sábado, 16 de novembro de 2013

LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO NO ENSINO DA FILOSOFIA

"O lugar da lógica e da argumentação no ensino da filosofia"; editado por Henrique Jales Ribeiro e Joaquim Neves Vicente; Faculdade de Letras de Coimbra; 2010
 
 
Trata-se dos anais do colóquio internacional acontecido em Coimbra, promovido pela Faculdade de Letras de sua Universidade, em 4 a 5 de dezembro de 2009, do qual participaram professores e estudiosos de Portugal, Espanha, França e Canadá.
 
Relaciono, abaixo, os temas debatidos:
 
"L'étude de la première opération de l'intelligence: au coeur de la formation intellectuelle au niveau pré-universitaire"; "Mejorar em pensamento crítico contribuye al desarrollo personal de los jóvenes?"; "Es posible avaluar la capacidade de pensar criticamente em la vida cotidiana?"; "Argumentação e cuidado de si"; "O ensino da lógica no ensino liceal e secundário"; "Lógica formal no ensino secundário: o que estudar?"; "A lógica e o lugar crítico da razão"; "Do primado de uma LOGICA UTENS sobre uma LOGICA DOCENS no ensino da filosofia na educação secundária"; "La place de la logique et de l'argumentation dans l'enseignement secondaire de philophie em France"; "O lugar da lógica e da argumentação: do ensino superior ao ensino secundário em Portugal".
 
Henrique Jales Ribeiro é Professor Associado com agregação do grupo de Filosofia da Faculdade de Letras de Coimbra, onde atualmente rege as unidades curriculares sobre lógica e argumentação. É coordenador do Grupo de Investigação "Ensino de lógica e argumentação" da Unidade "Linguagem, Interpretação e Filosofia" que pertence à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Recentemente publicou, em nome do grupo que coordena, "Rethoric and Argumentation in the Beginning of the XXIst Century" (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009). 
 
No prefácio ao livro o professor Henrique Jales Ribeiro observa o seguinte:
 
"A lógica e a argumentação são áreas filosóficas fundamentais e transversais em relação ao conhecimento humano de maneira geral (e não apenas às chamadas 'ciências sociais e humans'), e absolutamente nucleares para a formação de um espirito crítico, dialógico e construtivo dos nossos jovens (e quiça filhos e/ou familiares) e futuros concidadão. São-nos de uma forma incomparavelmente bem mais marcante do que aquelas com que a matemática e as disciplinas tecnológicas, para as quais está virada hoje em dia a atenção da media e de alguns sectores de relevo na nossa sociedade, contribuem para o efeito."
 
O livro é de uma densidade à toda prova. Deu-me muita satisfação intelectual lê-lo. Recomendo-o vivamente.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O MISTÉRIO ACERCA DA AMANTE DO CANGACEIRO ANTÔNIO SILVINO

Honório de Medeiros

Para Anderson Tavares de Lyra, Kiko Monteiro, Geraldo Ferraz, Laélio Ferreira, José Tavares de Araújo Neto e Sérgio Dantas.

Meu amigo Anderson Tavares de Lyra, cascavilhando na Biblioteca Nacional (Hemeroteca Digital Brasileira) encontrou essa preciosidade nos arquivos da histórica revista “O Malho”, e houve por bem com ela me presentear:
 
A fotografia de Antônio Silvino é por demais conhecida. As outras, não. Principalmente a da mulher, que imediatamente me chamou a atenção, em primeiro lugar por sua beleza, seu ar assustado, sua presença na reportagem; e, em segundo lugar por provocar, em mim, o desejo de saber mais acerca do seu destino.
 
Leiam o que a reportagem da revista diz a seu respeito:
 
"Antônia de Arruda, amante de Antônio Silvino, tendo ao peito uma medalha com o retrato do amante."
 
E nada mais.
 
Imediatamente postei a fotografei nessa imensa praça virtual que é o Facebook, mais precisamente em "Cangaceirólogos" e "Cariri Cangaço", com o seguinte texto:
 
"Alguém sabe algo acerca dessa senhora que está na fotografia abaixo?"
 
Individualmente pedi a ajuda do meu compadre e amigo Kiko Monteiro, homem forte do lampiaoaceso.blogspot.com, músico e pesquisador da cultura sertaneja nordestina, entre outras qualidades.
 
