sábado, 21 de julho de 2012

ESTOU PENSANDO QUE NÃO VOTO MAIS EM OLIGARQUIAS

istoepiaui.blogspot.com


Honório de Medeiros

Estou pensando que não voto mais em oligarquias, bem como não voto mais em quem apóia ou é apoiado por oligarquias.

Qualquer oligarquia.

Na ciência política, oligarquia é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas identificáveis por interesses particulares tais como riqueza, laços familiares, empresas ou poder militar.

Estados em que isso acontece são muitas vezes controlados por poucas famílias proeminentes que repassam a sua influência ao longo de gerações.

Ressalvo, desde já, que já votei e, até mesmo, já trabalhei para algumas oligarquias. Assumo meu erro. O que eu não quero é continuar a errar. 

Nada há de pessoal contra quem quer que seja nessa tomada de posição. Ela decorre de uma percepção amadurecida do processo político. 

Trata-se de não mais crer que alianças táticas com o inimigo ideológico permitam algum tipo de avanço na luta pelo fortalecimento da Democracia e do bem-estar da Sociedade como um todo. 

Ao longo dos anos foi essa minha crença, minha ilusão acalentada desde os bancos da Faculdade de Direito onde ingressei convicto da nossa possibilidade de mudar o mundo por dentro, jogar o jogo da elite política: torná-lo menos injusto. 

Hoje, essa crença não existe mais. 

A história demonstrou e demonstra, a cada dia, que os inimigos da Sociedade são muito mais perigosos do que supõe a nossa pretensão de entendê-los e combatê-los. Tais inimigos acreditam estarem certos em fazer, por si, e pelos seus, apenas, o possível e o impossível para sobreviverem no caos social no qual vivemos. 

Nada pior que combater quem crê no que está fazendo, mesmo quando essa crença é uma distorção, um equívoco. 

São eles, esses inimigos, predadores. Não têm consciência do mal que causam, ao longo do tempo, a si, aos seus, e aos outros, e quando o têm, cedem ávidos e velozes aos argumentos que pretendem legitimar suas ações equivocadas.

São elos de uma estrutura manipuladora, voraz, amoral, que os gratifica, aliena e lhes dá o amparo intelectual para seguirem em frente em sua cegueira existencial. 

Os avanços que esses inimigos apresentam como progresso são armadilhas, apenas armadilhas para os desassistidos, que aparentam tudo mudar, para que tudo continue igual ao que era antes, no quê, aqui, parodio o Príncipe de Salinas, esse personagem canônico fundamental de Lampedusa e da literatura ocidental. 

Não quero mais fortalecer essa estrutura. 

Claro que meu gesto é uma gota d’água no Oceano da política, do jogo do poder. Demasiadamente pequena gota insignificante. Não importa. Convido outros a compartilharem, se for o caso, esse pequeno gesto. 

Pode não resultar em nada, mas faz com que eu, hoje, me sinta mais limpo.

A SUGESTIVA REBELIÃO DE JUÍZES

A Justiça se acostumou a viver em ‘torres de marfim’

Jornal O Globo
 
O fato de magistrados se rebelarem contra uma lei e decidirem contrariar determinação do órgão de controle da Justiça lembra atitudes de corporações sindicais.

Tão ou mais grave que o fato em si é a motivação dele: os rebelados se opõem à aplicação nos tribunais da Lei de Acesso à Informação, passo importante no processo de democratização do país.

São contra a transparência no destino dado ao dinheiro do contribuinte — pelo menos nas Cortes —, um requisito de qualquer sociedade moderna.

Em reunião realizada na quarta-feira pelo Colégio Permanente de Tribunais de Justiça, os 24 presidentes dos TJs se colocaram contrários à resolução do Conselho Nacional de Justiça — cujo presidente é o mesmo do Supremo Tribunal Federal, ministro Ayres Britto — que estabeleceu ontem o dia do esgotamento do prazo para a divulgação da lista nominal de juízes e servidores do Judiciário, com respectivos salários e adicionais. Como determina a lei.

