François Silvestre
Uma das experiências mais consistentes de inverno no Sertão são os
redemoinhos de Setembro. Um deles, ontem, quase me tira da estrada. Que bom. Não
eu sair da estrada, mas o encontro com um deles, em pleno meado de
Setembro.
O catolé já amarelou. Bom sinal. Ainda não vi a casa do
mané-de-barro, cuja porta para o nascente é sinal ruim. Se estiver virada para o
poente, é invernão. Com cheias e enchentes. Virada par o Sul, é inverno fraco;
com chuvas finas, que não juntam muita água. Se aberta para o Norte, chuvas
irregulares. Pesadas nuns lugares e escassas noutros.
As aroeiras floram. Os
cajueiros também. Há notícias de inchuís, pendurados nos galhos de juremas ou
mofumbos. Ainda não sei se estão gordos, lambuzando de mel as capas
sobrepostas.
O sabiá ainda não está cantando dobrado. Uso o gerúndio porque
aprendi a falar por aqui mesmo, em vez do “a cantar”, que se diz em Lisboa. Ou
no Supremo Tribunal Federal, pelo Ministro Gilmar Mendes, aquele dos idos de
Mato Grosso, onde eu não sei como são as experiências de lá.
A flor do
mofumbo, que só cheira ao nascer, ainda não deu o ar da graça. Igual à polícia
nas estradas, que só aparece uma semana depois dos assaltos. Mas o mofumbal,
mesmo de aroma passageiro, perfuma tabuleiros e caminhos. E sua moita, de tão
fechada, não permite sequer a passagem do sol.
Os caçadores continuam sua
batalha para extinguir o que ainda a resta de muito pouco da fauna silvestre.
Meu nome entrou aí de gaiato. Eu sou mesmo é um bocó urbano, que usa o Sertão
para suprir as deficiências da arte de escrever. O Sertão sim, esse escreve na
cara amuada da Natureza.
Os broques das grotas também começam a exibir a
estupidez nativa dos moradores daqui. Sem qualquer gesto impeditivo de órgãos
públicos inúteis e caros.
As chãs das nossas serras, minimalistas,
encolhem-se indefesas ante a burrice de moradores, descaso de turistas e
inutilidade dos órgãos pagos para ter pena do meio ambiente. É na privada que
mora o poder público, abafando o cheiro do mofumbo.
Falta aparecer a reação
canora do fura-barreira. Calangos cegos procurando os ramos secos da jitirana. O
vagear da manjerioba. Por ora, de garantido mesmo, só os redemoinhos; ou como os
chamam os matutos: redemunhos, pés de vento, cão de poeira.
Há muito tempo,
uns frades franciscanos foram expulsos de Martins. Contam que no mês de
Setembro. Ao receberem a ordem de partida, vários redemoinhos se formaram em
volta deles. E aí os peregrinos de marrom lançaram uma maldição. “Este lugar vai
crescer como correia no fogo”!
Pois não é que a profecia se realiza até hoje?
Você sabe como se comporta uma correia de couro cru no fogo? Ela se retorce,
estica-se no começo e depois se comprime, até virar uma casca ensebada.
Té mais.