As respostas foram interessantes, muito embora o mistério continue. O próprio Kiko Monteiro, por exemplo, observou o seguinte:
 
"Compadre Honorio de Medeiros deste conjunto de fotos eu já tinha três, mas a legenda não informava o nome da cabocla. Outro dia consultando rapidamente o livro de Sergio Dantas nós identificamos outra paixão do cangaceiro que foi "Maria Anunciada" mas não continha foto para comparação. Agora temos e enfim o que não faltou foi mulé pra este homem. Seria nosso saudoso Alcino acometido do mesmo Gene sedutor de Silvino? Já a foto do Theopanhes avô de nosso confrade Geraldo Ferraz é inédita para mim. Obrigado pelo toque e por compartilhar no grupo."
 
Instigado por mim a se manifestar acerca da beleza de Antônia, o compadre Kiko Monteiro disse:
 
"Sim Honorio de Medeiros a beleza dela é evidente, só não mais porque esta foto é de momento de prisão ou interrogatório e certamente a bichinha não estava nada a vontade. Envie para Sergio, para sabermos mais sobre este envolvimento. Se foi passageiro ou se durou e se de repente veio a gerar filhos etc."
 
Entrou, então, no vai-e-vem nosso amigo Geraldo Ferraz, neto do então Alfere Teophanes Ferraz, à época Delegado de Taquaratinga, que prendeu Antônio Silvino e, imediatamente, foi promovido a Tenente. Teophanes é um dos pilares sobre o quais se sustenta a história do cangaço. Geraldo se pronunciou:
 
"Parabéns, bravos vaqueiros da história. Que belo conjunto foi disponibilizado. Até este momento desconhecia as duas últimas fotos. São, simplesmente, fantásticas. Mostram o "arroucho" da chegada ao Recife, mencionado em minha obra. Vide folha 113, Volume I - 'Na manhã de 2 de dezembro, aguardavam a chegada do trem, no largo da Estação Great Western, uma imensa multidão. Essas pessoas haviam chegado ao Recife, vindos de todos os pontos do interior, de trem, a cavalo, em cabriolés, carros de bois ou em lombos de burros, para ver de perto e enxergar com os próprios olhos, o desembarque do famoso bandido'."
 
Aproveito para recomendar a leitura de seu livro "Pernambuco no Tempo do Cangaço", em dois volumes, uma obra fundamental:
 
 
 
Então entrou em cena o poeta, glosador e ensaísta, Laélio Ferreira. Dele transcrevo as seguintes interessantes e argutas observações:
 
