sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O GREGO, A "PLACE DU TARTRE", E A CULTURA...


O Grego, Bárbara, e a Place du Tartre
Honório de Medeiros

Em “E Foram Todos para Paris” (Casa da Palavra; 2011), Sérgio Augusto (jornalista, escritor), infatigável leitor da romaria americana do Século XIX à França (Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Fenimore Cooper, Henry James, etc.), conta que seu chamego pela cidade começou quando assistiu ao musical Sinfonia de Paris (An American in Paris), de Vicente Minelli, com músicas de ninguém mais, ninguém menos, que Gershwin.

Diz ele que em 1952 teve um coup de foudre pelo personagem de Gene Kelly, um ex-combatente americano, Jerry Mulligan, que decide virar pintor e morar para sempre em Paris quando terminou a Segunda Grande Guerra, vendendo seus quadros em Montmartre.

Lendo o trecho olhei instintivamente para duas imagens feitas com giz de cera cor vermelho-terra que adornam a parte superior acima da minha cama. São datadas de 26 de abril de 2008 e 3 de maio do mesmo ano, quando eu e Bárbara, minha esposa, posamos para um grego de barba cerrada, francês macarrônico, que passava o dia na Place du Tartre, coração de Montmartre, a fumar e colher turistas para sobreviver com sua arte.

Aquele 26 de abril foi inesquecível. Eu completava cinquenta anos, estava em Paris com Bárbara e alguns amigos queridos, e iríamos terminar a noite no La Coupole, tradicional e histórico restaurante do Boulevard Montparnasse inaugurado no ano que Lampião invadiu Mossoró, 1927, e que durante muito tempo foi o centro da vida artística e intelectual da cidade, pois era frequentado assiduamente por Picasso, Man Ray, Cartier-Bresson, Buñuel, Henry Miller, Anais Nin, Hemingway, Giacometti, Sartre, Gainsbourg, Jane Birkin, entre outros.

Dois anos depois voltei à Place du Tartre. Será que o grego ainda desenhava por lá, me perguntei. Chegáramos cedo da manhã. Muitos cavaletes ainda estavam fechados, aguardando seus donos, desenhistas, pintores, como o grego. Poucos turistas flanavam no local. Decidimos enveredar, a flanar, enquanto os artistas não chegavam, por ruelas que, da praça, descem sinuosas e estreitas, até o entorno de Montmartre.

Algum tempo depois, alguns copos de Guiness a mais, voltamos. Fui direto ao local onde o Grego ficava. Não estava. Fiquei na dúvida se perguntava por ele. Resolvi que sim, perguntaria. Dirigi-me a outro pintor, e lhe perguntei pelo Grego, descrevendo-o o melhor possível.

Nem precisei esperar a resposta. Olhando acidentalmente para outro recanto da praça encontrei-o placidamente sentado, a fumar um cigarro e tomar uma caneca de café, enquanto na cadeira na qual se sentavam os que iriam posar, uma bela adolescente de beleza diáfana tão tipicamente francesa aguardava pacientemente o resultado da sua (dele) busca por inspiração ou, apenas, que resolvesse começar seu dia.

Hoje, após ler o texto acerca do qual comentei acima, fico me perguntando que tipo de decisão conduziu o Grego ao estilo de vida que inspirou o personagem do musical aludido por Sérgio Augusto. Terá sido o Sinfonia de Paris?

Acerca da influência da cultura, entendida esta enquanto “estilo de vida”, como pensava Eliot, rios de tinta foram já escritos. Cultura que influenciou gerações e as levou a tomar decisões fundamentais em suas vidas, e que tende a desaparecer na justa medida da futilidade própria da “civilização do espetáculo”, como a define Llosa em seu livro de ensaios homônimo, leitura da qual não devemos abrir mão para entender o que se passa hoje conosco no universo da literatura, pintura, escultura, as artes, enfim...

É como diz Llosa, citando o sociólogo Frédéric Martel: “A imensa maioria do gênero humano não pratica, não consome nem produz hoje outra forma de cultura que não seja aquela que, antes, era considerada pelos setores cultos, de maneira depreciativa, mero passatempo popular, sem parentesco algum com as atividades intelectuais, artísticas e literárias que constituíam a cultura.”

Bom, voltando ao que importa, cito Llosa por que ele captou, no espírito da época, na indústria do entretenimento que nos aliena e embrutece, na massificação onipresente, na frivolidade típica da cultura do nosso tempo, a ausência de referências fundamentais como aquelas que desabrocharam em Viena, Berlim, Paris e Nova Iorque entre os séculos XIX e XX.

Referências que levaram, quem sabe, à construção do personagem Jerry Mulligan, calcado em Picasso ou outro pintor famoso; referências que levaram o Grego a fazer, de sua vida, uma elegia à arte, dedicando-a à mítica Paris e à Place du Tartre.

Quanto ao Grego, pode não ser verdade minha hipótese, mas me apraz pensar que sim...
No final disse o Grego que esse, acima, era eu.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

DEPRESSÃO




Honório de Medeiros



Às vezes penso que a depressão resulta da extrema lucidez e surge quando todos os filtros, todos os véus, todos os empecilhos que a mente cria para esconder a realidade desabam e, então, a terrível apreensão imediata de todas as coisas e todos os fenômenos, como de fato eles são, e, não mais, como parecem ser, se instala em nossa consciência de si. Nesse instante a solidão imanente, intrínseca, em cada um de nós, nos assume e esmaga sem piedade, e somos levados à compreensão absoluta da total irrelevância de tudo quanto nos cerca e envolve...


