sábado, 14 de maio de 2011

ABOIO PARA FRANÇOÁ

François Silvestre de Alencar

Por Paulo Procópio (www.territoriopotiguar.blogspot.com):

O sertão resiste. O enfrentamento é coisa de honra. Onde se lava a moral. Sertão que repele as contra-venturas dos covardes. As traições do nunca mais. Sertão que vive nas veias dos homens de vergonha e tradição.

O sol do semi-árido é a luz ao redor do alpendre. Facho que leva a boiada quando chega à matina. O sertão é pedra espinho. Tangida de todo dia. Juremas e oiticicas. Passarinho na bebida. Riacho das invernadas. Desenhado das montanhas. A lamparina que alumia quando a noite chega. E a lua que abranda as veredas.

CONCENTRAÇÃO CONTRA DEMOLIÇÃO DO MACHADÃO

Do www.lauritaarruda.com.br



 Mais um capítulo na já atrasada, complicada, Copa em Natal. Natalenses inconformados com a demolição do Estádio Machadão e do Ginásio Humberto Nesi farão neste sábado, 14 de maio, às 14 horas, com concetração no Espaço Cultural Papa João Paulo II, o Papódromo.
Segundo os organizadores, o ato não é contra a realização da Copa em Natal, nem contra a construção da Arena das Dunas. É contra a demolição do estádio e do ginásio. Para os organizadores da caminhada, a Arena das Dunas pode ser construída em outro lugar, a cidade ganhando patrimônio e preservando o que já possui.
Durante o evento, assinaturas serão colhidas para uma Ação Popular contra a demolição, bem como para a renovação do Pedido de Tombamento do ginásio e do estádio, já enviado à Fundação José Augusto em maio do ano passado e que dizem, está desaparecido.
Os organizadores do evento solicitam aos que comparecerem à marcha que levem bandeiras e vistam as camisas de seu clube. 

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O ESTADO É UM NEGÓCIO!

jfrancica.blogspot.com

Honório de Medeiros

Pedro deve ter uns dezenove anos. Magro, magérrimo, seu corpo ossudo sobra dentro da farda do supermercado. Há sinais claros de subnutrição. No rosto espinhudo um sorriso nervoso aparece e desaparece sem conexão com o que ele diz: sorri quando fala sério, fica sério quando parece brincar com a própria desdita.

 Pedro está noivo: quer casar logo, mas não pode. Pergunto-lhe se estuda. “Não tenho tempo”, diz. “Pego aqui às oito da manhã e só largo lá pras oito da noite, e, aí, tenho que pegar ônibus pra Zona Norte, do outro lado de Natal, é quase hora e meia de viagem.” “Chego cansado, só penso em dormir, nem a noiva eu vejo.”

                   “Está comprando as coisas para o casamento?”, pergunto. “Nada!” “A gente recebe um cartão do supermercado quando entra no trabalho e vai comprando, comprando, lá pra casa mesmo, pros meus pais, e no final do mês quase não recebe nada em dinheiro.” Faz uma pausa e continua: “mas minha noiva tá procurando emprego”. “Ela estuda?”, continuo. “Terminou o segundo grau, mas não foi em frente por que tem que ajudar em casa.”

 Pedro segue arrumando as mercadorias nas sacolas enquanto conversa comigo. Diz para mim que folga uma vez por semana, “às vezes”, já que quase sempre aparece um trabalho extra na empresa. E afirma enfático, que vai voltar a estudar, “é só as coisas melhorarem.”

                   Pedro não sabe, mas sua turma tende a aumentar cada dia mais. A lógica do capital é essa. E anda cada dia mais sofisticada: nos círculos íntimos do Poder o Estado é tratado como “business”.

 Os termos usados pelos gestores públicos pertencem ao mais fino dialeto econômico/financeiro: é “destino econômico” para cá, “benefícios fiscais” para lá, “mercado interno” ali, “agenda de desenvolvimento” acolá. É preciso “vender” o Estado, dizem eles. É preciso “captar” investidores, entoam.

