domingo, 11 de junho de 2023

QUE DESTINO TOMAR?

 

Imagem: Honório de Medeiros

Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)


O cheiro da terra molhada pelo orvalho da manhã me acompanha enquanto caminho até a encruzilhada das quatro bocas: que destino tomar? Esvazio a mente de qualquer pensamento e deixo as pernas me levarem. Ouço o sabiá, o galo-de-campina, o bem-te-vi; um cachorro ladra ao longe; zurra um jumento; sigo em frente com o rosto banhado pelos primeiros raios de sol. Além, diviso as ruínas da casa abandonada onde morou Toinha Parteira, que tantas crianças trouxe ao mundo até que a foice de Raimundo, alucinado de ciúme, tirasse a luz dos seus olhos verdes plantados em um rosto moreno, quase negro. Reverencio as ruínas. Sigo em frente. A encruzilhada está mais próxima. Qual será o meu destino? Seu Antônio de Luzia me disse que assim como a Casa do Pai tem muitas moradas, cada passo que nós damos é um destino que escolhemos, e os outros ficam para trás. Isso foi há muito tempo, lá no Feijão, Sítio Canto, Serra da Conceição. Os pardais já se acoloiavam para dormir, fazendo um zoadeiro danado. Eu me lembro que era a hora da coalhada. Peguei o tamborete e segui seu Antônio: ia eu lá perder um quitute daquele? Agora, a história era outra. Pois bem, no final, peguei a trilha da direita que leva à morada do Urubu, cheia de pedras imensas, onde a lenda conta que, em noites, sem lua, os sacis pitam seu fumo enquanto fazem arte com os passantes. Sertão de Deus Dará, 20 de fevereiro de 2023.

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