sábado, 4 de janeiro de 2014

DA JUSTIÇA

Honório de Medeiros

 
A Justiça é assim mesmo: de quando em vez, no varejo, aparentemente "justa"; no geral, no atacado, às vezes reacionária, quase sempre conservadora.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

HISTÓRIA E DESTINO


Florentino Vereda

A História e o Destino vivem juntos. Casal inseparável, como dois velhos tinhosos, divergem bastante, mas continuam de mãos dadas, alterando as vidas dos animais que se dizem humanos.
Assim foi na França, ao fim da Idade Média. Enquanto a História circulava pelos salões elegantes de Versailles, o Destino, sorrateiramente, conspirava contra a monarquia nos arredores de Paris.
Do mesmo modo, na Alemanha, a História tentava fazer daquela nação um grande império, mas o Destino levou-a à Primeira Guerra Mundial. Ao final do conflito, - destroçada e humilhada - seria apenas mais uma colônia dividida entre a França e o Reino Unido.
A História, insistentemente, faz ressurgir das cinzas um povo orgulhoso, guiado não por um super-herói ao estilo americano, mas por um pintor medíocre, um megalomaníaco prepotente que promete um império de mil anos. Derrotado depois de seis, deixou o país dividido entre russos e americanos, mais arrasado do que em 1917.
Alguns anos depois a União Soviética se esfacelaria e, por via de consequência, cairia o muro de Berlim, reunificando a Alemanha. Fukuyama, apressadamente, decretou o fim da História. Hoje, depois de quase um século de tragédias, a Alemanha é a âncora da Europa, em meio de uma crise que não foi imaginada por nenhum futurólogo. Nenhuma bola de cristal previu esses acontecimentos. Hiroshima e Nagasaki não estiveram nos pesadelos dos visionários.
Videntes são assim mesmo. Ótimos para prever o futuro, quando ele já se tornou passado.
Quase ninguém se lembra de Herman Kahn, futurólogo da guerra fria, arauto da destruição nuclear, felizmente desmentido pelo Destino.

Mas o senhor, Professor Honório, deve estar se perguntando qual o motivo de toda essa lenga-lenga.
É que no apagar deste 2013 não faltará quem faça previsões para 2014. Falsos profetas que não acertarão um palpite sequer. Ao que me consta nenhum Nostradamus contemporâneo anunciou a destruição das Torres Gêmeas.
Talvez nem Michelle, nos seus sonhos de adolescente, imaginou rolar nos lençóis de linho da casa branca, nos braços negros do seu marido - meio queniano, meio americano - hoje presidente dos Estados Unidos pela segunda vez. E que, em pleno funeral de Mandela, a Dinamarca flertaria abertamente com os Estados Unidos, com o piscar dos olhos azuis e o riso esfuziante da Primeira-ministra Helle Thorning Schmidt.
Enfim, o preto no branco, e no reino da Dinamarca já há algo de preto.

O Cardeal Bergoglio, embora finalista na escolha de Bento XVI, quase não era mencionado na sua sucessão, após uma renúncia que não foi “cantada” pelos videntes de plantão. Logo depois de a fumaça branca subir aos céus do Vaticano, o mundo surpreendeu-se com Francisco, o Papa das multidões, que levantou o tapete e sacudiu a poeira medieval de uma igreja corrompida e vilipendiada nos gabinetes e nas alcovas, reacendendo a fé que brota das ruas e renova a esperança de uma gente sem rumo e sem futuro, a não ser o longínquo paraíso depois da morte.

E o Brasil, depois de atravessar quase um século de golpes e contra-golpes, de viver algumas ditaduras, empossar malucos e corrutos, seria a grande esperança dos países emergentes, enquanto por trás das cortinas, é o parceiro ideal para as grandes negociatas com as corporações financeiras, braços dados com a outrora progressista esquerda sindicalista.

Portanto, não tenho previsões a fazer. Nenhum fim de mundo se avizinha, embora os Maias não tenham desistido. Asteroides não se desviaram das suasórbitas, planetas não se alinharam para acabar com a farra da copa e a grana da FIFA. O que se pode prever é o que já vem acontecendo há anos. E em 2014 as notícias serão as mesmas de sempre:

“Passageiros revoltados incendeiam composição após pane no metrô”;

“PIB do Brasil sofre queda pela enésima vez. Ministro Mantega diz que, apesar disto, o país -mesmo ruim das pernas -está crescendo;

“Paciente morre em hospital público, depois de 24 horas esperando na recepção. Diretor do hospital lamenta mais essa fatalidade”;

“Chuvas fortes causam inundações, desabamentos e mortes no Rio, em São Paulo, em Santa Catarina, no Paraná e na Bahia. Pobres perdem tudo o que não tinham.”

“Paulo Maluf é reeleito deputado federal”.


E a História e o Destino continuarão estrada afora, rindo de nós, pobres mortais, que não sabemos planejar um futuro decente para os nossos descendentes e continuamos a ouvir as besteiras em que nos fazem acreditar os falsos videntes.

Feliz 2014 para você, Professor Honório. 

FELIZ 2014!

O vôo do infinito para o infinito.
 
Imagem: Honório de Medeiros
 
 
Aos meus amigos do Blog, a cada um, o meu desejo é um paradoxo: que em 2014 o infinito seja o único limite para nossa busca do autoconhecimento.