O duplo (1) de Enrique Vila-Matas, narrando seu périplo em Bordeaux, (no livro Perder Teorias), onde proferiria uma palestra que não houve, lembrou, enquanto vagava ao léu, a "literatura da percepção", citando Franz Kafka, que percebera "para onde iria evoluir a distância entre Estado e Indivíduo, Singularidade e Coletividade, Massa e Cidadão".
Não aceitou, o duplo, na continuação do seu raciocínio, que a "literatura da percepção" fosse o mesmo que "literatura profética"(2), a qual denominou de "nada interessante". Lembra, também, o duplo, o hoje pouco conhecido Julien Gracq, escritor para escritores, autor de O Mar das Sirtes, que segundo seu pensamento, faria parte da corrente que têm a capacidade de antevisão, ou seja, daqueles que conheceriam o grande problema dos dias atuais, qual seja "a situação de absoluta impossibilidade, de impotência do indivíduo frente à máquina devastadora do Poder, do sistema político".
(1) Duplo: personagem que, calcado no autor, adquire qualidade de projeção e posteriormente se transforma em uma entidade autónoma que sobrevive ao seu criador, partilhando com ele uma certa identificação.
(2) Literatura profética: ironia a partir dos textos, tal e qual o Apocalipse, atribuído a São João, que dizem como será o futuro.
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