domingo, 30 de dezembro de 2012

NOVAMENTE A PRIMEIRA CHANCE

 
 
 
François Silvestre
 
Novamente a primeira chance.
 
Ouvi numa canção de Rock, em inglês, uma frase poética que dizia mais ou menos assim: Não quero uma segunda chance. Mesmo que me seja dada uma segunda vida, quero novamente a mesma primeira chance.
 
Pois é. Não tive o talento para compor esses versos, mas foi sempre assim que repensei minha vida. Gostaria de uma segunda vida, não de uma segunda chance. Até porque gostaria de ter os mesmos amigos para amar e os mesmos inimigos para desprezar. O mesmo lugar de nascimento, a mesma origem e a mesma família bocó da primeira vez.
 
Os mesmos mofumbos para me esconder e o mesmo jardim da casa da avó. Os mesmos medos para vencer e os mesmos sonhos inalcançáveis. As mesmas molecas que pari e os mesmos paridos delas.
 
Nem o cinzento da seca eu quero diferente, pois só assim a chuva se faz desejo.
 
As mesmas dores, para exercitar a tática de vencê-las. Os mesmos atropelos, para afiar o gume de superá-los. E mesmo sem vencer umas ou superar outros, não peço suavidade neles, mas a chance de ter de novo a mesma primeira chance.
 
Arrependimentos, não. Que é coisa de cristão. E só fui cristão na infância, por indução irresistível. Autocrítica, nem tanto, que é coisa de marxista; e eu o fui, na mocidade, por influência da ingenuidade.
 
Mesmo assim quero Cristo de novo e novamente Marx, na nova primeira chance. Duas grandes figuras que nasceram na humanidade errada, ou na pré-humanidade.
 
Alguns livros deixaria fechados, desletrados que foram da primeira leitura. Outros a serem abertos, muito poucos; pois a vida merece mais vida e menos leitura. Não escrever antes dos quarenta, para renegar a escrita só aos sessenta. E rasgar meia página de cada página escrita. E da meia página salva, deixar exposto apenas o último parágrafo.
 
Apoiar todas as campanhas contra a bebida alcoólica, acompanhado de uma cerveja gelada; para dar testemunho da irresistível hipocrisia. E tomar todas as cervejas possíveis para diminuir o estoque e agradar aos abstêmios.
 
Aprender todas as rezas de afugentar visagens, durante a noite, e esquecê-las ao amanhecer. Pileque à tarde para conquistar a noite e ressacar a madrugada.
 
Olhar de chã e igualdade para os humildes, ombro a ombro. Olhar de serra pra grota, de cima pra baixo, os poderosos falsos e fáceis arrogantes.
 
Não perder a oportunidade de uma flatulência na presença deles.
 
Manter distância higiênica do poder. Cuja força falece ante a vulnerabilidade. Até dos que estão na festa sem o convite da Constituição. Penetras do foguetório.
 
Manter a reclusão na democracia e a revolta na ditadura.
 
Mesmo que a democracia seja apenas uma ditadura alegre.
Lutar por eleições e depois votar nulo.
 
Peço ao infinito surdo uma segunda vida quase do jeito da primeira vez. Numa nova primeira chance.
 
Té mais.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

INDÚSTRIA DA SECA IGNORA O PATRIMÔNIO DAS ÁGUAS

Do blog do Carlos Santos:


"Seca com Umari, Armando Ribeiro e a Barragem Santa Cruz sem aproveitamento de águas, é caso de polícia, crime contra humanidade e não um fenômeno climático.
 
Fenômeno em nossa região é o inverno torrencial, a abundância dos rios cheios e ruidosos, levando tudo à sua frente e engolindo suas próprias margens.
 
Continuamos sendo vítimas da indiferença, do imobilismo, da frieza de gerações e gerações de administradores públicos.
 
A “indústria da seca” é um próspero negócio desde os tempos da Coroa.
 
E assim continuará."

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"GRUDA QUE ELE PISA, PISA QUE ELE GRUDA"


Cintia Mercer
 

Por Cintia Mercer 

"# Fato:
 Eu, sinceramente, não concordo com esse ditado de "gruda que ele pisa, pisa que ele gruda". Sabe porque? Os relacionamentos que mais duram não são feitos de joguinhos, são feitos de sentimentos e verdade. Se você não dá atenção o suficiente, como espera receber também? Eu acredito, mesmo, que cada um deve ter seu espaço, mas quem não adora receber uma mensagem de "boa noite"? quem não adora escutar um "eu te amo" ? O que ocorre na verdade é que de tanto você "pisar" um dia ele "desgruda". Então, aprenda: Dê atenção para quem te dá atenção. Na mesma medida, nem mais e nem menos. Sabe porque? Quem gosta de joguinho é criança."

