Mostrando postagens com marcador Seção Pergunta e Resposta. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Seção Pergunta e Resposta. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"PARIS REVIEW PERGUNTA, HEMINGWAY RESPONDE

Entrevista com Ernest Hemingway


Escrito por George Plinton

Trechos da entrevista foi concedida a George Plinton da revista Paris Review e publicada no Brasil pela Companhia das letras no volume 2 do livro Os escritores (1989), que reúne as entrevistas históricas da revista francesa com vários escritores de primeira linha.

Pergunta: As horas que o senhor dedica à escrita propriamente dita são agradáveis?

Hemingway: Muito.

Pergunta: Poderia falar um pouco sobre esse processo? Em que período trabalha? O senhor segue uma programação estrita?

Hemingway:Quando estou trabalhando em um livro ou um conto, escrevo diariamente de manhã, a partir da hora em que surge a primeira luz. Não tem ninguém para perturbar, é fresco, ou mesmo frio. Começo a trabalhar e vou esquentando conforme escrevo. Leio o que fiz no dia anterior e, como sempre paro num trecho a partir do qual sei o que vai acontecer, prossigo desse ponto. Escrevo até chegar a um momento em que, ainda não tendo perdido o gás, posso antecipar o que vem em seguida; paro e tento sobreviver até o dia seguinte, para voltar à carga. Se começo às seis da manhã, digamos, posso ir até meio-dia, ou interromper o trabalho um pouco antes. A interrupção dá uma sensação de vazio, como quando se faz amor com quem se gosta. E ao mesmo tempo não é um vazio, mas um transbordamento. Não há nada que o atinja, nada acontece, nada tem sentido até o dia seguinte, quando você faz tudo de novo. Difícil é viver a espera até o dia seguinte.

Pergunta: Consegue tirar da cabeça um projeto, seja ele qual for, quando está longe da máquina?

Hemingway:Claro. Mas é preciso disciplina para se fazer isso, e essa disciplina se conquista. Tem de ser assim.

Pergunta: O senhor reescreve alguma coisa ao reler o que escreveu no dia anterior? Ou isso vem depois, quando já está tudo pronto?

Hemingway:Eu sempre reescrevo, na manhã seguinte, o trecho do dia anterior. Naturalmente, quando acabo, repasso tudo outra vez. E tem-se mais uma chance de corrigir e reescrever quando outra pessoa datilografa, e se vê o texto passado a limpo, datilografado. A última oportunidade é nas provas. É bom ter tantas chances diferentes.
Pergunta: Quantas vezes reescreve um texto?

Hemingway: Depende. Reescrevi o final de A farewell to arms, a última página, trinta e nove vezes, até ficar satisfeito.

Pergunta: Por quê? Havia algum problema técnico? O que o preocupava?

Hemingway: Pôr as palavras do jeito certo.

Pergunta: Essa releitura que recupera a "seiva" o "gás"?

Hemingway:A releitura me coloca no ponto exato onde tem que haver a continuação, dando a noção de que tudo está tão bom quanto possível. A seiva sempre está em algum lugar.

Pergunta: Mas existem momentos em que a inspiração não vem de jeito nenhum?

Hemingway: Sem dúvida. Mas ao parar num ponto em que sabia o que viria depois, posso ir em frente. Desde que consiga começar, tudo bem. O gás aparece.

Pergunta: Thornton Wilder fala de recursos mnemônicos que ajudam o escritor a saber a quantas anda o seu dia de trabalho. Ele diz que uma vez o senhor contou que apontou vinte lápis.

Hemingway:Acho que nunca cheguei a ter vinte lápis ao mesmo tempo. Gastar sete lápis n. 2 é um bom dia de trabalho.

Pergunta:Pode citar alguns dos lugares que considera mais propícios para trabalhar? O hotel Ambos Mundos deve ter sido um deles, a julgar pelo número de livros que escreveu lá. Ou, na sua opinião, o ambiente tem pouca influência sobre o trabalho?

Hemingway: O Ambos Mundos, em Havana, foi um lugar muito bom para se trabalhar. O Finca é um lugar fantástico, ou melhor, foi. Mas eu trabalho bem em qualquer lugar. Quer dizer, consigo trabalhar tão bem quanto me é possível nas circunstâncias mais variadas. Telefone e visitas são inimigos mortais do trabalho.
Pergunta: É necessário ter estabilidade emocional para se escrever bem? O senhor me disse uma vez que só conseguia escrever bem quando estava apaixonado. Poderia se estender um pouco mais nesse assunto?

