sexta-feira, 23 de junho de 2023

CREDO POLÍTICO

 

Imagem: Bárbara Lima

Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)

Não tenho ideologia. Não ter uma ideologia não significa ter uma ideologia. Isso é lenda. Na verdade, é uma balela. Nem tenho credo político. Tampouco simpatia partidária ostensiva. Sigo, entretanto, firmemente, um princípio: sou contra o Poder Político, do qual emana o Estado, essa besta-fera. Há Poder Político? Sou contra. Melhor: sou contra quem detenha qualquer Poder Político, assim não fico no abstrato. Quem tem qualquer Poder Político precisa ser vigiado, controlado, pois é sempre uma ameaça. Claro que é impossível vivermos sem qualquer Poder Político. Claro que é impossível viver sem fazermos alianças para que seu principal adversário, a liberdade, avance. Faço-as, constrangido, mas faço. E, nesse percurso, nessa luta, analiso ponto-a-ponto cada questão que me é colocado pelas circunstâncias, inclusive o caráter daqueles que almejam o Poder Político: mentem?, têm caráter? seguem princípios claros e não se vendem? são corruptos? Se sim, estou fora. Antes de ser política, a questão, ela é moral. Feito isso, decido. E ajo. Não tenho líderes, tampouco gurus, muito menos simpatias. A ninguém dou o direito de dizer que fala em meu nome. Falo por mim. Os homens, eu sei desde há muito, têm pés-de-barro e a mente suja. Sigo, portanto, propostas práticas alicerçadas em densas defesas científicas. Certo ou errado, esse é meu caminho. E será minha anônima história.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

ENQUANTO A VIDA PASSA COMO EM UM SONHO

 

Imagem: Honório de Medeiros

Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)


Quero sentar na calçada nos finais de tarde, xícara de café à mão, o chiste, o causo, o juízo-temerário, a anedota, a estória e a história na ponta da língua e na raiz do ouvido, o pensar leve, o dizer ameno, o lamento - se houver necessidade - sentido, enquanto a vida passa como em um sonho, suave e derruidora, o tempo, evanescente, se esgota, até que não haja mais o momento seguinte e eu, sábio posto que velho - assim espero - possa ter a certeza de que tudo pelo qual se ensanguenta o homem, a não ser quando em defesa de si mesmo e dos seus, não vale a pena, e que acertei quando despi a mente, até o nada, do supérfluo, e compreendi o tamanho da minha ignorância.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

ESTADO E INDIVÍDUO

 

Imagem: Honório de Medeiros

Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)


O duplo (1) de Enrique Vila-Matas, narrando seu périplo em Bordeaux, (no livro Perder Teorias), onde proferiria uma palestra que não houve, lembrou, enquanto vagava ao léu, a "literatura da percepção", citando Franz Kafka, que percebera "para onde iria evoluir a distância entre Estado e Indivíduo, Singularidade e Coletividade, Massa e Cidadão".

Não aceitou, o duplo, na continuação do seu raciocínio, que a "literatura da percepção" fosse o mesmo que "literatura profética"(2), a qual denominou de "nada interessante". Lembra, também, o duplo, o hoje pouco conhecido Julien Gracq, escritor para escritores, autor de O Mar das Sirtes, que segundo seu pensamento, faria parte da corrente que têm a capacidade de antevisão, ou seja, daqueles que conheceriam o grande problema dos dias atuais, qual seja "a situação de absoluta impossibilidade, de impotência do indivíduo frente à máquina devastadora do Poder, do sistema político".

(1) Duplo: personagem que, calcado no autor, adquire qualidade de projeção e posteriormente se transforma em uma entidade autónoma que sobrevive ao seu criador, partilhando com ele uma certa identificação.

(2) Literatura profética: ironia a partir dos textos, tal e qual o Apocalipse, atribuído a São João, que dizem como será o futuro.

terça-feira, 20 de junho de 2023

HÁ UM INFINITO DENTRO DO HOMEM

 

Imagem: Honório de Medeiros
Rio São Francisco, Piranhas, Alagoas, 2 de maio de 2022


Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)


Penso no que nos cerca e envolve, dou razão à minha amada e me conformo, mas não perco a esperança. Enquanto espero que mudem as coisas, e os dias rolam na minha vida como as contas de um terço rolam nas mãos daqueles que rezam, escapo para o último andar do prédio onde moro, prédio entre prédios, subo a escada que conduz ao topo e, lá, derramo meu olhar descontente por sobre a cidade febril. Gulosamente sinto, sobre mim, o infinito do céu no qual os limites existentes são o voo dos pássaros e de um ou outro avião. Há um infinito dentro do Homem, e outro, além, e ele não percebe...

segunda-feira, 19 de junho de 2023

QUANDO SE AMA O ABISMO

 

Imagem: Honório de Medeiros


Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)


A minha alma é uma  chama
insaciável de infinitos.
Flameja para o desconhecido sua ânsia,
mas é preciso asas quando se ama o abismo.

domingo, 18 de junho de 2023

LUIZ FERNANDO PEREIRA DE MELO



Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)

 

Luiz Fernando Pereira de Melo é, em essência, um genealogista. Dos melhores.

 Também é um historiador, na justa medida em que suas pesquisas o levaram a encontrar, nas sombras e desvãos do passado, personagens da nossa história, a bem dizer esquecidos, que ele trouxe para nosso conhecimento, com dedicação e esmero.

                   Aos poucos, dessa forma, Luiz Fernando segue construindo, por vias quase oblíquas, um painel do passado do Rio Grande do Norte valioso e imprescindível, calcado em muito trabalho de campo, na consulta a velhos e carcomidos inventários, livros esquecidos e embolorados, registros arcaicos feitos pela Igreja, anotações antigas de próprio punho que chegam às suas mãos como que atraídas pela competência e talento de quem sabe lidar com essas preciosidades.

