sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

DE USINAS DO MAL E LAMPEDUSA

* Honório de Medeiros

O ministro Barroso, do STF, deu uma entrevista na qual afirmou que "o sistema político brasileiro é uma usina do mal". O ministro parece não saber o que é "sistema", tampouco "política". 
Ou está fazendo jogo-de-cena. Ministro, um sistema político está para o Poder assim como a espuma está para as ondas do mar.
Simples assim.
Tal é o animismo moderno, que evoluiu da concepção de que as coisas têm vida, para a concepção de que as abstrações têm vida. Algo muito primitivo, sem dúvida, mas que presta um enorme serviço a quem detém o Poder. 
Sua expressão máxima é o funcionalismo americano. É algo mais ou menos como imaginar que a culpa dos pneus estarem descalibrados é inerente a eles mesmos, e, não, às estradas ruins. Troca-se o pneu e está tudo bem. 
Dessa visão do mundo nasce a nossa medicina, na qual os seres humanos precisam apenas melhorar as pelas de reposição, que tudo fica otimizado.
Uma variante humorística - e crítica - de uma percepção funcionalista da realidade está na estória do homem que flagra a esposa em adultério. Revoltado, desfaz-se da cama onde ocorreu a traição.
Assim está fazendo o ministro: não podendo se desfazer dos corruptos, quer modificar o sistema político.
Como se em cada sistema político não existissem corruptos.
Leia Lampeduza, ministro, leia Giuseppe Tomasi di Lampedusa. É dele, em "Il Gattopardo", essa frase célebre: "tudo deve mudar para que tudo fique como está"...