Mas, felizmente, não há uma posição monolítica do Judiciário. O Supremo, no final de junho, divulgou seus dados — não poderia ser de outra forma, por ser a Corte a última linha de defesa do estado de direito. Ontem, como determinado pelo CNJ, foi a vez do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

As resistências ocorrem nos tribunais regionais, por sinal, como em outras ocasiões, quando o CNJ atuou na linha da moralização. Por exemplo, contra o nepotismo. Também partiu dos TJs o movimento, derrotado no STF, para manietar a corregedoria do conselho. Agora, como das vezes anteriores, alinha-se aos tribunais a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

A argumentação contrária à divulgação dos rendimentos de juízes e servidores se baseia na Constituição. Seja na garantia à privacidade ou em interpretações de que a própria Carta não determinaria uma transparência tão grande quanto a fixada pela Lei de Acesso.

Em carta aberta divulgada ontem, o presidente do TJ do Rio de Janeiro, desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, pede, inclusive, que o plenário do STF decida sobre a divergência.

Pode ser que este seja o destino final da polêmica. Mas é necessário entender o pano de fundo dela. Na verdade, o Judiciário passa por um choque cultural desde a aprovação, em dezembro de 2004, do projeto de emenda constitucional n 45, base do atual processo de reforma do Poder.

A PEC instituiu, entre outras novidades, o CNJ. E a partir dele os tribunais regionais e todas as Cortes deixarem de ser “torres de marfim” isoladas, possessões sem qualquer supervisão. A Lei de Acesso, posta em execução, como tem de ser, pelo STF e CNJ, é mais um abalo nas fundações destas “torres”.

Não é por coincidência que corporações sindicais de servidores públicos em geral têm a mesma reação de juízes.

O funcionalismo público como um todo nunca teve qualquer visão ampla de prestadores de serviços. Também formaram castas, as quais não consideram estar obrigadas a prestar contas sequer a quem lhes paga o salário, a sociedade.

Tanto que várias categorias se encontram em greve, mesmo em atividades essenciais. A rebelião de juízes é parte de um todo.

LIVROS ANTIGOS E NOVOS ACERCA DO CANGAÇO

Mais reedições com a marca do Professor Pereira

 Por lampiaoaceso.blogspot.com



Kydelmir Dantas, Professor Pereira e Honório de Medeiros

Nosso confrade e colaborador Pereira, além de ser o sebista mais festejado do ramo, tomou a iniciativa e passou a desempenhar um maravilhoso serviço em pró da históriografia nordestina. O homi agora é editor de livros. No afã de resgatar obras principalmente as que estavam esgotadas a décadas, para que os colecionadores e pesquisadores possam adquirir as mesmas com qualidade e o principal "um preço acessível".

Eis aqui mais três rebentos, proporcionados pela parceria com os respectivos autores. Posteriormente vamos publicar uma entrevista realizada com o professor tratando de detalhes e propostas para familiares que detém os direitos autorais de um livro extinto nos catálogos ou você escritor que guarda na gaveta ou no pen drive uma obra do gênero e ainda busca condições de realizar o sonho da publicação do seu trabalho.

Lampião: Luta, Sangue e Coragem - Romance Histórico - Vilma Maciel - 2ª Edição.

A escritora Vilma Maciel nos oferece a 2ª Edição, atualizada e acrescida, do Romance Histórico Regional de primeira linha, “Lampião: Luta, Sangue e Coragem”, em que a autora criou as falas fictícias para os personagens reais, pois Antônio, José Ferreira, Livino, José Saturnino, os Nazarenos, Corisco, Maria Bonita e demais personagens fazem parte da vida do Cap. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Essa obra demandou milhares de horas de trabalho e recebeu uma atenção e zelo todo especial da autora, pois foi cuidadosamente elaborado, obedecendo à sequência cronológica da vida e ações do rei do cangaço.

O romance inicia com a história de José Ferreira e Maria Lopes, os pais de Lampião; segue narrando os primeiros desentendimentos dos irmãos Ferreiras com Zé Saturnino ; a mudança para Poço do Negro e depois para Alagoas; continua com a morte dos pais de Virgolino e sua entrada definitiva no cangaço, fazendo parte dos grupos de Antônio Matilde, dos Porcinos e depois de Sinhô Pereira.

Com a ida de Sinhô Pereira para Goiás, Lampião assume definitivamente a chefia do grupo, que passou a aterrorizar o interior de sete Estados nordestinos. Destaca a visita de Lampião ao Juazeiro do Padre Cícero, em 1926; sua ida para a Bahia em 1928.

Continua narrando a presença da mulher no Cangaço, iniciando com Maria Bonita a partir de 1930. A formação de um grande bando, divididos em pequenos grupos, chefiados por Corisco, Labareda, Zé Sereno, Virgínio, Moreno, entre outros. Segue com a tragédia de Angico, em Sergipe, onde morreram Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros. Por último, o morte de Corisco e o fim do cangaço no nordeste brasileiro em 1940.

