quarta-feira, 24 de outubro de 2012

OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: QUARTA E ÚLTIMA TEORIA, SEGUNDA PARTE


Honório de Medeiros 

Quarta teoria: o ataque a Mossoró resultou de um plano político (segunda parte) 

QUESTÕES SEM RESPOSTA (continuação) 

Décima-terceira: por qual razão aqueles que atenderam ao apelo do Prefeito em defesa de Mossoró eram, em sua grande maioria, da família Fernandes ou seus correligionários, como os Duarte, enquanto a oposição sumiu? 

Décima-quarta: por qual razão calaram-se o juiz e o promotor de Mossoró em relação ao ataque e à morte de Jararaca? Por qual razão o juiz da cidade não foi à reunião na casa de Rodolfo Fernandes, nem participou da defesa de Mossoró?  

Décima-quinta: por qual razão “Pinga-Fogo”, irmão de Massilon, este ligado aos Coronéis Quincas e Benedito Saldanha, estava sempre ao lado de Antônio Gurgel, irmão de Tylon Gurgel[1], e não dava a mesma atenção aos outros reféns[2]? Ordens de Massilon? Tylon Gurger era correligionário dos Saldanha e sogro de Décio Holanda[3].
 

 

Pinga-Fogo é o mais velho[4] 

Décima-sexta: o que o Tenente Laurentino de Morais foi fazer em Natal, na terça-feira, dia 16 de junho de 1927, três dias depois do ataque a Mossoró, de onde voltou na quarta-feira, 17, e esperou a quinta, 18, para, alta hora da noite, comandar o assassinato de Jararaca[5]. Teria ido receber ordens de seus superiores? 

Décima-sétima: por qual razão em 25 de junho de 1927 Sabino liberou “graciosamente” Antônio Gurgel do seqüestro e ainda lhe deu dinheiro para sua partida[6]?
 
 
Antônio Gurgel
 

Décima-oitava: por qual razão Massilon se despediu de Lampião na Fazenda “Letrado” e não procurou, em seguida, o Coronel Isaías Arruda ou Décio Holanda? 

Décima-nona: por qual razão o Coronel Rodolpho Fernandes publicou carta no jornal “Correio do Povo”, em 10 de julho de 1927, lamentando ter encontrado referências desairosas a sua pessoa e depreciação aos seus esforços pelas deliberações alusivas ao dia 13 de junho? 

Vigésima: por qual razão Jararaca pediu a um policial, na tarde que antecedeu sua morte, para falar em particular com o Coronel Rodolpho Fernandes? O que Jararaca queria conversar em particular com o Coronel? Porque ele foi assassinado na noite seguinte ao pedido? Há alguma relação entre um fato e outro[7]? 

Vigésima-primeira: por qual razão os executores de Jararaca não foram processados durante o Governo José Augusto e Juvenal Lamartine? 

Façamos um intervalo e nos dediquemos a analisar o episódio da morte de Jararaca, que é bastante revelador. 

Sérgio Dantas[8] nos conta, acerca do episódio, o seguinte: 

(...) no mesmo dia em que fora preso, Jararaca concedera bombástica entrevista ao jornalista Lauro da Escóssia, do noticiário “O Mossoroense”. Não mediu palavras.

 Mais a frente, continua o historiador: 

 Jararaca pisou em terreno minado. Logo percebeu que tornara pública parte de uma teia intocável. Suas incisivas declarações puseram em dúvida a probidade moral de destacados chefes políticos de estados vizinhos. A repercussão das declarações, claro, fora inevitável. Decerto, o bandido temeu pela própria vida. Pressentira algum perigo. Chamou um militar, ainda cedo da tarde. Expressou-lhe o desejo de falar em particular com o Intendente Rodolpho Fernandes. O pedido, no entanto, lhe foi negado sem maiores explicações. A caserna tinha outros planos para o cangaceiro. À surdina, ensaiou conspiração. Tramaram abjeto extermínio e apostaram no sigilo. Sem mais demora executou-se o plano. 

Em tudo e por tudo está certo Sérgio Dantas. 

Somente errou ao afirmar que as declarações de Jararaca puseram em dúvida a probidade moral de chefes políticos de estados vizinhos, e por essa razão temeu pela própria vida. 

Não colocou em dúvida a probidade moral de ninguém fora dos limites de Mossoró ou circunvizinhança, ou, se colocou, por certo sabia que esses chefes políticos tinham amigos poderosos em Mossoró e vizinhança. Colocou sim, provavelmente, em dúvida, a probidade moral de alguns próceres que estavam próximo, bem próximo a ele e aos fatos. 