                   Cuida da pesquisa que é própria do genealogista e historiador que se debruça sobre esses registros, chamemo-los assim, e, também, da árdua e complexa tarefa de traduzir os textos estudados, vez que vazados em incompreensível escrita para nós, os comuns dos mortais. Missão para paleógrafos.

Além disso, vai tecendo a teia que extrai da nossa esquecida história, na medida em que interpreta esses dados todos conectando-os uns com os outros, dando-lhes o sentido e a compreensão necessárias.

                   O resultado não poderia ser diferente: famílias inteiras que povoaram o Rio Grande do Norte, o Nordeste, mesmo o Brasil, surgem com seus laços entre si revelados, ao mesmo tempo em que alguns dos seus integrantes, significativos e importantes para nossa história, obtêm o justo realce.

                   Tudo começou com Um Ramo Judaico dos Medeiros do Seridó, seguido por Os Fernandes Pimenta: Notas para o Conhecimento Familiar. Depois, veio Crônica do Sertão de Apodi: História do Período Colonial, de 1710 a 1817; Genealogia e Fatos do Sertão do Norte de Baixo; Melos de Campo Grande – Genealogia: Raízes Antigas e Ramos Familiares que delas Derivam; Prelúdio do Cangaço no Sertão do Assu: A Saga do Coronel Antônio da Rocha Bezerra; e Manuel Raposo da Câmara, Morgado Português: História Familiar, Processos da Inquisição, Raízes Judaicas e Ligações à Genealogia Paulistana.

                   Exemplo de tudo quanto dito acima, transcrevo, a seguir, trecho do prefácio que tive a alegria de escrever para Prelúdio do Cangaço no Sertão do Assu: A Saga do Coronel Antônio da Rocha Bezerra:

                   “Foi nessas eras que existiu o Coronel de Cavalaria Antônio da Rocha Bezerra, descendente, dentre outros ilustres, de Arnáu de Hollanda, filho de Henrique de Holanda Baravito de Renoburg, natural de Utrecht, casado com Margarida de Florença, irmã do Papa Adriano VI”.

“Arnáu era, por sua vez, casado com Brites Mendes de Vasconcelos, filha de Bartolomeu Rodrigues, camareiro-mor do Infante D. Luiz, filho do Rei D. Manoel, de Portugal. Sua esposa, natural de Lisboa, veio para o Brasil com os pais, acompanhando o primeiro Donatário de Pernambuco, Duarte Coelho”.

“O Coronel de Cavalaria, a julgar pelos registros a seu respeito tanto dos representantes do Governo Colonial, quanto por aqueles que usavam batina, era homem “facinoroso e perturbador do povo”, “petulante e inquietador da coisa pública”, “desobediente aos Ministros” do Rei de Portugal, “incorrigível”, entre outros apodos que lhe foram assacados pelos homens de batina”.

“Pintaram e bordaram, como se diz popularmente, na Ribeira do Sertão do Assú, sob a liderança do Coronel, dois filhos seus e um aliado, meio jagunço, meio cangaceiro, chamado Felipe Silva, principalmente por conta de uma briga feroz contra o Tenente José dos Anjos, na qual houve de tudo um pouco, desde homicídios a cárcere privado, passando por roubo de gado, em uma longa série de desrespeitos à letra da lei”.

                   “Dele, cuidou Luiz Fernando de Melo, seu descendente direto, um dos nossos maiores genealogistas e pesquisadores, autor de livros que já se tornaram referências não somente no que diz respeito à genealogia das famílias nordestinas, que se enroscam entre si desde o solo lusitano, mas, também, pelo cuidado documental com o qual fundamenta suas descobertas, e, porque não deixar claro, também pelo aprofundamento nos fatos históricos que sempre envolvem o entorno dos personagens acerca dos quais trata”.

                   “Chama a atenção, a partir da leitura de tudo quanto aconteceu com o Coronel e está comprovado pela farta documentação que compõe o livro, o retrato indireto de uma época, o Setecentos, ainda tão pouco conhecida, que se expõe como pano de fundo e nos mostra o Brasil em plena ebulição de um processo de transformação que deixaria para trás seus primeiros duzentos e cinquenta anos de infância, e entrava lentamente na adolescência que antecedia a mocidade do Império”.

                   “Como se não bastasse a história desse antepassado, importante por si somente, no resgate feito por Luiz Fernando fica demonstrada a marcante presença de sua descendência em momentos cruciais no tempo e espaço nordestinos, qual seja a Revolução de 1817; a participação na Guerra do Paraguai; bem como, até mesmo, a resistência heroica oferecida naquela que foi a mais violenta eleição política no Rio Grande do Norte, a de 1934/1935, aos desatinos do Interventor Mário Câmara e ao Governo de Getúlio Vargas”.

                   Eis, pois, o resultado: uma malha histórica profunda, solidamente alicerçada em pesquisas da melhor qualidade, revelando um Rio Grande do Norte arcaico, conhecido apenas em alguns recortes específicos, e suas relações com o Nordeste e o Brasil, através das grandes famílias que o povoaram.

                   E a redenção, digamo-lo assim, de personagens e episódios que jaziam esquecidos nas sombras do nosso passado.

                   Trabalho meticuloso, necessário e definitivo.

                   Vem mais por aí. Muito mais.

DE ENCONTROS

 

Imagem: Honório de Medeiros


Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)



Não gosto de marcar encontros.

Deixo ao sabor do acaso, vê-la.

Assim, saio quando quiser,

Ou fico, caso queira.

E não lhe magoo.