Hemingway:Mas que pergunta! Nota dez pela tentativa. Você consegue escrever sempre que as pessoas deixam você em paz e não interrompem. Quer dizer, consegue se for duro o bastante com relação a isso. Mas, com toda certeza, escreve-se melhor quando se está apaixonado. Se você estiver de acordo, prefiro não me estender sobre esse assunto.

Pergunta: E a questão da segurança financeira? Pode prejudicar a qualidade do que se escreve?

Hemingway: Se ela vem relativamente cedo e você ama a vida tanto quanto o seu trabalho, é preciso ser muito forte para resistir às tentações. Uma vez que escrever tenha se tornado seu maior vício e seu maior prazer, só a morte pode acabar com isso. A segurança financeira, então, é uma grande ajuda, já que evita que você fique se preocupando. A preocupação destrói a capacidade de escrever. Uma doença incomoda, na medida em que gera uma preocupação subconsciente, minando suas reservas.

Pergunta: Na sua opinião, qual o melhor treino intelectual para o aspirante a escritor?

Hemingway:Digamos que ele estivesse pensando em sair e se enforcar, porque chegou à conclusão de que escrever bem é tremendamente difícil. Neste caso, deveria cortar a corda sem piedade, de forma a se ver obrigado, pelo seu próprio eu, a escrever o melhor possível pelo resto da vida. Pelo menos teria a história do enforcamento para começar.

Pergunta: E sobre as pessoas que seguem a carreira acadêmica? Acha que os muitos escritores que mantêm cargos acadêmicos comprometeram suas carreiras literárias?

Hemingway: Depende do que você considera comprometer. Tem o mesmo sentido de "uma mulher comprometida"? E o compromisso de um estadista? Ou é o compromisso que você firma com o dono da mercearia ou com o alfaiate, no qual se estabelece que você paga um pouco mais daqui a alguns dias? O escritor que consegue escrever e lecionar deve ser capaz de fazer as duas coisas. Muitos escritores competentes provaram que isso é possível. Eu não conseguiria, sei disso, e admiro aqueles que têm capacidade para tanto. Mas acho que a vida acadêmica pode pôr um ponto final na experiência mais ampla, externa, e que provavelmente isso limitaria o conhecimento do mundo. O conhecimento, no entanto, exige responsabilidade do escritor, e faz com que escrever se tome ainda mais difícil. Tentar escrever algo que tenha valor permanente é uma ocupação que exige péríodo integral, mesmo que no processo em si sejam gastas apenas apenas algumas horas por dia. Pode-se comparar o escritor a um poço. Existem muitos tipos de poços, como de escritores. Mas o importante é que o poço tenha uma água boa, e é melhor tirar um pouco todos os dias do que esvaziá-lo de uma só vez, e ficar esperando que ele se encha novamente. Sei que estou fugindo da pergunta, mas essa pergunta não era muito interessante.

Pergunta: Recomendaria o trabalho jornalístico aos escritores jovens? A sua experiência no Kansas City Star foi útil?

Hemingway:No Star se era forçado a aprender a escrever sentenças informativas simples. Isso é útil para qualquer um. O trabalho jornalístico não prejudica o jovem escritor e pode até vir a ajudá-lo se ele cair fora a tempo. Esse é um dos clichês mais velhos que conheço e peço desculpas por isso. Mas quando se fazem as velhas perguntas de sempre, deve-se estar preparado para receber as velhas respostas de sempre.

Pergunta: Escreveu uma vez no Transatlantic Review que a única razão pela qual trabalhou com jornalismo era por ser bem pago. E disse: "E quando se destroem coisas importantes, escrevendo-se sobre elas, é preciso receber um bom dinheiro por isso". Acha que escrever é uma espécie de autodestruição?

Hemingway: Não me lembro de ter escrito isso algum dia. Mas me parece idiota e violento o bastante para eu ter dito, só para não ter que ficar roendo as unhas e dar uma declaração sensata. Com toda certeza eu não acho que escrever seja uma espécie de autodestruição, se bem que o jornalismo, depois de um certo ponto, pode vir a se tornar uma autodestruição diária para um escritor sério e criativo.

Pergunta: Na sua opinião, o estímulo intelectual da companhia de outros escritores contribui de alguma forma para o escritor?

Hemingway:Sem dúvida.

Pergunta: Na Paris dos anos 20, o senhor tinha algum "sentimento de grupo" com relação aos outros estritores e artistas?

Hemingway:Não. Não existia nenhum sentimento de grupo. Sentíamos respeito uns pelos outros. Eu respeitava muitos pintores, alguns da minha idade, outros mais velhos - Gris, Picasso, Braque, Monet, ainda vivos na época e escritores: Joyce, Ezra Pound, o que havia de bom em Stein...

