terça-feira, 22 de dezembro de 2015

TODO FORMIGUEIRO É UM SISTEMA SOCIALISTA E TOTALITÁRIO


* Honório de Medeiros

"Um dia, na Feira Mundial de 1964, em Nova York, entrei no Saguão da Livre Empresa fugindo da chuva. Lá dentro, exposto com destaque, havia um formigueiro com a legenda: 'Vinte milhões de anos de estagnação evolutiva. Por quê? Porque o formigueiro é um sistema socialista e totalitário.'"

Matt Ridley citando Stephen Jay Gould em "As Origens da Virtude". 

Antes, em 1894, em "Evolution and Ethics", T. H. Huxley dissera: "A sociedade de abelhas corresponde ao ideal expresso no aforismo comunista 'a cada um conforme sua necessidade, de cada um conforme sua capacidade.'"

Pois é.

sábado, 19 de dezembro de 2015

A CONSTITUIÇÃO NÃO É O QUE A SOCIEDADE QUER, É O QUE O STF DIZ QUE A SOCIEDADE DEVE QUERER

* Honório de Medeiros

Uma das lições a ser extraída do julgamento do Mensalão diz respeito ao Direito, mais especificamente ao Ordenamento Jurídico brasileiro e à forma de interpretar as normas que o constituem.

A lição é simples: a interpretação de uma norma jurídica, ou de um conjunto de normas jurídicas, poderá ter qualquer feitio, seja qual seja ele.

Em linguagem coloquial: uma norma jurídica está para uma nota musical assim como um conjunto de normas jurídicas está para uma partitura. Imaginemos, então, uma mesma composição musical sendo interpretada de infinitas formas por infinitos músicos. É assim que funciona.

Isso lembra, por exemplo, um show antológico de Sivuca, interpretando o frevo “Vassourinhas”, a música “oficial” do carnaval pernambucano, de acordo com o “padrão” musical japonês, chinês, russo, francês, sueco. Ou o carro que vende bujões de gás alertando a vizinhança com acordes da Quinta Sinfonia em ritmo de forró.

Ou seja, a interpretação da Constituição Federal Brasileira, por exemplo, vai depender, sempre, da correlação de forças entre os ministro do STF, e dos interesses que os manietam.

Nada impede que com as próximas escolhas de Ministros a serem feitas pelo Executivo, assuntos até então considerados “pacificados” tenham o entendimento da Corte radicalmente modificado. Como aconteceu logo depois da entrada em vigor da Constituição com o conceito de "direito adquirido", violentado, apesar de "cláusula pétrea", para permitir a cobrança de contribuição previdenciária aos aposentados.

Outra lição a ser extraída diz respeito à conduta dos Ministros e é, praticamente, um corolário da anterior.

A lição é a seguinte: é impossível discernir, FORMALMENTE, se e quando fatores extrajurídicos preponderam na interpretação a ser realizada.

Trocando em miúdos: o intérprete escolhe o resultado que almeja e usa a interpretação, dando-lhe a roupagem técnica adequada ao caso, para alcançá-lo.

Como quando queremos tocar a mesma Quinta Sinfonia de Beethoven em ritmo de rock, e não de forró, e fazemos a adaptação.

Essa lição também deixa, por sua vez, uma consequência: fica claro que a suposta cientificidade do Direito é um discurso ideológico; e fica claro que a interpretação da norma jurídica é sempre conjuntural. Nada que Pierre Bourdieu não tenha dito, em seu "O Poder Simbólico".

Como superar esses obstáculos em termos de democratização do processo?

Mobilizando a Sociedade contra o Estado. Atualmente o Estado subjuga a Sociedade. É preciso que a Sociedade se imponha ao Estado. E denunciando a suposta supremacia técnica dos intérpretes pagos pelo Estado.

Em uma Sociedade organizada, os intérpretes das normas jurídicas não serão mais supostos detentores de pseudo-verdades que eles criam e nos apresentam como sendo apreendidas a partir de essências inatingíveis pelos mortais comuns, tais quais o “Justo”, o “Certo”, o “Bom”.

Como a realidade é cambiante, evanescente, principalmente e mais que nunca hoje em dia, qualquer veleidade quanto a uma interpretação "correta" que fira os interesses da Sociedade deve ser vigorosamente rejeitada.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

GOVERNO AVANÇA PARA TRÁS



* Honório de Medeiros

Trinta e tantos anos atrás, recém nomeado para o Estado, presenciei uma tentativa de instalação de ponto eletrônico. Sábado o Governo decretou a volta do ponto eletrônico. De passo em passo chegaremos ao século XX, a Deus querer!

domingo, 13 de dezembro de 2015

ONDE ENCONTRAR "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS"

* Honório de Medeiros

Você pode encontrar "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS" nos seguintes endereços:

1) Na Livraria do Campus Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: 
http://www.cooperativacultural.com.br/ 

2) No Sebo Vermelho, à Avenida Rio Branco, em Natal, com Abmael Silva: http://sebovermelhoedicoes.blogspot.com.br/

3) Ou com o livreiro Francisco Pereira Lima, por intermédio do seguinte email:
fplima1956@gmail

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

LULA QUER O IMPEACHMENT

* Honório de Medeiros

Lula, insidiosamente, alimenta, sôfrego, nas sombras, o impeachment: quer se livrar de um peso morto, unir o PT posando de vítima, e mirar em 2018, passando a responsabilidade da condução da economia para a oposição.

domingo, 6 de dezembro de 2015

ÉS PORQUÉ NO SÉ


Iuri Montenegro
* Honório de Medeiros

"ÉS PORQUÉ NO SÉ" foi o final de uma noite maravilhosa, no Auditório da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no qual Iuri Montenegro, esse instrumentista que vemos na imagem acima, apresentou seu Recital de Conclusão do Curso Técnico em Violão Erudito.

Violão Erudito. Ao longo da noite os ouvintes, que lotavam o Auditório, entusiasmados aplaudiam a "performance" do violonista, admirando não somente o rigor técnico, mas também, como não poderia deixar de ser, a felicidade da escolha do repertório.

Tímido, mas sereno, como sempre, Iuri Montenegro foi secundado por colegas e amigos do Curso de Violão Erudito. No início, o violonista apresentou-se a sós. Em seguida peças a dois, e até mesmo a três, sucederam-se e foram consagradas pelos aplausos dos que lá estavam.

O "grand finale" foi, como dito acima, o belo "ÉS PORQUÉ NO SÉ", poema da autoria do pai do instrumentista que ele musicou, apresentado ao som de vários instrumentos, sob sua regência, com a participação especial de um trio de vozes,

Grande noite, sem dúvida. E a certeza do talento de Iuri Montenegro para coroa-la.



sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ACERCA DO "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS"

  

 Passados dez anos do lançamento, no Cariri cearense, de “Massilon – Nas Veredas do Cangaço e Outros Temas Afins”, eis que Honório de Medeiros nos entrega “Histórias de Cangaceiros e Coronéis”, o segundo volume de sua trilogia acerca desse tema fascinante.