O SERMÃO DO BOM LADRÃO, PADRE VIEIRA

Do blog de Ricardo Noblat 


Pe. Antônio Vieira
 

(...) O que eu posso acrescentar pela experiência que tenho é que não só do Cabo da Boa Esperança para lá, mas também da parte de aquém, se usa igualmente a mesma conjugação.
 
Conjugam por todos os modos o verbo rapio, não falando em outros novos e esquisitos, que não conhecem Donato nem Despautério (a).
 
Tanto que lá chegam começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos, é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo.
 
Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o misto e mero império, todo ele aplicam despoticamente às execuções da rapina.
 
Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes mandam; e para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos.
 
Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem; e gabando as coisas desejadas aos donos delas por cortesia, sem vontade as fazem suas.
 
Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito; e basta só que ajuntem a sua graça, para serem, quando menos, meeiros na ganância.
 
Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões.
 
Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuando os furtos.
 
Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras quantas para isso têm indústria e consciência.
 
Furtam juntamente por todos os tempos, porque o presente (que é o seu tempo) colhem quanto dá de si o triênio; e para incluírem no presente o pretérito e o futuro, de pretérito desenterram crimes, de que vendem perdões e dívidas esquecidas, de que as pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas, e antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos.
 
Finalmente nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plusquam perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse.
 
Em suma, o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar, para furtar.
 
E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados e ricos: e elas ficam roubadas e consumidas...
 
Assim se tiram da Índia quinhentos mil cruzados, da Angola, duzentos, do Brasil, trezentos, e até do pobre Maranhão, mais do que vale todo ele.
 
 
Padre Antonio Vieira, sacerdote jesuíta, professor de retórica, pregador, confessor, embaixador e escritor português. Trecho do Sermão do Bom Ladrão, escrito em 1655. Proferido na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua corte. O retrato que apresenta o autor é de Cândido Portinari.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

UM ANJO NEGRO DE LULA?

Paulo de Tarso Venceslau e a face escura de Okamotto
 
 
 
Um dos fundadores do PT, Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido e demitido do cargo de secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos depois de ter revelado a Lula delinquências envolvendo bandidos de estimação do chefe supremo.
 
Esse foi um dos muitos episódios que lhe permitiram ver de perto a face escura de Paulo Okamotto, iluminada por um artigo publicado no blog do Ucho.
 
Paulo Okamotto
 
 
Confira dois trechos do texto:
 
Okamotto costumava circular pela prefeitura de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com a anuência da então prefeita Ângela Guadagnin.
 
No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me enviou o relatório, fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamotto e Paulo Frateschi, segundo me relatou a própria prefeita.
 
O administrador do sindicato, Sadao Higuchi, era quem encaminhava os recursos vindos do exterior a Okamotto.
 
Em 13 de junho de 1998, em plena campanha eleitoral, Sadao morreu “afogado” numa represa localizada nas proximidades de Bragança Paulista. (…)
 
Morreu afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme detalhe: tratava-se de um bote inflável.
 
Coisa de direitista delirante? Mais uma da elite golpista? Invencionice da mídia conservadora? É difícil enquadrar nesses clichês o economista Paulo de Tarso Venceslau.
 
Paulista de Santa Bárbara d’Oeste, hoje com 69 anos, Venceslau se engajou na luta armada como ativista da Ação Libertadora Nacional (ALN), participou em setembro de 1969 do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, foi capturado dias depois pela polícia política, passou cinco anos na cadeia e ligou-se a um dos grupos que fundariam o PT.
 
Não é loiro. Nem tem olhos azuis.
 
Anos depois de ouvir ameaças de morte berradas por torturadores decididos a fazê-lo falar, Venceslau voltou a ouvi-las sussurradas por companheiros decididos a fechar-lhe a boca.
 
Na prisão, poderia ter morrido por insistir em mentiras. No PT, quase morreu por ter contado a verdade.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MESMO QUE EU NÃO O CONHEÇA, FELIZ NATAL

Por Carlos Santos

O que eu desejo para o Natal?
 
Respondo-lhe:
 
- Tudo que é comum a outros dias, em minhas manifestações. Bastam saúde e paz.
 
Não sei quem você é? Talvez não lembre do seu rosto, menos ainda do seu nome. És um estranho, provavelmente.
 
Sem problema. Nada me impede de continuar lhe desejando saúde e paz.
 
O caso não é um arroubo próprio do que costuma ser definido como “espírito natalino”. É até mais simples. Diria que é um mantra, resposta pacífica aos que resmungam, vomitam impropérios e que acabam o mundo em sua volta a cada amanhecer, sendo Natal ou não.
 
O Natal tem uma atmosfera ambivalente. É misto de alegria e melancolia, caldeirão de sentimentos. Soma e perda, um pouco do que quero e tenho; a certeza do que perdi e me falta.
 
Como resistir à criança com olhos cintilantes, que ronda a árvore enfeitada de sonhos?
 
