quinta-feira, 19 de julho de 2012

O JARDIM DAS CEREJEIRAS



François Silvestre

         Esse é o titulo da última peça de Tchekhov, que nunca vi no teatro.  Algumas versões no cinema e a versão literária de Millôr Fernandes.

         Lembro-me de um cartaz da peça, mais de enfeite do que anúncio, num mostruário do Teatro de Cultura Artística (TCA), na Rua Nestor Pestana, Centro de Sampa. Onde vi o Meno Male.

         Meno Male foi a única peça de teatro que vi mais de uma vez. A primeira, fui só. A segunda, com Geraldo Vandré, por insistência dele. Uma semana depois, chega Taiguara de Londres. Num papo, saiu comentários da peça; comédia de influência italiana, com a genialidade de Juca de Oliveira. Taiguara, o mais brasileiro dos uruguaios, quis assistir à peça e me convenceu a ir junto.

         Descobri que, no teatro, há mais diferenças do cinema do que as distinções notórias. Desde detalhes do cenário, do gestual e até das falas. Nenhuma peça se repete. No palco, diferentemente da História, a tragédia nunca vira farsa. Ou já é farsa no primeiro evento.

         Tchekhov escreveu o Jardim das Cerejeiras dando-lhe o gênero de comédia. Para Stanislavski, diretor da primeira apresentação, em 1904, no Teatro de Moscou, era uma tragédia.

         Se você descobre coisas novas na segunda sessão de um filme, essa descoberta foi da sua visão e não da película. No teatro, há coisas novas na própria encenação.

         O Jardim das Cerejeiras trata da condição humana em momentos que vão do trágico ao cômico. Porque a vida não é monofásica. E uma peça que trata de propriedade, herança, hipoteca, empobrecimento, ganância, ciúme, despeito e amor pode ser de qualquer gênero.

         Mas o tema principal do Jardim das Cerejeiras nem é a relação das pessoas com esses substantivos personalistas. Nem é o subjetivismo. Não está no cartaz nem na crítica convencional esse elemento que acaba por ser o motor de toda a trama: A velocidade do tempo. E a constatação de que algumas pessoas nem percebem a rapidez dessa viagem. Principalmente se as mudanças forem dolorosas.

         Tudo porque, na dor, o tempo é lento. E passa feito janela de trem nas horas de alegria.

         Meu neto perguntou: “saudade é pra quê”? Até agora não consegui responder. Esperar que ele desista da resposta ou cresça para que a pergunta se desmanche no meio de outros interesses. Porque quando as respostas chegam, as perguntas já se foram.

         O Jardim das Cerejeiras era o único jeito de parar o tempo da aristocrata falida. Mas ele se destrói, antes por sua ausência e depois pela ação depredadora.

         Do mesmo jeito como os atuais matam diariamente todos os jardins, de cerejeiras ou mofumbos, como se destruir fosse uma catarse capaz de espantar fantasmas do caráter coletivo.

         Não há freio nesse trem. A vida é uma máquina de fabricar passado. Té mais.

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