sexta-feira, 8 de maio de 2015

ZÉ DIRCEU

Chicot, the Jester

* Honório de Medeiros


Volto sempre a Dumas. E quando a ele volto, busco mais do mesmo: releio, embevecido, a saga dos três mosqueteiros ou a estória da Dama de Monsoreau. A saga, como sabemos, é composta por Os Três Mosqueteiros, Vinte Anos Depois, e o Visconde de Bragelonne; a estória por A Rainha Margot, A Dama de Monsoreau e Os Quarenta e Cinco.

Alguns trechos creio saber de cor mas não os recito, a não ser para mim mesmo, enquanto minha imaginação constrói, arduamente, o cenário medieval pelo qual perambulam o sombrio Conde de Rochefort ou o Bobo e arguto Conselheiro de Henrique III Chicot, primeiro e único. Quando isso ocorre, há sempre um vinho honesto em minha taça, algum prato sendo preparado de acordo com "Ma Cuisine Médiévale", de Mincka, e o mesmo cd, "Promenade Baroque à Vaux Le Vicomte", toca no meu pequeno sistema de som.

Vaux Le Vicomte é o Castelo em estilo barroco que pertenceu a Nicola Fouquet, Marques de Belle-Île, Superintendente de Finanças de Luis XIV e que lá mesmo foi detido pelo verdadeiro D'Artagnan, Capitão dos Mosqueteiros do Rei, por ordem real.

Mas essa história vai além. Leio, quando encontro, tudo quanto posso acerca especificamente desses romances. Há muito escritos acerca desses romances. Alguns, inclusive, densos ensaios, como o "Histoire de Chicot, Bouffon de Henri III", de J. Mathorez, 1914, que eu sonho ler, um dia, após traduzi-lo como quem extrai leite de pedras.

Pois bem, recentemente reli, de Arthuro Pérez-Reverte, "O Clube Dumas", um romance voltado, subliminarmente, para os amantes dos folhetins e, mais especialmente, para os apaixonados por Alexandre Dumas. Pérez-Reverte é um grande escritor, um dos melhores da literatura recente em terras de Espanha. E a tradução dessa minha edição, comprada em sebo, vez que a outra, anterior, alguém levou de minhas estantes e esqueceu de devolver, é muito bem feita por Eduardo Brandão, dono de texto refinado.

Lá para as tantas, durante a leitura, encontrei um parágrafo que me fez parar a leitura. Eu encontrara algo muito interessante. É logo no começo. Conversam os dois personagens mais importantes do romance. Um deles questiona o personagem principal, lhe perguntando se ele tem amigos. Corso, esse personagem principal, responde com uma imprecação. Varo Borja, que o interrogara, absorve o repto e responde: "Tem razão. Sua amizade não me interessa nem um pouco, pois compro de você lealdade mercenária, sólida e duradoura.. Não é verdade?... O zelo profissional de quem cumpre seu contrato, ainda que o rei que o empregou tenha fugido, ainda que a batalha esteja perdida e ainda que não haja salvação possível..."

"(...) ainda que o rei que o empregou tenha fugido, ainda que a batalha esteja perdida e ainda que não haja salvação possível..." Isso me lembrou alguém. Quem? Parei a leitura. Cascavilhei a memória. Não demorou muito e encontrei a resposta.

Zé Dirceu.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O ESTADO NADA MAIS É QUE RELAÇÕES DE DOMÍNIO

* Honório de Medeiros

Em Israel os israelenses de origem etíope sentiram, esses dias, o braço armado do Estado. Protestavam contra a discriminação. O mesmo braço que bateu, sem piedade, nos professores paranaenses, sob o beneplácito do Governador Beto Richa. Protestavam contra a dilapidação do seu patrimônio, do seu futuro. Em todos os lugares é assim: coalizões formadas por interesses específicos, quase nunca confessáveis, defendem o espaço político conquistado com unhas e dentes, armas e luta. Desde que o homem é homem, na face da terra, tem sido dessa forma. Então entendam: o inimigo da paz é o Poder, que se espraia na Sociedade por intermédio do aparato estatal, ou seja, a norma jurídica e a arma. O Estado nada mais é que relações de domínio. Ponto final.