Honório de
Medeiros
Quarta
teoria: o ataque a Mossoró resultou de um plano político (segunda parte)
QUESTÕES SEM
RESPOSTA (continuação)
Décima-terceira: por qual
razão aqueles que atenderam ao apelo do Prefeito em defesa de Mossoró eram, em
sua grande maioria, da família Fernandes ou seus correligionários, como os
Duarte, enquanto a oposição sumiu?
Décima-quarta: por qual
razão calaram-se o juiz e o promotor de Mossoró em relação ao ataque e à morte
de Jararaca? Por qual razão o juiz da cidade não foi à reunião na casa de
Rodolfo Fernandes, nem participou da defesa de Mossoró?
Décima-quinta: por qual
razão “Pinga-Fogo”, irmão de Massilon, este ligado aos Coronéis Quincas e
Benedito Saldanha, estava sempre ao lado de Antônio Gurgel, irmão de Tylon
Gurgel[1], e não dava a mesma
atenção aos outros reféns[2]?
Ordens de Massilon? Tylon Gurger era correligionário dos Saldanha e sogro de
Décio Holanda[3].
Décima-sexta: o que o
Tenente Laurentino de Morais foi fazer em Natal, na terça-feira, dia 16 de
junho de 1927, três dias depois do ataque a Mossoró, de onde voltou na
quarta-feira, 17, e esperou a quinta, 18, para, alta hora da noite, comandar o
assassinato de Jararaca[5]. Teria ido receber ordens
de seus superiores?
Décima-sétima: por qual
razão em 25 de junho de 1927 Sabino liberou “graciosamente” Antônio Gurgel do
seqüestro e ainda lhe deu dinheiro para sua partida[6]?
Antônio Gurgel
Décima-oitava: por qual
razão Massilon se despediu de Lampião na Fazenda “Letrado” e não procurou, em
seguida, o Coronel Isaías Arruda ou Décio Holanda?
Décima-nona: por qual
razão o Coronel Rodolpho Fernandes publicou carta no jornal “Correio do Povo”,
em 10 de julho de 1927, lamentando ter encontrado referências desairosas a sua
pessoa e depreciação aos seus esforços pelas deliberações alusivas ao dia 13 de
junho?
Vigésima: por qual razão
Jararaca pediu a um policial, na tarde que antecedeu sua morte, para falar em
particular com o Coronel Rodolpho Fernandes? O que Jararaca queria conversar em
particular com o Coronel? Porque ele foi assassinado na noite seguinte ao
pedido? Há alguma relação entre um fato e outro[7]?
Vigésima-primeira: por qual razão os executores de
Jararaca não foram processados durante o Governo José Augusto e Juvenal
Lamartine?
Façamos um intervalo e nos dediquemos a analisar o
episódio da morte de Jararaca, que é bastante revelador.
(...)
no mesmo dia em que fora preso, Jararaca concedera bombástica entrevista ao
jornalista Lauro da Escóssia, do noticiário “O Mossoroense”. Não mediu
palavras.
Mais a
frente, continua o historiador:
Jararaca pisou em terreno minado. Logo
percebeu que tornara pública parte de uma teia intocável. Suas incisivas
declarações puseram em dúvida a probidade moral de destacados chefes políticos
de estados vizinhos. A repercussão das declarações, claro, fora inevitável.
Decerto, o bandido temeu pela própria vida. Pressentira algum perigo. Chamou um
militar, ainda cedo da tarde. Expressou-lhe o desejo de falar em particular com
o Intendente Rodolpho Fernandes. O pedido, no entanto, lhe foi negado sem
maiores explicações. A caserna tinha outros planos para o cangaceiro. À surdina,
ensaiou conspiração. Tramaram abjeto extermínio e apostaram no sigilo. Sem mais
demora executou-se o plano.
Em tudo e por tudo está certo Sérgio Dantas.
Somente errou ao afirmar que as declarações de
Jararaca puseram em dúvida a probidade moral de chefes políticos de estados
vizinhos, e por essa razão temeu pela própria vida.
Não colocou em dúvida a probidade moral de ninguém
fora dos limites de Mossoró ou circunvizinhança, ou, se colocou, por certo
sabia que esses chefes políticos tinham amigos poderosos em Mossoró e
vizinhança. Colocou sim, provavelmente, em dúvida, a probidade moral de alguns
próceres que estavam próximo, bem próximo a ele e aos fatos.
Como seria possível as declarações de Jararaca chegarem
ao Ceará, se a alusão é ao Coronel Isaías Arruda, com a rapidez necessária para
que Jararaca, ao perceber que falara demais, ficasse com medo de morrer?
