sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O "ESPERTO" NA POLITIQUINHA



Honório de Medeiros


                   Meu amigo Fulano me disse que tinha se aposentado da política. “Como assim?”, perguntei-lhe. “Quer dizer que não vai mais exercer qualquer cargo público?” “E se seu candidato voltar ao Governo?”

 Meu amigo, que foi do segundo ou terceiro escalão do governo de um dos estados vizinhos (claro!) abriu um sorriso matreiro e respondeu condescendente: “eu não quero mais cargo nenhum, mas vou ajudar meus amigos porque você sabe como é, tenho filhos para criar, e no nosso mundinho só vai p’ra frente quem se dá bem com os ômi”.

                   Meu amigo Fulano é um homem esperto, dentro daquela categoria que o finado ex-padre Zé Luiz genialmente criou lá pelo começo dos anos 80. Dizia Zé Luiz, e ele nunca aceitou essa história de ex-padre – “uma vez padre, sempre padre” – que há dois tipos de homens, que merecem atenção: os inteligentes e os espertos. E para ilustrar sua tese elencou, em sua coluna dominical no Poti, de um lado os espertos, do outro, os inteligentes. Não é preciso dizer o rebuliço que essa crônica causou na província.

 Pois bem, meu amigo Fulano é um homem esperto. Não tem o vôo dos condores, quando muito dos galináceos, mas sabe evitar uma panela e enxerga bem além dos seus passos curtos. Em certo sentido, jamais admitido nem por ele, nem por quem lhe fornece o meio para sobreviver, é alguém que vive de expedientes: ajeita aqui, ajeita acolá, facilita p’ra um, dificulta p’ra outro, se torna da cozinha do poderoso, na qual chega na hora do café-da-manhã trazendo as últimas novidades e os próximos pedidos.

                   Duvido que na atual estrutura de Poder na qual vivemos a política nossa de cada dia, em tudo e por tudo idêntica à dos nossos ancestrais, se diferenciando apenas quanto à aparelhagem tecnológica utilizada – antes era a cavalo que a informação seguia, hoje é via imail – o coronel com saias ou sem elas possa viver sem esse tipo de agregado.

 Ele é imprescindível para as pequenas coisas: pequenos delitos – é incapaz de pensar os grandes; aliás, é incapaz de pensar, quando muito reage: seu destino é pequenas confidências, pequenos favores, pequenas difamações e/ou injúrias, algumas torpezas, cumplicidade nos vícios, solidariedade nos acidentes de percurso, desde que não afetem sua sobrevivência... É capaz de grandes bajulações, aceita ser o bobo-da-corte do seu senhor feudal – se considera até honrado em ser alvo de brincadeiras nas quais sua intimidade é exposta publicamente -, quando não, é capaz de desforço físico na defesa da bandeira que empunhou o que o tornará, sem sobra de dúvidas, alvo de muitas e variadas homenagens prestadas nas hostes do “exército” ao qual pertence.

                   Não por outra razão meu amigo Fulano está fadado a morrer feliz posto que realizado na medida em que encaminhar, através de sua rede de amigos granjeados a partir da troca de favores recíprocos, e da benção do chefe político, os seus rebentos. Não lhe digam que hoje só é possível entrar na administração pública através de concurso. Há sempre um caminho para encontrar uma torneira aberta: cargo em comissão, gratificação, empresa de construção de fundo-de-quintal, licitações manipuladas, consultorias e assessorias. “E os concursos públicos, esses, há, nem lhe conto” me disse ele.


                   Meu amigo Fulano somente precisa tomar cuidado para não cometer algum erro. Aliás, ele precisa ter muito cuidado para não ser usado como boi-de-piranha: quando ele acerta, o mérito é do chefe; quando o chefe erra, a culpa é dele.

E precisa ter cuidado, muito cuidado, mas muito cuidado com a ingratidão e o tal de laço-de-sangue. Por que não é possível ter dúvida: entre ele, o fiel correligionário, e o parente, este sempre vence. É o instinto! 

