quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DE TIRANIA E SERVIDÃO

Filipe, o Belo


* Honório de Medeiros                               

Finalmente expulsos da Terra Santa pelos Sarracenos em 1302 d.c., os Templários passaram a ter sua imensa riqueza cobiçada no Ocidente por soberanos e nobres, e seu prestígio e privilégios, assegurados até então pelos papas, invejados pelo clero.

Dentre eles, entretanto, nenhum chegou ao extremo de Filipe, o Belo, neto de São Luis, Rei da França.

Com o tesouro esgotado pelas lutas contra os barões feudais na tentativa de fortalecer seu reino e impor sua vontade, Filipe, para muitos o precursor do Estado-Nação, percebeu que muito próximo de si havia riqueza suficiente para saciar sua ambição e desenvolver seus projetos hegemônicos.

O primeiro grande obstáculo a vencer era a Igreja, no seio da qual fora criada a Ordem do Templo, sob as bênçãos de Honório II. Conta Charles G. Addison, historiador inglês, em seu acurado “A História dos Cavaleiros Templários e do Templo”, que “quando da morte do papa Bento IX (em 1304), ele conseguiu, por meio das intrigas do Cardeal Dupré, elevar o arcebispo de Bordéus, uma criatura sua, ao trono pontifical. O novo papa transferiu a Santa Sé de Roma para a França; convocou todos os cardeais a Lyon e ali foi consagrado (1305 d.c.), com o nome de Clemente V, na presença do Rei Filipe e seus nobres.”

O primeiro passo fora dado. A seguir o papa convoca os cavaleiros templários a Bordéus. Em 1307 o Grão Mestre do Templo e sessenta cavaleiros desembarcam na França e depositam o tesouro da Ordem no Templo de Paris. Jamais sairiam de lá.

Entrementes o Rei francês fazia circular diversos boatos sinistros e notícias odiosas a respeito dos Templários por toda a Europa, acusando-os de terem perdido a Terra Santa por não serem bons cristãos.

Depois, com base no depoimento de um cidadão condenado que viria a receber, posteriormente, o perdão real, mandou capturar, no reino, secretamente, todos os membros da Ordem, ao mesmo tempo em que determinava uma devassa nos bens dos Templários. A seguir Filipe endereçou correspondência aos reis europeus exortando-os a acompanhar seu exemplo.

E, então, os acusou dos mais esdrúxulos e inverossímeis crimes, tais como satanismo, sodomia, depravação herética e outros mais. Esses mesmos Cavaleiros Templários que durante centenas de anos derramaram seu sangue nas areias escaldantes da Palestina a serviço da Igreja, com as bênçãos e reverências dos reis da cristandade... 

O resto pertence à história. Torturados, espoliados, dizimados, os templários desapareceram de cena enquanto Filipe de França, e Eduardo, da Inglaterra, bem como o papa Clemente, passaram a mão em sua riqueza. Saliente-se que o Rei de Portugal, à época, não somente se recusou a fazer o mesmo, como deu guarida aos templários fugitivos que para lá se dirigiram.

Em tempos mais recentes, nos famosos expurgos realizados na União Soviética, a criação de crimes imaginários por parte da máquina do Estado a serviço de Stalin conduziu milhares de russos ao pelotão de fuzilamento ou aos campos de concentração. Quem desejar ler acerca do “modus faciendi” da máquina de acusação recomendo “O Zero e o Infinito”, do hoje esquecido Arthur Koestler, uma crítica contundente ao despotismo estalinista.

Esses fatos demonstram algo: em primeiro lugar, no que diz respeito à luta pelo Poder e sua manutenção, nada é novo, tudo é contemporâneo da existência do Homo Sapiens na face da terra; em segundo, não podemos permitir a concentração de Poder nas mãos de quem quer que seja; e, em terceiro, seja qual seja o credo ou ideologia, se favorecemos a concentração de Poder nas mãos de um,  ou de alguns, muitos irão sofrer as consequências no futuro.

Tais afirmações dizem respeito a qualquer agrupamento no qual o Homem viva em Sociedade. Tanto pode ser em família quanto, por exemplo, em uma Sociedade como a dos Estados Unidos da América, onde os métodos utilizados pelos seus serviços secretos, hoje em dia, aos poucos vão estrangulando as liberdades civis sob o falso argumento de proteção da segurança do País e seus habitantes. 

Na verdade o grande profeta dos últimos tempos acerca do exercício do Poder e suas decorrências foi George Orwell, em “A Revolução dos Bichos”; quanto à falta de legitimidade dos que o exercem, é de se render homenagens a Étienne de la Boétie e seu fabuloso “Discurso Acerca da Servidão Voluntária”.

Quão imensa é a vocação do Homem para a tirania e a servidão...

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ATÉ PARA FAZER O MAL É PRECISO TALENTO


Honório de Medeiros


Napoleão tinha Fouché, seu sombrio e oblíquo Chefe da Polícia e Serviço Secreto, que morreu Duque de Otranto, após ser regicida; Portalis, seu jurista (o de Getúlio foi Chico Campos, criador da "Polaca", conhecido como "Chico Ciência"); Talleyrand, seu Ministro do Exterior.

O resto era perfumaria.

Alguém, com o Poder nas mãos, nos dias de hoje, precisa ter um também um Financeiro e um Planejador/Operador/Coordenador.

Nada mais.

Napoleão era, ele mesmo, esse Planejador/Operador/Coordenador. E quanto a Getúlio? Seria diferente? Creio que não.

Um Governo, para funcionar de alguma forma, precisa dizer claramente aos que o servem o que dele se quer. Claramente. Fiscalizar, assiduamente. E cobrar, sempre.

Por pior que seja o homem público no exercício do Governo ele não quer, para si, o ônus de ser chamado de incompetente.

Aliás, como bem está posto no "Príncipe", de Maquiavel, até para fazer o mal é preciso talento...

DE ENCONTROS


Honório de Medeiros



Não gosto de marcar encontros.
Deixo ao sabor do acaso, vê-la (o).
Assim, saio quando quiser,
Ou fico, caso queira.
E não lhe magoo.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

DE CINISMO




Honório de Medeiros


Deu-se que não se sabe se as elites políticas são cínicas por ignorância ou ignorantes por cinismo.

OS TEMPOS QUE VIRÃO




Honório de Medeiros


Para os tempos que virão,
Ó Pai, comprei armas.
Não me condene, peço-Lhe,
A palavra se tornou vã.

Lutarei pelos meus, creio,
Pelo pão de cada dia.
Pelo cobertor, a água de beber,
Serei duro, cruel, insensível.

Estamos condenados, Pai?
Somos todos o Mal?

Do que se alimenta esse horror,
A miséria, a doença, as trevas?