Podemos destacar várias qualidades positivas nesse romance, como por exemplo, a escrita acessível e leitura agradável. Também destacamos a sua preocupação pedagógica de facilitar a compreensão e o entendimento dos fatos ocorridos durante o cangaço lampiônico, mesmo que o leitor seja um iniciante no estudo deste fenômeno.


Serviço
Livro "Lampião: Luta, Sangue e Coragem - Romance Histórico" - Vilma Maciel - 2ª Edição. 187 págs. R$ 33,00 (Trinta e três reais) com frete incluso.


Os Fuzilados do Leitão, Uma Revisão Histórica - Vilma Maciel - 2ª Edição.

O fato se passou no local denominado alto leitão em Barbalha no cariri cearense na madrugada do dia 5 de janeiro de 1928. Foram mortos os irmãos Miguel e Pedro Miranda, João Marcelino e Manoel Toalha, além do mais famoso deles, o cangaceiro "Lua Branca".

A professora e escritora Vilma Maciel, nesse seu trabalho “Os Fuzilados do Leitão, Uma Revisão Histórica” procurou resgatar a memória histórica dos conhecidos e afamados “Irmãos Marcelinos”, Bom de Veras, João Vinte e Dois e o cabra Lua Branca, que palmilharam o Cariri cearense, cometendo crimes cruéis.

Em seguida, a autora narra com lucidez e competência, os fatos ocorridos naquela madrugada onde ocorre o assassinato e sepultamento de cinco pessoas no Alto do Leitão, acontecimento que ensejou o título desse trabalho.

Vejamos o comentário do cientista e escritor Melquíades Pinto Paiva no seu extraordinário trabalho “Bibliografia Contada do Cangaço”. Vol. II: 52-53, 2002, sobre o livro

“Os Fuzilados do Leitão” aborda aspectos do Cangaço no sul do Ceará e Oeste de Pernambuco - vale do Cariri/chapada do Araripe e áreas limítrofes. Estuda o envolvimentos dos Coronéis com os bandidos e ressalta que o cangaceirismo é um produto nefasto do coronelismo vigente no espaço considerado. Concede especial atenção ao bando dos Marcelinos, desde sua formação, reportando lutas e o final destroço, chefiado por Bom de Veras e contado com a participação dos irmãos João "Vinte e Dois" e "Lua Branca". Descreve o fuzilamento de cinco pessoas, na manhã de 05 de janeiro de 1928, pela escolta policial comandada pelo sargento José Antônio da Acauã no sítio Alto do Leitão, à margem da estrada da feira ligando Crato a Barbalha (estado do Ceará): Os fuzilados foram Lua Branca, Manoel Toalha, Joaquim e João Gomes (irmãos) e Pedro Miranda. De maior importância são os depoimentos recolhidos sobre o fuzilamento e a transcrição de trechos do caderno de ocorrências deixado pelo coronel/prefeito de Jardim ( Estado do Ceará) - Luís Aires de Alencar. Um outro destaque é o diálogo de Lampião com o coronel Chico Romão (Serrita - Estado de Pernambuco )”
Depois desse esclarecedor comentário só nos resta desejar uma boa leitura, dessa obra, a todos.

Serviço
"Os Fuzilados do Leitão, Uma Revisão Histórica" - Vilma Maciel - 2ª Edição. 86 págs. - R$ 25,00 (Vinte e cinco reais) com frete incluso.

Para adquirir esses dois livros - Autora: vil.maciel@zipmail.com.br - Tel. (88) 9700 7008 - ou Editor: franpelima@bol.com.br Tel. (83) 9911 8286.
Antônio Silvino: O Cangaceiro, o Homem, o Mito - Sérgio Augusto S. Dantas - 2ª Edição.

Com primeira edição esgotada até mesmo em sebos um dos melhores tratados sobre o governador so sertão está ao seu alcance. Manoel Baptista de Moraes, celebrizado no cangaço como Antônio Silvino, foi o mais famoso antecessor de Virgolino Ferreira, o Lampião, nas guerras da caatinga, no alvorecer do Século XX. O período de atuação de Silvino vai de 1897 a 1914, quando é ferido em combate com a Polícia e, posteriormente, preso. O livro Antônio Silvino: O Cangaceiro, O Homem, O Mito refere-se a algo inédito na historiografia nacional. De efeito, são poucos os títulos que cuidam da sua vida, e quando o fazem, a contam de forma exagerada e sem caráter científico. Em verdade, os melhores livros sobre a atribulada vida do cangaceiro foram escritos tendo como fonte quase única, folhetos de “literatura de cordel”. O livro foi iniciado em 2002.