Pergunta: Quando está escrevendo, alguma vez já se viu influenciado pelo que estava lendo na época ?

Hemingway:Não, desde a época em que Joyce estava escrevendo Ulysses. Não foi uma influência direta. Mas naqueles dias, quando as palavras que conhecíamos nos eram interditas, e tínhamos que brigar por uma única palavra, a influência do trabalho de Joyce mudou tudo, e fez com que pudéssemos nos livrar das restrições.

Pergunta: Outros escritores lhe ensinaram alguma coisa sobre a arte de escrever? Ainda ontem o senhor estava me dizendo que Joyce, por exemplo, não suportava falar sobre o assunto.

Hemingway:Junto a pessoas de seu próprio ramo, você normalmente fala dos livros de outros escritores. Quanto melhores forem os escritores menos vão falar sobre o que eles mesmos escrevem. Joyce era um grande escritor e só explicava o que estava fazendo a imbecis. Acreditava que os outros escritores que respeitava eram capazes de entender o que ele fazia no momento em que o lessem.

Pergunta: Parece que o senhor tem evitado a companhia de outros escri tores há anos. Por quê?

Hemingway: Isso é mais complicado. Quando se escreve, quanto mais fundo se vai, mais sozinho se fica. A maioria dos antigos e melhores amigos morre. Outros se mudam.. Você não os encontra mais a não ser em raras ocasiões, mas escreve e mantém o mesmo contato de antes, como se estivessem juntos num café, como nos velhos tempos. Trocam-se cartas cômicas, às vezes descaradamente obscenas e irresponsáveis, e é quase o mesmo que conversar. Mas você fica mais sozinho, porque é assim que tem de trabalhar, e o tempo para trabalhar fica cada vez menor, e, se você desperdiça esse tempo, sente que cometeu um pecado para o qual não existe perdão.

Pergunta: Já tocou algum instrumento musical?

Hemingway: Costumava tocar violoncelo. Minha mãe me tirou da escola um ano inteiro, para que eu estudasse música e contraponto. Achava que eu tinha jeito, mas eu não tinha o menor talento. Tocávamos música de câmara ­ alguém tocava violino; minha irmã tocava viola e minha mãe, piano. Eu tocava violoncelo pior que qualquer outra pessoa na face da Terra. E claro, naquele ano fiquei livre para fazer outras coisas também.

Pergunta:Relê os escritores de sua lista? Twain, por exemplo?

Hemingway: É preciso dar um prazo de uns dois ou três anos com Twain. Você grava muito as histórias. leio um pouco de Shakespeare todo o ano.Sempre Lear. É só ler i fico mais estimulado.
Pergunta: A leitura é, então, uma ocupação e um prazer constantes?

Hemingway:Vivo lendo livros - todos que aparecem. Faço um certo racionamento, de forma a ter sempre algum de reserva.

Pergunta: Quer dizer então que um conhecimento profundo das obras das pessoas em sua lista ajuda a preencher o "poço" de que falou há pouco? Ou foram uma ajuda consciente no desenvolvimento das técnicas de redação?

Hemingway:Fizeram parte do aprender a ver, a ouvir, a pensar, a sentir e a não sentir, e a escrever. O poço está onde está seu gás. Ninguém sabe do que ele é feito, muito menos você. Você já sabe se está com ele ou não, se vai ter que esperar até que ele venha novamente.

Pergunta: O senhor admitiria a existência de símbolos em seus romances?

Hemingway:Acredito que existam símbolos, já que os críticos continuam a encontrá-los. Se não se importa, não gosto de falar sobre símbolos, e nem que me façam perguntas sobre isso. Já é bastante difícil escrever livros e contos, e ainda por cima lhe pedem para ficar explicando o sentido. Isso também acaba tirando o emprego dos explicadores. Se cinco ou seis, ou mais explicadores profissionais podem dar conta da coisa, por que eu iria me meter? Leia tudo que escrevo só pelo prazer da leitura. Qualquer outra coisa que venha a encontrar será a medida daquilo que você trouxe à leitura.

Pergunta: Essas perguntas que abordam a criação artística são realmente uma chateação.

Hemingway:Uma pergunta inteligente não deve ser nem um prazer nem uma chateação. Mas ainda acho que é muito desagradável para o escritor falar sobre como ele escreve. Escreve para ser lido com os olhos e nenhuma explicação ou dissertação deveria ser necessária. Pode ter certeza que existe muito mais no que se escreve do que aquilo que se lê numa primeira leitura e, por ser assim, não é função do escritor explicar o que escreve ou organizar excursões, como um guia turístico, através da região mais difícil de sua obra.

