* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
MEDEIROS, Honório de. Investigação Parcial Acerca da Solidão. Natal: Nossa Editora. 1984.
PREFÁCIO
INVESTIGAÇÃO PARCIAL ACERCA DA SOLIDÃO
determinação ou circunstância?
*
Pedro Simões Neto
O
livro começou a me interessar a partir do título. A solidão sempre merece uma
investigação – mesmo parcial (no duplo sentido).
No
Rio Grande do Norte, pelo que sei, é o primeiro trabalho no gênero. E dos
raríssimos escritos sobre metafísica. Embora os inéditos repousem, impunes, nas
gavetas dos estudiosos.
Sem
me decidir se o tema foi determinado, como matéria opcional de investigação, ou
circunstancial, produto da análise intro ou extrospectiva, intrigo-me com a
revelação da juventude de Honório de Medeiros. Conhecida, evidentemente, nunca
intuída ou deduzida, a se julgar pela gravidade do autor/personagem(?).
Surpreende,
ainda, o campo de estudos metafísicos empreendido por Honório. O SER, sua
existência e sua essência, eis a proposta de experimentações do jovem (?)
escritor. Na mesma linha de Liebniz, Bergson, Heidegger, Kierkegaard,
Wittgenstein e Sartre – só para alinhar referências.
Mas,
ao contrário dos ilustrados companheiros, Honório inaugura (sua ou dos outros?)
solidão, partindo de uma escritura intrigante. Hermética, a princípio, talvez
em razão do método de investigação, do enunciado metafísico. Aos poucos, no
entanto, vai tecendo a (sua ou dos outros?) solidão, com extrema desenvoltura
dialética, com liberdade poética. A partir daí o tema perde densidade
metodológica e conquista, com bastante vantagem, a condição de mesa de bar, de
cotovelos na janela e olhares presos no vazio. Ganha intensidade humana.
Talvez
porque se possa definir a obra como construção pessoal do autor, enquanto
singular, interessa menos o tecido de sua composição (a despeito de bem
elaborado e original) que o artesão que a tece.
O
que levaria um jovem em plena conquista de “status” sócio-cultural e econômico
– segundo a cartilha civilizatória ocidental – a manter tal base de estudos?
É
bem verdade que as referências históricas (contemporâneas ou não), como que
balizam a desesperada busca da juventude, por coisa alguma indexada nos valores
ditos culturais da civilização. A procura é introspectiva, não pode ser
mensurada por qualquer ordem de grandeza materialista.
O
“spleen”, o “Weltmerschz”, os “rebeldes sem causa”, a “geração perdida” ...
Aconteceu o Movimento Hippie. O ’68 na França. Schumacher fala do ideal de um
homem ajustado a uma sociedade perfeita. Fala com ironia. Como se o ideal
humano fosse realmente uma sociedade dadivosa, sacietária ...
Talvez
Honório esteja certo. Primeiro é preciso conquistar a essência para delinear a
existência. Porque é na essência que ele penetra, afastado o “seu” solitário
dos problemas da existência, concedendo-lhe o arbítrio do seu próprio projeto
de solidão. Cada qual tece e urde o seu próprio arquétipo solitário, que aos
poucos deixa de ter uma causa circunstancial e se afirma como opção
existencial.
Um
projeto ontogenético? Talvez. Talvez algo mais: uma estação poética obsessiva.
Que nos afasta de Orwell, de Toffler, de Berdiaev e de quantos concedem à
sociedade, à organização social e política, o projeto existencial do Homem.
Determinação ou circunstância, o “projeto” de solidão de Honório de Medeiros é fascinante. Sobretudo porque nos remete à preocupação com o SER, com o existir.
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