De acordo com o autor Sérgio Dantas, foi concebido dentro dos mais rígidos critérios de pesquisa histórica. A busca de informações e dados para a composição do texto final, foi realizada em três vertentes: A primeira, através de pesquisas em jornais, em “Arquivos Públicos” da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A segunda, a partir da análise de documentos governamentais e comunicações entre Chefes de Polícia dos três Estados citados acima; e a terceira, por fim, utilizando-se de depoimentos de pessoas que tiveram conhecimento de alguns fatos relevantes em torno da polêmica personagem.

O livro – escrito não somente para estudiosos do tema, mas igualmente para leigos – pode ser dividido em três partes distintas, as quais refletem três diferentes fases do cangaceiro. Importante, também, é o registro de encontros do cangaceiro – após seu aprisionamento – com intelectuais de expressão, como o potiguar Câmara Cascudo, o cearense Leonardo Mota, os pernambucanos Nilo Pereira e Jayme Griz, além do alagoano Graciliano Ramos e do líder comunista Gregório Bezerra, com quem o cangaceiro travou profunda amizade na Casa de Detenção do Recife. A narrativa é finalizada com a descrição da morte do cangaceiro e seu funeral, repleto de populares, admiradores e curiosos, na cidade de Campina Grande, em 1944.

Serviço
Livro "Antônio Silvino: O Cangaceiro, o Homem, o Mito" - Sérgio Augusto S. Dantas - 2ª Edição - 313 págs. - R$ 37,00 (Trinta e sete reais) com frete incluso. Para adquirir esse livro - entre em contato com o Editor pelo email: franpelima@bol.com.br

Abraços
Francisco Pereira Lima
Professor e estudioso do cangaço,
Conselheiro do Cariri Cangaço

FONTE: www.lampiaoaceso.blogspot.com de nosso querido amigo Kiko Monteiro.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CARLOS SANTOS DEBATE COM LIMA NETO NA FEIRA DO LIVRO DE MOSSORÓ


Jornalista e Escritor Carlos Santos
 
 
Do Blog do Carlos Santos
 
 

Encontro com Lira Neto na Feira do Livro



"O editor deste Blog está todo prosa. Admito até uma certa dose de cabotinismo.

No dia 11 de agosto, na Feira do Livro de Mossoró, às 20h, na Expocenter, participo de uma noite de bate-papo literário com o escritor e jornalista Lira Neto.

Convite feito, convite aceito por este repórter provinciano dos arrabaldes da Capela de São Vicente.

Ele ganhou projeção superlativa nos últimos anos, com publicação de trabalhos de fôlego e denso conteúdo, retratando personagens míticos como Padre Cícero e Getúlio Vargas.

Então, até lá."

DE ONDE VEM O MITO DE LAMPIÃO

Por Manoel Severo


Lampião por telaetinta.com.br

Não obstante o fenômeno do cangaço tenha abrangido sete dos nove estados do nordeste, foi o interior pernambucano que deu origem aos mais destacados personagens desta epopéia brasileira; Sebastião Pereira e Virgulino Ferreira. Na verdade ambos nasceram na chamada microrregião do Vale do Pajeú, mas precisamente na cidade de Vila Bela, que a partir de 1942, passou a se chamar Serra Talhada por proposta do interventor de Pernambuco na época, Agamenon Magalhães, filho ilustre do lugar. O Vale do Pajeú é composto por dezessete municípios, tem clima semi-árido na grande maioria de seu território, com exceção da região do chamado “brejo de altitute” onde se localiza a bela Triunfo. Seria ali no Vale do Pajeú, com seus municípios e vilarejos, entre os quais: Afogados da Ingazeiras, São José do Egito, Solidão, Santa Cruz da Baixa Verde, Flores, onde se desenrolariam os primeiros atos da sinfonia cangaceira de Lampião.