Pergunta:Poderia dizer quanto de esforço consciente de elaboração entrou no desenvolvimento do seu estilo pessoal?

Hemingway: Essa é uma pergunta cansativa e exige muito tempo para ser respondida. Se você passasse dois dias respondendo, ficaria tão consciente de si mesmo que não conseguiria mais escrever. Eu diria que aquilo que os amadores chamam de estilo geralmente é apenas a inevitável falta de jeito da piimeira tentativa de se fazer algo que até então nunca havia sido feitô: Quase nenhum dos novos clássicos se parece com os antigos. No início, as pessoas só consegem ver a falta de jeito. Depois isso não é mais tão perceptível. Quando se revela uma falta de jeito ímpar, as pessoas pensam que isso é estilo e muitas passam a copiar. O que é Jamentável.

Pergunta: Como se apresenta em sua mente a concepção de um conto? O tema, o enredo, algum personagem muda conforme vai escrevendo?

Hemingway: As vezes sei a história. As vezes vou compondo conforme escrevo e nem tenho idéia de como vai ficar. Tudo muda conforme o desenroIar. É isso que faz o movimento, que faz a história. As vezes o movimento é tão lento que parece que não há movimento algum. Mas sempre há mudança e sempre há movimento.

Pergunta: É assim também com o romance, ou o senhor elabora todo um plano antes de começar e segue rigorosamente esse plano?

Hemingway:For whom the bell tolls foi um problema que tive de enfrentar diariamente. Em princípio sabia o que ia acontecer. Mas inventava o que acontecia a cada dia.

Pergunta: The green hills of Africa, To have and have not e Across the river and into the trees começaram todos como contos e acabaram se transformando em romances? Se foi esse o caso, essas duas formas são tão semelhantes que o escritor pode passar de uma para a outra sem ter que rever por completo o tratamento dado?

Hemingway:Não, isso não é verdade. The green hills of Africa não é um romance, foi uma tentativa de escrever um livro absolutamente fiel à verdade, para ver se o contorno de uma região e o esquema de um mês de ação poderiam, se apresentados de maneira verídica, se equiparar a uma obra fictícia. . Depois de tê-lo escrito, escrevi dois contos, "The snows of Killimanjaro" e "The short happy life of Francis Macomber". Esses contos, inventei com base no conhecimento e na experiência que havia adquirido naquele mesmo mês de longas caçadas do qual tentei dar um relato fiel em The green hills. To have and have not e Across the river and into the trees começaram, os dois, como contos.

Pergunta: Acha fácil passar de um projeto literário para outro, ou o senhor segue direto num só projeto, para acabar o que começou?

Hemingway: O fato de estar interrompendo um trabalho sério para responder a essas perguntas prova que sou tão idiota que merecia receber um castigo terrível. E vou receber. Não se preocupe.

Pergunta: Vê-se competindo com outros escritores?

Hemingway:Nunca. Costumava tentar escrever melhor do que certos escritores já falecidos, aqueles que julgava terem realmente valor. Já há um bom tempo venho apenas tentando fazer o melhor que consigo. As vezes tenho sorte e escrevo melhor do que posso.

Pergunta: Acha que a força de um escritor diminui conforme ele envelhece? Em The green hills of Africa o senhor diz que os escritores norte-americanos com uma certa idade se transformam em "vovozinhas".

Hemingway:Não sei de nada disso. Pessoas que sabem o que fazem deveriam permanecer em atividade desde que suas cabeças continuassem em atividade. Nesse livro a que se referiu, se você olhar direito, vai ver que eu estava falando horrores sobre a literatura norte-americana com um austríaco completamente sem humor, que estava me forçando a conversar, quando o que eu queria era fazer outra coisa. Fiz um relato exato dessa conversa. Não para fazer pronunciamentos imorredouros. Uma boa porcentagem das opiniões é bem razoável.

Pergunta: Até agora não discutimos personagens. Os personagens de suas obras são, sem exceção, tirados da vida real?

Hemingway:Claro que não. Alguns vêm da vida real. A maioria você inventa a partir do conhecimento, da compreensão e da experiência com pessoas.

Pergunta: Poderia dizer alguma coisa sobre o processo de transformar um personagem real num personagem fictício?

Hemingway: Se fosse explicar como isso às vezes é feito, ia parecer um manual para advogados de acusação.

Pergunta:Faz alguma distinção - como faz E. M. Forster - entre personagens "planos" e "redondos"?