Desta vez o livro é dividido em três grandes eixos: no primeiro, “Jesuíno Brilhante, Herói ou Bandido”, o autor, com base em farta documentação, em primeiro lugar nos apresenta uma face mais visível do pouco conhecido, mas muito famoso em sua época, José Brilhante, o “Cabé”, tio materno do único cangaceiro potiguar conhecido, e que foi personagem do romance “Os Brilhantes”; e, em segundo lugar, mostra o quanto talvez seja equivocada a percepção romântica, calcada no mítico Robin Hood, tanto do senso comum quanto dos escritores que se dedicaram a escrever acerca do primeiro dos grandes bandidos rurais do ciclo do cangaço, Jesuíno Brilhante.

No segundo eixo trata do famoso ataque de Lampião a Mossoró analisando-o a partir de uma perspectiva inédita e com informações até então desconhecidas da literatura específica acerca do tema. Aparece, por exemplo, pela primeira vez na história do cangaço, identificado inclusive com imagem, a “oposição oficial” ao Coronel Rodolpho Fernandes e que a ele se contrapôs veementemente nos dias que antecederam a invasão da cidade.

Por fim, no terceiro eixo, constituído de crônicas acerca de temas diversos do cangaço e do coronelismo, trata, por exemplo, de uma misteriosa amante de Antônio Silvino, bem como acerca da famosa “teoria do escudo ético”, ou mesmo do “pacto dos governadores para eliminar os cangaceiros”, dentre outros, que se colocam para o leitor como textos menos densos, mas, nem por isso, menos instigantes.

Como dito outrora, na orelha do “Massilon”, e ainda válido hoje, o que o Autor pretende, e não há razão para que não ocorra da forma como ele deseja, este livro é “nada tão sério que pareça maçante, tampouco tão leve que pareça desfrute.”

Mãos à obra.

* Antônio Gomes, Sertão/Natal, 2015.

sábado, 28 de novembro de 2015

MINHA PRAIA, MESMO, É O LIVRO


Aramis, D'Artagnan, Athos e Portos. Da esquerda de quem olha para a direita.


* Honório de Medeiros

Gosto muito de cinema, mas minha praia, mesmo, é o livro. Há exceções, claro, sempre as há. Não substituo, porém, minha imaginação pela de quem quer seja. A minha não é privilegiada. Normal. É a minha.

Até hoje nunca assisti filme acerca dos Três Mosqueteiros que valesse a pena. Tenho todos. Não volto a nenhum deles.

Ouso dizer que é impossível, para as gerações mais novas, compreender, com sua mentalidade de hoje, o universo da saga imortal criada por Alexandre Dumas: Os Três Mosqueteiros, Quarenta Anos Depois, e O Visconde de Bragellone. Tanto o é que anda ela, a saga, esquecida. 

É assim que as coisas são, que o mundo é. Cada qual com seu cada qual. Estamos todos certos, estamos todos errados ao mesmo tempo, como diria o poeta.

Querem outro exemplo? A obra infantil de Monteiro Lobato.

Em tempos de Matrix, e Star Wars, não há muito espaço para Emília de Rabicó e D'Artagnam. Nem para D. Quixote de La Mancha, Primeiro e Único. A exceção é O Senhor dos Anéis.

Que lástima...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

CANGAÇO: FORMA TRANSFIGURADA DE FAZER POLÍTICA

* Prof. Dr. Gilson R. de M. Pereira

 É possível dizer algo novo sobre o Cangaço e sobre o Coronelismo, tão exaustivamente estudados? O que justifica debruçar-se sobre um assunto aparentemente tão esgotado? É possível acrescentar uma informação crucial, uma perspectiva diferente, fazer algum avanço nas análises até aqui feitas? Parece que, pelo menos em relação ao material empírico, não se pode esperar muita coisa, visto que, exceto por um ou outro documento, uma foto, uma carta, que ainda eventualmente possa aparecer, tudo já foi muito esmiuçado. Se isso estiver correto, então não é no âmbito do protocolo que se pode ampliar o que se conhece sobre cangaceiros e coronéis, porém nos métodos e nas análises do material disponível e esta é a contribuição de Histórias de Cangaceiros e Coronéis, Editora Sebo Vermelho, de autoria de Honório de Medeiros, recentemente lançado.

 O que faz de Histórias de Cangaceiros e Coronéis um marco, um determinante simultaneamente teórico e prático nos estudos sobre o coronelismo e o cangaço, é a mobilização, em objetos precisos, do modo de análise estrutural. Sintetizando, e sem antecipar o conteúdo do livro, o autor, de forma novidadeira, submete o cangaço e o coronelismo a um método de análise que privilegia as relações entre os agentes e as instituições como princípio de conhecimento do real, quer dizer, como princípio de inteligibilidade da particularidade de um mundo social situado e datado. Para isto, Honório se apropria do conceito de “campo social”, formulado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, e o aciona a fim compreender e dar a compreender a teia de relações que faz de cangaceiros e coronéis opostos e complementares no proto-campo político do Nordeste brasileiro no período do final do Segundo Império à década de 1930. Digo proto-campo político, pois neste período o campo político ainda não havia se autonomizado e estava imerso numa totalidade social, difusa e parcialmente diferenciada, que anexava a política à economia, à tradição e à religião.

 O credo metodológico de Histórias de Cangaceiros e Coronéis não é formalizado no livro, e nem seria preciso, mas é esboçado às páginas 225-226. Assim, o vetor epistemológico adotado é claro: vai do racional ao real, de acordo com a máxima sociológica segundo a qual é o mundo social – cientificamente construído – que explica os indivíduos e não o contrário. E para lançar luz nas práticas e representações de cangaceiros e coronéis, Honório recorre não a um vago “contexto social”, nem aos imprecisos “determinantes em última instância da economia”, mas ao campo, ainda não inteiramente estruturado, é bem verdade, no qual se disputavam os móveis e interesses políticos da época.

 Assim sendo, esse poderoso recurso analítico permite a Honório de Medeiros ver mais longe e dizer coisas não sabidas sobre fatos já conhecidos. As práticas de cangaceiros e coronéis, desse modo, saem do arbitrário, do acaso, do irracional e se encaixam, ainda que na forma de conjecturas, como reconhece o autor, num cenário interpretativo que tem a força da razoabilidade. Na construção deste cenário explicativo, é particularmente interessante o uso das genealogias, recurso fartamente utilizado pelo autor. A garimpagem das relações familiares, dos compadrios e das linhagens não é no texto um mero exercício de erudição e virtuose investigativa, mas um modo de reconstruir a trama das interdependências capazes de conferir sentido aos atos aparentemente mais díspares. Embora pareça extenuante ao leitor desatento, as genealogias auxiliam na construção da economia das trocas materiais e simbólicas entre as famílias, os clãs, os grupos e as facções em disputa pelo poder, em luta pela honra e pela posse de recursos escassos. Assim, é lícito afirmar que em Histórias de Cangaceiros e Coronéis o autor não é tão somente um genealogista inspirado, mas um topógrafo empenhado em descrever a topologia do já mencionado proto-campo político. Ao fazê-lo, ao minuciar a teia de relações familiares, de compadrio e de amizade (e de inimizade), o autor repõe ao mesmo tempo as posições relativas ocupadas pelos diversos agentes no estado do proto-campo político à época. Neste caso, o desafio enfrentado pelo autor foi o de mostrar o funcionamento da lógica prática – esta lógica sem lógicos – capaz de fazer compreender o que os agentes fazem e como e porque o fazem.