Os maiores destaques do Vale do Pajeú, sem dúvidas eram os municípios de Triunfo e Vila Bela. Triunfo, uma bela cidade serrana onde se localiza o ponto mais alto do estado de Pernambuco (1.004 metros), região brejeira, possuia uma economia baseada na agromanufatura de rapadura e no minifúndio, dessa forma possuia uma vida um tanto mais urbanizada e de comércio mais organizado e desenvolvido que Vila Bela, sua elite política e intelectual composta de comerciantes, médicos e juristas se distinguiam da de Vila Bela formada basicamente pelos coronéis do gado; a aristocracia rural; que com o desenvolvimento da pecuária bovina e caprina juntamente com a agricultura eram a base da economia vilabelense. Ali estariam o berço dos irmãos Ferreira, Antônio, Livino e Virgulino, ligados ao clã dos Pereira, que ao lado dos Carvalho, disputavam o poder político local.

Caravana Cariri Cangaço em Serra Telhada: Severo, Jack de Witt, Anildomá, Bosco André e Zé Cícero

Muito se tem estudado sobre o real caráter do cangaço: suas origens, implicações, correlações, enfim. Historiadores, sociólogos, antropólogos, médicos, acadêmicos como um todo; escritores, curiosos, enfim têm se dedicado ao longo dos últimos anos ao estimulante e desafiador estudo sobre o que realmente representou tão emblemático fenômeno nordestino. É natural que as causas principais de tão comentado fenômeno estejam ligadas às condições sociais a que os sertanejos nordestinos do início de século estavam submetidos. As desigualdades sociais inerentes a uma política desastrosa de ocupação da terra; nascida com certeza, desde a colonização e as famosas sesmarias; que privilegia os grandes latifúndios; as constantes épocas de estiagem e pobreza, a ausência de um poder central forte e atuante diante das mais elementares demandas da pobre gente do sertão, concentrando de forma exacerbada o poder dos famosos coronéis de barranco, sujeitos à expropriação e à exploração, às injustiças, à violência, enfim; entretanto, esse seria apenas o pano de fundo de um fenômeno que não se encerra nos pontos acima citados.
Seriam os cangaceiros vingadores dos oprimidos? Seriam os cangaceiros elementos que estavam a serviço da justiça social e de uma melhor distribuição de terra? Seria o cangaço um movimento armado que nasceu para combater o poder dos coronéis, ou seriam apenas indivíduos de natureza condenável que diante de circunstancias desfavoráveis passaram a fazer parte do mundo do crime?

Bando de Lampião enquanto fotografado pela epopéia de Abrahão Benjamim

Podemos nos deter sobre vários correntes de estudo. Uma delas tem como referência o trabalho do renomado historiador britânico; nascido no Egito; Eric Hobsbawm, em seus livros Primitive Rebels, de 1959, e Bandits de 1969. Principalmente neste último, com a tese do Banditismo Social, que é enfocado como uma forma de resistência camponesa, sendo um fenômeno universal, uma vez que segundo Hobsbawm, os camponeses teriam todos eles um modo de vida muito parecido, pela forma como se davam suas relações de trabalho e sociais, deste modo se traçariam as similaridades com os sertanejos do nordeste brasileiro; notamente de formação populacional eminentemente rural. Ainda recorrendo a Hobsbawm definiríamos a delinqüência rural em três tipos de bandidos: o nobre, tipo Robin Hood; os guerrilheiros primitivos; e o vingador. Temos ainda o antropólogo e estudioso holandês Anton Blok que em um artigo de 1972 critica em alguns pontos o modelo do banditismo social de Hobsbawm, quando enfatiza que as populações rurais na verdade foram muitas vezes vítimas dos bandidos, que atendiam na verdade aos interesses das elites dominantes, em detrimento dos mais humildes, elites essas sem as quais não se sustentariam.

Em tese o cangaço poderia até ser compreendido como um movimento criado para combater a dominação dos coronéis; o que vamos observar, no entanto, é que acabaria sendo estabelecida uma relação simbiótica entre as partes; teoricamente de interesses contrários; cangaceiros e coronéis tornaram-se parte de um mesmo corpo, corpo doente e nocivo, um dependendo do outro, e que muito mal acabou causando principalmente aos mais humildes deste lado do Brasil. É interessante pontuar que os cangaceiros não defendiam apenas e unicamente os interesses da elite dominadora, eles próprios tinham seus interesses e motivos; nobres ou não; e lutavam por eles. Já os coronéis absortos em sua sede permanente de poder, precisavam estar sempre atentos ás suas próprias disputas contra famílias e clãs concorrentes, aqui abrimos um parêntese para ilustrar o caso mais emblemático que era a disputa dos clãs Pereira e Carvalho, no Vale do Pajeú. Devido à fraqueza do Estado na época e à dificuldade que este tinha em chegar a regiões mais remotas do país, como o sertão nordestino, os conflitos, nessa região, eram resolvidos de acordo com a lei do mais forte, daí a aliança com os grupos cangaceiros ser vital para a manutenção de poder.

