Ernesto Sábato
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Em 30 de abril de 2011, por Franklin Jorge (http://www.franklinjorge.com/):Arqui-rival de Jorge Luis Borges, Ernesto Sábato engrandeceu as letras argentinas e castelhanas, como escritor e pensador excruciado pela angústia de existir em um mundo marcado pela violência e a injustiça social. Cientista e artista plástico, freqüentou o grupo de surrealistas franceses, porém acabou por se tornar romancista, autor de uma obra importante mas não popular, pois é daqueles que obrigam o leitor a pensar.
Conhecido, sobretudo, por seu romance “Sobre Heróis e Tumbas”, uma monumental e misteriosa alegoria da América Latina e do nosso tempo, escreveu não apenas ficção. “O Escritor e Seus Fantasmas”, posteriormente enriquecido com “Meus Fantasmas”, uma longa e didática entrevista concedida a seu velho amigo Carlos Catania, publicados no Brasil pela Editora Francisco Alves, reproduzem suas idéias acerca da vida e da criação literária, constituindo-se, pois, em verdadeiros repositórios de sua experiência pessoal e estética e, a um tempo, valioso guia para outros autores e curiosos da literatura.
Li e reli esses livros, desde o seu lançamento, ainda nos anos oitenta do século passado, deles extraindo lições e motivos de reflexão que enriqueceram sobremaneira minha própria prática literária, pois sou desses que buscam o conhecimento que resulta da experiência alheia e, ao contrário de muitos outros escritores, não se acanham de aprender com quem sabe ou viveu mais.
A princípio não tinha nenhuma simpatia por Sábato, por causa de sua obstinada ojeriza a Borges, um autor que admirei desde que o li pela primeira vez, primeiro como poeta e depois como prosador e, por ser ele, Borges, além de humanista o guardião de um saber universal, um dos grandes mestres e estilistas de todos os tempos.
Depois, tornei-me amigo de uma grande escritora com quem ele se relacionou – chegou a pensar em casar com ela – e que, no curso de nossa amizade, chegou a me contar muita coisa a seu respeito, através de preciosa correspondência e de conversas até sua morte, em 1984. Claro está que me refiro a Luisa Mercedes Levinson, que escreveu a quatro mãos, com Borges, um conto – “La Hermana de Eloisa”, com o qual o deputado José Dias me presenteou, ao voltar de uma viagem à Argentina.
Considerando o escritor e o artista herdeiros do mito e da magia, quando interrogado sobre que espécie de conselho daria a um aspirante das letras, recomenda Sábato que o mesmo escreva até não poder mais, “quando se der conta de que não escrever o levará à loucura”. E, a seguir, que recomece a escrever “a mesma coisa”, em busca do aprofundamento, com os meios mais eficazes e uma experiência enriquecida com um pouco mais de desespero.
Uma lição feita de experiência que serve a todos os que se empenham em criar uma obra e que resume, sem excesso nem retórica, toda a estética de Sábato.
Nomeado pelo presidente Alfonsín para conduzir o grupo de civis que investigou as atrocidades cometidas pela Junta Militar que governou o seu país, numa época não muito remota, da qual resultou o documento “Tortura Nunca Mais”, Ernesto Sábato considera-se, antes de tudo, um homem de conflitos, pois para ele a única coisa estável nesta vida é a morte. Afinal, ser diferente não significa ser pior nem melhor, mas tão-somente diverso. E, como não existe cultura fundada na indiferença e na frieza, quando lhe falta a vivacidade a cultura se transforma em objeto de erudição. Justamente o oposto da vida.
A paixão é, para Sábato, o único combustível que não pode faltar ao artista. O criador seria o inverso do literato embotado pelo hábito e infenso às formulações novas.
Testemunha inflexível do nosso tempo, um tempo de desastres e reveses, como disse Bardiaiev da História, o autor de “Abadon, o Exterminador”, declara-se um defensor da sagrada indisciplina dos artistas, que são pessoas que vivem constantemente em estado de alerta e se propõem a levar adiante numerosos objetivos, geralmente turbados ou deformados pelas circunstâncias. E, escrever, um modo de enxergar as coisas.
Publicado em "O Santo Ofício"
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