 Em Histórias de Cangaceiros e Coronéis, coronéis e cangaceiros partilham do mesmo ethos e do mesmo pathos, pois possuem os mesmos esquemas de pensamento e ação. Isso não significa juntá-los indistintamente num único cesto informe: a análise estrutural separa o que o vulgo junta e junta o que o vulgo separa. O que Honório junta (e o vulgo separa): cangaceiros e coronéis na mesma trama do poder; o que Honório separa (e o vulgo junta): os cangaceiros dos marginais de feira (vide as referências quer à situação econômica de relativa folga das famílias de alguns cangaceiros ou mesmo à estirpe nobre de outros).

 Mas unir coronéis a cangaceiros não seria muito expressivo do ponto de vista analítico, pois ainda seria preciso identificar as distinções nas semelhanças. E, mais uma vez de forma adequada, Honório procura o princípio explicativo das distinções na hierarquia do proto-campo político de então, ou seja, na legitimidade que coronéis possuíam e cangaceiros, não. As alianças conjunturais – de interesses, de ódios, de intrigas, inimizades e amizades – unem o cangaço a frações do coronelismo, mas a legitimidade deste último o demarca do primeiro. É bom lembrar que os cangaceiros não foram indiferentes à legitimidade, a exemplo da “patente” de capitão de Virgulino Ferreira, sempre anunciada com orgulho.

 O capital de legitimidade dos coronéis e o déficit de legitimidade dos cangaceiros pesarão na reprodução posterior dessas duas experiências políticas típicas do Nordeste brasileiro no já mencionado período do final do Segundo Império à década de 1930. O coronelismo, em razão dos trunfos materiais e simbólicos que dispunha e da legitimidade amparada nos poderes do Estado, encontrará, como o autor menciona, formas de sobrevivência, ou seja, de reprodução ampliada quando da modernização do País. As modernas oligarquias e as linhagens familiares que, atualmente, dominam a política no Nordeste descendem do coronelismo. Os cangaceiros, por sua vez, justamente em razão da posição subalterna que ocupavam no proto-campo político durante o mesmo período e da ausência de legitimidade, sucumbiram e foram extintos. Assim, é apenas por um abuso terminológico que hoje se fala em “novo cangaço” ao mencionar os bandos de facínoras que roubam bancos e aterrorizam as pequenas cidades do interior. Não há nenhuma semelhança tanto na forma como no conteúdo.

Cangaceiros e coronéis não emergem das 285 páginas de Histórias de Cangaceiros e Coronéis inteiriços como se saídos dos mitos e dos contos de fadas, porém contraditórios, dilacerados, ora heroicos, ora pusilânimes, quase sempre horríveis e sombrios. São os vitoriosos e os vencidos de um mundo caracterizado, para usar a expressão de Johan Huizinga a propósito do declínio da idade média, pelo “teor violento da vida”. Afinal, Histórias de Cangaceiros e Coronéis é um livro cheio de atrocidades (“matou, emboscou, decapitou, deflorou, ultrajou, espancou cruelmente” são palavras amiúde encontradas). Contudo, restituí-los – os ofendidos e os ofensores – em sua humanidade, sem preconceitos, eis um inegável mérito da análise estrutural empreendia por Honório de Medeiros.

 Em razão do alcance analítico dos resultados e do manejo modelar do método, penso que, doravante, qualquer ensaio que pretenda fazer avançar o conhecimento sobre o coronelismo e o cangaço deverá, necessariamente, interpelar Histórias de Cangaceiros e Coronéis.

* Gilson Ricardo de Medeiros Pereira possui graduação em Licenciatura em Física pela Universidade de São Paulo (1987), graduação em Bacharelado em Física pela Universidade de São Paulo (1983), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2001). Trabalhou como professor efetivo na Universidade Regional de Blumenau, SC, e, atualmente, é professor do quadro da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, atuando no Programa de Pós-Graduação, mestrado em educação. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Sociologia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, políticas públicas, administração da educação, periódico especializado e disciplina acadêmica.

O SONHO DENTRO DO SONHO

R


* Honório de Medeiros


Então, inocentes, supomos que estamos acordados. Doce ilusão. Às vezes amarga. Na verdade estamos dormindo. Dormindo e sonhando. Não adianta imaginarmos que estamos nos sentindo, nos tocamos, beliscamos, percebemos uma realidade que se descortina ante nossos olhos. Ocorre que estamos sonhando que sentimos, que vemos, que ouvimos. Tudo isso é ilusão. Não posso provar que estamos sonhando, nem posso provar que não estamos. Esse é o problema. O pior é que pode ser, não é impossível isso, que o sonho nem nosso seja. Sejamos apenas o sonho do sonho de alguém. 


domingo, 22 de novembro de 2015

O QUE NOS RESERVAVA CADA CAMINHO QUE NÃO PERCORREMOS?



* Honório de Medeiros


Cada um de nós, no presente, é refém das escolhas que fez no passado. Bifurcações, encruzilhadas, caminhos com possibilidade única de retornar ou seguir em frente, qualquer opção tomada nos encaminhou a um futuro escolhido e desfez, naquele preciso instante, para sempre, a possibilidade de vivermos o que foi deixado para trás. Muito embora às vezes pudéssemos ter uma pálida ideia do que viria quando a opção foi feita, são tantos os desdobramentos seguintes que qualquer certeza logo se desfaz, tal sua evanescência. Angustia-nos saber, hoje, que a opção foi um ponto-sem-volta, que nunca saberemos, concretamente, o que aconteceria se, no passado, tivéssemos seguido de forma diferente. Aquela rua que não foi transposta, a esquina que não foi dobrada, o adeus que foi ou não dado, o não ou o sim que proferimos em certo lugar, há tanto tempo, o que nos reservava cada caminho que não percorremos? 

Arte: www.clinks.com.br

sábado, 21 de novembro de 2015

SIMPLESMENTE INACREDITÁVEL

* Honório de Medeiros

Li uma matéria publicada pela Tribuna do Ceará, simplesmente inacreditável:

http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/ceara/sesc-emite-justificativa-espetaculo-artistas-exploram-anus-dos-outros/

Em certos momentos o meu desprezo pelo ser humano chega a níveis muito altos.