 Pura lógica do capital que amealhando corações e mentes desprevenidos ou ávidos induz sua entrega à tarefa menos árdua e mais prazerosa de semear facilidades, mão-de-obra barata e grata e outros mimos ao custo óbvio de almoços, jantares, e viagens, para os predadores de fora, loucos para espoliar mais uma caterva de ingênuos sob a batuta firme e alienada da administração pública.

 Vão se multiplicar, leio na imprensa, graças às injunções dos sábios conselheiros da Corte ante os maestros da economia brasileira, as empresas no Rio G. do Norte.

 Elas vêm aí: lépidas e fagueiras, sem pagarem impostos, sem darem qualquer contrapartida para o resgate do atraso social, “mas gerando riqueza e empregos”, segundo a propaganda infernal dos publicitários.

 Riqueza para os ricos e empregos-farsas para os Pedros da vida, as Taís da vida – garçonete noite-e-dia em um “fast-food” desses que pululam por aí, a esconder rápido, um dia desses, suas lágrimas derramadas pelo filho recém-nascido e doente deixado em mãos estranhas enquanto o emprego é defendido com unhas e dentes; os Josés da vida – empregado de uma indústria “captada” no Sul maravilha, imposto “zero”, contribuição nenhuma, - quase um escravo, tal sua jornada de trabalho.

 E tudo continuará como sempre foi, desde que o mundo é mundo, por que essa história se repete há muito tempo.

                   Quem duvidar da história de Pedro, Taís, José, procure a Justiça do Trabalho. Leia as sentenças dadas pelos juízes de primeira instância.

 Delicie-se com a expropriação da força de trabalho da nossa classe média mais baixa. Com a história daqueles que sustentam este arcabouço todo reproduzindo, cada vez mais sofisticadamente, o modelo de exclusão social no qual vivemos.

 Projete, a partir daí, o futuro de nossa juventude cinzenta, aquela que se contrapõe à “juventude dourada” – os filhos das elites.

 E esqueça os excluídos: esses sequer constam corretamente nas nossas estatísticas governamentais, a não ser muito por cima, como quando imaginamos quanto à economia marginal, aquela à margem do Governo, produz dia-a-dia.

                   Enquanto isso, enquanto os Estados são “vendidos” lá fora, no Sul maravilha, no “estrangeiro”, conseqüência de um surto atrasado e colonial de um capitalismo ingênuo e predatório – que o diga, por exemplo, para ficarmos na área governamental, aquilo que a Petrobrás faz com o Rio Grande do Norte ao arrancar nossa matéria prima deixando quase nada em troca – Pedro, Taís, e José não sabem, mas a cada momento aumenta o custo social que eles têm que pagar para sobreviverem nesta selva de pedra: não há políticas públicas, não há projetos sociais, não há ações governamentais planejadas, não há governo, enfim, portanto a eles e a seus filhos estão destinadas escolas decrépitas e sem professores; postos de saúde sem médicos e sem remédios; bairros e ruas com postos policiais abandonados, viaturas policiais inapropriadas, quebradas e sem gasolina; e servidores públicos trabalhando como se estivessem em pleno século XIX.

 E como os Pedros, Taíses e Josés vicejam na lama obscura da alienação, terminam achando que plano de saúde, escola particular, automóvel, lazer, cerca elétrica, carro blindado, segurança privada é, pela ordem natural das coisas, algo ao qual somente os ricos têm acesso. Seguem em frente, portanto, a venderem seu suor, seu sangue, sua vida, a preço vil.

terça-feira, 10 de maio de 2011

NOAM CHOMSKY CRITICA OPERAÇÃO QUE MATOU BIN LADEN

Noam Chomsky

Ricardo Noblat - 10.5.2011


O intelectual americano Noam Chomsky publicou um artigo esta semana, na revista online "Guernica", com duras críticas à decisão do governo Barack Obama e uma condenação firme à operação que resultou na morte de Osama bin Laden.
Ele chama a ação de "assassinato planejado" e levanta o questionamento: "E se um comando iraquiano invadisse de surpresa a mansão de George W. Bush, o assassinasse e atirasse seu corpo no Atlântico?".

