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sábado, 24 de setembro de 2022

INVESTIGAÇÃO PARCIAL ACERCA DA SOLIDÃO (ensaio)

 * Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)




MEDEIROS, Honório de. Investigação Parcial Acerca da Solidão. Natal: Nossa Editora. 1984.


PREFÁCIO


INVESTIGAÇÃO PARCIAL ACERCA DA SOLIDÃO

determinação ou circunstância?

 

* Pedro Simões Neto

 

O livro começou a me interessar a partir do título. A solidão sempre merece uma investigação – mesmo parcial (no duplo sentido).

No Rio Grande do Norte, pelo que sei, é o primeiro trabalho no gênero. E dos raríssimos escritos sobre metafísica. Embora os inéditos repousem, impunes, nas gavetas dos estudiosos.

Sem me decidir se o tema foi determinado, como matéria opcional de investigação, ou circunstancial, produto da análise intro ou extrospectiva, intrigo-me com a revelação da juventude de Honório de Medeiros. Conhecida, evidentemente, nunca intuída ou deduzida, a se julgar pela gravidade do autor/personagem(?).

Surpreende, ainda, o campo de estudos metafísicos empreendido por Honório. O SER, sua existência e sua essência, eis a proposta de experimentações do jovem (?) escritor. Na mesma linha de Liebniz, Bergson, Heidegger, Kierkegaard, Wittgenstein e Sartre – só para alinhar referências.

Mas, ao contrário dos ilustrados companheiros, Honório inaugura (sua ou dos outros?) solidão, partindo de uma escritura intrigante. Hermética, a princípio, talvez em razão do método de investigação, do enunciado metafísico. Aos poucos, no entanto, vai tecendo a (sua ou dos outros?) solidão, com extrema desenvoltura dialética, com liberdade poética. A partir daí o tema perde densidade metodológica e conquista, com bastante vantagem, a condição de mesa de bar, de cotovelos na janela e olhares presos no vazio. Ganha intensidade humana.

Talvez porque se possa definir a obra como construção pessoal do autor, enquanto singular, interessa menos o tecido de sua composição (a despeito de bem elaborado e original) que o artesão que a tece.

O que levaria um jovem em plena conquista de “status” sócio-cultural e econômico – segundo a cartilha civilizatória ocidental – a manter tal base de estudos?

É bem verdade que as referências históricas (contemporâneas ou não), como que balizam a desesperada busca da juventude, por coisa alguma indexada nos valores ditos culturais da civilização. A procura é introspectiva, não pode ser mensurada por qualquer ordem de grandeza materialista.

O “spleen”, o “Weltmerschz”, os “rebeldes sem causa”, a “geração perdida” ... Aconteceu o Movimento Hippie. O ’68 na França. Schumacher fala do ideal de um homem ajustado a uma sociedade perfeita. Fala com ironia. Como se o ideal humano fosse realmente uma sociedade dadivosa, sacietária ...

Talvez Honório esteja certo. Primeiro é preciso conquistar a essência para delinear a existência. Porque é na essência que ele penetra, afastado o “seu” solitário dos problemas da existência, concedendo-lhe o arbítrio do seu próprio projeto de solidão. Cada qual tece e urde o seu próprio arquétipo solitário, que aos poucos deixa de ter uma causa circunstancial e se afirma como opção existencial.

Um projeto ontogenético? Talvez. Talvez algo mais: uma estação poética obsessiva. Que nos afasta de Orwell, de Toffler, de Berdiaev e de quantos concedem à sociedade, à organização social e política, o projeto existencial do Homem.

Determinação ou circunstância, o “projeto” de solidão de Honório de Medeiros é fascinante. Sobretudo porque nos remete à preocupação com o SER, com o existir.