Os "artistas" justificaram a "performance" alegando que se tratava de "arte contemporânea".

Ignorantes. Recomendo-lhes a leitura, pelo menos, de "A Civilização do Espetáculo (Uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura)", de Mário Vargas LLosa. Se puderem, vão mais longe: "Notas para Uma Definição de Cultura", de T. S. Elliot.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

POR QUE LAMPIÃO INVADIU MOSSORÓ?


* Honório de Medeiros

Em dias do início do mês de junho do ano da graça de 1927, pelas terras do Rio Grande do Norte que confrontam com as da Paraíba, lá no alto Sertão desses estados, mais precisamente aquelas que ficam entre as cidades de Uiraúna, PB, e Luis Gomes, RN, vindos de Aurora, no Ceará, da Região do Cariri de Nosso Senhor Jesus Cristo, eles, os cangaceiros, entraram no território potiguar.

Era uma horda selvagem com aproximadamente uma centena de homens, para o mais ou para o menos, imundos e bestiais, a cavalo, fortemente armados, portando rifles, fuzis, revólveres, pistolas, punhais longos e curtos, e farta munição. Vinham ébrios, ferozes, e sedentos de violência, sem qualquer outro propósito que não a rapinagem, pura e simples.

Durante os quatrocentos quilômetros e quatro dias que durou a epopéia, deixando e voltando à Aurora após alcançarem Mossoró, desenharam, com a ponta dos cascos dos cavalos ou a face externa das alpargatas com as quais pisavam o chão, como que um movimento cujos contornos lembram o de uma flor de mufumbo, cujas laterais seriam as margens da Serra de Luis Gomes e Serra do Martins, por um lado, e, pelo outro, as margens do serrame do Pereiro, limites com o Jaguaribe, Ceará adentro.

E assim entraram, espalhando o terror por onde passaram.

Mas será que eles tinham algum outro propósito, além da rapinagem pura e simples?



LANÇAMENTO DIA 10 DE DEZEMBRO, A PARTIR DAS 18 HORAS, NO CLUBE DOS RADIOAMADORES, AV. RODRIGUES ALVES, 1.004, VIZINHO À CIDADE DA CRIANÇA, EM NATAL.


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

domingo, 8 de novembro de 2015

ACERCA DE PEDIR VOTOS


* Honório de Medeiros

Ao longo da vida pedi votos para outras pessoas e até para mim mesmo. Peço desculpas. Voto não se pede, não se cabala. É algo profundamente íntimo. Deve emanar de cada um de nós de forma espontânea, enquanto consequência do respeito e admiração por alguém e sua história de vida. Como se fosse a manifestação de um sentimento único. Errei.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

NÓ LÓGICO



* Honório de Medeiros



Dia desses ocorreu o seguinte diálogo entre Bárbara e eu:

"Deus é Todo-Poderoso?", iniciou ela.

"Isso."

"Ou seja, Deus é Onipotente, não é?"

"É."

"Se Ele é onipotente, pode criar qualquer coisa, não?"

"Claro!"

"Ele pode, portanto, criar algo que o destrua, correto?"

"Pois é..." Nesse momento eu já estou integralmente preocupado com o desfecho da conversa.

"Se algo assim pode destruí-lo, então não é Onipotente, pois não pode impedir que algo mais poderoso que Ele o destrua."

De onde eu tirei a ideia de que deveria ensinar lógica à minha filha?

Restou-me apelar: "os desígnios de Deus não cabem na malha estreita da lógica humana!"

Tomei uma vaia...

terça-feira, 3 de novembro de 2015

HONÓRIO LANÇA "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS" EM MOSSORÓ





DIA 6 DE NOVEMBRO, ÀS 20:00 HORAS, NA EXPOCENTER, PALCO ESTAÇÃO DAS LETRAS, EM MOSSORÓ (AV. JORGE COELHO DE ANDRADE, 2), XI FEIRA DO LIVRO, MESA-REDONDA COM HONÓRIO DE MEDEIROS E GERALDO MAIA, COORDENADA POR KYDELMIR DANTAS, ACERCA DO SEGUINTE TEMA: "AS HISTÓRIAS DO CANGAÇO QUE AINDA NÃO FORAM CONTADAS".



EM SEGUIDA, A PARTIR DAS 21:00 HORAS, HONÓRIO DE MEDEIROS LANÇA SEU LIVRO "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS" NO LOCAL.

MAIORES INFORMAÇÕES EM http://www.feiradolivrodemossoro.com.br/

terça-feira, 27 de outubro de 2015

HONÓRIO DE MEDEIROS LANÇA "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS" NA FEIRA DO LIVRO DE MOSSORÓ



DIA 6 DE NOVEMBRO, ÀS 20:00 HORAS, NA EXPOCENTER, PALCO ESTAÇÃO DAS LETRAS, EM MOSSORÓ (AV. JORGE COELHO DE ANDRADE, 2), XI FEIRA DO LIVRO, MESA-REDONDA COM HONÓRIO DE MEDEIROS E GERALDO MAIA, COORDENADA POR KYDELMIR DANTAS, ACERCA DO SEGUINTE TEMA: "AS HISTÓRIAS DO CANGAÇO QUE AINDA NÃO FORAM CONTADAS".

EM SEGUIDA, A PARTIR DAS 21:00 HORAS, HONÓRIO DE MEDEIROS LANÇA SEU LIVRO "HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS" NO LOCAL.

MAIORES INFORMAÇÕES EM http://www.feiradolivrodemossoro.com.br/










quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CONSELHO CONSULTIVO DO CARIRI CANGAÇO


Conselho Para Ninguém "Botar" Defeito...


*Manoel Severo




Elane Marques, Manoel Severo e Archimedes Marques em reunião do Conselho Alcino Alves Costa do Cariri Cangaço em Juazeiro do Norte. 


Quando era ainda bem menino lá na minha querida Maranguape, acostumei a ouvir um ditado popular que dizia: "Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia !" O tempo passa, começamos a compreender as nuances da vida e hoje, com muita autoridade e gratidão sou obrigado a afirmar: "Conselho é não só é bom, como é excelente, espetacular, sem igual !"


Na manha do ultimo dia 26 de setembro, último dia de nosso Cariri Cangaço - Edição de Luxo, Ano V; nos salões do Ingra Premium Hotel em Juazeiro do Norte, tomou posse a nova composição do Conselho Consultivo Alcino Alves Costa, do Cariri Cangaço. Em clima de festa e harmonia, confrades de todo o Brasil, convidados do evento, testemunharam a entrega de Diplomas e as palavras dos Conselheiros, reconduzidos e novos, que assumem para uma gestão de três anos: setembro de 2015 a setembro de 2018. 