SURGE GRUPO DE ESTUDO ACERCA DO CANGAÇO, CORONELISMO E MISTICISMO EM NATAL

AMIGOS ESTUDIOSOS DO CANGAÇO, CORONELISMO, MISTICISMO, MARCAM ENCONTRO NO CENTRO DA PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO DO MIDWAY MALL, ÀS 19:00 HORAS DA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA, DIA 24 DE AGOSTO, PARA CRIAR GRUPO DE ESTUDO DEDICADO AO ASSUNTO.

TODOS QUE SE INTERESSAREM PELOS TEMAS SÃO CONVIDADOS E BENVINDOS .

LÁ ESTARÃO, DENTRE OUTROS, MÚCIO PROCÓPIO, ROSTAND MEDEIROS, HONÓRIO DE MEDEIROS, IVONILDO SILVEIRA, ÂNGELO DANTAS...

A IDÉIA É A CRIAÇÃO DE UM CALENDÁRIO DE REUNIÕES, PAUTA DE TEMAS, LOCAIS DE ENCONTRO E AMPLIAÇÃO DO MOVIMENTO.

QUALQUER DÚVIDA POR INTERMÉDIO DO E-MAIL: honoriodemedeiros@gmail.com

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ESCRITOR E POETA JOÃO DE SOUZA LIMA HOMENAGEADO



Criado o GMPA que realiza o seu primeiro Café Cultural

No dia 28 de abril de 2011 o empresário Maciel Teixeira Lima, que há anos trabalha com teatro em um grupo da terceira idade e publicou o livro O Matuto Empreendedor, reuniu um grupo de amigos, escritores, poetas, amantes das artes e apresentou a eles uma idéia que vinha martelando a sua cabeça há um bom tempo: criar um grupo multicultural para que, em reuniões periódicas pudessem discutir a cultural local, e também regional, nacional, do mundo, preenchendo uma lacuna no município.

Desse encontro de amigos, nasceu o GMPA – Grupo Multicultural de Paulo Afonso, “constituído com o intuito de reativar, resgatar, recriar e oportunizar atividades culturais no município de Paulo Afonso”

Há cinco anos, em outubro de 2006, foi criada a ALPA – Academia de Letras de Paulo Afonso que reúne 15 escritores, poetas, artistas da cidade. Mas os sócios, imortais da ALPA não têm se encontrado com a frequência desejada e por isso surgiu essa necessidade da criação de outro grupo, sem nenhuma rivalidade com a Academia mas, ao contrário, como diz o próprio Maciel e também Edson Barreto, “o desejo é somar, acrescentar mais valores, mais gente voltada para a cultura desta cidade e até reanimar a ALPA e fazê-la emergir. Até porque, os que estão no GMPA, são, na grande maioria, membros da ALPA”, diz Edson Barreto.

Dessa necessidade de “trocar figurinhas”, criar uma diálogo sobre a realidade atual e a literatura e outras artes, o GMPA vem se reunindo mensalmente e promovendo, a cada dois meses um Café Cultural, oportunidade de homenagear escritores, poetas, gente da cultura local e regional, ao som de música, palestras, debates, apresentação de poesias, um momento de enlevo à alma.

Num bate-papo com Maciel Teixeira, fundador do grupo,  a essência dos objetivos do GMPA vem à tona:

Antônio Galdino – Maciel, como surgiu a idéia de se criar o GMPA?

Maciel - “O GMPA, Grupo Multicultural de Paulo Afonso, foi criado em Abril de 2011 e nasceu de uma conversa informal a respeito da cultura em nossa cidade. Reunimos alguns amigos em minha casa e ali nasceu o GMPA.

Galdino - A que se propõe o GMPA?