Hemingway: Se você descreve alguém, é plano, é como uma fotografia, e, no meu ponto de vista, uma falha. Se você cria esse alguém a partir daquilo que você conhece, ele terá todas as dimensões.

Pergunta:Dos seus personagens, quais são os que vê com um carinho especial?

Hemingway:Isso daria uma lista enorme.

Pergunta: Então gosta de reler seus próprios livros -sem sentir que existem coisas que gostaria de mudar?

Hemingway:Leio, às vezes, para me sentir incentivado quando está difícil escrever; então me lembro que sempre foi difícil e de como às vezes era quase impossível.

Pergunta: Como dá nome aos personagens?

Hemingway: O melhor que posso.

Pergunta: Os títulos lhe ocorrem enquanto está no processo de criação da história ?

Hemingway:Não. Faço uma relação de títulos depois que termino o conto ou o livro - às vezes chega a uns cem. Então começo a eliminar alguns, às vezes todos.

Pergunta:Faz isso até mesmo com uma história cujo título foi sugerido pelo próprio texto -"Hills like white elephants", por exemplo?

Hemingway:É. O título vem depois. Conheci uma garota em Prunier, onde eu tinha ido para comer ostras antes do almoço. Fiquei sabendo que ela havia abortado. Me aproximei e conversamos, não falamos sobre o aborto, mas no caminho de volta para casa fui pensando na história, não almocei, e passei a tarde escrevendo o conto.

Pergunta:ArchibÍlld MacLeish falou de um método de transmitir experiência que, segundo ele, o senhor desenvolveu quando cobria jogos de beisebol nos dias do Kansas City Star. O método consistia simplesmente na transmissão da experiência através de pequenos detalhes que, relatados tintim por tintim, acabavam dando a idéia do todo, fazendo com que o leitor ficasse consciente daquilo que ele já sabia, mas em seu subconsciente...

Hemingway:Essa historinha é apócrifa. Nunca cobri beisebol para O Star. O que Archie tentava se lembrar era de como eu estava tentando aprender, em Chicago, por volta de 1920, e de como eu procurava pelas coisas despercebidas, que revelavam a emoção, coisas como o jeito pelo qual o jogador de beisebol jogava a luva para trás sem olhar onde ela havia caído, o chiado da sola do lutador sobre a lona encerada, a tonalidade cinzenta da pele de Jack Blackburn assim que ele saía de uma luta, e outras coisas que eu anotava, como um pintor faz esboços. Você via a cor estranha de Blackbum, as cicatrizes de navalha e o jeito como ele acertava um homem, antes de saber a sua história. Eram essas as coisas que lhe davam emoção antes que você soubesse da história.

Pergunta: Já descreveu algum tipo de situação do qual não tivesse nenhum conhecimento pessoal?

Hemingway:Essa é uma pergunta muito estranha. Por conhecimento pessoal você quer dizer experiência? Nesse caso, a resposta é sim. Um escritor, se tem algum valor, não descreve. Ele inventa ou cria a partir do conhecimento pessoal e impessoal, e às vezes parece ter um conhecimento inexplicado que poderia vir da experiência familiar e racial já esquecida. Quem ensina o pombo­correio a voar como ele voa; de onde o touro tira a sua bravura, ou o cão de caça o seu faro? Isso é uma elaboração, ou uma condensação, daquilo que conversamos em Madri, quando a minha cabeça não estava muito confiável.

Pergunta: Poderia dizer até que ponto, na sua opinião, o escritor deve se preocupar com os problemas sócio-políticos de sua época ?

Hemingway:Cada um tem sua própria consciência, e não deveriam existir regras sobre como a consciência deve funcionar. Tudo que você pode ter cer teza a respeito de um escritor com preocupações políticas é que, se a obra dele permanecer viva, você vai ter que ignorar a política quando o ler. Muitos dos chamados escritores engajados mudam de ideologia a toda hora. Isso é muito estimulante para eles e para suas resenhas político-literárias. As vezes têm até que reescrever seus pontos de vista e na maior pressa. Talvez dê para se respeitar esse tipo de atitude como uma forma de se buscar a felicidade.
Pergunta:Existiria alguma intenção didática em sua obra?

Hemingway: Didática é palavra que tem sido usada erroneamente e se estragou. Death in the afternoon é um livro instrutivo.

Pergunta: Tem-se falado que os escritores trabalham apenas com uma ou duas idéias no decorrer de suas obras. Diria que a sua obra reflete uma ou duas idéias?

Hemingway: Quem disse isso? Parece simples demais. O homem que disse isso provavelmente tinha só uma ou duas idéias.