Jorge Remígio recebe de Manoel Severo seu Diploma. Ao lado de Rostand Medeiros são os dois novos membros do Conselho.


O Conselho Consultivo do Cariri Cangaço, em sua terceira formação para o triênio 2015/2018, nasceu como o grande e espetacular cérebro , cheio de talentosos e valorosos neurônios, que possui a missão de pensar todas as nossas ações. Sem dúvidas a Curadoria estabelece o "norte", mas esse mesmo norte é resultado das muitas conversas, reuniões, sugestões, impressões e principalmente; resultado do sentimento desse grande Conselho, formado por homens e mulheres que possuem dentre muitas outras afinidades, um bem comum: O amor e a devoção ao seu chão, às suas origens.


A esse Conselho demos um Patrono: Alcino Alves Costa, o inesquecível Caipira de Poço Redondo, que ocupou uma de nossas cadeiras desde nossa fundação, hoje, Alcino lá de cima continua a nos orientar com uma maestria e alegria inconfundíveis, consolidando a força do Conselho que leva seu nome. Antes em Crato em 2010, depois em Barbalha em 2013 e agora Juazeiro do Norte em 2015, confrades assumem novamente o desafio de manter viva a memória e historia de nosso sertão. 

E assim o Conselho Consultivo Cariri Cangaço Alcino Alves Costa, assume novamente o desafio de pensarmos juntos os próximos passos de nosso sonho, 2016, 2017...2018. O Ceará, como berço, continua mantendo o maior número de conselheiros, oito, sendo: Ângelo Osmiro e Aderbal Nogueira, dos lados do litoral representam a bela desposado pelo sol, Fortaleza. Do sertão central, da terra dos monólitos trouxemos uma menina valente pra peste: Juliana Pereira. Descendo para nosso amado cariri passando pelo vale do salgado, uma segunda representante feminina, poeta de fibra e arretada das Lavras da Mangabeira, Cristina Couto; de Aurora o grande José Cícero Silva, de ali pertinho: Barro, o sensacional Sousa Neto; do portal Missão Velha , reverendíssimo e inigualável Bosco Andre que ao lado do Mestre Napoleão Tavares Neves formam a seleção alencarina do Conselho.



Napoleão Tavares Neves, Barbalha CE

Juliana Pereira, Quixadá CE
Ivanildo Silveira, Natal RN
Ângelo Osmiro, Fortaleza CE
Honório de Medeiros, Natal RN
Narciso Dias, João Pessoa PB
Sousa Neto, Barro CE
Gerado Ferraz, Recife PE
Wescley Rodrigues, Sousa PB
Ana Lúcia Granja, Petrolina PE
Kiko Monteiro, Lagarto SE
João de Sousa Lima, Paulo Afonso BA
Archimedes Marques, Aracaju SE
Rostand Medeiros, Natal RN
Aderbal Nogueira, Fortaleza CE
José Cícero Silva, Aurora CE
Antônio Vilela, Garanhuns PE
Bosco André, Missão Velha CE
Múcio Procópio, Natal RN
Paulo Gastão, Mossoró RN
Kydelmir Dantas , Mossoró RN
Cristina Couto, Lavras da Mangabeira CE
Jorge Remígio, Custódia PE
Professor Pereira, Cajazeiras PB
Leandro Cardoso, Teresina PI

Teresina nos permitiu o talento inconfundível de Leandro Cardoso que abriu alas para outra seleção; o espetacular time potiguar, com seis nomes de peso: Honório de Medeiros, Paulo Gastão, Kydelmir Dantas, Ivanildo Silveira, Múcio Procópio e um dos dois novos conselheiros; Rostand Medeiros, haja folego !!! A querida Paraíba, segunda casa do Cariri Cangaço, nos presenteou com Narciso Dias e os incansáveis Wescley Rodrigues, verdadeira revelação; e professor Pereira, Mestre dos mestres em matéria de literatura do sertão!


A terra de Virgulino nos trouxe os Pernambucanos; o volante Geraldo Ferraz e o homem das sete colinas, Antonio Vilela, a doce Ana Lucia Granja e o segundo mais novo membro do conselho, de Custódia chega para ficar, Jorge Remígio. Cruzando o Velho Chico a trilogia final nordestina com Kiko Monteiro o fantástico Lampião Aceso de Lagarto e o bravo Archimedes Marques de Aracaju, fechando com chave dourada o "baiano" de São José do Egito, valente que só a gota, João de Sousa Lima, da bela Paulo Afonso... 

Eita !!!! 25 conselheiros? ou seriam 25 mil ? Certamente a ordem dos fatores não altera o resultado, o fato e que esses homens e mulheres se juntam não apenas em torno de um evento, de um projeto, mas em torno de um sentimento, o sentimento de profundo amor as coisas do sertão, do nordeste, amor esse que nasce do fundo de nossa alma, por isso chegamos ate aqui... E vamos prosseguir !



Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço.
Fortaleza, Ceará-Brasil

sábado, 3 de outubro de 2015

DO PERMANENTE NO IMPERMANENTE

Musashi

* Honório de Medeiros

No monumental "Musashi", de Eijy Yoshikawa, o "santo da espada" diz: "Ao mesmo tempo, um jovem tem o péssimo hábito de achar que não pode realizar seus sonhos no lugar onde está, e de sempre buscá-los por caminhos distantes. Grande parte dos preciosos dias da juventude se perde nessa insatisfação."

Lembrei-me, então, de um trecho há muito tempo lido em Sêneca. Está no "Da Tranquilidade da Alma": "Uma coisa sucede a outra, e os espetáculos se transformam em outros espetáculos, Como disse Lucrécio: 'Desse modo, cada um foge de si mesmo'. Mas em que isso é proveitoso, se, de fato, não se foge? Seguimos a nós mesmos e não conseguimos jamais nos desembaraçar de nossa própria companhia."

Ou seja, busquemos o permanente no impermanente.

Em tempos de "vida líquida", como a denomina Bauman, no qual o evanescente é a essência das coisas, buscar o permanente no impermanente pode parecer uma quimera arcaica. 

Entretanto se não nos dedicamos a tal por intermédio do submergir em si mesmo, outra coisa não fazemos quando investimos no conhecimento que nos possa trazer o Grande Colisor de Hádrons. 

Lá os cientistas buscam exatamente essa quimera arcaica ao fragmentar a tessitura da realidade.

O que acontecerá quando tudo for compreendido?

terça-feira, 29 de setembro de 2015

INATO OU ADQUIRIDO?


* Honório de Medeiros

Quem leu "A Tempestade", de Shakespeare, ou a assistiu, conhece o célebre jogo de palavras:

"É um demônio, um demônio de nascença, / em cuja natureza jamais pôde atuar a educação."

O solilóquio completo de Próspero é o seguinte:

"É um demônio, um demônio de nascença, em cuja natureza jamais pôde atuar a educação. Foram perdidos todos os meus esforços; sim, perdido completamente, sempre, quanto hei feito a ele por amor à humanidade. Seu corpo com a idade fica hediondo e cada vez mais ulcerado o espírito. Atormentá-los vou até que rujam."