Impossível não ser tocado pelo sorriso dos que nada possuem e que são lembrados hoje, mesmo que esquecidos logo amanhã, pela ‘caridade sazonal’ de alguns mais afortunados.
 
Os sabores e aromas mexem com nossos paladar e olfato. Atiçam todos os nossos sentidos.
 
Eis as luzes, o colorido, a mesa posta…
 
O presépio continua na minha infância nos arrabaldes da Capela de São Vicente e Igreja do Coração de Jesus, em Mossoró. A casa de dona Maria de Uriel transformada em Belém, nossa Galileia em miniatura, ao alcance da mão traquina.
 
A espera de Papai Noel está atualíssima, mesmo que agora sem mistério. Causava insônia. Dali nascia a tentativa de simular o sono para flagrá-lo exatamente àquela hora em que deixaria meu brinquedo embaixo da rede.
 
Ele, o bom velhinho, enfim descoberto. Um espectro na escuridão, de silhueta conhecida, cometia o inafiançável crime da perpetuação da felicidade.
 
Eu, cúmplice, prometi a mim mesmo nunca entregar sua real identidade.
Crescido, com a vida indo bem além do Cabo das Tormentas, não é o lúdico que me instiga nesta data. Entre o profano e o sagrado, tento ser indiferente ou pelo menos cumprir o ritual exigido para o bom convívio social.
Oscilo entre a alegria da atmosfera dos festejos e a própria deprê que paradoxalmente esse período provoca.
 
Bom, me conheço. Um velho amigo, Diassis Linhares, até emendaria com sapiência: “Algumas pessoas amadurecem, outras apodrecem”.
 
Amadurecer é estar pronto no tempo certo, uma forma de sempre nascer. Aí o Natal se encaixa perfeitamente. Palavra de origem latina, Natal vem de “nativitas”, que significa “nascimento”.
 
De algum modo renasço e sobrevivo às minhas perdas nos olhos daquela criança boquiaberta e encantada, diante do presépio de Maria de Uriel e à espera do Papai Noel. Meu presente – hoje – é ter passado.
 
O brinquedo embaixo da rede é apenas um detalhe. O que vale é o vulto dos meus bons velhos diante de mim, a cada amanhecer. A cada dia, outro nativitas.
Saúde e paz.

domingo, 23 de dezembro de 2012

E SE VOCÊ SE ENGANOU QUANDO ESCOLHEU SUA PROFISSÃO?


 
 
Honório de Medeiros
                                   Ao longo de minha vida enquanto professor encontrei muitos casos de alunos que claramente não queriam se bacharelar em Direito. Estavam ali, no curso, cumprindo uma trajetória que não era de seu agrado. Prefeririam se dedicar à música, à história, a escrever, à arquitetura, jornalismo...

                                   Quando eu percebia procurava conversar. Às vezes, em alguns casos, sequer o aluno tinha percebido que sua praia não era aquela. Seduzido por ideais que lhe eram impostos pela sociedade, como status e dinheiro, ou, pior, por ideais que seus pais cultivavam, ali ficava ele, nas salas de aula, a passar horas e horas tomando contato direto com uma realidade, no seu caso, no mínimo entediante.

                                   Mesmo aqueles que sabiam exatamente o que queriam como fazer um concurso, se tranquilizar quanto ao futuro, e, então, se dedicar a alguma atividade que lhe desse prazer, como literatura, era fácil perceber uma dúvida latente e perturbadora a pairar sobre nossos diálogos enquanto conversávamos: “será que vale a pena todo esse tempo perdido? A vida é tão curta...”

                                   Pois bem, se é assim, ou mesmo que seja apenas para lhe assegurar a certeza de sua escolha, na medida em que isso é possível, ou por pura curiosidade, vale a pena ler esse livro que eu vou lhes indicar.

                                   Trata-se de “COMO ENCONTRAR O TRABALHO DE SUA VIDA”, de Roman Krznaric, editora Objetiva.

                                   Desde já advirto: não se trata propriamente de livro de autoajuda. O livro é sério, bem escrito, bem fundamentado, e faz parte de uma coleção “tocada” pelo filósofo Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus” e “Como Proust pode Mudar sua Vida”. Eu mesmo somente me interessei quando li uma citação de Richard Sennet, pensador de meu agrado, no livro.

                                   Quanto a Roman, é membro fundador da The School of Life, e foi nomeado pelo jornal Observer um dos mais importantes pensadores sobre estilo de vida do Reino Unido, além de ser conselheiro de organizações tais quais a Oxfam e Nações Unidas.

                                   Então, se for o caso, mãos à obra. Ah! Última observação: não estou ganhando dinheiro com essa indicação! Mas estou ganhando capital simbólico...

                                  

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

PROF. GILSON PEREIRA É CAMPEÃO MOSSOROENSE DE XADREZ DE 2012




GILSON RICARDO DE MEDEIROS PEREIRA, 55, professor-doutor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) é o Campeão Mossoroense de Xadrez de 2012.
 