"Será essa senhora a mãe do General?
No final dos anos 20, afastando-se da magistratura potiguar e transferindo-se para Pernambuco, como Delegado-Regional de Polícia e depois Juiz da Comarca de Pesqueira, o Bacharel (de Olinda e Recife) FRANCISCO MENEZES DE MELO, meu tio, ao lado do Coronel THEOPHANES FERRAZ chefiava a tropa (volantes) que procurava impor a ordem na região do Pageú. A amizade entre os dois ficaria marcada pelo batismo de um filho do advogado potiguar, de nome ALUÍSIO MENEZES - hoje aos 84 anos, vivinho da silva. Aluísio, também Bacharel, é figura conhecidíssima nos meios desportivos do RN.
Doei, há algum tempo, toda a minha biblioteca, inclusive os livros sobre o cangaço. mas, tenho certeza de ter lido sobre um filho de Antônio Silvino GENERAL do Exército Brasileiro. Daí a minha indagação sobre ter sido o militar filho dessa senhora, Da.Antônia de Arruda.
Para alegria de nós todos, da Potiguarânia, saibam Vossas Mercês que, numa entrevista, o 'Rifle de Ouro', sem citar nomes, falou muito bem, sim senhores, de uns 'amigos' e 'compadres' do Rio Grande do Norte - que, mesmo depois da sua prisão, não tinham se apropriado dos dinheiros e bens (gado) que lhes havia confiado 'para guardar'. Por outro lado, esculhambava (sempre sem nomear ninguém) as 'mizades' paraibanas e pernambucanas... Arre égua!
Francisco Menezes de Melo, Bacharel de Olinda e Recife, Professor, Advogado, Juiz de Direito no RN e em PE, Delegado-Regional de Polícia naquele Estado, irmão de Othoniel Menezes, primogênito do casal João Felismino Ribeiro Dantas de Melo/Maria Clementina Menezes de Melo.
Theophanes Ferraz, amigo e companheiro do bacharel e magistrado natalense - que muitas vezes, montados ambos, à frente das volantes, fustigaram os cangaceiros - apadrinhou um dos filhos pernambucanos do Dr. Menezes, o também advogado ALUÍZIO MENEZES DE MELO, hoje com 84 anos, residente nesta Capital.(Natal).
Uma das legendas do cangaço, teve fama não somente por ser um bom atirador - ganhando o apelido de 'O Rifle de Ouro', inclusive, mas também por ser um grande conquistador. 'O cangaceiro flechou o coração de várias mulheres, tendo filhos com cerca de 40 com quem manteve relações durante a sua vida', conta o pesquisador Frederico Pernambucano de Mello.
'Mas muitos desses filhos foram ilegítimos, pois as mulheres não revelavam a verdadeira identidade do pai de seus filhos com medo deles serem arrastados por Silvino para a vida do cangaço', revela Severino Baptista de Morais, um dos quatro filhos reconhecidos por Manuel Baptista de Morais, verdadeiro nome de Antonio Silvino. Um dos filhos ilegítimos de Silvino, citado por Assis Chateaubriand, teria sido o empresário José Ermírio de Morais.
Chatô citou José Ermírio de Morais como filho espúrio de Antonio Silvino num artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 1956, intitulado 'O Vira Lata da Avenida Paulista', conta Severino de Morais, que adianta: 'isto poderia ser apenas uma briga entre grandes empresários não tivesse José Ermírio se utilizado desse fato para sair dizendo que era filho de cangaceiro no sertão de Pernambuco quando fez sua campanha para o senado. Porém, de pois que ganhou a eleição, José Ermírio não tocou mais no assunto'.
 
Laélio Ferreira enriquece qualquer debate quando se faz presente. De sua lavra é a obra prima:
 
 
Como se pode depreender, o mistério aumentou.
 
Lá de Pombal, na Paraíba, o professor José Tavares de Araújo Neto também tentou nos ajudar:
 
"Vi referência a uma amante de Antonio Silvino , chamada Antonia F. de Arruda, em um dissertação de mestrado, intitulado “De Governador dos Sertões a Governador da Detenção”, de autoria de Rômulo José Francisco de Oliveira Júnior.
Mas fala pouca coisa. Diz que ela foi presa sob a acusação de acoitar o cangaceiro.
O pesquisador Rostand Medeiros em um de seus artigos fez mençao a Antonia, inclusive ilustrou sua com esta mesma foto. A prisão de Antônio Silvio em 1914, por Rostand Medeiros. http://tokdehistoria.wordpress.com/.../"
 
Mesmo assim não conseguimos avançar. Minha última esperança é o grande pesquisador do cangaço Sérgio Dantas, autor de várias obras fundamentais, dentre elas:
 
 
É aguardar.
 
PS de Geraldo Ferraz:
 
"Colocando um pouco mais de lenha na fogueira e, valendo-me do livro Antônio Silvino, o rifle de ouro, do escritor Severino Barbosa, 2ª edição (1979), descubro que, só na parte destinada a Iconografia, o escritor destaca que a senhora da foto havia sido: 'O último amor de Antônio Silvino. Sua amante desconhecida, residia em Afogados da Ingazeira'. Com a palavra o confrade Sérgio Dantas."

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

QUANTO ÀS AFIRMAÇÕES DE QUE O POSITIVISMO JURÍDICO DEFENDE A APLICAÇÃO MECÂNICA DA NORMA


Hart
 
Honório de Medeiros

1. Hans Kelsen: a produção da Norma jurídica dentro da moldura que é a Norma Jurídica é livre;
2. Herbert Hart: a textura aberta (“open texture”) do Direito se baseia nos amplos espaços de discricionariedade do aplicador, de seu papel criativo (“hard cases x clear cases”; “penumbral decisions”); o “judicial law-making” é semelhante ao Fenômeno da Recepção;
3. Joseph Haz: o "Raciocínio Moral" (trocar por “Raciocínio Político”, para fugir da metafísica): os juízes criam o Direito quando não há explícita previsão legislativa;
4. Ernst Weinaib: a dedução da solução concreta em cada caso mediante a mera interpretação do texto legal é improcedente, pois sempre há a possibilidade de indeterminação nos textos normativos; no formalismo, a eventualidade da indeterminação não pode nem deve ser excluída.
É de se considerar que o positivismo jurídico, ontologicamente, tem como pressuposto fundamental uma oposição à metafísica enquanto explicação do fenômeno jurídico. Trocando em miúdos: o Direito, enquanto fato (epifenômeno) pode e deve ser entendido e explicado cientificamente. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O PESO DO MEU SILÊNCIO