Eis como a arte antecede a ciência. 

A essência desse solilóquio é aquela da filosofia: "inato ou adquirido?"

Richard Dawkins a descreve assim, em "Fome de Saber", o volume 1 de suas memórias: "Os filósofos vêm pelos séculos afora refletindo sobre essa questão. Quando do que sabemos é embutido de forma inata, e até que ponto a mente é uma tábula rasa, à espera de que algo seja escrito nela, como acreditava John Locke?"

Karl Popper encaminhou seu gênio para resolver essa questão. É a medula de sua epistemologia. Aliás, até onde sei, o termo "tábula rasa" foi criação dele.

Muito interessante esse jogo de conectar idéias oriundas de diversas fontes. Shakespeare, Locke, Popper, Dawkins...

* Arte: www.mallarmargens.com

sábado, 26 de setembro de 2015

A SOMBRA DE JARARACA

* Honório de Medeiros

POR QUE JARARACA PEDIU A UM POLICIAL, NA TARDE QUE ANTECEDEU SUA MORTE, PARA FALAR EM PARTICULAR COM O CORONEL RODOLPHO FERNANDES?

O quê Jararaca queria conversar em particular com o Coronel? Por que ele foi assassinado na noite seguinte ao pedido? Há alguma relação entre um fato e outro?

Façamos um intervalo e nos dediquemos a analisar o episódio da morte de Jararaca, que é bastante revelador.

Sérgio Dantas nos conta, acerca do episódio, o seguinte:

(...) "no mesmo dia em que fora preso, Jararaca concedera bombástica entrevista ao jornalista Lauro da Escóssia, do noticiário “O Mossoroense”. Não mediu palavras."

Mais a frente, continua o historiador:

"Jararaca pisou em terreno minado. Logo percebeu que tornara pública parte de uma teia intocável. Suas incisivas declarações puseram em dúvida a probidade moral de destacados chefes políticos de estados vizinhos. A repercussão das declarações, claro, fora inevitável. Decerto, o bandido temeu pela própria vida. Pressentira algum perigo. Chamou um militar, ainda cedo da tarde. Expressou-lhe o desejo de falar em particular com o Intendente Rodolpho Fernandes. O pedido, no entanto, lhe foi negado sem maiores explicações. A caserna tinha outros planos para o cangaceiro. À surdina, ensaiou conspiração. Tramaram abjeto extermínio e apostaram no sigilo. Sem mais demora executou-se o plano."

Em tudo e por tudo está certo Sérgio Dantas. 

Somente errou ao afirmar que as declarações de Jararaca puseram em dúvida apenas a probidade moral de chefes políticos de estados vizinhos e por essa razão temeu pela própria vida.

Não colocou Jararaca em dúvida somente a probidade moral de alguém fora dos limites de Mossoró ou circunvizinhança. Por certo sabia que esses chefes políticos tinham amigos poderosos em Mossoró e vizinhança. Colocou sim, provavelmente, em dúvida, a probidade moral de alguns próceres que estavam próximos, bem próximos ao Coronel Rodolpho Fernandes e aos fatos. 

Como seria possível as declarações de Jararaca chegarem ao Ceará, se a alusão for ao Coronel Izaías Arruda, com a rapidez necessária para que ele, ao perceber que falara demais, ficasse com medo de morrer? Naquele tempo não havia telefone. Havia telégrafo, que não estava funcionando no sentido do Sertão, danificado pelo bando de Lampião.

Quem, no entanto, enviaria informações comprometedoras pelo telégrafo e, através dele, discutiria um plano para a eliminação do cangaceiro que envolvesse a Polícia, comandada pelo Tenente Laurentino de Morais e o Governo do Estado do Rio Grande do Norte? Não parece óbvio que se houve o plano, necessariamente também houve a participação de quem pudesse mobilizar, no Rio Grande do Norte, em Mossoró, essas instituições?

Também não seria possível enviar, a cavalo ou de automóvel, notícias alusivas à entrevista de Jararaca para os estados vizinhos, em tempo suficiente – cinco dias - para que houvesse uma decisão acerca de sua eliminação pela Polícia do Rio Grande do Norte. 

Não. O que Jararaca disse e o que queria dizer ainda mais ao Coronel Rodolpho Fernandes provavelmente incomodou alguém ou alguns que estavam por perto, perto o suficiente para querer, planejar, decidir, e mandar mata-lo. Atribuir tudo isso ao Coronel Izaías Arruda é dar a ele um interesse e poderes que vão além do razoável.

Finaliza o pesquisador Sérgio Dantas: 

“Jararaca sucumbira. Morreu porque sabia demasiado.” 

A seguir:

“Findou o terrível salteador nas primeiras horas da manhã. Sua morte, entretanto, já havia sido decretada há dias. O laudo do exame cadavérico, por exemplo, fora assinado ainda na tarde do dia dezoito. E assim foi. Horas antes da execução e sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se ferimentos de um corpo, sofridos durante uma batalha. Logo depois se chancelava, com base em conclusões médico-legais, documento de óbito de homem ainda vivo.”

FONTES:

“LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; DANTAS, Sérgio Augusto de Souza; Cartgraf – Gráfica Editora; 2005; 1ª edição; Natal; RN.

domingo, 20 de setembro de 2015

HISTÓRIA DE UMA BUSCA

* Honório de Medeiros

As noites da minha infância, quando em férias, excetuando duas oportunidades nas quais uma prima distante que morava conosco me levou para o Sertão, foram passadas na Praia de Tibau, na mesma casa onde meus pais viveram sua lua-de-mel e provavelmente me conceberam. Eram noites típicas do nosso verão litorâneo, com muito vento e pouquíssimas nuvens, frio mais intenso quanto mais tardia se fizessem as horas, todas estas passadas à luz do lampião de gás no alpendre que nos agasalhava e no qual eu ficava entre dormitando e acordado, medroso com a escuridão, acompanhando de relance as figuras que o bruxuleio da luz desenhava nas paredes e ouvindo as conversas dos adultos.

Para lá eu ia como companhia oficial de Tia Liliosa tão logo chegassem os primeiros dias de janeiro. Nessa época o centro de poder familiar era plenamente exercido por Tio Ezequiel[1], irmão de minha avó materna, líder da família e homem considerado muito rico para os padrões de então. Ele era o principal quotista de Alfredo Fernandes Indústria e Comércio, uma empresa com sede em Mossoró e correspondente comercial até mesmo em Londres, que se dedicava, principalmente, ao beneficiamento de algodão. Nele me impressionava o distanciamento que sabia impor sem elevar a voz e seu vagão de trem permanentemente guardado em um galpão imenso vizinho ao escritório central da Firma, para ser usado em seus deslocamentos até o Sertão, nas suas férias anuais, em julho, Fazenda João Gomes, latifúndio encravado nas proximidades de Marcelino Vieira, cuja casa-grande foi construída por ancestrais nossos oriundos de Martins[2].

