terça-feira, 24 de dezembro de 2013

UM BANCO DAS IDÉIAS DO SERVIDOR PÚBLICO



Honório de Medeiros


Quando aceitei o convite do primeiro governo Wilma de Faria (2003/2006) para ser Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos, uma das primeiras questões à qual nós, eu e minha equipe, nos propusemos foi o que fazer com o imenso capital humano composto pela massa de servidores públicos estadual até então totalmente inaproveitado.

Nós sabíamos que era necessário, possível e desejável fazer algo que alavancasse não somente a carreira do servidor público, mas, também, significasse uma forte presença do Governo na sociedade, evidentemente a médio e longo prazo, no que diz respeito à qualidade do serviço prestado pelos órgãos que o compõem.

De um lado tínhamos aproximadamente 100.000 servidores, para o mais ou para o menos, cuja potencialidade era plenamente desconhecida, aos quais vinha sendo negado, desde há muito, até mesmo o mínimo, ou seja, um Plano de Cargos e Remuneração.
 
Do outro, uma sociedade que demandava serviços até então prestados de forma precária, quando não equivocada, em virtude do inexpressivo investimento em recursos humanos feito pelos governos que nos antecederam.

Apresentei, então, na primeira reunião do secretariado, realizada entre 13 e 14 de fevereiro de 2003, o esboço de um projeto denominado “Banco de Idéias”, a ser desenvolvido e administrado pela Secretaria de Administração e Recursos Humanos.

Consistia no seguinte: os servidores públicos seriam estimulados a se cadastrarem em um ambiente virtual apresentando todo seu potencial informal, em termos de idéias e currículo, até então ignorado pela Administração Pública.

Por exemplo, na nossa própria Secretaria existia um ASG com doutorado em Tecnologia da Alimentação.
 
Apareceriam, assim, especialistas, pós-graduados, graduados em áreas distintas daquelas nas quais eles trabalhavam. Apareceriam idéias importantes em relação à gestão pública estadual que permaneciam desconhecidas por não encontrarem interlocutores apropriados.

Constituído o Banco ele seria colocado à disposição, em ambiente virtual, dos gestores do Estado, através de um moderno sistema de busca.

Caso um Secretário de Agricultura precisasse de algum especialista em “Tecnologia da Alimentação” digitaria esses termos e a ficha cadastral do ASG da Secretaria de Administração apareceria na sua frente. O Secretário de Agricultura nomearia o ASG para um cargo em comissão bem remunerado de uma reserva criada exatamente para ser preenchida em situações específicas iguais a essa, ou obteria sua cessão e lhe atribuiria uma gratificação apropriada, e o seu problema estaria resolvido sem que fosse necessário importar “consultoria” de fora.

Caso o Secretário necessitasse de idéias acerca de um problema qualquer, o acervo do Banco também lhe seria extremamente útil – ele disporia de uma consultoria de alto nível, potencializada pela experiência de quem vivera e vivia a Administração Pública Estadual.

Esse Banco de Ideias funcionaria em uma Escola de Gestão cujo programa resultaria na capacitação em torno da demanda do Governo.
 
O quê nortearia a confecção do programa?
 
Parâmetros tais como o quê precisamos, quanto, quando, onde e por que, fundamentais para a elaboração, a médio e longo prazo, para a elaboração de uma política de recursos humanos em termos de treinamento de servidores.
 
Assim, em, em um prazo de tempo razoavelmente curto no que tange às políticas públicas, daríamos um salto de qualidade em termos de gestão administrativa.

O espaço é curto para maiores exposições acerca do Banco de Idéias do Servidor Público. Do ponto de vista estratégico, entretanto, é possível oferecer a noção daquilo que esteve envolvido no programa/projeto: aproveitar o potencial oculto e inerte de 100.000 servidores que perplexos, vêem o tempo passar e não conseguem crescer enquanto profissionais e tampouco têm a oportunidade de se colocar, concretamente, a serviço do seu Estado e da Sociedade.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

FÉ, FOCO E DISCIPLINA?

Honório de Medeiros


Os livros de autoajuda, rico filão explorado à exaustão por alguns espertos em cima da ingenuidade de muitos, ensina que fé, foco e disciplina é a chave para o sucesso.
 
Fé, ou seja, crer que depende de nós chegar lá, naquele lugar almejado; foco: ficarmos circunscritos ao objetivo, à meta a ser alcançada, evitando decididamente qualquer distração que nos faça perder o rumo; disciplina, por fim, significando aquela entrega de corpo e alma, em termos de esforço, de dedicação, de renúncia, fundamentalmente necessários para se alcançar o sucesso em qualquer empreitada.
 
Nada mais, nada menos.
 
No entanto, segundo as mais recentes pesquisas em neuropsiquiatria, realizadas obsessivamente por cientistas ao redor do mundo, aliadas ao conhecimento adquirido em áreas tão diversas quanto matemática, teoria da seleção natural e estatística, demonstram que tudo isso é, em uma medida para lá de razoável, pura balela.
 
O que existe, mesmo, é o acaso, aquilo que o senso comum chama de "sorte".
 
É o que se lê no livro "O Andar do Bêbado", de Leonard Mlodinow, recomendado por ninguém menos que o maior físico pós Einstein, Stephen Hawking, acerca do fenômeno da aleatoriedade.
 
O autor ensina teoria da aleatoriedade no famosíssimo Instituto de Tecnologia da Califórnia, o Caltech, celeiro de cientistas premiados com o Nobel, e é autor de obras com consagrados físicos mundiais, tais como Stephen Hawking ("Uma Nova História do Tempo") e Richard Feynman ("A Janela de Euclides" e "O Arco-Íris de Feynman").
 
Em "O Andar do Bêbado", Mlodinow demonstra, por a+b, que ao contrário do que se supõe, a grande maioria dos eventos são fruto de uma combinação de fatores em grande parte aleatórios. Os exemplos por ele elencados, minuciosos e contundentes. A análise, verossímil. As conclusões, pertinentes.
 
No final das contas, após a leitura do livro, que em certos largos trechos demanda um conhecimento mais profundo de matemática probabilística que poderão ser deixados de lado sem que se comprometa o entendimento do tema, o "coup de grace" é o seguinte: em qualquer empreendimento nosso, consciente ou inconsciente, não temos como saber, mesmo após todo os esforços, seja de planejamento, seja de realização, qual será o resultado; com certeza somente temos como saber que se não empreendermos, não conseguiremos.
 
Tudo isso em decorrência do fenômeno da aleatoriedade.
 
Ou seja, o esforço desprendido ao longo dos anos pela grande maioria para chegar lá somente valerá a pena para muitos poucos, e graças a fatores que independem de suas vontades.

É por essa razão que o autor conclui: "(...) a habilidade não garante conquistas, e as conquistas não são proporcionais a habilidade".

E remata: "Nas palavras de Thomas Watson, o pioneiro da IBM: 'se você quer ser bem sucedido, duplique sua taxa de fracassos'."

A questão é a seguinte; vale a pena tamanho sacrifício?
 
Talvez seja por isso que no Livro do Eclesiastes O-Que-Sabe advertiu, logo no prólogo: "Que proveito tira o homem de todos os trabalhos com que se afadiga sob o sol?"