quinta-feira, 21 de novembro de 2013

EU SOU DO TAMANHO DAQUILO QUE SONHO


"ILUMINAR A REALIDADE"

Bachelard, por Vasco


Honório de Medeiros


“Iluminar a realidade”, disse-me o poeta/filósofo. Ou seria filósofo/poeta? Não importa. Hoje a filosofia não mais se expõe poeticamente. Veste outra vestes, sem elegância.
 
Foi-se o tempo de Heráclito de Éfeso: "não se pode entrar duas vezes no mesmo rio", célebre fragmento que tanto impressionou Wittgenstein. "Tudo flui"... Ah!, a beleza da filosofia dos gregos arcaicos...
 
Quem terá sido o último dos filósofos/poetas? Talvez Gaston Bachelard: "o Conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão". Ou mesmo: " O pensamento puro deve começar por uma recusa da vida. O primeiro pensamento claro é o pensamento do nada."
 
Suprema gnosiologia...
 
Certa vez, quando exposto um senão, o horizonte foi apontado, naquela linha onde se fundem mar e céu, e a resposta enunciada por um filósofo/poeta: "procure iluminar a realidade". "Somente assim podemos enxergar." Simples assim.
 
A poesia –  ela transfigura e sintetiza o comum, o banal, o trivial. Muitas palavras lavradas na árida linguagem técnica diriam o mesmo, até de forma mais precisa, reconheçamos. Entretanto essa frase descerrou véus e foi possível enxergar claramente, pois há sempre uma nesga, um fragmento de realidade a ser iluminada, revelada, exposta, onde antes nada havia além de escuridão e ignorância.
 
Então, assim, o Homem é muitos, mesmo sendo nenhum. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O IDEALISMO RADICAL É A LOUCURA DA RAZÃO


 
 
Honório de Medeiros
 
O idealismo radical é a loucura da razão: nele estamos à mercê de uma idéia de realidade que somente existe em nossa imaginação. Algo como, talvez, o sonho de um semideus demiurgo. Nele, sonhamos que sonhamos.
Como não lembrar Chuang Tzu?
"Chuang Tzu sonhou ser uma borboleta. Ao despertar não sabia se era Tzu que havia sonhado que era uma borboleta ou se era uma borboleta e estava sonhando que era Tzu.”
A realidade imaginária de Matrix, única e exclusiva criação em um sonho induzido, conduzido e coletivo, onde sonhamos que estamos vivos, é uma instigante analogia com o idealismo radical.
Isso nos conduz à fonte dessa ousadia alegórica, qual seja a ancestral concepção hindu de que essa realidade imaginária é algo criado por Maya, a deusa da ilusão, que nos faz crer que estamos vivos e conscientes quando, na realidade, nada mais fazemos que sonhar.
Outro estranho paralelo é o mito da caverna, de Platão, com o qual aprendemos o quanto estamos distantes do real, imersos na contemplação de nossas próprias sombras.
E a razão lúcida, sobreviveria por si somente? Pensar, pensar o pensamento, pensar o pensamento pensado, enveredar pelo caminho do pensar exponencialmente não seria outro caminho a encontrar, no infinito, assim como as paralelas, o próprio idealismo radical?
 
Arte: ideiasparalelas.blogspot.com