sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

VOCAÇÃO DA OPORTUNIDADE

* François Silvestre

Quando eu entrei na Faculdade de Direito, após ter estudado para o curso de Medicina, larguei o sonho de ser médico. Movido pela inclusão no serviço militar, induzido pelo ódio à Ditadura, deixei minha vocação médica e dediquei-me, como estudante de Direito, à permanente aventura do sonho da liberdade. Mas a Liberdade não é um sonho. É uma obrigação. E quem não se obriga à liberdade não merece viver. Nenhum de nós fomos heróis. Não. Dividimo-nos entre resistentes, cúmplices, omissos e pusilânimes. Os que resistiram, em qualquer e mesmo pequeno gesto. Os que colaboraram, em gesto grandiosamente sujo. Os que mesmo sem concordar, silenciaram, no direito ao sossego. E os que, no estuário da pusilanimidade, tripudiavam ou ainda tripudiam sobre o esquife dos frágeis resistentes. Na Faculdade de Direito, Casa de Amaro Cavalcanti, ali defronte da Praça Augusto Severo, havia, no meio das trevas, as vocações. Os que queriam ser juristas. Outros, Juízes. Advogados de banca famosa. Alguns, escritores de Direito. Raro era o desejoso de ser Promotor. Profissão de primo pobre da vida forense. Salário miserável. Hoje, num lampejo de mágica, a profissão alçou-se à condição de preferência forense. Mudaram os tempos ou melhoraram os contracheques?