Rodrigo Baia
"O ser humano se torna triste e solitário quando ele descobre que..." (Clarice Lispector)
Em meados de 2007, no final da minha adolescência, conheci
um rapaz chamado "Éri".
Foi em uma época que eu trabalhava na região
do Centro de SP, Praça da República. Éri vivia nas ruas, tinha em torno de 30
anos e era um exímio tocador de saxofone.
Naquela época eu estava passando por
muitos conflitos emocionais, pessoais, profissionais, familiares... Enfim,
conflitos de todas as ordens. Mas me recordo bem que o frio açoitava a pele
das pessoas nas ruas.
Eu saia do escritório onde eu trabalhava, no 13º andar de
um edifício que dava vista para a praça e, no caminho da parada de ônibus,
ainda com um cigarro aceso, sempre parava para ouvir os discursos do mendigo
Éri, que falava sobre Kafka e Karl Marx, dentre outros.
As vezes não o
encontrava no caminho da parada, mas ouvia, vindo de algum lugar na Praça da
Republica o melancólico lamento de seu sax, ao tocar "Unforgettable".
Parecia uma sincronia, pois enquanto eu terminava o cigarro, ainda podia ouvir
as ultimas notas de seu lamento.
Depois de tudo, sempre passava algum tempo
tentando descobrir o que poderia ter levado um rapaz bonito, jovem, culto e
inteligente à empunhar apenas um saxofone velho, e enfrentar as ruas e o
rigoroso inverno de São Paulo... Tanta vida, tanto talento e, principalmente
tantas coisas para serem contadas estavam simplesmente resvalando na gélida
sujeira do Centro.
Hoje entendo o que
pode ter acontecido de tão grave, o que pode ter levado Éri a desistir de tudo,
de todos e se igualar despudoradamente aos que pedem, aos que não têm nada.
Talvez o mendigo tenha descoberto que de fato nunca teve nada. E quando acordou
para essa realidade, o frio e as ruas viraram seu maior bem, seu melhor
aconchego.
Arte em fabiomozar.blogspot.com
Um comentário:
Esse texto belo me fez rever o centro de São Paulo. Da Barão de Itapetininga, da Sete de Abril, desaguando na Praça D. José Gaspar...Abraço de François.
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