Naquele tempo não havia telefone. Havia telégrafo. Quem, no entanto, enviaria
informações comprometedoras pelo telégrafo e, através dele, discutiria um plano
para a eliminação do cangaceiro que envolvesse a Polícia, comandada pelo
Tenente Laurentino de Morais e o Governo do Estado do Rio Grande do Norte?
Tenente Laurentino de Moraes
Também não seria possível enviar, a cavalo ou de
automóvel, notícias alusivas à entrevista de Jararaca para os estados vizinhos,
em tempo suficiente – cinco dias - para que houvesse uma decisão acerca de sua
eliminação pela Polícia do Rio Grande do Norte.
Não. O que Jararaca disse e o que queria dizer ainda
mais ao Coronel Rodolpho Fernandes provavelmente incomodou alguém ou alguns que
estavam por perto, perto o suficiente para querer, planejar e mandar mata-lo.
Somente esta hipótese faz sentido em relação ao contexto que vem sendo montado
a partir das indagações anteriores.
Finaliza o pesquisador Sérgio Dantas:
Jararaca
sucumbira. Morreu porque sabia demasiado.
A seguir:
Findou o
terrível salteador nas primeiras horas da manhã. Sua morte, entretanto, já
havia sido decretada há dias. O laudo do exame cadavérico, por exemplo, fora
assinado ainda na tarde do dia dezoito. E assim foi. Horas antes da execução e
sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se ferimentos de um corpo, sofridos
durante uma batalha. Logo depois se chancelava, com base em conclusões
médico-legais, documento de óbito de homem ainda vivo.
Vigésima-segunda:
por qual razão as forças policiais sediadas em Mossoró obedeciam ao comando do
oficial Abdon Nunes, e, não, ao Tenente Laurentino de Morais[9]?
Vigésima-terceira:
por qual razão o laudo cadavérico de Jararaca foi assinado na tarde do dia 18 de junho, antes de
sua morte[10]? De onde partiu a ordem para sua morte? Por qual
razão o Juiz Eufrázio Mário de Oliveira não determinou que fosse aberto um
processo-crime pela morte de Jararaca? Por qual razão o Promotor de Justiça
Abel Coelho não apresentou Denúncia[11] quanto ao crime?
Continua...
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PARA ENTENDER O QUÊ SE EXPÕE AQUI, É CONVENIENTE LER
OS TEXTOS ANTERIORES POSTADOS EM www.honoriodemedeiros.blogspot.com
PROCURE Cangaço, DENTRE OS Marcadores, E LEIA TUDO QUANTO FOI ESCRITO
ACERCA DO TEMA.
[1] Tilon Gurgel do Amaral era irmão do memorialista,
agropecuarista e pecuarista Antônio Gurgel, autor das célebres memórias do
cativeiro ao qual o submeteu Lampião quando atacou Mossoró. “Nasceu no sítio
Brejo, antes pertencente a Apodi, hoje município de Felipe Guerra, a 7 de
janeiro de 1881. Faleceu em 22 de junho de 1968, sendo sepultado no dia
seguinte em Felipe Guerra, cidade do seu nascimento” (“NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; GURGEL,
Antônio; BRITO, Raimundo Soares de; Coleção Mossoroense; Série “C”; v. 1.513;
2ª edição; Mossoró).
[2] Conforme comentário do próprio Antônio Gurgel em
seu famoso diário do fato (ver “NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; GURGEL, Antônio; BRITO,
Raimundo Soares de; Coleção Mossoroense; Série “C”; v. 1.513; 2ª edição;
Mossoró).
[3] Acerca de Décio Holanda, informa o escritor Marcos
Pinto: “Prezado AMIGO HONÓRIO. Saúde e fraternidade. Estive conversando ontem
com um filho de Tilon Gurgel por apelido caboclo, ocasião em que o interroguei
acerca do lugar onde o cunhado dele DÉCIO HOLANDA residia quando faleceu. Segundo o mesmo, o pai Tilon esteve
visitando-o na cidade de Araguarí, na década de 40, em Minas Gerais, onde o
Décio era próspero fazendeiro. Afirmou o
caboclo que o Décio está sepultado nesta cidade Araguari. Sugiro que o amigo envide meios no sentido de
conseguir uma segunda via do óbito do Décio, observando, todavia, que o
mesmo tinha três
nomes: DÉCIO SEBASTIÃO DE
ALBUQUERQUE, DÉCIO HOLANDA
DE ALBUQUERQUE e
DÉCIO ALBUQUERQUE DE HOLANDA. Qualquer notícia inédita a enviarei
pra Vosmincê. Afetuoso abraço, Marcos Pinto”.