Mossoroense da gema, GILSON PEREIRA é neto de Manuelito Pereira, o histórico fotógrafo de Mossoró. 

Após treze rodadas, com partidas acirradas e muito bem jogadas, o enxadrista Gilson Pereira sagrou-se vencedor invicto, com dez vitórias e dois empates, e uma rodada de antecipação.
O segundo lugar ficou com Carlan Amorim que marcou nove pontos e meio e o terceiro lugar ficou com Márcio Barbosa que marcou oito pontos e meio.
 
Prof. GILSON PEREIRA
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

AQUELE BEIJO QUE EU TE DEI



Honório de Medeiros
 
O beijo que eu presenciara, entre dois adolescentes, qual a Madeleine de Proust, me remeteu para um passado distante, no qual minha memória se deleitou e se abateu com as imagens borradas de vultos que transitavam em nosso entorno, sons não identificáveis e odores misturados de perfumes e suor, enquanto sentados por sobre um batente qualquer, nós, eu e ela, de quem sequer lembro o nome, ou mesmo o rosto, exceto, apenas, o vulto esmaecido de um rosto claro, cabelos negros, lisos, cortados curtos à moda Príncipe Valente, e lábios cheios, fartos, trocamos meu primeiro beijo.

                      Dias mágicos aos quais fui conduzido pelo trem no qual meu pai, um dia, muito antes, havia sido chefe. Somente isso já valera a pena. A sensação de liberdade que a primeira viagem sozinho originou foi alimentada pelas cervejas tomadas com o amigo recém-adquirido no restaurante para o qual minha curiosidade me impeliu.  Ali meu pai trabalhara, durante muito tempo.

Na chegada, na cidadezinha onde iria haver o casamento de uma prima distante, eu me misturei com uma legião de parentes desconhecidos aos quais eu me apresentava como representante dos meus pais. Entre homem e menino, logo, logo, porém, me esqueci da missão diplomática que me havia sido confiada, e me aventurei com alguns primos por uma caminhada até uma fazenda remota na esperança de em lá chegando, saciaríamos nossa fome com mangas saborosas que embora fartamente consumidas, não resolveram o problema que somente a bondade de um morador, ao nos oferecer farinha amassada com feijão de corda e rapadura, finalmente deixou para trás. Como esquecer o sabor e o cheiro daquele almoço inesperado?

                       À noite, o casamento e, em seguida, a festa no Mercado. Lá, olhares e um convite para uma dança canhestra, logo esquecida, nos aproximou. Sentamo-nos em um batente qualquer. Pouco nos dissemos. Em um momento especial, no qual o tempo e o espaço pareciam suspensos, nos beijamos naturalmente, e o beijo teve um sabor de bala de hortelã e de algo mais que não sei descrever.

Não creio que alguém esqueça o primeiro beijo. Nunca esqueci o meu. Já na volta para minha cidade natal, no mesmo trem, eu me perguntava se algum dia ainda conseguiria encontra-la. Dentro de mim achava que não, mas nutria alguma esperança.

Não porque ansiasse por outros beijos seus, ou mesmo porque lhe tivesse algum afeto irrompido naquela noite especial. Não por que quisesse ter a saudade erótica de um corpo que a noite festiva apresentara apenas nuançado. Não se trata disso. O que eu queria era observar, até mesmo distante, de longe, e gravar para todo o sempre, e assim pudesse convocar quando desejasse a lembrança detalhada daquela bela adolescente que uma noite, na qual quase não nos falamos, me deu meu primeiro beijo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, CONCLUSÃO


Coronel Rodolpho Fernandes: a história os uniu...
 
 
Massilon: em lados opostos.
 
 
Honório de Medeiros
 
Terá sido assim que tudo aconteceu? Concretamente não se sabe. Os indícios, entretanto, estão aí, para quem quiser analisá-los, relacioná-los e descobrir o que eles formam.
 
São fortes esses indícios. São como pontos de uma malha, intersecções de uma rede, elementos possivelmente conectados formando uma unidade, aguardando que alguém consiga tirá-los da sombra e trazê-los para a luz do sol, revelando a verdade que o tempo cada vez mais condena ao esquecimento.
 
Os personagens são todos fartamente citados na literatura acerca do assunto. Uns mais, outros menos: o Coronel Rodolpho Fernandes; o Coronel Francisco Pinto; o jagunço/cangaceiro Massilon Leite; Lampião, o rei do cangaço; o Coronel Isaías Arruda; os coronéis apodienses; os coronéis paraibanos; o Governador José Augusto Bezerra de Medeiros.
 
É difícil acreditar que todas as questões levantadas e não respondidas teriam respostas circunscritas à própria causa específica que as fez surgir, sem que houvesse qualquer relação entre as mesmas que suscitasse uma conexão, uma unidade de propósitos.
 