Dentro de meu humilde esforço de curioso sobre o tema; para contextualizar social e antropologicamente o fenômeno do cangaço, acho interessante observar algumas considerações desenvolvidas por outros estudiosos e pesquisadores com relação ao fenômeno, mas me permito deter-me para encerrar esse pequeno artigo, a Carlos Alberto Dória, quando provoca: “o cangaço perpetuou-se na cultura nacional como elemento de nossa mitologia heróica. E Lampião, símbolo de primeira grandeza neste quadro, continua a ser uma individualidade polêmica...”

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

O MINISTRO DIAS TOFFOLI PRECISA COMPREENDER QUE O CAMINHO DA DESONRA NÃO TEM VOLTA

Dias Toffoli

iuribarrosdefreitas.blogspot.com 

Por Augusto Nunes

A poucos segundos da hora da verdade, os amigos repetem que José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal, ainda não decidiu se participará do julgamento do mensalão. A folha corrida do advogado recomenda aos berros que se declare impedido: quem passou quase 15 anos trabalhando para o PT, servindo a José Dirceu ou dando razão a Lula está desqualificado para julgar com isenção velhos companheiros. A agenda das últimas semanas grita que Dias Toffoli optou por afrontar os fatos e demitir a sensatez: a sequência de encontros com advogados de mensaleiros avisa que o mais jovem integrante do Supremo não vai cair fora do caso.

Na tarde de 25 de junho, por exemplo, ele recebeu em seu gabinete o amigo José Luiz de Oliveira Lima, que há sete anos cuida da defesa de José Dirceu. O site do STF comunicou que, como nos demais encontros mantidos com doutores a serviço dos réus, os dois trocaram ideias sobre a AP 470, codinome em juridiquês do processo que começará a ser julgado em 2 de agosto. Se sobrou tempo, talvez tenham evocado episódios que os juntou na mesma trincheira.

Em 2005, por exemplo, quando foi contratado para tentar evitar a cassação do mandato do deputado José Dirceu, o visitante contou com a ajuda de Toffoli, que acabara de deixar o empregão na Casa Civil em companhia do chefe despejado. No processo do mensalão, Oliveira Lima já atuou em parceria com a advogada Roberta Maria Rangel, então namorada do ministro com quem vive há quase um ano.

“O ministro Dias Toffoli já julgou dois agravos regimentais nessa ação penal 470″, animou-se nesta segunda-feira Marcelo Leonardo, advogado do publicitário Marcos Valério. “Então, ele já se reconheceu habilitado a julgar”. O defensor do diretor-financeiro da quadrilha do mensalão teima em pleitear o impedimento do relator Joaquim Barbosa, mas nunca viu motivos para que Toffoli se afastasse. Faz sentido. O doutor quer um ministro fora por achar que condenará seu cliente. Quer outro dentro por ter certeza de que absolverá todo mundo.

Tal convicção se ampara no passado recente. Paulista de Marília, diplomado em 1990 pela Faculdade do Largo de São Francisco, Toffoli sonhava com a vida de juiz de direito. Tentou o ingresso na magistratura nos concursos promovidos em 1994 e 1995, Duas reprovações consecutivas, ambas na primeira fase dos exames, aconselharam Toffoli a conformar-se com a carreira de advogado do PT, anabolizada pela ficha de inscrição no partido. Nem desconfiou que começara a percorrer uma curtíssima trilha que o levaria ao Supremo Tribunal Federal.

Nos anos seguintes, foi consultor jurídico da CUT, assessor parlamentar do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, assessor jurídico da liderança do PT na Câmara dos Deputados, subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência e, a partir de março de 2007, chefe da Advocacia Geral da União. Em outubro de 2009, Lula entendeu que deveria premiar com uma toga o aplicado companheiro que também chefiara a equipe jurídica do candidato nas campanhas presidenciais de 1998, 2002 e 2006.