* Arte em vivianeguimarães.wordpress.com

domingo, 5 de janeiro de 2014

O CHAPLIN (REGINA AZEVEDO) ENTREVISTA BÁRBARA DE MEDEIROS

Regina Azevedo*

Entrevista originariamente postada em "OCHAPLIN.COM"
 
Bárbara de Medeiros nasceu dia 27 de fevereiro de 1998, em Natal. Com 13 anos de idade, escreveu – e publicou! – um drama psicológico chamado ”O Escritor de Sonhos” e conquistou muitos amigos, fãs, e, sobretudo, leitores vorazes. Hoje, beirando os 16 anos, ela conversa com a gente sobre literatura, projetos futuros e incentivo.
 
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O CHAPLIN: Com quantos anos você começou a escrever?
 
Eu comecei a escrever assim que aprendi a escrever: com 6 anos de idade. Eu não me lembro de uma data especial na qual eu decidi ser escritora. Desde sempre quis fazer isso. Mesmo quando dizia: ”mamãe, quero ser bailarina”, eu queria ser bailarina e escritora. Pra mim, um escritor era uma espécie de mágico. E isso, acredite, é muito bom.
 
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O CHAPLIN: Vamos falar sobre família. Qual a participação de seus pais e familiares em tudo isso? 
Meus pais são muito interessados em leitura. Meu pai, aliás, é escritor. Desde muito cedo, fui incentivada a ler. Fiquei fascinada pela leitura. O incentivo a escrever veio automaticamente, depois disso.
 
O CHAPLIN: O que você lia aos 6 anos? E hoje em dia, quase 10 anos depois, o que você costuma ler?
 
Eu lia fantasia e gostava muito de histórias em quadrinho, em especial Turma de Mônica. Hoje em dia, continuo gostando de ambas as coisas, mas também leio muita ficção científica, biografias, terror e drama.
 
O CHAPLIN: O Escritor de Sonhos é seu primeiro livro publicado. Um drama psicológico, certo? Como foi o processo de escrita e criação desse livro?
 
Escrever é sempre doloroso. Escrevi esse livro em um único mês, o último do ano letivo, e fiquei como uma morta-viva: quase não comia, não falava – e eu falo muito! – e todo mundo percebeu como eu fiquei diferente. O processo foi extremamente desgastante: o antes, o depois e, claro, o durante.
 
 
 
O CHAPLIN:  Nem mesmo algumas das pessoas que leram o livro sabem definir o que REALMENTE a trama fala. Na sua cabeça, o que essa história conta?
 
“O Escritor de Sonhos” fala sobre um homem que mora num hospício, e, como ele não pode viver – porque ninguém vive num hospício; aquilo não é vida -, ele começa a sonhar. Com o livro, eu ambiciono questionar se quando a gente passa a viver através de sonhos, o sonho passa a ser vida, e a vida, um sonho. É basicamente isso.
 
O CHAPLIN: Você tem muito bloqueio de escritor? Como você lida com isso?
 
Eu tenho muito mesmo, mas procuro continuar escrevendo, de qualquer forma, mesmo que seja sobre o bloqueio, a falta de inspiração e tudo o mais. Sento à mesa e: vamos lá, Bárbara!
 
O CHAPLIN: Quando você escreveu seu livro, você fazia o 8º ano na ED (Escola Doméstica de Natal, uma escola tradicional que faz parte de um complexo escolar bastante renomado em terras natalenses). A escola te deu algum apoio?
 
Não. Apoio zero, inicialmente. Nem sabiam que eu estava escrevendo um livro, aliás. Mas os meus professores preferidos foram ao lançamento, porque eu os convidei, e isso foi muito importante pra mim. Alguns meses após o lançamento, a escola me deu a oportunidade de palestrar no Dia do Livro, e eu adorei, primeiro porque eu adoro palestrar e depois porque, na ocasião, eu conheci dois escritores que se tornaram grandes amigos: Jorge Enrique e José de Castro. Foi muito legal.
 
O CHAPLIN: E os planos para o futuro? O que você pretende fazer?
 
Eu estou editando meu livro Sindicato das Bailarinas Circenses, que é uma antologia de textos – poemas, contos, crônicas – inéditos ou já publicados no meio virtual. Mais além, só quero viver. É isso. E ser diplomata.
 
 
O livro de Bárbara está à venda na Saraiva do Midway Mall e você também pode comprá-lo através do e-mail barbie.bldm@gmail.com. (R$35)
 
* Poeta, performer em estudo e agitadora. fundei o iapois poesia, publiquei ''das vezes que morri em você'' (jovens escribas) e escrevo às vezes pro reginazvdo.tumblr.com. tenho um peixe chamado cachorro e amo bukowski.
 

"MINHA VIDA NA FRANÇA"; Julia Child

 
 
Bárbara Lima

Minha Vida na França, de Julia Child com Alex Prud’homme (SEOMAN) – As memórias deste livro inspiraram o filme Julie & Julia. Trata-se da autobiobrafia de Julia Child, considerada a introdutora da culinária francesa nos Estados Unidos. A descoberta de sua vocação para a culinária se deu em 1948, quando se mudou para a França e resolveu se inscrever no renomado instituto Le Cordon Bleu, sem nem mesmo saber falar francês. Foi aí que tudo começou. Mesmo com todos os percalços, conseguiu se impor em um meio dominado por homens, tornando-se uma escritora e apresentadora de sucesso e ensinando receitas sofisticadas, de forma pioneira, para milhares de americanos. Excelente leitura; contagia até quem não é fã dos romances culinaristas.