Essa teoria, evidentemente, ainda está sob o domínio da especulação: talvez jamais venha a ser descartada ou encampada definitivamente, se não surgir algum fato novo, como alguma correspondência, algum diário, relato, guardada em baús, armários ou armazéns, em propriedades rurais ou imóveis urbanos, coberta pelo pó do tempo.
 
Há muito que pode ser dito para negar essa teoria, a de que o ataque de Lampião a Mossoró foi resultado de um complô político que visava assassinar o Cel. Rodolpho Fernandes. Tal complô, se houve, foi um dos últimos espasmos[1] do coronelismo que sob a forma pela qual ficou conhecido, ditou os rumos do Sertão nordestino, o Sertão de Lampião e Pe. Cícero, dos cantadores de viola, dos jagunços, das volantes, do final do ciclo do couro, até a chegada de Getúlio Vargas e do Estado Novo.
 
Esse coronelismo sucumbiu à presença do Estado. O coronelismo, não.
 
Então resta dizer, à guisa de conclusão, que as coisas podem não ter acontecido como descrito até agora.
 
Mas que poderia ter sido assim, isso poderia...


[1] O último mesmo, até onde se sabe, foi o assassinato do Cel. Chico Pinto, de Apodi, na famosa campanha do Partido Popular contra o Interventor Mário Câmara.

domingo, 9 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL, FELIZ ANO NOVO, FELIZ FÉRIAS!

rosasdocotidiano.blogspot.com
 
 
Eu lhes desejo, caros leitores, feliz natal, feliz ano novo e, quando for o caso, feliz férias.
Quanto a mim, é o caso.
Que Deus nos abençoe a todos, inclusive os que Nele não acreditam.
E, se possível, que mande chuva para o Sertão e juízo, muito juízo, para todos os homens!
 
Honório de Medeiros 

sábado, 8 de dezembro de 2012

A APROPRIAÇÃO, PELO ESTADO, DA FORÇA DE TRABALHO DO SERVIDOR PÚBLICO


 
 
Honório de Medeiros 

                                      Esqueçamos as sofisticadas definições criadas pelos intelectuais acerca do que seja Estado. Vamos pegar a noção do senso comum, que é uma evolução do pensamento de Aristóteles acerca do que seja uma comunidade política: Estado é um território no qual vive uma população submetida a uma elite governamental supostamente representativa dos interesses da maioria, quando em uma democracia. 

                                      Essa elite governamental, para aumentar ou perpetuar seu poder, necessita de instrumentos através dos quais isso seja possível, os chamados “Aparelhos do Estado”, como o Poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário – todos eles cristalizações de relações de domínio – que “operam, se concretizam” por intermédio dos assim chamados “servidores públicos”. Em síntese: alguns mandando em muitos através de outros. 

                                      Os servidores públicos cumprem, portanto, uma dupla função: concretizam a dominação exercida pela elite governamental, da qual eles são integrantes, sobre a maioria da população e, ao mesmo tempo, são concretamente dominados pelo topo da hierarquia da pirâmide do Estado ao qual pertencem. Nesse papel de “correia de transmissão” entre o Estado e a Sociedade os servidores vendem, ao primeiro, em troca de uma remuneração, sua força de trabalho física ou intelectual. 

                                       No Estado brasileiro, por força de disposição constitucional pétrea, ou seja, “imexível”, essa remuneração não pode ser reduzida. 

                                      Essa mesma remuneração, muito embora não possa ser reduzida, é alvo permanente de apropriação por parte do Estado ao qual o servidor público presta serviço. Isso ocorre indiretamente, por exemplo, quando seu poder de compra é corroído pela inflação, e o Estado paga cada dia menos pelo mesmo trabalho, ou diretamente, quando a base de cálculo sobre a qual incide a alíquota do imposto de renda permanece baixa por que o Governo não corrige seu valor erodido pelo custo de vida, e, assim, mais servidores são tributados. Outro exemplo de apropriação direta é a imposição do pagamento da contribuição previdenciária aos aposentados, somente possível vergando-se, via Supremo Tribunal Federal, cláusula pétrea da Constituição. 

                                      A lista de exemplos é ampla: o não pagamento, pelos governos, dos débitos oriundos de questões jurídicas transitadas em julgado – os precatórios – e das decisões administrativas indiscutíveis e irrecorríveis, tais como férias vencidas e não pagas, pagamentos a menor, gratificações não incorporadas, e assim por diante; o pagamento vindouro, pelo servidor público, de contribuição previdenciária ao regime complementar, caso queira sobreviver, na aposentadoria, com algo além do teto que lhe reservará o regime próprio de previdência. Outro exemplo é a não implantação do Plano de Cargos e Salários, que impede o servidor público de ascender profissionalmente seja por mérito, seja por antiguidade, e, assim, melhorar sua remuneração. 