Sem saber o suficiente para virar juiz de primeira instância, Toffoli tinha 42 anos quando se viu premiado com um cargo reservado pela Constituição a gente provida de “notável saber jurídico”. No País do Futebol, a torcida brasileira condenaria à morte na forca um treinador que ousasse transformar em titular da Seleção um jogador da categoria sub-20 reprovado em duas tentativas de subir para o time principal. No Brasil Maravilha, o presidente da República escalou um advogado para jogar no STF a favor do governo. Lula já deixou o Planalto, mas faz questão de ver seu pupilo em campo na final do campeonato que faz questão de ganhar.

Sabe-se desde o Dia da Criação que, para ser justa, uma decisão não pode agredir os fatos. Sabe-se desde a inauguração do primeiro tribunal que toda sentença judicial deve amparar-se nos autos do processo. Não pode subordinar-se a vínculos partidários, laços afetivos ou dívidas de gratidão. Caso insista em viciar o julgamento mais importante da história do Brasil com o voto que endossará a institucionalização da impunidade, Toffoli será reduzido a uma prova ambulante da tentativa de aparelhar o Supremo empreendida durante a passagem do PT pelo coração do poder. 

Em princípio, o ministro ficará onde está mais 25 anos, até a aposentadoria compulsória em 2037.  A Era Lula acabará bem antes. Se errar na encruzilhada, vai percorrer durante muito tempo, e sem padrinhos poderosos por perto, o caminho da desonra. É um caminho sem volta.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O JARDIM DAS CEREJEIRAS



François Silvestre

         Esse é o titulo da última peça de Tchekhov, que nunca vi no teatro.  Algumas versões no cinema e a versão literária de Millôr Fernandes.

         Lembro-me de um cartaz da peça, mais de enfeite do que anúncio, num mostruário do Teatro de Cultura Artística (TCA), na Rua Nestor Pestana, Centro de Sampa. Onde vi o Meno Male.

         Meno Male foi a única peça de teatro que vi mais de uma vez. A primeira, fui só. A segunda, com Geraldo Vandré, por insistência dele. Uma semana depois, chega Taiguara de Londres. Num papo, saiu comentários da peça; comédia de influência italiana, com a genialidade de Juca de Oliveira. Taiguara, o mais brasileiro dos uruguaios, quis assistir à peça e me convenceu a ir junto.

         Descobri que, no teatro, há mais diferenças do cinema do que as distinções notórias. Desde detalhes do cenário, do gestual e até das falas. Nenhuma peça se repete. No palco, diferentemente da História, a tragédia nunca vira farsa. Ou já é farsa no primeiro evento.

         Tchekhov escreveu o Jardim das Cerejeiras dando-lhe o gênero de comédia. Para Stanislavski, diretor da primeira apresentação, em 1904, no Teatro de Moscou, era uma tragédia.

         Se você descobre coisas novas na segunda sessão de um filme, essa descoberta foi da sua visão e não da película. No teatro, há coisas novas na própria encenação.

         O Jardim das Cerejeiras trata da condição humana em momentos que vão do trágico ao cômico. Porque a vida não é monofásica. E uma peça que trata de propriedade, herança, hipoteca, empobrecimento, ganância, ciúme, despeito e amor pode ser de qualquer gênero.

         Mas o tema principal do Jardim das Cerejeiras nem é a relação das pessoas com esses substantivos personalistas. Nem é o subjetivismo. Não está no cartaz nem na crítica convencional esse elemento que acaba por ser o motor de toda a trama: A velocidade do tempo. E a constatação de que algumas pessoas nem percebem a rapidez dessa viagem. Principalmente se as mudanças forem dolorosas.

         Tudo porque, na dor, o tempo é lento. E passa feito janela de trem nas horas de alegria.

         Meu neto perguntou: “saudade é pra quê”? Até agora não consegui responder. Esperar que ele desista da resposta ou cresça para que a pergunta se desmanche no meio de outros interesses. Porque quando as respostas chegam, as perguntas já se foram.

         O Jardim das Cerejeiras era o único jeito de parar o tempo da aristocrata falida. Mas ele se destrói, antes por sua ausência e depois pela ação depredadora.

         Do mesmo jeito como os atuais matam diariamente todos os jardins, de cerejeiras ou mofumbos, como se destruir fosse uma catarse capaz de espantar fantasmas do caráter coletivo.

         Não há freio nesse trem. A vida é uma máquina de fabricar passado. Té mais.