aumentou seu gasto MAIS que sua RECEITA REALIZADA.

Trocando em miúdos: a RECEITA cresceu, mas o Governo resolveu gastar sabe-se lá com que, e deixou de lado, deliberadamente, o pagamento em dia do Servidor Público.

O "sabe-se lá com que" pode ser identificado, claro. É fácil fazê-lo. Fica para outra oportunidade.

O certo é que o gasto do Governo, como demonstrado anteriormente em http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2017/09/o-rn-nao-paga-em-dia-por-conta-do.html, não foi para cobrir o "déficit da previdência".

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

CAMUS PERCEBEU POR OLHAR, OU OLHOU POR PERCEBER?

* Honório de Medeiros

Camus, em seu "Diário de Viagem" (Record), lá para as tantas escreve o seguinte acerca de uma cena por ele presenciada no navio em que viajava para o Rio de Janeiro:

"Mais uma vez observo entre eles uma mulher já grisalha, mas de uma classe soberba, um belo rosto altivo e suave, (...) e uma postura sem par. Sempre seguida pelo marido, homem alto e louro, taciturno. Colho algumas informações, ela está fugindo da Polônia e dos russos para exilar-se na América do Sul. É pobre. Mas, ao vê-la, penso nas matronas bem vestidas que ocupam alguns camarotes de primeira classe."

Fico fascinado com esse olhar que distingue, o olhar de Camus, mas não me deixo seduzir pelo fascínio da primeira sensação, a da constatação da percepção de um estranhamento que coloca, de um lado, a soberba elegância de uma imigrante e, do outro, o trivial, o comum, o banal: as matronas da primeira classe.

Deixo-me seduzir, isso sim, ao constatar que o olhar é o instrumento que permite as ideias apreenderem essa distinção. A ideia é anterior ao olhar. Se assim não fosse o olhar nada constataria dessa distinção que Camus percebeu.

Em outro lugar (*), escrevi:

"Na Retórica dos Objetos é fundamental a noção de “estranhamento”. É por intermédio do “estranhamento” que decodificamos os objetos.

E o que seria o “estranhamento”? É algo difícil de conceituar, tal como a liberdade. Sabemos o que esta é, mas não sabemos dizer com propriedade o que ela é.

Em certo sentido “estranhamento” é uma desarmonia em relação ao padrão comum. Tal qual uma arte marcial, tornar-se hábil em captar essa desarmonia demanda contínuo exercitar-se até o limite do possível.

Recordemos o exemplo acima. Para alguém acostumado a perceber o que lhe cerca, a organização limpa e meticulosa da biblioteca do cliente chama a atenção por fugir do padrão comum. Ao conectar essa constatação com a que resulta do “ver” os restantes dos objetos espalhados pelo ambiente, torna-se possível fazer alguma inferência, ou elaborar alguma hipótese, para sermos mais precisos, acerca da personalidade do seu proprietário.

Em episódio bastante interessante da série norte americana “The Mentalist”, agentes do FBI buscam, em uma sala, uma câmera de vídeo escondida. As outras já foram encontradas e estavam postadas em lugares óbvios. O personagem principal, Patrick Jane, ao ser introduzido na sala, observa que um determinado espelho estava colocado em uma altura um pouco acima do normal. Levanta-se o espelho e lá está a câmera procurada. Mas como essa câmera filmava através do espelho? Patrick sabia que os ilusionistas usam muito um tipo de espelho que permite a quem está por trás visualizar através dele. A noção de “estranhamento” permitiu a localização imediata da câmera procurada.

Em outro episódio, esse bastante conhecido na literatura policial, Sherlock Holmes chama a atenção de Dr. Watson para o cão da propriedade onde acontece a investigação. Dr. Watson retruca informando que o cão não latiu. Sherlock pondera, então: “por isso mesmo”.

Ou seja, Sherlock vivenciou, ali, essa sensação de estranhamento."

Essa capacidade de sentir a sensação de "estranhamento", e, em seguida, abstraí-la, racionaliza-la, é, penso eu, a base do trabalho dos artistas, filósofos e cientistas.

(*) http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2016/11/a-retorica-dos-objetos.html

domingo, 1 de outubro de 2017

INATO OU ADQUIRIDO?



Honório de Medeiros

Quem leu "A Tempestade", de Shakespeare, ou a assistiu, conhece o célebre jogo de palavras:

"É um demônio, um demônio de nascença, / em cuja natureza jamais pôde atuar a educação."

O solilóquio completo de Próspero é o seguinte:

"É um demônio, um demônio de nascença, em cuja natureza jamais pôde atuar a educação. Foram perdidos todos os meus esforços; sim, perdido completamente, sempre, quanto hei feito a ele por amor à humanidade. Seu corpo com a idade fica hediondo e cada vez mais ulcerado o espírito. Atormentá-los vou até que rujam."

Eis como a arte antecede a ciência. 

A essência desse solilóquio é aquela da filosofia: "inato ou adquirido?"

Richard Dawkins a descreve assim, em "Fome de Saber", o volume 1 de suas memórias: "Os filósofos vêm pelos séculos afora refletindo sobre essa questão. Quando do que sabemos é embutido de forma inata, e até que ponto a mente é uma tábula rasa, à espera de que algo seja escrito nela, como acreditava John Locke?"

Karl Popper encaminhou seu gênio para resolver essa questão. É a medula de sua epistemologia. Aliás, até onde sei, o termo "tábula rasa" foi criação dele.

Muito interessante esse jogo de conectar idéias oriundas de diversas fontes. Shakespeare, Locke, Popper, Dawkins...

* Arte: www.mallarmargens.com

DE IRONIA

* Honório de Medeiros

Não gosto de ironias.

Pressupõem uma superioridade inexistente.


Com os fracos é covardia; com os iguais, desrespeito; com os fortes, temeridade.


A auto-ironia é condescendência, algo perigoso: incompreensível para os ignorantes e brecha por onde entra o raciocínio dos inteligentes.


A polidez, que não se confunde com a gentileza, é bem mais correta e eficaz.


Não destrata e mantém a distância.