Por Franklin Jorge
24 de outubro de 2009
Desde os anos setenta, escrevendo sobre cultura nas páginas do jornal Tribuna do Norte, eu chamava a atenção dos leitores para a falência do modelo de gestão cultural adotado pela Fundação José Augusto, uma instituição que existia, e continuou existindo ainda por muitos anos, apenas como um mero cabide de empregos e um escoadouro de mediocridades nomeadas segundo critérios políticos, sem levar em conta a vocação cosmopolita de Natal.
Além disso, insistia-se num privilegiamento da cultura rural em detrimento da cultura urbana, segundo uma equivocada ótica gestora que afagava um pseudo e infantil esquerdismo putrefato, como manifestação do neocoronelismo, que nos impunha, de goela abaixo, uma cultura de “pé no chão”, copiada, sem reflexão, de uma herança já obsoleta naquela época, deixada pelo caudilho Djalma Maranhão, um ex-pugilista inculto e organizador de manifestações folclóricas que bem serviram ao seu projeto populista de dominação. Pura demagogia que acabou dando no que deu…
Nos últimos anos, porém, a Fundação caiu no fundo do poço e aí jaz, sem fôlego e sem credito, sobretudo depois do escândalo que ficou conhecido pelo manuseio de verbas públicas desviadas para outros fins, ou seja, para pagar compromissos da campanha eleitoral que levou a ex-prefeita da capital à cadeira de governadora do estado. Uma história cabeluda por demais conhecida de todos.
Hoje, completamente falida, é alvo do repúdio dos artistas e não desperta o interesse daqueles que seriam os supostos beneficiários de uma política cultural séria, coisa aliás que nunca tivemos. Em 30 anos de acompanhamento da sua história suburbana e mesquinha, não me lembro de nada parecido com politica cultural, implementada por qualquer um dos que se sentaram na cadeira de presidente da Fundação José Augusto.
Sempre prosperaram ali os caprichos pessoais, as decisões unilaterais ditadas por gestores improvisados e arrogantes que nunca se deram ao trabalho de ouvir o bom senso e, por isso mesmo, jamais gozaram de crédito da parte dos cidadãos e dos próprios produtores culturais. Nunca se viu nenhum artista sério participando das iniciativas da Fundação José Augusto, que desceu a um baixissimo nivel e se tornou uma espécie de colegiado de arrivistas, constituido por uma gente inculta e periferica sem nenhuma experiencia em matéria de politica cultural. Um verdadeiro equivoco que tem custado muito caro ao contribuinte.
No momento, o pessoal que faz teatro declarou guerra ao atual presidente da instituição, o petista Crispiniano Neto, e promete ocupar suas dependências na próxima segunda-feira, num ato de protesto que tem como objetivo pressionar seus dirigentes e chamar a atenção de todos para o fato de que estão sendo lesados pelo governo da professora Wilma de Faria; um governo que, por falta de seriedade e competencia, está se desmanchando em todas as direções, provando de maneira inexorável que a sua capacidade de gestora era somente um produto de marketing, nada mais.
Abaixo, o manifesto que está sendo distribuído, convocando os grupos para uma ação que põem a Fundação José Augusto e o Governo do Estado numa incomoda e indefensável evidencia:
Manifesto da Tropa Trupe Cia. De Arte contra a FJA
Diante do abusivo atraso nos pagamentos (sete meses, em alguns casos) dos grupos e artistas que foram selecionados legalmente em editais públicos pela Fundação José Augusto (FJA), no período de 2008 e 2009; da indefinição de datas certas para realização desses depósitos; e do encerramento da planilha orçamentária de 2009 no final deste mês, adiando todos os pagamentos para 2010, convocamos todos os grupos e artistas para participarem do Ato de Ocupação da Fundação José Augusto, nesta segunda-feira (dia 26/10) a partir das 7h30 da manhã.
1- Prêmio “Emanuel Bezerra” de Cultura para a Juventude - 6 grupos;
2- Prêmio “Núbia Lafayete” de Música - 46 grupos e artistas;
3- Prêmio “Lula Medeiros” de Teatro de Rua - 15 grupos;
4- Festival Agosto de Teatro - 20 grupos.
Já temos confirmado a participação no Ato de Ocupação representantes destes editais listados, no entanto a sua participação será fundamental para fortalecer a classe artística, na exigência de nossos direitos enquanto profissionais e cidadãos. Convidamos também a mídia (televisão e jornal) para está presente e cobrar do Sr. presidente da Fundação, Crispiniano Neto, um posicionamento firme referente à concretização dos prêmios.
Diante dessa situação, fica a questão: do que adianta a política de edital para democratizar o acesso aos recursos públicos, se os selecionados não dispõem do benefício conquistado? Vamos esperar mais quanto tempo?
Se seu grupo e você também foram um dos contemplados em algum destes editais, ou mesmo se sensibilizaram com a causa, confirme através do email contato@tropatrupe.com.br a participação no Ato de Ocupação nesta segunda-feira (26/10), a partir 7h30 da manhã, na FJA, e divulguem para outros conhecidos que estejam passando por situação semelhante. Lembremos de nosso papel enquanto questionadores das atitudes paralisantes de nossa sociedade.
AJAMOS ENTÃO!
Tropa Trupe Companhia de Arte
Um comentário:
Fundação falida? Essa sinceramente não é uma afirmação condizente com a realidade fática. A fundação José Augusto, é a entidade mais comprometida com a cultura do nosso estado. Certo que trata ela mais com a cultura popular, ou nos termos do texto, uma cultura rural, até por ser esta a mais necessitada de ser fomentada, posto ser direcionada aos pobres em sua grande maioria. Convenhamos que a classe média, bem como a classe alta do nosso estado, pode perfeitamente buscar a cultura, independente de entidades da Adm. indireta. Se, data venia, a fundação encontra-se atualmente "falida", qual seria a lógica de alguns artistas ocuparem as suas dependências?? Ninguém chuta leão morto, não é verdade? Na minha opinião, pessoas que querem fazer algazarra política, e se utilizam de suas condições de artistas para isso, mancham a reútação daqueles que verdadeiramente amam e dão tudo pela arte. Ao falarem em uma entidade, que como qualquer uma tem sim suas falhas, observem primeiramente que lá existem pessoas compromissadas com a cultura e com seus empregos, pessoas que dão o seu suor diariamente, que levam trabalho para onde estejam, para conseguir alcançar os fins da FJA. Não façamos na Blogosfera uma janela para a disseminação de picuinhas políticas.
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