Honório de Medeiros


Não me exporei,
cá estou.
Venha, se puder.
Busque-me.
Assim o farei eu,
se o desejar.
Nada tenho que valha a pena
dizer,
por enquanto.
Não sei se tive,
ou terei.
Eu lhe digo mais,
agora,
com meu silêncio.

SER GENTIL NÃO É SER HUMILDE

Susan Sontag
 
 
Honório de Medeiros

Em seu Diário (As Consciouness Is Hamessed To Flesh: Journals and Notebooks, 1964-1980), Susan Sontag se propõe, em 20 de julho de 1977:

"Ter um espírito nobre. Ser profunda. Nunca ser gentil".

O comum dos mortais, cada vez mais sem descortínio, confunde gentileza com humildade. Talvez seja essa confusão entre gentileza e humildade que levou, em uma época de feroz competitividade, Sontag a desdenhar a gentileza. Se não se impusesse essa regra de conduta, poderia correr o risco de ser considerada alguém humilde, e posto que humilde, frágil, o que seria fatal no demi monde ao qual ela pertencia, como se percebe em Proust, no Em Busca do Tempo Perdido, ou em Honoré de Balzac, no La Comédie Humaine.

Percebe-se em qualquer canto deste mundo, claro, onde, como disse Thomas Hobbes, "homo homini lupus", mas convenhamos: antes em Proust que na bodega da esquina.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O RIO GRANDE DO NORTE É UMA TRAGÉDIA

O Rio Grande do Norte é uma tragédia. Tragicomédia.
 
Hoje, aqui, nada funciona: nem saúde, nem educação, nem segurança pública, nada, nada.
 
A quantidade de mortos em ações violentas, é algo semelhante a uma guerra. É como se vivêssemos um pesadelo.
 
Ouvi no noticiário matinal que o turismo está em queda vertiginosa. A indústria do turismo, fonte de receita tradicional no Estado. E não se toma uma providência. E depois vão alegar que a receita caiu. Ninguém quer vir para cá: sujeira, insegurança, falta de atrativo, carestia...
 
O programa do leite, um dos poucos programas públicos que nossa incapaz elite política houve por bem criar, está morrendo. A sensação é de caos, caos, simplesmente.
 
Enquanto isso investem milhões em um estádio de futebol. Em um estádio de futebol! Investem em obras desnecessárias, enquanto a seca dizima o rebanho bovino potiguar.
 
Nem se comenta o problema de saúde pública que a água usada para consumo humano pode causar. O quê danado o povo do bairro proletário Manoel Deodato, de Pau dos Ferros, cidade cujo abastecimento está em colapso, vai usufruir do pomposo Arena das Dunas? E os municípios vizinhos, do Alto Oeste? E do Seridó? E do Agreste?
 
E quanto aos servidores públicos?
 
O Tribunal de Justiça diz que as contas apresentadas pelo Governo do Estado estão erradas. O Ministério Público, também. O Tribunal de Contas, idem. A Assembleia Legislativa, da mesma forma. Parece que somente está faltando se pronunciar a Diocese. Cabe a pergunta: quando uma providência será tomada em defesa dos servidores públicos?
 
Quando a remuneração será paga em dia? Quando receberão os servidores seu terço das férias, inclusive o atrasado, assegurado constitucionalmente? Quando poderão gozar suas licenças-prêmio? Quando poderá ser implantado, em seu pagamento, os adicionais por tempo de serviço?
 
Aliás, a pergunta correta a ser feita é a seguinte: porque o servidor público é quem tem que pagar o pato?
 
Enquanto isso os eleitores se preparam para voltar às urnas e eleger os mesmos políticos responsáveis por tudo que estamos passando. Ou seus filhos. Ou netos. Ou apadrinhados...