Como seria possível as declarações de Jararaca chegarem ao Ceará, se a alusão é ao Coronel Isaías Arruda, com a rapidez necessária para que Jararaca, ao perceber que falara demais, ficasse com medo de morrer? Naquele tempo não havia telefone. Havia telégrafo. Quem, no entanto, enviaria informações comprometedoras pelo telégrafo e, através dele, discutiria um plano para a eliminação do cangaceiro que envolvesse a Polícia, comandada pelo Tenente Laurentino de Morais e o Governo do Estado do Rio Grande do Norte?
 
 
Tenente Laurentino de Moraes
 

Também não seria possível enviar, a cavalo ou de automóvel, notícias alusivas à entrevista de Jararaca para os estados vizinhos, em tempo suficiente – cinco dias - para que houvesse uma decisão acerca de sua eliminação pela Polícia do Rio Grande do Norte. 

Não. O que Jararaca disse e o que queria dizer ainda mais ao Coronel Rodolpho Fernandes provavelmente incomodou alguém ou alguns que estavam por perto, perto o suficiente para querer, planejar e mandar mata-lo. Somente esta hipótese faz sentido em relação ao contexto que vem sendo montado a partir das indagações anteriores. 

Finaliza o pesquisador Sérgio Dantas: 

Jararaca sucumbira. Morreu porque sabia demasiado. 

A seguir: 

Findou o terrível salteador nas primeiras horas da manhã. Sua morte, entretanto, já havia sido decretada há dias. O laudo do exame cadavérico, por exemplo, fora assinado ainda na tarde do dia dezoito. E assim foi. Horas antes da execução e sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se ferimentos de um corpo, sofridos durante uma batalha. Logo depois se chancelava, com base em conclusões médico-legais, documento de óbito de homem ainda vivo. 

Vigésima-segunda: por qual razão as forças policiais sediadas em Mossoró obedeciam ao comando do oficial Abdon Nunes, e, não, ao Tenente Laurentino de Morais[9]? 

Vigésima-terceira: por qual razão o laudo cadavérico de Jararaca foi assinado na tarde do dia 18 de junho, antes de sua morte[10]? De onde partiu a ordem para sua morte? Por qual razão o Juiz Eufrázio Mário de Oliveira não determinou que fosse aberto um processo-crime pela morte de Jararaca? Por qual razão o Promotor de Justiça Abel Coelho não apresentou Denúncia[11] quanto ao crime?
 
Continua... 

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PARA ENTENDER O QUÊ SE EXPÕE AQUI, É CONVENIENTE LER OS TEXTOS ANTERIORES POSTADOS EM www.honoriodemedeiros.blogspot.com PROCURE Cangaço, DENTRE OS Marcadores, E LEIA TUDO QUANTO FOI ESCRITO ACERCA DO TEMA.


[1] Tilon Gurgel do Amaral era irmão do memorialista, agropecuarista e pecuarista Antônio Gurgel, autor das célebres memórias do cativeiro ao qual o submeteu Lampião quando atacou Mossoró. “Nasceu no sítio Brejo, antes pertencente a Apodi, hoje município de Felipe Guerra, a 7 de janeiro de 1881. Faleceu em 22 de junho de 1968, sendo sepultado no dia seguinte em Felipe Guerra, cidade do seu nascimento” (“NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; GURGEL, Antônio; BRITO, Raimundo Soares de; Coleção Mossoroense; Série “C”; v. 1.513; 2ª edição; Mossoró).
 
[2] Conforme comentário do próprio Antônio Gurgel em seu famoso diário do fato (ver “NAS GARRAS DE LAMPIÃO”; GURGEL, Antônio; BRITO, Raimundo Soares de; Coleção Mossoroense; Série “C”; v. 1.513; 2ª edição; Mossoró).
 
[3] Acerca de Décio Holanda, informa o escritor Marcos Pinto: “Prezado AMIGO HONÓRIO. Saúde e fraternidade. Estive conversando ontem com um filho de Tilon Gurgel por apelido caboclo, ocasião em que o interroguei acerca do lugar onde o cunhado dele DÉCIO HOLANDA residia quando faleceu.  Segundo o mesmo, o pai Tilon esteve visitando-o na cidade de Araguarí, na década de 40, em Minas Gerais, onde o Décio era próspero fazendeiro.  Afirmou o caboclo que o Décio está sepultado nesta cidade Araguari.  Sugiro que o amigo envide meios no sentido de conseguir uma segunda via do óbito do Décio, observando, todavia, que  o  mesmo  tinha  três  nomes:  DÉCIO  SEBASTIÃO DE  ALBUQUERQUE,  DÉCIO  HOLANDA  DE  ALBUQUERQUE  e  DÉCIO  ALBUQUERQUE DE   HOLANDA. Qualquer notícia inédita a enviarei pra Vosmincê. Afetuoso abraço, Marcos Pinto”.
 