Maciel - Naquela primeira reunião, dia 28 de abril de 2011, alguns pontos foram questionados e chegamos a um consenso de que a arte, quando organizada e oportunizada para varias classes sociais em seus costumes, crenças, histórias, símbolos e tradições, poderia trazer para a sociedade novos talentos e divulgar melhor aqueles que já fazem trabalhos voltados para a cultura e se empenham em realizar novas tarefas, divulgando e organizando eventos onde podem ser mostrados esses trabalhos e seus construtores .

Galdino – Quais são as primeiras ações do GMPA?

Maciel - Inicialmente o grupo esta empenhado em realizar eventos na área literária, onde poetas e escritores estão sendo homenageados com o café cultural. Evento criado por Rubinho Lima que faz parte do quadro da diretoria do grupo.

Galdino – Já existe um cronograma, datas definidas para esse Café Cultural?

Maciel - Este evento acontece a cada dois meses. No dia 12 de Agosto foi o primeiro, realizado no a auditório do Colégio Sete de Setembro, quando foi homenageado o escritor João de Souza Lima. Na reunião realizada no dia 03 de agosto foi escolhido por unanimidade para ser homenageado no mês de outubro deste ano o Professor, escritor Antonio Galdino. Outros nomes estarão sendo definidos pelo GMPA em suas próximas reuniões.

Galdino – Recebi essa informação, fiquei muito feliz por esta decisão unânime de colegas escritores e, querendo Deus, estaremos lá participando desse Café Cultural. Mas, que outras ações pretende o grupo?

Maciel - O grupo, além de apoiar e coordenar este evento, também busca parcerias com o poder publico e privado para que a cultura seja melhor trabalhada e divulgada em nossa cidade e região.

O Grupo Multicultural de Paulo Afonso elegeu a sua primeira diretoria que está assim formada: Presidente o Maciel Teixeira Lima; 1º Secretário, Edson Barreto; 2º Secretário, Fernando Mota; Tesoureiro Rubervânio Cruz Lima; Diretora Cultural, Jovelina Ramalho; Articulador Social, João de Souza Lima.

O GMPA já tem um blog, organizado por Rubinho Lima. Acesse: GMPA – Grupo Multicultural de Paulo Afonso.

Café Cultural homenageia João de Souza Lima

O primeiro Café Cultural do GMPA, realizado dia 12 de agosto no auditório do Colégio Sete de Setembro homenageou o escritor João de Souza Lima que tem 6 livros editados sobre a temática do cangaço, além de participações em outras publicações regionais, mas é também poeta.

na região durante 18 anos e relançou o livro de poesias No Silêncio do Ocaso que teve poemas vivenciados, interpretados sob muitos aplausos, pelo mestre em Literatura do IFBA, professor Cleberson.

Presentes os poetas e escritores Fernando Mota, Maciel Teixeira, João Lima, Rubervânio Lima, Edson Barreto e ainda Luiz Ruben, Voldi Ribeiro, Antonio Galdino e professores e alunos de Letras e Direito da Faculdade Sete de Setembro, dentre eles o Professor Luiz José, coordenador do Curso de Letras e a Professora Geruza, coordenadora do Curso de Direito. Esmeralda Patriota, presidente da APLB, também esteve prestigiando o evento. “O público que esteve presente, saiu maravilhado”, diz matéria do site da FASETE.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

II CONGRESSO NACIONAL DO CANGAÇO E III SEMANA REGIONAL DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

Programação do II Congresso Nacional do Cangaço e III Semana Regional de História do CFP/UFCG – 2011

Dia 24/outubro/2011 (segunda-feira)

08:00 às 11:00 Credenciamento

Inscrições (encerramento)

19:30 às 21:30 Cerimônia de Abertura

Conferência de Abertura: Profª Drª Luitgard Oliveira Cavalcanti Barros (UERJ)

Dia 25/outubro/2011 (terça-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Apresentação Cultural

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

19:00 às 21:00 Mesa Redonda 1 - A representação do cangaceiro nos livros de história

