sexta-feira, 23 de maio de 2025

TIVE MEDO

 


* Honório de Medeiros    


Nessa rua, da qual somente se percebe um vislumbre, durante o dia raros sãos os pedestres e mais ainda aqueles carros ansiosos, a passarem velozes, em sua busca frenética e atormentada.

Suas poucas casas, inclusive as comerciais, têm grades. Os vizinhos, poucos - ainda os há - não se conhecem, me disse o vigilante que a percorre durante a noite portando um apito, e, na cintura, um cassetete de madeira, para amedrontar os incautos.

Nunca vi crianças correrem em suas calçadas, gritando uma com as outras, brincando despreocupadas, vigiadas por pais amorosos a conversarem serenos, como ocorria na minha meninice.

Entretanto, outro dia vi uma criança grande dormindo no chão. Quis confortá-lo, mas tive medo.

Natal, algum dia de 2024.

A PEDRA DO BEIJA FLOR

 



* Honório de Medeiros


CHAMAMOS essa pedra de Pedra do Beija Flor.
Fica no terreno entre o muro da entrada e nossa casa no Seridó, Serra de Santana.
Desde o início ela nos cativou, razão pela qual decidimos construir mais para o fundo do terreno, evitando sua remoção.
Lá ficou a pedra, parecendo esperar o momento certo para nos surpreender com sua singularidade.
Um belo dia, em um momento no qual o sol estava numa posição específica, rumando para o poente, e minha esposa olhava para o terreno, a pedra, e rezava, lembrando-se de uma tia muito amada, a quem chamava de "meu beija flor", teve um susto, me chamou e apontou.
Nitidamente, resultado da incidência da luz solar sobre uma fenda, despontava, como consequência de um jogo de luz e sombra, um belíssimo beija flor.
Imediatamente registramos a imagem.
Ela a enviou para um filho de sua tia com o qual crescera, perguntando-lhe o que  via quando olhava a imagem.
Um beija flor, disse ele.
Assim seja.

Noventa e nove anos do nascimento de D. Aldeiza.
Seridó, Serrame de Santana, Cerro, 20 de abril de 2025

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