quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O CURANDEIRO VIROU "COACHING"

* Honório de Medeiros

Abro a rede social e sou inundado por uma maré de anúncios de "coaching". E de comentários de "Coachs" e "Coachees", ou seja, os treinadores e os treinandos. Fico perplexo com o que leio. A propaganda do treinamento é sumamente pretensiosa, o preço, salgadíssimo, e o resultado, bom o resultado é fabuloso para quem ganha dinheiro com isso.

Diz lá a propaganda que o "Coaching" é um "processo que utiliza técnicas, ferramentas e recursos de diversas ciências. Algumas pessoas dizem que Coaching é ciência, mas na realidade é um cocktail, um mix de recursos e técnicas que funcionam em ciências do comportamento (psicologia, sociologia, neurociências) e de ferramentas da administração de empresas, esportes, gestão de recursos humanos, planejamento estratégico e outros."

Não pude deixar de me divertir com a pretensão desse pastiche de auto-ajuda típico da virada do século. Quer dizer que o treinador entende de psicologia, sociologia, neurociência e administração. É um portento, a criatura. Quer dizer que o "coaching" se não for ciência, é um mix de recursos e técnicas que funcionam em várias áreas do conhecimento. Ah, meu Deus...

Diverti-me ainda mais quando li a propaganda de um dos cursos afirmando que todo homem poderia encontrar, em si, o macho-alfa que ele é. Bastaria querer e fazer aquele "coaching". Outro pretendia apresentar o treinando a sua verdadeira essência. Verdadeira essência. O que danado é verdadeira essência? Tem essência que não seja verdadeira?

A capacidade de ser iludido é infinita, no ser humano. E o dom de iludir, também, é o que parece. Penso que é inerente à espécie. Só pode ser. Vai ano, vem ano e tudo se repete como farsa. Muda a roupa, mas o corpo é o mesmo.

Na literatura - entendida esta em seu sentido mais lato - o registro da atividade dos "coachs" é muito antigo: tanto aqueles de antigamente quanto os de hoje trabalham a partir de um insumo básico: aparentam saber em profundidade algo que não sabem, e mistificam astuciosamente alguns "standards" do senso comum, tal qual faziam e fazem cartomantes, numerólogos, terapeutas holísticos, pregadores, magos da "auto-ajuda", mentalistas, em proveito próprio.

Os "coachs" exalam auto-confiança. Andam sempre muito bem "empacotados", lustrosos, sorriso fácil, simpatia à flor da pele. Querem passar a imagem de vencedores a todo custo. Dominam alguns truques óbvios do mentalismo de salão, tais quais técnicas de memorização, para pegar os incautos. São versados na arte de dizer o óbvio de forma sofisticada. Falam em "atitude quântica", "mentalidade holística", "seleção do mais apto".

Ou seja: aparentam saber, para saber aparentar. Não por acaso os melhores, dentre eles, são verdadeiros artistas da mistificação. Alguns até mesmo fundam seitas...

E então, das pessoas que lhes impressionaram, caro leitor, durante os anos de sua vida, seja em que área seja, qual delas mesmo fez o curso de "coaching"? João Paulo II, talvez? Barak Obama? Stephen Hawking? Pelé? Henry Ford? O último prêmio nobel de literatura? Lula?

Acho que Lula fez!

Um comentário:

Unknown disse...

Cruel. Você foi ferinamente cruel..,no desfecho.