Profª Ana Lúcia Granja de Souza

Prof. Ms. Emanuel Pereira Braz

Profa. Dra. Maria Lucinete Fortunato

21:00 às 22:30 Minicursos

Dia 26/outubro/2011 (quarta-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Encontro com autores Alcino Alves Costa (SE) e Honório de Medeiros (RN)

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

19:00 às 21:00 Mesa Redonda 2 – Identidades constitutivas do ser nordestino

Profa. Dra. Mariana Moreira Neto

Prof. Ms. Joel Carlos de Souza Andrade

Juliana Pereira Ischiara

21:00 às 22:30 Minicursos

Dia 27/outubro/2011 (quinta-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Apresentação Cultural

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

19:00 às 21:00 Mesa Redonda 3 – As reações da igreja romanizada sobre a atuação de beatos e conselheiros

Prof. Dr. Lemuel Rodrigues da Silva

Prof. Ms. Marcílio Lima Falcão

Prof. Dr. Elri Bandeira de Sousa

21:00 às 22:30 Minicursos

Dia 28/outubro/2011 (sexta-feira)

08:00 às 09:30 Minicursos

09:30 às 12:00 Conferência – Nordeste e nordestinidades.

Profa. Dra. Rosa Maria Godoy Silveira (UFPB)

14:00 às 17:00 Grupos de Trabalho (GT)

Assembleia Geral da SBEC

19:00 às 20:30 Minicursos

20:30 às 22:00 Cerimônia de Encerramento

Apresentação Cultural

terça-feira, 16 de agosto de 2011

SÓ RINDO 2 EM NATAL


Carlos Santos lança SÓ RINDO 2 em Natal, no La Tavola, no dia 25 de agosto.

Para quem não sabe, o La Tavola fica na Avenida Rodrigues Alves, 44

Bem no coração de Petrópolis.

O lançamento é às 19:00 hrs.

domingo, 14 de agosto de 2011

O QUE RESTARÁ AOS VELHOS

sairagontijo.blogspot.com


Honório de Medeiros

Todos os dias nos quais caminho vejo sentado, em uma pequena praça ao lado do percurso, um velhinho solitário a olhar para o tempo.

Às vezes, ao seu lado, fica sua acompanhante, uma moça, que o trás e o leva de volta, também em silêncio.

Breve restará, aos que não são jovens, esse silêncio eloquente, o murmúrio dos iguais, a palavra paga.

Ou, quem sabe, saber ouvir.

"SUA EXCELÊNCIA É O RÉU, E NÃO O JUIZ"

Marcelo Gomes e Rafael Galdo, O Globo
"O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, chegou, no fim da manhã de [ontem], à Divisão de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca, para acompanhar a investigação da morte da juíza Patrícia Acioli, assassinada na madrugada de sexta-feira quando chegava em casa, em Niterói . Ele estava acompanhado do presidente da Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ), o desembargador Antônio Siqueira. Calandro revelou que 12 pessoas são suspeitas de envolvimento com o crime:

- Desses 12 suspeitos de participar do atentado à nossa colega, com certeza, grande parte deles deve ter condenações anteriores.
(...) Mais cedo o desembargador Calandra criticou as leis penais brasileiras:
- A juíza Patrícia Acioli é uma vítima das organizações criminosas, de um sistema processual penal onde a Sua Excelência é o réu, e não o juiz, onde as pessoas cometem um crime de morte e saem pela porta da frente junto com a família da vítima. As pessoas só são punidas quando o Supremo Tribunal Federal (STF) chega".

