Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Luiz Fernando
Pereira de Melo é, em essência, um genealogista. Dos melhores.
Também é um historiador, na justa medida em
que suas pesquisas o levaram a encontrar, nas sombras e desvãos do passado,
personagens da nossa história, a bem dizer esquecidos, que ele trouxe para nosso
conhecimento, com dedicação e esmero.
Aos
poucos, dessa forma, Luiz Fernando segue construindo, por vias quase oblíquas,
um painel do passado do Rio Grande do Norte valioso e imprescindível, calcado
em muito trabalho de campo, na consulta a velhos e carcomidos inventários,
livros esquecidos e embolorados, registros arcaicos feitos pela Igreja,
anotações antigas de próprio punho que chegam às suas mãos como que atraídas
pela competência e talento de quem sabe lidar com essas preciosidades.
Cuida
da pesquisa que é própria do genealogista e historiador que se debruça sobre
esses registros, chamemo-los assim, e, também, da árdua e complexa tarefa de
traduzir os textos estudados, vez que vazados em incompreensível escrita para
nós, os comuns dos mortais. Missão para paleógrafos.
Além disso, vai
tecendo a teia que extrai da nossa esquecida história, na medida em que
interpreta esses dados todos conectando-os uns com os outros, dando-lhes o
sentido e a compreensão necessárias.
O
resultado não poderia ser diferente: famílias inteiras que povoaram o Rio
Grande do Norte, o Nordeste, mesmo o Brasil, surgem com seus laços entre si
revelados, ao mesmo tempo em que alguns dos seus integrantes, significativos e
importantes para nossa história, obtêm o justo realce.
Tudo
começou com Um Ramo Judaico dos Medeiros do Seridó, seguido por Os
Fernandes Pimenta: Notas para o Conhecimento Familiar. Depois, veio Crônica
do Sertão de Apodi: História do Período Colonial, de 1710 a 1817; Genealogia e
Fatos do Sertão do Norte de Baixo; Melos de Campo Grande – Genealogia: Raízes
Antigas e Ramos Familiares que delas Derivam; Prelúdio
do Cangaço no Sertão do Assu: A Saga do Coronel Antônio da Rocha Bezerra; e
Manuel Raposo da Câmara, Morgado Português: História Familiar, Processos da
Inquisição, Raízes Judaicas e Ligações à Genealogia Paulistana.
Exemplo de tudo quanto dito acima, transcrevo,
a seguir, trecho do prefácio que tive a alegria de escrever para Prelúdio do
Cangaço no Sertão do Assu: A Saga do Coronel Antônio da Rocha Bezerra:
“Foi
nessas eras que existiu o Coronel de Cavalaria Antônio da Rocha Bezerra,
descendente, dentre outros ilustres, de Arnáu de Hollanda, filho de Henrique de
Holanda Baravito de Renoburg, natural de Utrecht, casado com Margarida de
Florença, irmã do Papa Adriano VI”.
“Arnáu era,
por sua vez, casado com Brites Mendes de Vasconcelos, filha de Bartolomeu
Rodrigues, camareiro-mor do Infante D. Luiz, filho do Rei D. Manoel, de
Portugal. Sua esposa, natural de Lisboa, veio para o Brasil com os pais,
acompanhando o primeiro Donatário de Pernambuco, Duarte Coelho”.
“O Coronel de
Cavalaria, a julgar pelos registros a seu respeito tanto dos representantes do
Governo Colonial, quanto por aqueles que usavam batina, era homem “facinoroso e
perturbador do povo”, “petulante e inquietador da coisa pública”, “desobediente
aos Ministros” do Rei de Portugal, “incorrigível”, entre outros apodos que lhe
foram assacados pelos homens de batina”.
“Pintaram e
bordaram, como se diz popularmente, na Ribeira do Sertão do Assú, sob a
liderança do Coronel, dois filhos seus e um aliado, meio jagunço, meio
cangaceiro, chamado Felipe Silva, principalmente por conta de uma briga feroz
contra o Tenente José dos Anjos, na qual houve de tudo um pouco, desde
homicídios a cárcere privado, passando por roubo de gado, em uma longa série de
desrespeitos à letra da lei”.
“Dele,
cuidou Luiz Fernando de Melo, seu descendente direto, um dos nossos maiores
genealogistas e pesquisadores, autor de livros que já se tornaram referências
não somente no que diz respeito à genealogia das famílias nordestinas, que se
enroscam entre si desde o solo lusitano, mas, também, pelo cuidado documental
com o qual fundamenta suas descobertas, e, porque não deixar claro, também pelo
aprofundamento nos fatos históricos que sempre envolvem o entorno dos
personagens acerca dos quais trata”.
“Chama
a atenção, a partir da leitura de tudo quanto aconteceu com o Coronel e está
comprovado pela farta documentação que compõe o livro, o retrato indireto de
uma época, o Setecentos, ainda tão pouco conhecida, que se expõe como pano de
fundo e nos mostra o Brasil em plena ebulição de um processo de transformação
que deixaria para trás seus primeiros duzentos e cinquenta anos de infância, e
entrava lentamente na adolescência que antecedia a mocidade do Império”.
“Como
se não bastasse a história desse antepassado, importante por si somente, no
resgate feito por Luiz Fernando fica demonstrada a marcante presença de sua
descendência em momentos cruciais no tempo e espaço nordestinos, qual seja a
Revolução de 1817; a participação na Guerra do Paraguai; bem como, até mesmo, a
resistência heroica oferecida naquela que foi a mais violenta eleição política
no Rio Grande do Norte, a de 1934/1935, aos desatinos do Interventor Mário
Câmara e ao Governo de Getúlio Vargas”.
Eis,
pois, o resultado: uma malha histórica profunda, solidamente alicerçada em
pesquisas da melhor qualidade, revelando um Rio Grande do Norte arcaico,
conhecido apenas em alguns recortes específicos, e suas relações com o Nordeste
e o Brasil, através das grandes famílias que o povoaram.
E
a redenção, digamo-lo assim, de personagens e episódios que jaziam esquecidos
nas sombras do nosso passado.
Trabalho
meticuloso, necessário e definitivo.
Vem mais por aí. Muito mais.
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