Pergunta: Bem, talvez fosse melhor colocar as coisas da seguinte maneira: Graham Greene disse que existe uma paixão predominante, que confere a um conjunto de obras a unidade de um sistema. Se não me engano, o senhor mesmo disse que grandes textos nascem de um senso de injustiça. Considera isso um fator importante, que o romancista seja dominado dessa maneira por tal senso de injustiça?

Hemingway: Graham Greene tem uma facilidade para fazer declarações que eu não tenho de modo algum. Para mim seria impossível tecer generaliza.; ções sobre um conjunto de obras, um bando de perdizes ou um pelotão de gansos. Mesmo assim, vou arriscar uma generalização. Um escritor sem senso de justiça e injustiça ganharia mais editando o anuário de uma escola para crianças excepcionais do que escrevendo romances. Outra generalização. Viu só? Até que elas não são tão difíceis, quando são óbvias o suficiente. O dom mais importante para um bom escritor é um detector interno de baboseiras à prova de choque. Esse é o radar do escritor e todos os grandes escritores ti veram um.

Pergunta: Para encerrar, uma pergunta essencial: como escritor criativo que é, qual considera ser a função da sua arte? Por que a representação do fato, em vez do fato em si?

Hemingway:Por que ficar quebrando a cabeça com isso? De coisas que aconteceram, de coisas que estão acontecendo, e de todas as coisas que você conhece e de todas aquelas que não pode conhecer, você cria algo com a jmagi­nação, algo que não é uma representação, mas sim uma coisa inteiramente nova, mais real do que qualquer coisa viva e real, e você dá vida a essa coisa, e se fizer isso bem o bastante, você lhe confere imortalidade? por isso que se escreve, não por qualquer outra razão que possa vir a conhecer. Ma!' e todas aque­las razões que ninguém conhece?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O JORNAL "O GLOBO" PERGUNTOU, JOAQUIM BARBOSA RESPONDEU


abobado.files.wordpress.com

Joaquim Barbosa

Transcrito do blog CHICO BRUNO Política e Cia. Iltda (03/01/2010)

http://www.chicobruno.com.br/

"Qual a opinião do senhor sobre os movimentos sociais no Brasil?

 JOAQUIM: Temos um problema cultural sério: a passividade com que a sociedade assiste a práticas chocantes de corrupção. Há tendência a carnavalizar e banalizar práticas que deveriam provocar reação furiosa na população. Infelizmente, no Brasil, às vezes, assistimos à trivialização dessas práticas através de brincadeiras, chacotas, piadas. Tudo isso vem confortar a situação dos corruptos. Basta comparar a reação da sociedade brasileira em relação a certas práticas políticas com a reação em outros países da America Latina. É muito diferente."

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

RUI AZEREDO PERGUNTOU, ENRIQUE VILA-MATAS RESPONDEU



Enrique Vilas-Mata

Rui Azeredo, jornalista e revisor literário e agora “bloguista” (http://portalivros.wordpress.com/). Foi durante treze anos jornalista em “O Comércio do Porto”. Passou por várias secções e quando o jornal fechou em 2005 era sub-editor de “Cultura”. Já agora, quando o “Comércio” fechou, em 2005, foi trabalhar para as Edições ASA como revisor. Hoje em dia é revisor literário “freelancer”:

"Enrique Vila-Matas, entre outras obras, é o autor de “O Mal de Montano” (Teorema), uma obra que vagueia entre o diário íntimo e o romance, a viagem sentimental, a autoficção e o ensaio. Acima de tudo é um livro sobre literatura, uma homenagem à literatura em todas as suas vertentes. Trata-se de uma obra difícil de classificar, já que tão depressa se está dentro do pensamento do narrador como se passa para a descrição de uma viagem. O escritor catalão explicou a génese e, de certa forma, o conteúdo de “O Mal de Montano.

Rui Azeredo - O seu romance “O Mal de Montano” é absolutamente original e inovador. Foi algo predefinido ou essa já era a ideia inicial?

Enrique Vilas-Mata - Telefonaram-me para casa de uma instituição de Madrid chamada Fundación de Ciencias y de la Salud, da qual nunca tinha ouvido falar. Queriam convidar-me para uma conferência sobre “literatura e doença”. Ouvi as suas repetidas mensagens no gravador do telefone, mas não queria responder porque pensei que era uma instituição que pretendia que fosse a Madrid para me convencer a deixar de fumar. Assustavam-me. Enviaram-me uma carta a dizer que me pagavam para fazer a conferência. Nunca me tinham oferecido tanto dinheiro por uma intervenção de uma hora. Aceitei, mas não sabia de que doença haveria de falar. Uma amiga disse-me para falar de literatura e loucura. Decidi falar de literatura e de alguém que sofria da doença de literatura, que não podia viver sem ela. Era alguém o mais oposto possível a um “Bartleby”, ou seja, o mais oposto a alguém que deixou de escrever ou de se interessar apaixonadamente pelo literário. A conferência – quinze páginas – foi dando origem ao livro, sobre o qual ignorava tudo quando comecei a escrevê-lo."