[4] Quanto a essa fotografia, postada em meu livro
“MASSILON” como sendo de Zé Leite, pai de Pinga-Fogo e de Massilon, recebi um
e-mail do Professor e estudioso José Tavares de Araújo Neto, de Pombal,
Paraíba, nos seguintes termos: “Prezado Professor Honório. Acuso o recebimento
do livro, o qual ja entreguei nesta tarde ao Sr. Valdecir. Ele ficou radiante
de alegria e pediu para eu retransmiti-lo os seus sinceros agradecimentos.
Quanto à fotografia, ele disse que tinha 100% de certeza que Pinga Fogo é o
senhor mais idoso que encontra-se a direita. Disse que a moça é filha de pinga
fogo e chama-se Mista, mas não tem certeza se o senhor do centro é seu esposo
ou irmão. Mas segundo Valdecir o certo é que Mista é sua prima, filha de seu
tio Pinga Fogo. No Maranhão Pinga Fogo contituiu uma familia de 10 filhos,
entre homens e mulheres. Valdecir disse que esta fotografia foi trazida do
Maranhão pelo seu tio Anezio e
distribuida com os parentes mais proximos aqui na Paraiba e sua mãe ganhou uma
dessa fotos! Sem mais para o momento, agradeço a atenção!”.
[5] Artigo de Lauro
da Escócia, “Ataque de Lampião”, em “MOSSORÓ E O CANGAÇO”, SBEC, vol. V;
Fundação Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; série “C”; volume 950; 1997;
Mossoró, RN.
[7] “MOSSORÓ E O CANGAÇO”, SBEC, vol. V; Fundação
Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; série “C”; volume 950; 1997; Mossoró, RN.
[8] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”.
[9] Em 9 de janeiro de 2012 recebi, como comentário a
texto postado em meu blog www.honoriodemedeiros.blogspot.com, a seguinte contribuição do Coronel Ângelo Dantas,
autor de “Cronologia da Polícia Militar do Rio Grande do Norte”: “Amigo Honório:
Sobre mais esse excelente artigo seu, desejo fazer alguns comentários. Por
enquanto farei apenas um: Em relação à observação de nº 14 - quem dava as
ordens era Laurentino ou Abdon Nunes. Esclareço o seguinte: O delegado e
comandante da fração de tropa em Mossoró (em junho de 1927) realmente era o
SEGUNDO (2º) TENENTE Laurentino Ferreira de Morais. O PRIMEIRO (1º) TENENTE
Abdon Nunes de Carvalho estava ali apenas como reforço - tinha ido de Angicos
para lá. Em razão de uma das pilastras básicas da vida militar (HIERARQUIA),
necessariamente o PRIMEIRO tenente Abdon Nunes passou a ter SUPERIORIDADE sobre
o SEGUNDO tenente Laurentino. Salvo engano tinha um outro 2º tenente empenhado
na mesma operação. Assim, realmente quando Abdon Nunes chegou a Mossoró ele
assumiu o comando militar local, por força do imperativo hierarquico reinante. Mas
de fato e de direito a autoridade de policia judiciária continuou sendo o 2º
tenente Laurentino Ferreira de Morais (pai do tenente coronel médico Leide
Morais - já falecido, e avô do capitão médico da reserva não remunerada Kleber
de Melo Morais - atual diretor da maternidade Januário Cicco). Hoje em dia os
postos dos oficiais da PM são representadas por estrelas nos uniformes. Naquele
tempo de Lampião as insignias eram representadas pelo chamado "Laço
Hungaro". Particularmente eu acho muito mais bonito o laço. Espero ter
contribuído de alguma forma. Grande abraço. Angelo Mário.”
[10] Sérgio Dantas, “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”.
[11] Sérgio Dantas me lembrou, por e-mail, que Raimundo
Soares de Brito lhe dissera ter Vingt-Un Rosado, filho de Jerônimo Rosado, lhe
informardo que os processos-crimes alusivos a esses crimes queimaram em um
incêndio no Cartório local. Não
encontrei qualquer informação a esse respeito em lugar algum. Um interrogatório
realizado em Mossoró, com Bronzeado, a mando da justiça de Pau dos Ferros,
aparece isolado, fazendo parte do processo-crime lá instaurado. Claro que se
houve esse incêndio, e não há registro de tal, nada impediria que os autos
fossem refeitos e os responsáveis julgados.
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