* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
O conhecimento pode ser imaginado
como uma árvore cujo tronco repouse no chão ancestral onde o homem
pré-histórico caçava, coletava e, graças à sua primitiva linguagem, bem como à
incipiente capacidade cooperativa, se tornou uma espécie apta a sobreviver.
Não é uma imagem precisa,
tampouco absolutamente correta, mas cumpre seu propósito para ser assimilada.
Os problemas com os quais nossos
antepassados se depararam e as soluções engendradas para ultrapassá-los
formaram galhos, ramos, folhas, em ritmo cada vez maior e mais denso, em uma
escala inimaginável. Cada folha, como é possível perceber, avança rumo ao
infinito desconhecido por um rumo que sugere uma proporcionalidade inversa:
quanto mais específico o conhecimento por ela simbolizada, mais ampla e
profunda a vastidão a lhe servir de contraponto.
Se focarmos essa imagem em busca
de nitidez, podemos acompanhar o desenvolvimento da Matemática, como exemplo,
desde os primitivos números naturais até o cálculo, hoje, de tensores hiper
espaciais, essas projeções hipotético/geométricas interdimensionais.
Podemos acompanhar, também, a
evolução da linguagem até a Babel dos tempos modernos, constituída de signos
bem diferenciados – desde os sinais utilizados pelos surdos-mudos, passando
pelo informatiquês e o idioma dos guetos, presídios, e subúrbios, até a lógica
do sub-universo computacional.
Aliás, o mundo da informática é
muito exemplificativo dessa teoria da árvore do conhecimento. No início, meados
do século XX, um computador ocupava salas; hoje, os “chips” guardam quantidades
colossais de informações.
A imagem da árvore do
conhecimento é possível graças à Teoria da Evolução de Darwin. É, digamos, um
corolário. Podemos perceber que o Conhecimento se diferencia e especializa na
medida em que avança. Sabemos, hoje, quase tudo acerca de quase nada em cada
“nicho” do conhecimento, embora tudo quanto descartado por não ter sobrevivido
ao choque entre ideias conflitantes forme uma contrapartida em negativo da
realidade.
Contrapartida que agrega: aquilo
que descartamos não precisa ser outra vez cogitado.
Assim essa árvore é finita e
limitada (conceitos distintos) no espaço e tempo conhecidos, mas infinita e ilimitada
quanto as suas possibilidades de crescimento. O futuro, para onde ela avança, é
construção do passado, e como cada estrada amplia a quantidade de lugares onde
se há de chegar, cada problema resolvido no processo civilizatório implica na
ampliação de universos de saber.
Ou seja, o tempo, cada vez mais,
dá razão a Darwin.
Funciona assim em termos macro,
mas também em termos pessoais. Cada avanço nosso implica em ampliar o universo
daquilo que não conhecemos. É um paradoxo: quanto mais sabemos, mais há a
saber.
É, por fim, o voo do solitário
para o infinito: “É como se cada um de nós, estando dentro de um ambiente
fechado, uma clausura, criasse uma saída e a utilizasse. Lá, do outro lado da
saída, lhe espera um outro ambiente, também fechado, só que maior, bem maior.
Sua tarefa, assim, é sempre criar outra saída, sair, entrar em outro ambiente
ainda maior, criar outra saída, sempre, em uma escala exponencial...”
Em termos pedagógicos, diria Gaston Bachelard: "todo conhecimento é sempre a reforma de uma ilusão."
Nenhum comentário:
Postar um comentário