Imagem: Honório de Medeiros
* Honório de Medeiros
honoriodemedeiros@gmail.com
@honoriodemedeiros
Cedo da manhã, umas cinco e pouco, afastei a cortina e sondei o céu. Neblina miúda. Lá para cima do mapa, chamam garoa. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. Fiz um café forte, tomei uma talagada boa, troquei de roupa e tomei rumo, sorvendo aquela névoa que molhava tudo. A passarinhada voava rasante, cantando forte, lambendo o espelho d'água da Lagoa dos Flamboyants, chamando a atenção dos biguás que implicavam com as garças. Bicho do canto sinistro! Caminhei até a embocadura onde fica a pedra da mesa e, mais longe, uma soberba aroeira. Olhei para um lado, olhei para o outro, rezei um Padre Nosso, e resolvi subir mais um pouco. Podia ter lama, escorregão, cobra, aranha... Queria subir umas pedras majestosas no fundo do terreno, na aba da trilha para a Serra. Cheguei. Barulho de asas sustentando vôo. Uma coruja, linda, pousou mais além e ficou olhando desconfiada. Descobri sua toca, entre as pedras. Cumprimentei-a, respeitoso, e peguei a volta. "Ninguém se perde no caminho da volta", disse Zé Américo. Será?
Cerro Corá, 4 de abril de 2024.