                                      Em todos esses exemplos se configura aquilo que o Poder Judiciário denomina de “enriquecimento ilícito do Estado”. Resulta da fome pantagruélica do Estado, permanentemente a atingir a classe média, constituída em grande parte por servidores públicos, espremida entre os que muito têm - a quem não importa o que lhes é cobrado - ou aos excluídos e miseráveis, de quem nada se pode arrancar. 

                                       O servidor público não tem como fugir da voracidade do Estado: indefeso, passivo, vê, todos os meses, o imposto de renda ser cobrado na fonte, ou seja, em sua remuneração, enquanto os megacontribuintes, pagando caro a escritórios especializados, através das brechas das leis vão driblando os fiscais e engordando seus lucros. Recente matéria publicada na Revista Veja (edição 2100, ano 42, nº 7, 18 de fevereiro de 2009) aponta para 20 bilhões de reais o débito de madeireiras, siderúrgicas, bancos, financeiras, empresas telefônicas, indústrias, cartéis econômicos, distribuidoras e postos de combustíveis, fabricantes de alimentos e medicamentos, promotores de eventos, supermercados e padarias, empresas aéreas e outros, para com o Governo. Esse valor é apenas estimativo.  

                                      Tampouco consegue reagir a essa apropriação silenciosa e eficiente: ameaçado de todas as formas, inclusive por intermédio da mídia subserviente comprada pelos governantes, assiste, perplexo, a uma permanente campanha difamatória contra si promovida quando o verdadeiro alvo deveria ser os cargos em comissão, as funções de confiança, os detentores de gratificações ou vantagens espúrias ou mal atribuídas, tudo quanto corrói e solapa a administração pública. Essa apatia, reforçada por mecanismos táticos compensatórios tais como gratificações, horas-extras, diárias, todas elas impossíveis de serem levadas para a aposentadoria, aliena o servidor público e deteriora a prestação do serviço à Sociedade.

                                      E não se está analisando, aqui, o mal que a ausência de uma política de qualificação contínua do servidor público pode causar. Tentativas esporádicas esbarram no óbvio: de que adianta qualificar-se se não há possibilidade de ascensão profissional, se não há promoção, se não há vantagens e regalias para quem se esforça e carrega o piano? 

Do ponto de vista estratégico o aviltamento da remuneração dos servidores públicos, no Brasil, implica no comprometimento da capacidade de consumo da classe média, fortemente por eles constituída. Esse aviltamento cerceia seu poder de compra e estimula a corrupção. Por outro lado implica, também, na impossibilidade de elaboração de políticas públicas consistentes, dado sua falta de qualificação. E como não as há, haja contratos milionários com a iniciativa privada para prestação de assessorias, consultorias e outros, através, quase sempre, de licitações – quando as há – manipuladas.  

Até quando, portanto, por intermédio dessa contínua apropriação, a classe média e segmento dos servidores públicos permanecerão bancando, alienados, o pagamento do serviço da dívida e financiando ações sociais assistencialistas, populistas, e obras públicas desnecessárias, impostas à Sociedade por meio de estranhos critérios que a mídia áulica se encarrega de legitimar? Até quando será a classe média e o servidor público responsável pela benemerência dos governantes junto aos excluídos e miseráveis para assegurar-se seu voto e lealdade política, sem qualquer contrapartida?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

DO PODER POLÍTICO

Do fabiopestana.blogspot.com


Honório de Medeiros
 
O Poder Político é o parâmetro fundamental para o estudo da tragicomédia sócio humana: está por trás de tudo.

Engendra as soluções para transpor os obstáculos que possam surgir. Constrói estratégias adaptativas.

Não há vazio no espaço social, por que o Poder Político está sempre presente. Mudam seus titulares por que o Poder Político muda de dono de acordo com fatores tais como competência, circunstância...

Tudo é prolongamento ou instrumento do Poder político. O que há para além dele? Ernst Becker diria: o medo da morte. Darwin diria: a necessidade de sobreviver.

Isto é, queremos o Poder Político porque queremos deixar nossa marca na história, na ânsia de uma imortalidade fictícia. Ou queremos o Poder Político porque somente assim asseguramos a sobrevivência dos nossos genes através dos nossos descendentes.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A POESIA DE ÁLESSON PAIVA


Para Olívia Campos
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Quem sabe nasça em minha alma um dia
 Um tal fulgor de estrela dançarina
 Graças a chama com que me ilumina
 Teu sol que em puro amor me irradia 

A tua luz à minha treva expia
 Trazendo ao caos do peito a paz divina
 E em cada dor teu beijo é medicina
 Teu toque cura acalma e alivia 

Se um ser em dois divide a alegria
 Dois serem um no amor só multiplica
 Quando nos dois tudo em um só fascina 

Enfim eu sei que em ti fiz moradia
 Eu sei tu sabes ninguém mais explica
 Pois és meu anjo estrela amor menina...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ, QUARTA E ÚLTIMA TEORIA, OITAVA PARTE


Honório de Medeiros
 

Quarta teoria: o ataque a Mossoró resultou de um plano político (oitava parte)
 

JÚLIO PORTO

É aqui que entra em cena o misterioso Júlio Porto, de Aurora, no Ceará, mesma cidade onde nascera e exercia enorme influência política o Coronel Isaías Arruda.