[4] Quanto a essa fotografia, postada em meu livro “MASSILON” como sendo de Zé Leite, pai de Pinga-Fogo e de Massilon, recebi um e-mail do Professor e estudioso José Tavares de Araújo Neto, de Pombal, Paraíba, nos seguintes termos: “Prezado Professor Honório. Acuso o recebimento do livro, o qual ja entreguei nesta tarde ao Sr. Valdecir. Ele ficou radiante de alegria e pediu para eu retransmiti-lo os seus sinceros agradecimentos. Quanto à fotografia, ele disse que tinha 100% de certeza que Pinga Fogo é o senhor mais idoso que encontra-se a direita. Disse que a moça é filha de pinga fogo e chama-se Mista, mas não tem certeza se o senhor do centro é seu esposo ou irmão. Mas segundo Valdecir o certo é que Mista é sua prima, filha de seu tio Pinga Fogo. No Maranhão Pinga Fogo contituiu uma familia de 10 filhos, entre homens e mulheres. Valdecir disse que esta fotografia foi trazida do Maranhão  pelo seu tio Anezio e distribuida com os parentes mais proximos aqui na Paraiba e sua mãe ganhou uma dessa fotos! Sem mais para o momento, agradeço a atenção!”.
 
[5] Artigo de Lauro da Escócia, “Ataque de Lampião”, em “MOSSORÓ E O CANGAÇO”, SBEC, vol. V; Fundação Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; série “C”; volume 950; 1997; Mossoró, RN.
 
[6] Raimundo Nonato, “LAMPIÃO EM MOSSORÓ”.
 
[7] “MOSSORÓ E O CANGAÇO”, SBEC, vol. V; Fundação Vingt-Un Rosado; Coleção Mossoroense; série “C”; volume 950; 1997; Mossoró, RN.
 
[8] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”.
 
[9] Em 9 de janeiro de 2012 recebi, como comentário a texto postado em meu blog www.honoriodemedeiros.blogspot.com, a seguinte contribuição do Coronel Ângelo Dantas, autor de “Cronologia da Polícia Militar do Rio Grande do Norte”: “Amigo Honório: Sobre mais esse excelente artigo seu, desejo fazer alguns comentários. Por enquanto farei apenas um: Em relação à observação de nº 14 - quem dava as ordens era Laurentino ou Abdon Nunes. Esclareço o seguinte: O delegado e comandante da fração de tropa em Mossoró (em junho de 1927) realmente era o SEGUNDO (2º) TENENTE Laurentino Ferreira de Morais. O PRIMEIRO (1º) TENENTE Abdon Nunes de Carvalho estava ali apenas como reforço - tinha ido de Angicos para lá. Em razão de uma das pilastras básicas da vida militar (HIERARQUIA), necessariamente o PRIMEIRO tenente Abdon Nunes passou a ter SUPERIORIDADE sobre o SEGUNDO tenente Laurentino. Salvo engano tinha um outro 2º tenente empenhado na mesma operação. Assim, realmente quando Abdon Nunes chegou a Mossoró ele assumiu o comando militar local, por força do imperativo hierarquico reinante. Mas de fato e de direito a autoridade de policia judiciária continuou sendo o 2º tenente Laurentino Ferreira de Morais (pai do tenente coronel médico Leide Morais - já falecido, e avô do capitão médico da reserva não remunerada Kleber de Melo Morais - atual diretor da maternidade Januário Cicco). Hoje em dia os postos dos oficiais da PM são representadas por estrelas nos uniformes. Naquele tempo de Lampião as insignias eram representadas pelo chamado "Laço Hungaro". Particularmente eu acho muito mais bonito o laço. Espero ter contribuído de alguma forma. Grande abraço. Angelo Mário.”
 
[10] Sérgio Dantas, “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”.
 
[11] Sérgio Dantas me lembrou, por e-mail, que Raimundo Soares de Brito lhe dissera ter Vingt-Un Rosado, filho de Jerônimo Rosado, lhe informardo que os processos-crimes alusivos a esses crimes queimaram em um incêndio no Cartório local.  Não encontrei qualquer informação a esse respeito em lugar algum. Um interrogatório realizado em Mossoró, com Bronzeado, a mando da justiça de Pau dos Ferros, aparece isolado, fazendo parte do processo-crime lá instaurado. Claro que se houve esse incêndio, e não há registro de tal, nada impediria que os autos fossem refeitos e os responsáveis julgados. 

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