Era, então, no entorno de Tio Ezequiel, que a família se reunia quando ele ia a Tibau, para a casa de seu sobrinho Chico Sena[3], passar o final-de-semana. Conversava-se debaixo do alpendre a respeito de tudo: a vida, a morte, a seca, a invernada, a carestia, a fartura, a política, mas a noite sempre terminava com alguma história da família Fernandes, principalmente os episódios vividos por Tio Childerico na Amazônia, mais precisamente no Acre, ou Tio Childerico, o “Novo”, e seu encontro com o bando de Lampião[4]. Naquela época Tio Childerico “Velho” já era lenda aqui e na Amazônia. As histórias que se contavam a seu respeito diziam respeito a anos passados no meio da selva sem qualquer contato com a civilização, convivência com índios desconhecidos de hábitos indescritíveis, riquezas fabulosas amealhadas com a venda de borracha, quilômetros e mais quilômetros de terras adquiridas e perdidas em um passe de mágica, boa parte delas contadas por Calazans Fernandes em sua obra “O Guerreiro do Yaco”, primeiro volume do que se espera seja uma trilogia romanceada de sua vida[5]. Quanto a Tio Childerico “Novo”, sua história era recente e mais singela: dizia respeito à passagem do bando de Lampião, após o ataque frustrado a Mossoró, pela propriedade “Veneza”, gerenciada por ele e pertencente a um parente próximo. E dizia respeito à atitude de um cangaceiro, por nome Massilon, de quem Tia Bebela, esposa de Tio Childerico “Novo” se valera para proteger seus filhos, principalmente Fernando Fernandes, recém-nascido, das torturas que lhe infligia “Menino de Ouro”. Massilon fora, no dizer de Tia Bebela, seu “anjo-da-guarda”.

Ainda por outra razão minha relação com o cangaço é bastante antiga: nasci e cresci à sombra da Igreja de São Vicente, a igreja da “bunda redonda”, brinquei, assisti missa, novena de Santo Antônio, sem perder o contato com as marcas que o combate contra Lampião deixou em suas paredes e torre. Na mesma rua onde nasci e me criei e onde ainda hoje moram meus pais, em seu final, número 85, ali onde a Francisco Ramalho termina, do lado direito de quem vai e com a Igreja de São Vicente a sua esquerda, fica a casa onde Tio Ezequiel, Tio Chico Sena, que na época tinha dezesseis anos, e alguns empregados de Alfredo Fernandes, montaram resistência armada aos invasores[6]. Cenário bastante conhecido por mim e que me valeu uma nota 10, muitos anos depois, quando fazendo um trabalho escolar em cartolina, apresentei, junto com meus colegas de grupo, uma maquete no qual se vislumbrava como tinha acontecido a invasão de Mossoró e a posterior fuga dos cangaceiros.

Em 1977, ano do cinqüentenário do combate, foi inaugurada a Escola 13 de Junho tendo como sede, ironicamente, a casa que ficava exatamente no extremo oposto à de Tio Ezequiel. Minha mãe fora nomeada sua primeira Diretora e naquelas festividades conheci o primeiro ex-cangaceiro vivo: Asa Branca. Mas somente anos depois, graças a dois acontecimentos distintos embora relacionados, resolvi sair em busca de Massilon. O primeiro deles foi uma conversa em tom de brincadeira com o jornalista Jânio Rêgo, amigo de infância, acerca de um artigo que ele lera no Jornal “O Mossoroense”, escrito por Aléxis Gurgel, e que inovava quanto ao suposto motivo real que tinha levado Massilon a empreender seu projeto relativo à Mossoró[7]. E o segundo foi conhecer e me tornar amigo de Kydelmir Dantas e Paulo Gastão, o primeiro Presidente, à época, da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, e o segundo um dos maiores pesquisadores, acerca desse tema, no Brasil.

A essa confluência de acontecimentos se agregou o interesse de sempre acerca da história da minha família materna, da qual é momento precioso, segundo minha avaliação, desde a fundação de Martins até a resistência oposta por Rodolpho Fernandes à Lampião[8], passando pela luta de Agostinho Pinto de Queiroz[9], as aventuras de Childerico Fernandes, o Guerreiro do Yaco, a história política do interventor Rafael Fernandes, dentre outros, bem como os episódios conhecidos ou aqueles obscuros e nebulosos que ainda não vieram à luz relacionados com 1927 em Mossoró. E se agregou também, como algo que latejava permanentemente em minha memória, o fascínio pela história desse “cangaceiro” obscuro, valente, sem o qual, com absoluta certeza, jamais teria havido a invasão de minha terra natal.

Por todos esses motivos surgiu o livro "MASSILON".



[1] Na residência de Ezequiel Fernandes de Souza houve uma trincheira na luta contra Lampião em Mossoró. Tio Ezequiel, que havia sido pai recentemente, viu sua esposa, Ester, ser acometida da febre puerperal que a vitimou, em decorrência da invasão. Informação de sua sobrinha Francisca Ida Fernandes Marcelino, irmã de minha mãe, casada com José Marcelino de Oliveira e cunhada do médico João Marcelino, o mesmo que tratou de Jararaca em Mossoró.

