Já estive em Portugal, antes, por pouco tempo. Desta vez, entretanto, a demora está sendo longa. E aprofundada, horizontalmente, pois estou flanando também no seu interior, e verticalmente, pois puxo conversa onde chego, desde o taxista ao garçom, passando por balconistas de lojas, vendedores de jornais e revistas, e quem danado, segundo meus padrões, represente o povão. A conclusão é simples, mas dolorosa, porque resulta, sempre, de uma comparação com o Brasil. Para começo de assunto Portugal é lindo, sua história é muito interessante, e, ao contrário do que se supõe, o povo é educado e a nova geração muito bonita e bem cuidada. E alegre, nada melancólica. E tudo funciona, aqui, bem, muito bem, se comparado com o Brasil: educação, saúde, segurança e infra-estrutura. As cidades são limpas, sem mendigos, pastoradores de carro ou lavadores de parabrisas; o asfalto das ruas e das estradas é de primeira qualidade; os ônibus são novos e disciplinados; o trânsito flui normalmente e sem estresse. Como viajamos de carro pelo interior, pude perceber a limpeza das laterais das estradas, das cidades e dos lugares onde se para para uma visita ao tualete. A sinalização é perfeita. Quanto à segurança, o contraste também salta aos olhos: as pessoas andam pelas ruas, à noite, despreocupadas. Esqueci de falar do metrô: em termos de limpeza e regularidade, supera em muito o de Paris. Há senões? Claro que há! Como ainda volto,e por um período maior, a Portugal, escreverei algo acerca disso um pouco mais adiante. Enquanto não, quero confessar: ando muito surpreendido, e agradavelmente, com as terras lusitanas...
sábado, 23 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
VOU ALI BATER PERNA...
Editora Flâneur
Honório de Medeiros
A partir de amanhã entro de férias. E vou bater
perna na Europa velha de guerra, enquanto posso. Flanar. Viver a rotina dos
cafés, das livrarias, das feiras ao ar livre, das igrejas – como eu gosto
delas, e quanto mais antigas, melhor! – dos sebos, dos antiquários.
Nada que eu não faça aqui mesmo em Natal, Mossoró,
Martins, Pau dos Ferros, São Paulo, os chãos que eu sempre piso, os lugares nos
quais eu sempre ando, na condição de vivente curioso acerca da faina humana e
supostamente um pouco acima do analfabetismo
institucional que galopa Brasil adentro mais rapidamente que a Moça
Caetana no seu mister de povoar o céu, o purgatório e o inferno.
Esqueci Cabaceiras, na Paraíba, no Pai Mateus,
Sertãozão de Meu Deus, pedras e mais pedras, rochas e mais rochas, terra, mato
rasteiro, céu de um azul sem igual, noites estreladas de tirar o fôlego, e
emas, seriemas, veados, gato-do-mato, mocós, arapongas, jacus, toda a fauna do
Sertão que a fome e descuido dos homens praticamente extinguiu, o linguajar
arrastado contando “causos”, o chiste permanente, o cavaqueado dos meus irmãos
paraibanos no centro do seu, do nosso Paraíso sertanejo.
Pois bem, mas na República Tcheca só me programei
para fazer duas coisas: procurar a casa onde nasceu Hans Kelsen, o mais original
e profundo dos filósofos do Direito, se é que ela ainda existe, e visitar o
Cemitério Judeu. Nada mais. O resto é andar, perambular, deambular, flanar,
pensar no sentido da vida, na origem das coisas, enquanto o tempo passa,
pastorar o espírito de Vaclav Havel, com quem gostaria de trocar dois dedos de
prosa, e assim por diante.
De lá, Hungria, onde vou segurar a vontade de
fazer carreira até a Romênia para visitar o Castelo de Vlad Drakul, o Conde
Drácula. Segurada a vontade, a goles de Tokay, pretendo vadiar pelo Danúbio, o
quanto puder, escutando os magiares falam seu idioma incompreensível, olhar
atento à possibilidade de encontrar uma cigana que leia a minha mão e me diga,
em inglês macarrônico igual ao meu, que eu vou ser feliz, ter muita saúde, e
morrer bem velhinho, imensamente rico.
Então Viena. Em Viena, os cafés, para mim, o
Castelo de Sissi para minha amada. Eu vou a Sissi, claro, com ela; e, ela, claro,
vem aos cafés comigo, e vamos celebrar a vida, e nos deleitarmos com a beleza
da capital austríaca, e eu vou lhe contar acerca do surgimento do Positivismo
Lógico naquela Viena do começo do Século XX que viveu seu apogeu intelectual
antes que os nazistas chegassem. Quem me conhece sabe que procurarei, de todas
as formas possíveis, os rastros de Karl Popper, o maior filósofo do século XX,
um dos maiores de todos os tempos, seja na política, com sua análise de Platão,
Hegel e Marx, seja na ciência com sua epistemologia, construída a partir da teoria
da seleção natural. Filósofo, músico, matemático, lógico, epistemólogo, Popper
foi, com certeza, o último dos polímatas.
Depois Portugal. Ah, Portugal! Bom, agora vou
pedir licença para somente falar em Portugal um pouco mais à frene, se e quando
os excelentes vinhos do Douro me permitirem. Mas lá vou à procura de Eça de
Queirós, paixão antiga. E, como não poderia deixar de ser, pretendo mergulhar
fundo no Sertão de Portugal. Ou Certão, como se dizia em Português arcaico...
Até mais ver.
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