- "Em sociedades que professam um certo respeito à lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. (...) Nada sério foi provado (contra Bin Laden). Falaram muito da 'confissão' de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória".

- "Como reagiríamos se um comando iraquiano invadisse de surpresa a mansão de George W. Bush, o assassinasse e atirasse seu corpo no Atlântico? Sem dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e ele não é um suspeito, mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que tomou as decisões".

- Sobre o nome da operação, Geronimo. "A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas. É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

EU USO UMA MÁSCARA


Por Bárbara de Medeiros

Eu uso uma máscara.

Eu uso uma máscara.

Eu uso uma máscara.

Eu uso uma máscara.


Minha máscara não é de papel.

Não é de cartolina.

Não é de papelão.

É de ferro.


Minha máscara não ataca.

Não machuca.

Não irrita.

Me protege.


Minha máscara não faz mal aos outros.

Mas sim a mim mesmo.

Mas, no final do dia,

Eu uso uma máscara.

E sou feliz assim.

* Bárbara tem 13 anos.

domingo, 8 de maio de 2011

UMA SOLIDÃO CERCADA DE AMIGOS


Honório de Medeiros

                   Ariclê suicidou-se, tempos atrás. Mas quem foi Ariclê? Uma atriz global. Suave, delicada, simpática. E solitária. Antes de morrer estava fazendo o papel de mãe de JK, no seriado homônimo. Terminou sua participação e saltou do décimo andar do prédio onde morava, mergulhando para a morte.

                   Não é somente por ter sido atriz que chamou a atenção a morte de Ariclê. Nada disso. O que chamou também a atenção é que todos quantos foram a seu sepultamento eram seus amigos, muito embora ela fosse uma pessoa solitária. Morava sozinha, e segundo o relato do porteiro do prédio – ah, os porteiros de prédios, testemunhas silenciosas e onipresentes das nossas vidas – quase não recebia visitas.

                   Todos os amigos cobriram Ariclê de elogios. Não podia ser diferente. É da nossa tradição elogiar os mortos. E todos realçavam os laços de amizade existentes entre eles e até contavam, aqui e ali, algum fato vivido juntos. Nada diferente de velórios em outros mundos afora. Mas não freqüentavam o seu apartamento, esses amigos. Não invadiam sua cozinha, bisbilhotavam sua biblioteca, usavam seu toalete, deitavam em seu sofá. Ali estava um ambiente íntimo cheio de ausências.

                   Ariclê era uma pessoa solitária... Quase posso imaginar sua solidão tão comum em cidade grande. Conhece ela muitas pessoas, é conhecida e respeitada por muitas outras, trata-as por amigo, ou amiga, recebe o mesmo tratamento, mas com certeza não telefona para qualquer um deles para convidá-los a partilhar uma taça de vinho e um pouco de dor nas madrugadas melancólicas. Não é possível fazer isso porque o incômodo causado é muito grande. Transtorna-se a vida das pessoas. Atrapalham-se suas rotinas. E elas têm lá seus problemas, não estão dispostas a emprestarem seus ouvidos para ouvirem o que não conseguem resolver em si mesmas.

                   Antigamente as pessoas colocavam as cadeiras nas calçadas e contavam estórias, relatavam histórias, riam, faziam rir, e se solidarizavam umas com as outras. Mas isso faz muito tempo. Hoje não é mais possível, há a violência urbana, a televisão manieta, as portas e janelas estão todas fechadas. Enclausurando-nos estamos nos fechando para o mundo e para os outros. Nossa convivência passa a ser virtual. Podemos até almoçar juntos com um grande amigo, vez ou outra, mas quando a noite chega, no cotidiano, é cada um por si e Deus por todos.

                   Não por outra razão estamos cada vez mais sozinhos. Embora até mesmo estejamos acompanhados. Porque não nos dispomos a ser solidários. A estabelecermos pontes sólidas em direção ao outro. Pontes construídas com o cimento do sacrifício, da empatia, da história comum. Não por outra razão, quem sabe, Ariclê morreu. Para quem ela ligaria, no final de uma noite qualquer, de um dia qualquer, para dizer “venha, estou triste, preciso de você?”