Em 1927 Júlio Porto tem vinte e três anos de idade. Júlio Porto não era Porto. Seu verdadeiro nome era Júlio Sant’anna de Mello. O “Porto” viera de sua estreita ligação com Martiniano Porto, por sua vez fidalgote nas terras do Apodi, e inimigo sangue-a-fogo do Coronel Francisco Pinto.

Martiniano Porto era relacionado por laços de interesse recíprocos com Tylon Gurgel e Benedito Saldanha[1] - futuro Prefeito daquela cidade -, todos ferrenhos opositores do Coronel Francisco Pinto. Tylon Gurgel era sogro de Décio Hollanda, e, Benedito Saldanha, protetor de Massilon Leite no Ceará, fronteira com Apodi, que se considerava “afilhado” de seu irmão, o Coronel Quincas Saldanha.

Júlio Porto[2] deve ter sido o elo de ligação entre os inimigos políticos dos Coronéis Francisco Pinto e Rodolpho Fernandes, e o Coronel Isaías Arruda[3], pelo fato de ser de Aurora[4]. Ele está presente em todos os momentos cruciais ligados à invasão de Apodi e Mossoró.

Sendo de Aurora, Ceará, com certeza conhecia José Cardoso, proprietário da Fazenda “Ipueiras”, parente e aliado do Coronel Isaías Arruda. A ele apresentou Décio Hollanda, genro de Tylon Gurgel, amigo e correligionário de Martiniano Porto e Benedito Saldanha. Dissera a Décio Hollanda, representante do consórcio político contrário aos Coronéis Francisco Pinto e Rodolpho Fernandes, talvez, que José Cardoso era o homem certo para se chegar ao Coronel Isaías Arruda e, através dele, a cangaceiros e jagunços a serem comandados por Massilon.

Temos, então, finalmente: Brejo do Cruz; Apodi; Aurora; Mossoró. A malha se fechou, mas se expandiu. Reforçou-se.

Outro indício do projeto oculto de matar o Coronel Rodolpho Fernandes quando da invasão de Mossoró é não ter sido o Coronel Isaías Arruda o idealizador do ataque à cidade e a Apodi, como já visto. Ele planejou, obviamente, e deu apoio logístico, mas a idéia lhe veio trazida de fora, trazida por Décio Hollanda, assim como a ele foi levado Massilon, a quem entregariam o comando do ataque, em decorrência da sua ligação com os Coronéis Quincas e Benedito Saldanha, líderes e mentores do consórcio político oposicionista.

Foi Décio Hollanda o emissário e era um dos beneficiários, na medida em que o ataque a Apodi, para ele, supostamente[5], eliminaria o Coronel Francisco Pinto, inimigo pessoal e político seu e do seu sogro. 

Uma vez que o ataque a Apodi deu certo, o Coronel Isaías Arruda foi convencido facilmente por Massilon a atacar Mossoró. Também já foi dito, aqui, que com a mentalidade rapace da qual era possuidor, percebeu o Coronel Isaías que sairia ganhando de qualquer forma com o episódio: aceitou planejar a empreitada, aproveitar a presença e CONVENCER LAMPIÃO, fornecer armas e munição, posto que com isso nada tinha a perder.

 Relembrando, a partir de Sérgio Dantas[6]:

Em dias de abril daquele ano[7], o sinistro caudilho[8] recebera importante solicitação. Décio Holanda – destacado fazendeiro do município de Pereiro, no Ceará – pediu-lhe que colocasse a “cabroeira” particular a seu serviço, posto que planejava tomar de assalto a cidade de Apodi, no Estado vizinho.
 

