Não esqueçamos que nossas afirmações,
se disserem respeito ao que são as coisas ou aos fenômenos, somente podem ser
consideradas verdadeiras ou falsas quando submetidas a testes. Uma afirmação
tal qual “Fulano pesa 100 kg” somente será verdadeira ou falsa se pesarmos
Fulano; assim também uma afirmação tal qual “o aumento excessivo de impostos induz
a sonegação” somente será verdadeira ou falsa se realizarmos uma pesquisa de
natureza estatística para constatarmos ou não a veracidade dessa hipótese.
Se
não pudermos testar nossas afirmações elas são consideradas juízos de valor.
Neste caso tais afirmações não dizem respeito ao que são as coisas ou
fenômenos, mas dizem respeito ao que queremos ou acreditamos que elas sejam. Assim
o é também em relação a valores como amor, ódio, justiça, paz, e assim por diante,
que estão fora da análise científica. Uma afirmação semelhante a “O Direito no
ano 3000 não existirá” não é possível ser testada; assim também uma afirmação
tal semelhante a “O Direito é um instrumento para alcançarmos o Justo” tampouco
pode ser testada. Ambas são afirmações retóricas. Neste exemplo específico é
bom sempre reiterar que não existe um Justo-Em-Si-Mesmo: ele é sempre
construção do Homem e é modificado de acordo com as circunstâncias históricas.
Trata-se,
no texto acima, de epistemologia básica e lógica primária apresentada de forma
esquemática. Evidente que a questão é bastante
complexa em si mesma e a esse respeito já foram escritos rios de tinta.
Entretanto
é importante esse conhecimento esquemático prévio para o exercício do ceticismo
sadio, da crítica metódica. Com esse exercício nos capacitamos a questionar as
afirmações retóricas constantes da literatura pseudo-científica em qualquer
área, os textos inchados de forma e vazios de conteúdo, os discursos supostamente
eruditos que surfam nas superfícies das coisas e dos fenômenos. E nos tornamos
menos dependentes da opinião dos outros.
Para
quem navega no nada, se é que no nada se navega, já é muita coisa...
2 comentários:
Mestre Honório, o problema de se agir assim é que a pessoa passa a ter o trabalho de pensar. E para alguns, como dizia meu saudoso amigo Carlão, parece que pensar dói.
Aqui fico no aguardo de uma continuação, de preferência aprofundado a questão, deste texto. É sempre bom ter a oportunidade de continuar aprendendo com o senhor.
Abraço,
Luiz Roberto
luizrobertomelo@hotmail.com
Professor,não há senso crítico as pessoas julgam com base em palpite e discutem sem nenhum embasamento todos os assuntos.Acreditam em tudo e não duvidam de nada ou vice versa.
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