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

PERGUNTARAM A KARL MARX



Karl Marx

Perguntaram a Karl Marx:

"Pergunta - Os socialistas consideram o assassinato e derramamento de sangue como necessários à realização de seus princípios?"

Ele respondeu:

"Marx - Nenhum grande movimento nasceu sem derramamento de sangue. Os Estados Unidos da América não adquiriram sua independência senão pelo derramamento de sangue: Napoleão III conquistou a França através de atos sangrentos e foi vencido da mesma maneira. A Itália, Inglaterra, Alemanha e os outros países fornecem uma pletora de exemplos do mesmo gênero. Quanto ao homicídio político, não é uma novidade pelo que se sabe. Orsini, sem dúvida, tentou matar Napoleão III, mas os reis mataram mais homens do que ninguém. Os jesuítas mataram, e os puritanos de Cromwell mataram. Tudo isso se passou muito antes de que se tivesse ouvido falar dos socialistas. Hoje, no entanto, se lhes atribui responsabilidade de todo atentado contra os reis e os homens de Estado. A morte do imperador da Alemanha seria, agora, particularmente deplorada pelos socialistas: ele é muito útil em seu posto, e Bismarck fez mais por nosso movimento do que qualquer outro homem de Estado, pois impeliu as coisas para o extremo."

Esta entrevista com Karl Marx foi publicada pela primeira vez no jornal norte-americano The Chicago Tribune, em dezembro de 1878. Tendo permanecido inédito até recentemente quando foi descoberta por um pesquisador norte-americano. No momento da entrevista, Marx tem 70 anos de idade. Veja o inteiro teor da entrevista em:

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PERGUNTEI A ADRIANO DE SOUSA



Adriano de Sousa, no meio.

Perguntei a Adriano de Sousa:

"Quais os três maiores escritores norteriograndenses (literatura) de todos os tempos?"

Adriano respondeu:

"Com prazer, Honório:

Jorge Fernandes, Alex Nascimento, Ferreira Itajubá.
Abraço, Adriano."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PERGUNTEI A ALUÍSIO LACERDA


Aluísio Lacerda

Perguntei a Aluísio Lacerda:

"Quais os pontos fracos do Diário de Natal, Jornal de Hoje e Novo Jornal?"

Ele respondeu:



"O noticiário político, professor Honório.

Há pelo menos uma década entramos num “oito”, e está difícil superar. Estou acompanhando as edições diárias do jornal de Cassiano Arruda, profissional que sabe fazer (editar) jornal. Confesso que não gostei (noticiário político) da primeira edição. Parecia jornal de ontem. Compreendo o sufoco para botar o primeiro número nas bancas. Mas pouco avançou até aqui.

Há novos talentos nas redações do DN, JH e NOVO JORNAL? Sim, há.

A culpa é das fontes? Pode ser, mas é bom atentar para um detalhe: são poucos os políticos nesta terra de Poti que declaram bem, que sustentam um debate equilibrado, conseqüente, proativo.

Como estou afastado das redações há 5 anos, confesso que não sei se ainda há pauta para os repórteres políticos. E acrescento: a maioria não suporta ser pautada pelo veículo, reage ao que se convencionou chamar de “ditadura da pauta”.

Se o repórter não sair desse “oito”, insistir nas mesmas perguntas (quase fofocas), vai acontecer o seguinte: o produto dessa entrevista ou vira uma grotesca manchete de capa ou a fonte, temerosa, fornece apenas algo que não passa de uma nota de coluna. A retroalimentação do mau noticiário político pode sepultar os jornais impressos. Afinal, a mídia nunca mais será a mesma diante da velocidade da internet.

Não se deve esquecer que a informatização das redações sepultou a figura do revisor. O bom revisor, que Carlos Lacerda chamava de DBS (Departamento do Bom Senso), faz uma falta medonha à produção jornalística. O revisor não deixava passar nada, inclusive os erros de informação.

Um exemplo apenas para encurtar essa prosa: no recente episódio envolvendo o governador José Roberto Arruda, o senador José Agripino ameaçou deixar o partido. Logo os apressados abriram o verbo: “Agripino pode deixar o DEM”. Ninguém teve o cuidado de olhar a legislação eleitoral. E sem partido o senador não poderia ser candidato em 2010."

