Honório de Medeiros
Algum tempo atrás o
Fórum Nacional da Previdência debateu, mais uma vez, os problemas da
Previdência Nacional, e uma das propostas discutidas constava em um relatório
elaborado por Vicente Falconi, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial
(INDG), de Minas Gerais, o mesmo que foi responsável, entre 2002-2006, pelo
choque de gestão pelo qual passou o Governo de Minas e que culminou em zerar o
déficit orçamentário, que era de 2,3 bilhões de reais, originando um saldo para
investimentos, na época, de mais de três bilhões.
Há algo de
original, quanto à gestão pública, na “doutrina” Falconi? Não. Na verdade
Falconi resgatou, para o setor público, o conceito “PDCA” (Planejar,
Desenvolver, Checar e Agir) desenvolvido no Japão, mas criado nos EUA na década
de 20, para a iniciativa privada.
Agregue-se ao PDCA,
mais especificamente no P, de Planejar, os famosos “o quê, porque, como e
quando”, que a sopinha de letras está completa e o planejamento estratégico,
pelo menos no papel, aparece perfeito.
Na verdade,
conforme a própria literatura acerca de gestão pública aponta, o grande
problema está no “Checar”. Tradicionalmente as administrações públicas deixam
de lado, quando existe algum planejamento – e o mais das vezes os governos
começam sem nenhum – a atividade de checar e padronizar, se tudo estiver
correndo bem, ou checar e corrigir, se algo não estiver dando certo.
E deixam de lado
graças a uma série de componentes dentre os quais avulta, pela importância, o
despreparo e a falta de compromisso com aquilo para o qual foram conduzidos
pelo voto popular, dos líderes políticos.
Não há checagem porque
não é dado prazo para o alcance da meta. Não é dado prazo porque não há decisão
política de cobrar resultados quando ele termina.
Pior: mesmo que
houvesse prazos, o mau gestor não seria punido, vez que a razão principal de
sua presença no “staff” decorre de conchavos políticos ou premiação espúria por
conduta partidária.
Não há
acompanhamento rígido do planejamento estabelecido por que os compromissos
políticos dobram as necessidades administrativas e todo o planejamento – quando
o há – rui por terra já no primeiro ano de administração.
Então podemos
creditar o sucesso do choque de gestão em Minas Gerais à decisão política do
Governador de implementá-la, contra tudo e contra todos. Acredito plenamente
que deve ter importado sobremaneira a capacidade de Falconi no sentido de
convencer o Governador Aécio Neves de que era possível alcançar as metas
estabelecidas se houvesse respaldo às ações a serem desenvolvidas. Caso
contrario teríamos mais uma boa intenção condenada. E o inferno, dizem, está
cheio de boas intenções.
O respaldo ao qual
aludo acima é, principalmente, no sentido de punir todos quanto não estejam
plenamente integrados ao planejamento. Se a checagem mostra que a meta não foi
alcançada e isso não aconteceu por falta de competência ou interesse, então o
gestor intermediário, ou seja, o responsável terá que se afastado imediatamente
sob pena de comprometer o esforço total. Esse elo da engrenagem que não
funciona é como uma célula cancerosa: se não for destruída imediatamente vai
originar uma metástase no futuro.
Portanto não há
segredo. O problema é político. Embora seja necessário ressaltar: a tarefa de
criar e conduzir esse processo demanda um “know-how” que não é para qualquer
um. Existem ingredientes para além da “sopinha de letras” que somente são
detectados, analisados e integrados por quem é do ramo: o gestor tem que ter vocação,
talento e disciplina.
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