Imagem: Honório de Medeiros
Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Acordei à meia-noite com um galo cantando desesperado em alguma quebrada próxima. Uma suindara gritou. Na mesma hora Tupã danou-se a latir. Olhei pela réstia da janela e uma claridade opaca, difusa, sobrenatural, tinha tomado conta da Serra. Deitei-me e adormeci novamente. Quando a madrugada chegou, peguei o cajado e saí para caminhar. Era o meu último dia em Vai-Não-Vem. A garoa banhava as plantas, o chão, os bichos, a mata, e as poucas pessoas que eu encontrava. Tudo jururu. Fiz meu percurso respirando água, embriagado de neblina, vendo a passarinhada passar em voo rasante. Não fui no rumo das Quatro-Bocas. Subi até a Pedra da Lua, onde, por vários minutos, me entreguei à liberdade e comunhão com tudo quanto há de mais elementar e profundo se a alma está leve e aberta: a terra, o ar, as pedras, as plantas, a água, a luz solar, os viventes...
Serra de São Bento, 22 de fevereiro de 2023.
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