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[1] Do pesquisador Marcos Pinto, acerca de Décio Hollanda, Benedito Saldanha, e Tylon Gurgel, recebi a seguinte correspondência eletrônica: historiador Marcos Pinto recebi, em 23 de janeiro de 2012, a seguinte correspondência eletrônica:
Encontrei um fato por demais interessante no inquérito/processo que apurou o “FOGO DE PEDRA DE ABELHAS”.
Consta por testemunha firme e valiosa que DÉCIO HOLLANDA comprou, no começo do ano de 1925, duas mil balas de rifle e mandou esconder em local que o Capitão Jacintho não conseguiu localizar.
Agora, veja a coincidência: dois anos (1927) depois consta que Lampião recebeu um suprimento de duas mil balas de rifle quando se preparava para atacar Mossoró.
Ora, se esta munição não foi gasta nem apreendida pelo Capitão Jacintho, é a mesma que Décio conduziu, em caixões muito bem disfarçados, “escanchados” em lombos de burro, segundo octogenários que ainda hoje comentam o episódio em Felipe Guerra.
Estou alinhavando um novo artigo que terá o seguinte título: “CANGAÇO NO OESTE POTIGUAR – DO FIO DA NAVALHA AO FIO DA MEADA. Vou provar por A mais B a proteção dada ao cangaceirismo por parte dos desembargadores FELIPE GUERRA e HORÁCIO BARRETO e do Juiz de Direito JOÃO FRANCISCO DANTAS SALES, que recebia abertamente, em sua casa em Apodi, Décio Holanda, Tylon Gurgel e Benedito Saldanha.
JOÃO DANTAS SALES foi transferido, “a pedido”, para Acari, em 25 de maio de 1925, por instâncias do Governador José Augusto, que convenceu o então Presidente do Superior Tribunal de Justiça Estadual, atual TJE.
Acrescente-se que HORÁCIO BARRETO era sobrinho de JUVÊNCIO BARRETO, que veio de Martins para Apodi em 1915, à convite de MARTINIANO DE QUEIRÓZ PORTO, para fixar residência e cerrar fileira na oposição à família PINTO comandada por Tylon Gurgel e seu genro Décio Hollanda.
O Dr. José Fernandes Vieira também traficou influência em favor do seu sogro Martiniano Porto, sendo certo que, em 1925, o aconselhou a ir residir em Pau dos Ferros.
Observo que os dois mil cartuchos que foram comprados por Décio Hollanda, o foram em Mossoró, em 1925.
Lembrei-me de outra particularidade: o Desembargador Horácio Barrêto era sobrinho da esposa (Alexandrina Barrêto) do Governador do Rio Grande do Norte, Joaquim Ferreira Chaves, que deu apoio oficial à perseguição policial a Joaquim Correia e aos Ayres em Pau dos Ferros, em 1919. Horácio e Felipe Guerra foram indicados e nomeados desembargadores por Ferreira Chaves em 1919.
Felipe Guerra foi candidato e eleito Deputado Estadual em 1934 na chapa dos “Pelabucho” na qual constava, ainda, Benedito Saldanha. 
[2] Júlio Porto conhecia Mossoró como ninguém. Raul Fernandes nos relata o seguinte, em “A MARCHA DE LAMPIÃO”; 4ª. Edição; Nota 9 ao Segundo Capítulo: Joanna Bezerra da Silva, conhecida por Doca, deu-nos uma entrevista interessante: Morava em Mossoró. Empregada doméstica da casa de José de Oliveira Costa (Costinha Fernandes), comerciante, sócio da firma Tertuliano Fernandes & Cia. Disse que Júlio Porto fora por último chofer de caminhão da referida firma. Meses antes do assalto a Apodi, desaparecera de Mossoró. Vez por outra aparecia à noite, muito apressado. Entrava pelo portão do fundo do quintal da casa, pedia café à Doca e sumia. Aconteceu chegar vestido à moda de cangaceiros. Dizia ser o traje onde trabalhava. Agora basta relacionarmos essa informação com a carta de Argemiro Liberato e a manchete do jornal “O Mossoroense” anunciando o futuro ataque à cidade.
 
[3] Quando invadiram Apodi os cangaceiros deixaram claro que iriam invadir Mossoró, afirma “O Mossoroense”. Citar nota do jornal.
 
[4] Em seu depoimento Bronzeado corrobora essa versão, ao afirmar que: “trabalhava com o senhor José Cardoso, que mora em uma fazenda do senhor Izaias Arruda chefe de Missão Velha e do qual o Cardoso é primo. Estava ali trabalhando quando chegou a ordem do senhor Izaías de seguirem para Apody, afim de fazerem o ataque já conhecido, a convite do senhor Décio Hollanda, morador em Pereiro. Ele e outros não queriam seguir, mas foram obrigados. O portador da carta de Décio fora o conhecido ‘chauffeur’ Júlio Porto, também bandido, que aqui morou” (PIMENTA, Antônio Filemon Rodrigues; “O CANGAÇO NA IMPRENSA MOSSOROENSE”; Tomo II; Coleção Mossoroense; Série “C”; nº 1.104; 1999; Mossoró).
 
[5] Décio Hollanda não sabia que Massilon fora instruído, pelos Saldanha, a não matar o Coronel Chico Pinto quando do ataque a Apodi. O objetivo oculto de Massilon era desmoralizar e amedrontar o Coronel.
 
[6] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; Cartgraf Gráfica Editora; 2005; 1ª edição; Natal, RN.
 
[7] 1927.
 
[8] Isaías Arruda.