[2] Em 1742 FRANCISCO MARTINS RORIZ, morador da Ribeira do Jaguaribe, fundou no alto da serra uma fazenda de criar e plantar, a qual daria origem ao povoado que tomou seu nome: Martins. Lembra Manoel Onofre Jr. (“MARTINS, A CIDADE E A SERRA”; Editora Sebo Vermelho; 3ª. Edição; Natal, Rn; 2005) que a origem da Capela à margem da Lagoa dos Ingás e em torno da qual a povoação cresceu está envolta em lenda: Reza a tradição que a esposa de Francisco Martins, desapareceu de casa sem deixar vestígio. Desesperado, Martins fez uma promessa a Nossa Senhora da Conceição: se achasse a mulher – viva ou morta – mandaria construir no local do achamento uma capela em honra daquela santa. Pois, logo mais era localizado, bem à margem da lagoa, o corpo da mulher do sertanista, já em estado de putrefação. E Martins cumpriu o voto, mandando erigir a capela ali mesmo. A primogênita de FRANCISCO MARTINS RORIZ, falecido em 1786, MARIA GOMES DE OLIVEIRA MARTINS, casou-se com MATHIAS FERNANDES RIBEIRO, nascido pela década de 50 do século XVIII, na freguesia de São João Batista da Vila de Princesa (atual Açu, Rn), filho do imigrante português vindo do Porto MANOEL FERNANDES (ver Revista nº 102, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, volumes XVIII e XIX, dos anos 1920 e 1921) e JOANNA MARTINS DE LACERDA, esta, por sua vez, filha de FRANCISCO COSTA PASSOS e VIOLANTE MARTINS, citados na obra “POVOAMENTO E POVOADORES DO CARIRI CEARENSE, de Joaryvar Macedo, conforme nos lembra João Bosco Fernandes (“MEMORIAL DE FAMÍLIA”; Halley S.A. – Gráfica e Editora; 1ª. Edição; 1994). Do casamento nasceu, em 1778, MARIA JOSÉ DO SACRAMENTO, que casaria com DOMINGOS JORGE DE QUEIRÓZ E SÁ. Por sua vez deste casamento nasceu, dentre outros, JOSÉ FERNANDES DE QUEIRÓZ E SÁ, que se consorciou com MARGARIDA GOMES DA SILVEIRA, os quais geraram CHILDERICO JOSÉ FERNANDES DE QUEIRÓZ. Do casamento de CHILDERICO JOSÉ FERNANDES DE QUEIRÓZ (falecido em 4.2.1890) com GUILHERMINA FERNANDES MAIA nasceu FRANCISCA FERNANDES DE QUEIRÓZ MAIA, que se casou com HIPÓLITO CASSIANO DE SOUZA (1863-1937). Este casamento originou MARIA EMÍLIA FERNANDES DE SOUZA (1887-1956), que consorciada com OSÓRIO BERNARDINO DE SENA, gerou ALDEIZA FERNANDES DE SENA MEDEIROS, mãe do Autor, casada com FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS. Sou, portanto, da nona geração desde Francisco Martins Roriz.

[3] Francisco Fernandes de Sena estava na trincheira de seu tio, Ezequiel Fernandes de Souza. Tinha 16 anos. Foi Interventor em sua terra natal, Pau dos Ferros, RN.

[4] Childerico Fernandes de Souza (1889-1978), filho de Francisca Fernandes de Souza e Hipólito Cassiano de Souza. Nos primeiros anos do século XX foi trabalhar no Acre com seu tio materno Childerico José Fernandes de Queiroz Filho, o ”Guerreiro do Yaco”. Esteve com seu tio na revolução de 1912, segundo nos informa Arnaldo Fernandes de Souza (“OS FERNANDES DE SOUZA”; Fundação Vingt-Um Rosado; Coleção Mossoroense; Série “C”; Volume 977; 1977) que depôs o prefeito de Sena Madureira, Acre. Morava na fazenda Veneza quando Lampião a invadiu, em 1927, após atacar Mossoró, em episódio por demais conhecido na literatura do cangaço. Era tio materno de minha mãe.

[5] Em 1939 Câmara Cascudo escreveu artigo acerca da morte de Childerico José Fernandes de Queiroz Filho (falecido em 26 de março de 1939), o “Guerreiro do Yaco”, título da obra homônima de Calazans Fernandes, e esclarece por que tantos “Childericos” na família Fernandes: Agostinho Pinto de Queiroz, agricultor na Serra do Martins, no Rio Grande do Norte, homem vivo e curioso, aderiu ao movimento republicano que rebentara em Portalegre no ano de 1817. Preso pelos legalistas cearenses, trazido para Natal, foi enviado aos cárceres baianos, onde sofreu até 1820 quando voltou aos ares da terra velha. Em 1831 marchou contra o caudilho Pinto Madeira e tal raiva lhe tinha que arrancou do nome Pinto e o substituiu por Fernandes. Presidente da Câmara Municipal de Martins, faleceu em 1869.  Desse Agostinho Pinto de Queiroz ou Agostinho Fernandes de Queiroz vem uma tradição comovedora na família inteira. Prisioneiro na cadeia da Bahia, Agostinho teve um grande amigo na pessoa de um oficial chamado Childerico. Dispensa de serviços, melhora na alimentação, livros para ler, notícias para Martins, tudo Childerico arranjava. Indultado, Agostinho Pinto de Queiroz fez a singular promessa de manter na família o nome daquele a quem devia tantos obséquios. Até hoje, há mais de cem anos, a família Fernandes cumpre a imposição emocional de seu antigo chefe. Há sempre vários Childericos, nome de reis merovíngios, entre os sertanejos norte-riograndenses. Childerico José Fernandes de Queróz Filho foi um dos fiadores da promessa secular. Usou nome feudal e guerreiro, tatalante e sonoro como grito de excitação e de arrancada. Setuagenário, esse Childerico acaba de falecer, a 26 de março de 1939, no Rio de Janeiro, com uma história atribulada e valente. Eram essas as histórias que devíamos contar nos livros escolares, a glória útil e serena, o combate político, a honra lavada nos santos suores do trabalho contínuo, as batalhas pela vida limpa sob a bandeira sem nódoa do esforço inextinguível. O “Guerreiro do Yaco” depôs, pela força das armas, em 1912, comandando mais de uma centena de homens, o prefeito de Sena Madureira (AC)”.
[6] Membros da trincheira: Pedro Fernandes Ribeiro, Francisco Fernandes Sena, Raimundo Nonato Fernandes e dois trabalhadores armados de rifles – Murilo Eufrázio da Costa e Velho Chico, além do meu tio-avô materno Ezequiel Fernandes de Souza e sua esposa.

[7] Artigo escrito em “A Gazeta do Oeste” de 17 de agosto de 2003 sob o título “O cangaceiro Massilon”.

[8] À época da invasão de Lampião a Mossoró era Prefeito de Pau dos Ferros meu tio bisavô materno Cel. Adolfo Fernandes. Manoel Rodrigues de Melo (“DICIONÁRIO DA IMPRENSA NO RIO GRANDE DO NORTE 1909-1987”; Cortez Editora/Fundação José Augusto; São Paulo/Natal; 1987; p. 240) informa o seguinte: A República, de 28 de junho de 1919, registrava o aparecimento deste jornal (“O Momento”) nos seguintes termos: ‘No dia 4 do corrente circulou na Vila de Pau dos Ferros o primeiro número d’O Momento, órgão do Partido Republicano Federal naquela localidade, sob a direção política do Coronel Adolfo Fernandes, tendo como diretor o Dr. Guilherme Lins e gerente o Sr. Galdino de Carvalho’. Segundo o jornal a República seu colega pauferrense viria dar suporte à política estadual do Desembargador Ferreira Chaves.

[9] Quanto à mudança do nome de Agostinho Pinto de Queiróz para Agostinho Fernandes de Queiróz, conforme João Bosco Fernandes (“MEMORIAL DE FAMÍLIA”; Halley S.A. – Gráfica e Editora; 1ª. Edição; 1994): quando o Desembargador Vicente de Lemos fazia a remodelação do Arquivo da Secretaria do Governo, encontrou a prova documental desse fato e a entregou a um bisneto daquele revolucionário. Esse documento foi publicado em “A República”, no dia 30 de abril de 1926. Ver HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE, de Tavares de Lyra, 3a. edição.