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

PERGUNTEI A CARLOS SANTOS




Perguntei a Carlos Santos (http://www.blogdocarlossantos.com.br/):

"Em quem você não vota para Governador e Senador, em 2010, e por quê?"

Ele respondeu:

"O jornalista Paulo Francis dizia o seguinte: "Eleição no Brasil é sempre a escolha do menos ruim". Talvez ele estivesse certo.

Nunca votei apenas por ser contra, mas em favor de alguém ou de ideias (partido).

Não tenho vetos, sob uma ótica fundamentalista. Tenho votos. E, como costumo fazer a cada eleição, vou no devido tempo anunciar publicamente os meus escolhidos."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

PERGUNTEI A FRANÇOIS SILVESTRE


François Silvestre

Perguntei a François Silvestre:

"Em quem você NÃO vota para Senador e Governador nas próximas eleições?"

Ele respondeu:

"Para senador eu voto nulo. Nem o senado nem os nossos candidatos merecem o voto. Para governador ainda não fiz a lista negativa. Tô no limbo."

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PERGUNTEI A AILTON MEDEIROS


Ailton Medeiros

Perguntei a Ailton Medeiros:

"Quem escreve bem no Rio Grande do Norte?"

Ele respondeu:

"Franklin Jorge, Adriano de Souza, François Silvestre e Vicente Serejo.


Da nova geração, Pablo Capistrano e Rodrigo Levino."

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

PERGUNTEI A FRANKLIN JORGE


Franklin Jorge


Perguntei a Franklin Jorge em que o Novo Jornal, do qual ele é Editor de Cultural, difere dos outros.

Ele respondeu:


"Estamos afinados com a idéia de produzirmos um jornalismo critico, empenhado em responder à curiosidade dos leitores e a sua fome cronica de transparencia. Somos uma pequena equipe, composta em sua maioria por profissionais experientes com uma visão multifacetada da realidade, e alguns jovens estagiários talentosos. Entendemos que há uma crise moral no jornalismo e que devemos privilegiar ao mesmo tempo a transparencia e o criticismo que não podem faltar num jornalismo moderno que busca a pluralidade e, por que não dizer?, o leitor qualificado. Temos a convicção de que o tempo do leitor passivo já ficou para trás. Este, o diferencial do Novo Jornal."

terça-feira, 27 de outubro de 2009

PERGUNTA E RESPOSTA

Foi proposta a seguinte questão à candidata à OAB, pela Chapa 2, advogada Lúcia Jales:

"Em termos de programas, projetos e/ou ações, e meios para concretizá-los, em que sua gestão pretende ser diferente da atual?"

Eis a resposta da candidata:
 
Caríssimo Honório,


Segue a proposta da campanha.



No que toca aos itens diferentes temos:

a) redução de um quarto da anuidade.

b) congelamento do referido vlr. para os colegas com até 5 anos de inscrição, por toda a gestão.

c) plantão 24 h, nos 7 dias da semana, (profissionalização da OAB no sentido de contratar advogados plantonistas), para proteger as prerrogativas dos colegas.

(d) atualização da tabela de honorários advocatícios, congelada desde 001.

e) nova sede,a antiga será o espaço físico da ESA,

BIBLIOTECA,ESPAÇO P/ESTUDO.

f) Cartão de crédito exclusivo p/ adv.

g) convênios com universidades para cursos? ESA, principalmente CAPACITAÇÃO PROCESSO DIGITAL, educação continuada.

h) incentivos ao jovem adv ( bolsa, experiência,contagem como atividade jurídica) no atendimento a assistência gratuita.

g) criação de consultor jurídico para o adv. jovem.

i) tabela de honorário progressiva.

j) eleição direta para o quinto.

l) portal de transparência (o adv. receberá via email despesas mensais da OAB).

m) valorizar alternância de poder (não reeleição).

n) impedir ingerência política.

o) plano de saúde.

p) previdência privada com administração no RN ou no Nordeste.

q) central de compras ( materiais mais baratos),livros, materiais de expediente..etc.

r) comissão de prerrogativa dentro das instituições jurídicas.

s) eficácia do tribunal de ética.



ADVOGADO PÚBLICO:



- lutar pela PEC 82/2007.

- autonomia adm-orçamentária

- unificação das carreiras( judiciário e MP)

- programas de aperfeiçoamento pela ESA.

- representação no conselho OAB.



Obrigado,



Lúcia Jales.