Obras
Há uma lógica perversa induzindo o obreirismo (aqui usado, o termo, no sentido de compulsão, por parte do administrador público, em fazer obras) no governante. Essa lógica é ainda mais perversa por praticamente excluir a opção pelas políticas públicas.
Em primeiro lugar o obreirismo é conseqüência de uma demanda específica: a das grandes empresas de construção civil e de serviços – e suas agregadas – que precisam recuperar o montante investido nos candidatos por elas apoiados e, também, convenhamos, como conseqüência de seus proprietários, o mais das vezes, serem integrantes, através de laços familiares ou de compadrio, das elites governantes.
Em segundo lugar o obreirismo é conseqüência de outra demanda específica: a necessidade de encher os cofres raspados da elite política vencedora dos pleitos eleitorais aos quais se candidatou e construir reserva para as futuras demandas político-partidárias.
Em terceiro lugar o obreirismo é conseqüência de outra demanda específica: a de gerar condições de manutenção ou aquinhoamento financeiro dos quadros responsáveis pela gestão pública, sob a alegação de que eles não suportariam sobreviver com a remuneração miserável que lhes paga o exercício de seus cargos.
Esse círculo vicioso – a elite política ser financiada pelas obras e serviços e, como conseqüência, financia-las – consome o que sobra, no orçamento, quando pagos o custeio da máquina e a folha de pessoal. Na maioria das vezes praticamente não há sobra orçamentária para investimento e não por outro motivo a Lei de Responsabilidade Fiscal vem sendo sistematicamente desrespeitada. E engendra uma custosa publicidade com o objetivo de persuadir a sociedade acerca dos bons propósitos de toda obra e qualquer serviço que estejam sendo feitos.
Assim, toda e qualquer obra surge como decorrência de uma “demanda social” e destina-se ao “desenvolvimento sustentado”. Obras através das quais circula o capital financeiro das elites para perpetuar a expropriação da força de trabalho da classe média, que é quem paga, na verdade, os tributos nossos de cada dia. Flatus vocis, diriam os romanos... E as políticas públicas, tais como a luta pela erradicação do analfabetismo, queda nos índices de mortalidade infantil, melhoria na qualidade do ensino e na segurança pública, que não dão retorno financeiro – embora dêem retorno eleitoral (e como dão) – são deixadas de lado e nosso Brasil, este imenso Brasil que sobrevive às vezes milagrosamente apesar do Estado, continua um dos líderes mundiais da exclusão social.
Quem duvida dessa opção por obra basta examinar com olho crítico o serviço público de sua cidade: como está a educação pública? A saúde pública? A segurança pública? Falta dinheiro para tudo isso, mas não falta para calçamentos, ruas, praças, construção de escolas, postos de saúde, asfalto, reformas em prédios públicos, delegacias, e por aí vai. Falta dinheiro para contratar médicos, professores, policiais. Falta dinheiro para remédios, pagar bem aos professores, armas e munições e computadores. Falta dinheiro para pagar ao servidor público uma remuneração que lhe permita sobreviver com dignidade.
Querem ver como é mesmo que as elites gastam nosso dinheiro? Observem bem um aeroporto e comparem com qualquer rodoviária. Os aeroportos são limpos, agradáveis, funcionais, climatizados. Enquanto isso as rodoviárias...
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