sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

LONGE, AS SERRAS...

 

Imagem: Honório de Medeiros


Longe, as serras. Acima, nuvens carregadas de chuva. O verde da mata. A estradinha de terra vermelha rasgando o chão. A água do açude. A árvore onde araras fizeram pouso. O perfume do ar carregado de umidade. Vou amarrar minha burra choteira aí, nesse presente de Deus. Eu e minha amada. Numa casinha simples, alpendrada, onde a passarinhada faça pouso, e, de noite, um ou outro saci venha pitar, quando for lua cheia...

terça-feira, 28 de novembro de 2023

ADEUS, SÁTIRO

 

Imagem: Carlos Duarte

Tão antiga era a relação de Padre Sátiro com meus pais, comigo, e minha irmã Emília, que começou antes que eu nascesse.

Sátiro assumiu a capela de São Vicente em 1956. Eu nasci bem dizer ao lado da igreja, em 1958. 

Minha mãe foi diretora da Escola 13 de Junho - criada por ele - ali na esquina da Rua Dr. Francisco Ramalho, a partir de sua instalação até quando adoeceu. Administrou a capela e integrou eu coro anos a fio; meu pai foi seu financeiro e lá serviu como Ministro da Eucaristia.

Até vir para Natal, em 1974, e desde o primeiro ano primário, tive Sátiro como Diretor e várias vezes professor.

Menino, junto com meus amigo de infância, brincamos todos os dias, chovesse ou fizesse sinal, no patamar da capela, destruindo os jardins que ele mandara plantar , o que nos custava infindáveis "carões" memoráveis quando éramos encontrados no Diocesano.

Não brincávamos, apenas. Lembro bem de Marcos Porto e eu, meninos, balançando o turíbulo sob nuvens de incenso, nas anuais noites da novena de Santo Antônio que ele oficiava, cujo hino ainda sei de cor.

Bem depois, em um gesto de grande carinho e delicadeza, abriu a capelinha do Colégio Diocesano para celebrar meu casamento.

Por fim, estava presente, solidário na dor, encomendando os corpos de Seu Chico Honório e Dona Aldeiza Sena, quando de suas mortes.

Mas a lembrança que sempre permanecerá comigo, foi a imagem dele rezando um terço, de cabeça baixa, sentado próximo ao altar da capela, em frente ao caixão no qual meu pai recebia as despedidas definitivas.

No final, fui cumprimentá-lo. Ele olhou para mim e disse: "você perdeu o pai; eu, um grande amigo".

Adeus, Sátiro. Ou até algum dia.