Disse Francis Bacon [1561-1626] que Deus Todo-Poderoso foi quem primeiro plantou um jardim a que chamou de Paraíso e o destinou para residência de Adão e Eva. Assim, como as praças, o jardim faz parte da vida humana. E, desde que o mundo é mundo, servem ao embelezamento dos lugares e para o recreio e o repouso do espírito do homem. Estão para as cidades como os oásis para o deserto, ponto de convergência humana e refrigério das agruras da vida. É uma dádiva do divino ao humano.
Quem viaja para instruir-se com os costumes alheios, percebe a importância que praças e jardins têm para os povos civilizados. Em Franca e na Inglaterra, onde podemos apreciar talvez os mais belos jardins da Europa, são praças fortificadas das quais os moradores do seu entorno, em muitos casos, chegam a ter uma chave que lhes dá acesso exclusivo ao seu usufruto. Noutros países, igualmente civilizados, são espaços abertos a todos, como em Roma, cujo nome invertido significa amor.
Ora, sem jardins e praças os palácios e demais edifícios seriam construções grosseiras e inumanas, enfatizou ainda Bacon que felizmente morreu antes do surgimento de Mossoró e, portanto, não teve o desprazer de saber que neste momento alguns dos empresários e políticos estão conspirando contra a existência da Praça Bento Praxedes. Querem-na transformar – avaliem o absurdo e a pobreza intelectual desses senhores – em estacionamento! Sim, em estacionamento de automóveis e motocicletas. Não em uma escola, por exemplo, o que já seria uma idéia absurda, mas em um vulgar estacionamento para meios mecânicos.
Embora atualmente reduzida a um lastimável estado de penúria que depõe contra a administração pública, a referida praça faz parte da história dessa cidade em diversos períodos, da Monarquia à República, lugar de celebrações cívicas e de reuniões populares, coisas naturais e imprescindíveis àqueles que vivem em sociedade e valorizam a comunicação que o convívio proporciona.
A destruição da Praça Bento Praxedes ou Do Codó, como é mais conhecida em Mossoró, constitui um crime de lesa-cidadania. Um lastimável mau exemplo. A cidade, que carece de espaços comunitários. Desmente a própria tradição de que se jacta o seu marketing político de cidade cultural, sempre na vanguarda de embates em prol da dignidade de seus habitantes, capitula diante da dificuldade de resolver um grande problema que afeta a todos — a falta de estacionamento, criando um outro igualmente grave, a falta de espaço para a convivência humana, que não pode faltar numa cidade tão arrogantemente orgulhosa de si e com a pretensão de tornar-se a “capital de cultura” do Rio Grande do Norte.
É um tremendo retrocesso e um acinte aos modernos paradigmas urbanísticos que se empenham na humanização das cidades, através a criação de espaços de uso coletivo, como praças e parques. Aqui, porém, despreza-se o humano em favor dos gananciosos e dos egoístas que pensam somente em seus próprios interesses.
Praza aos céus que tudo isso não passe de fuxico da oposição ou do desapreço dos que não amam Mossoró e desejam diminuí-la, destruindo-lhe um dos seus espaços públicos mais importantes — embora, sob a administração da prefeita Fafá Rosado, esteja completamente abandonada essa praça que é uma grife da cidade. Ora, caso venha isso a acontecer, a segunda mais importante cidade do estado estará andando de marcha-ré, como os caranguejos.
Queira Deus que em sua inocência reconhecida até por seus adversários, a prefeita Fafá Rosado diga não a essa sandice de empresários desprovidos de senso de cidadania, de civilidade e de respeito a Mossoró, defensores indefensáveis da destruição da Praça Bento Praxedes — um patrimônio do povo mossoroense. Alienar a praça do povo seria mais que andar para trás; é pura sandice. Tal proposta não pode merecer outro qualificativo. Sandice, sandice, sandice. A Promotoria de Defesa do Patrimônio precisa entrar em cena para defender a Praça Bento Praxedes. Para defender o patrimônio cultural da cidade e preservar a cidadania. Urgentemente, Doutor Eduardo Medeiros. Urgentemente.
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