por Woden Madruga
Osama Bin Laden teria morrido mesmo? Há controvérsias. No rastro da notícia que sacudiu o mundo na madrugada de segunda-feira surge uma esteira de dúvidas, de incertezas, muitas delas já expostas em manchetes de todos os jornais, nos comentários de especialistas polítocos da tevê e no infinito da internet. Falta o corpo do terrorista para provar a morte do líder da Al Qaeda surpreendido pelos militares norte-americanos na casa-fortaleza de Abbottabad, no Paquistão. O governo americano afirmou que o corpo foi jogado ao mar. Foi mesmo? Ainda não se exibiu nenhuma prova. Ontem mesmo pela internet fiquei sabendo que o presidente Barack Obama vem sofrendo pressões de todos os lados para que se prove a morte de Bin Laden.
Há muitas versões sobre o que aconteceu na casa dos arredores de Abbottabd. Uns dizem que Bin Laden não estava armado, mas reagiu. Reagiu como? Fontes do Pentágono afirmam que o terrorista foi executado no terceiro andar da casa, mas uma filha de Bin Laden, que viu tudo, declarou que o pai e toda a família estavam no primeiro andar. Tem ainda a versão de quem atirou em Bin Laden não foi nenhum militar norte-americano, mas sim gente de sua guarda pessoal. Quantas pessoas foram mortas? Não se tem o número exato. O governo americano tem noticiado que “apenas o corpo de Bin Laden foi levado do Paquistão”. Já fontes do governo do Paquistão disseram que o corpo de um possível filho seu também foi levado.
E se Bin Laden aparecer por aí, daqui a uns dias, vivo e forte, com seus quase dois metros de altura, numa daquelas cavernas das montanhas que dividem o Paquistão do Afeganistão? Essa hipótese estava sendo levantada no papo de ontem à tarde (de depois da chuva) na calçada do Cova da Onça. O mestre Gaspar, por sinal, além de misterioso se mostrava muito incrédulo. Chegou mesmo a afirmar que essa história está sendo contada em metades. Por exemplo – perguntava - onde é que estão os corpos dos mensageiros de Bin Laden? Quem eram esses caras? E arrematava: Eu quero ver é o rosto de Bin Laden morto com atestado reconhecido em cartório. Outra coisa, perguntou ainda: Em que mar os americanos jogaram o corpo do cara? Próximo de qual ilha?
A discussão só terminou quando a noite começava a descer sobre a velha Ribeira e lá do cais soprou um vento frio. Foi quando o poetinha Carlos Castilho, vindo do Carneirinho de Ouro, se aproximou da roda e, se inteirando do assunto, tirou de um dos bolsos do casaco um pedaço de papel onde estava impresso um comentário de Xico Sá, da Folha de S. Paulo, fazendo comparações entre a morte de Bin Laden e a do nosso Lampião. Fez um silêncio sepulcral, como se dizia no tempo de José de Alencar, para ouvir a leitura de Castilho, debulhando o texto do jornalista e escritor. Xico Sá conta:
- A falsa cabeça do terrorista Bin Laden revelada fartamente ao mundo inteiro nesta manhã (segunda-feira, 2) nos remete a outra imagem clássica e verdadeira: a das cabeças cortadas de Lampião e o seu bando. Na ausência de uma cadeia midiática à época, ano de 1938, as “forças do bem”, formada por governos e policiais estaduais do Nordeste, promoveram uma excursão com os crânios, exibindo a carnificina em cidades das margens do rio São Francisco.
- O enredo que seria mostrado dias depois nos jornais e revistas também é igual ao de hoje. O de um filme de Hollywood com o velho triunfo óbvio do mocinho contra o bandido. Também com Bin Laden, Lampião e os seus bandoleiros já estavam em decadência, acossados pela modernidade que chegava ao Nordeste em formas de construção de estradas e importação de armas mais avançadas.
- Como a morte de Lampião não se deu automaticamente o fim do cangaço. Vários bandos continuariam em atividade pelo menos até o começo dos anos 1960. Esse breve comentário não deve ser lido como uma comparação histórica ao pé da letra. Nem moral para isso tem esse pobre cronista de costumes. É só uma viagem despertada nesta manhã pela falsa ou verdadeira cabeça-troféu de Osama Bin Laden.
O poeta Castilho quase embarga a voz no final da leitura que deixou arrepiados todos da roda. Aí começou a chover outra vez na Ribeira penosa e úmida.
Um comentário:
Muito bom Honório, permita "pescar" para o Cariri Cangaço.
SEvero
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