UM MOTIM DE CONSUMIDORES EXCLUÍDOS EM LONDRES



'Foi um motim de consumidores excluídos', diz sociólogo Zygmunt Bauman
Publicada em 12/08/2011 às 22h29m
Fernando Duarte (fduarte@oglobo.com.br) 
LONDRES - Um dos mais influentes acadêmicos europeus, já descrito por alguns comentaristas mais entusiasmados como o mais importante sociólogo vivo da atualidade, o polonês Zygmunt Bauman viu nos distúrbios de Londres uma aplicação prática de suas teorias sobre o papel do consumismo na sociedade pós-moderna. Um assunto que o acadêmico, radicado em Londres desde 1968, quando deixou a Polônia após virar persona non grata para o regime comunista e por conta de uma onda de anti-semitismo no país, explorou bastante em conjunção com as discussões sobre desigualdade social e ansiedade de quem vive nas grandes cidades.
Aos 85 anos, autor de dezenas de livros, como "Amor líquido" e "O mal-estar da pós-modernidade", Bauman não dá sinais de diminuir o ritmo. Há cinco anos, no lançamento de "Vida para Consumo", uma de suas obras mais populares, fez uma turnê por vários países. Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, ele afirma que as imagens de caos na capital britânica nada mais representaram que uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social.
- Londres viu os distúrbios do consumidor excluído e insatisfeito.
O GLOBO: O quão irônico foi para o senhor ver os distúrbios se concentrando na pilhagem de roupas e artigos eletrônicos?
ZYGMUNT BAUMAN: Esses distúrbios eram uma explosão pronta para acontecer a qualquer momento. É como um campo minado: sabemos que alguns dos explosivos cumprirão sua natureza, só não se sabe como e quando. Num campo minado social, porém, a explosão se propaga, ainda mais com os avanços nas tecnologias de comunicação. Tais explosões são uma combinação de desigualdade social e consumismo. Não estamos falando de uma revolta de gente miserável ou faminta ou de minorias étnicas e religiosas reprimidas. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados.
O GLOBO:Mas qual a mensagem que poderia ser comunicada?
BAUMAN: Estamos falando de pessoas humilhadas por aquilo que, na opinião delas, é um desfile de riquezas às quais não têm acesso. Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população.
O GLOBO:Trata-se de um desafio a mais para as autoridades na tarefa de acalmar os ânimos, não?
BAUMAN: O governo britânico está mais uma vez equivocado. Assim como foi errado injetar dinheiro nos bancos na época do abalo global para que tudo voltasse ao normal - isso é, as mesmas atividades financeiras que causaram a crise inicial - as autoridades agora querem conter o motim dos humilhados sem realmente atacar suas causas. A resposta robusta em termos de segurança vai controlar o incêndio agora, mas o campo minado persistirá, pronto para novos incêndios. Problemas sociais jamais serão controlados pelo toque de recolher. A única solução é uma mudança cultural e uma série de reformas sociais. Senão, a mistura fica volátil quando a polícia se desmobilizar do estado de emergência atual.
O GLOBO:Jovens de classe baixa reclamam demais da falta de oportunidades de trabalho e educação. O senhor estranhou não ter visto escolas pegando fogo, por exemplo?
BAUMAN: Qualquer que seja a explicação dada por esses meninos e meninas para a mídia, o fato é que queimar e saquear lojas não é uma tentativa de mudar a realidade social. Eles não se rebelaram contra o consumismo, e sim fizeram uma tentativa atabalhoada de se juntar ao processo. Esses distúrbios não foram planejados ou integrados, como se especulou no início. Tratou-se de uma explosão de frustração acumulada. Muito mais um porquê que um para quê.
O GLOBO:Mesmo o argumento de protesto contra os cortes de gastos do governo não deve ser levado em conta?
BAUMAN: Até agora, não percebi qualquer desejo mais forte. O que me parece é que as classes mais baixas querem é imitar a elite. Em vez de alterar seu modo de vida para algo com mais temperança e moderação, sonham com a pujança dos mais favorecidos.
O GLOBO:Mais problemas são inevitáveis, então?
BAUMAN: Enquanto não repensarmos a maneira como medimos o bem-estar, sim. A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo. A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material e isso só tende a criar mais problemas em sociedades em que a desigualdade está em crescimento, como no Reino Unido.