* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
5. Excêntricos e Divergentes
“Cada pessoa devia andar
por aí rezando pela própria Bíblia, ou seja, fazendo suas próprias leis e
fazendo uso de seu livre arbítrio. Mas não é o que tem acontecido” (Mário
Bortolotto, www.digestivocultural.com)
Leonard Mlodinow é doutor em física pela Universidade da
Califórnia, Berkeley. Foi professor no Instituto de Tecnologia da California e
pesquisador no Instituto Max Planck em Munique. Alguns dos seus livros
anteriores são O Grande Projeto e Uma Nova História do Tempo, com
Stephen Hanwking, Ciência x Espiritualidade, com Deepak Chopra, e
sozinho, O Andar do Bêbado, A Janela de Euclides, O Arco-Íris
de Feynmann, e Subliminar. Um currículo impressionante.
Mas é de Elastic (Flexible Thinking in a Time of
Change), que aqui vamos tratar. Especificamente, daquilo que ele denomina
de “pensamento flexível”.
Em síntese, em seu livro, Mlodinow nos diz que “mesmo entre
animais mais complexos, boa parte do comportamento do organismo é
‘roteirizada’, ou seja, pré-programada ou automática e iniciada por algum
gatilho no ambiente”[1],
Ele defende que em certas situações, quando modos
roteirizados não são os mais apropriados para o indivíduo, a evolução
providenciou outros dois meios pelos quais podemos enveredar: o pensamento
racional, lógico, analítico, e o pensamento flexível.
O pensamento analítico seria a forma de reflexão mais
valorizada na Sociedade, apropriado peara analisar as questões mais diretas da
vida, o tipo de pensamento no qual nos concentramos nas escolas, mas que ocorre
de forma linear, e costuma falhar ao enfrentar os desafios inerentes à mudança.
É diante de desafios impostos pela mudança que o pensamento
flexível sobressai.
Desprovido
de direção de cima para baixo do pensamento analítico, e mais motivado pela
emoção, o pensamento flexível se presta sob medida para integrar diversas
informações, resolver enigmas e encontrar novas abordagens para problemas
desafiadores[2].
Dito isso, vamos para um Capítulo muito ousado do seu livro,
intitulado “O bom, o louco e o esquisito”.
Logo no início Mlodinow conta alguns detalhes “anedóticos”
da personalidade de vários “excêntricos” famosos: William Blake, Howard Hughes,
Buckminster Fuller, David Bowie, Nikola Tesla.[3] Hughes, por exemplo,
“tinha o hábito de se sentar nu por horas em seu quarto ‘isento de germes’ no
Beverly Hills Hotel – numa cadeira de couro branca, com um guardanapo cor de
rosa envolvendo os genitais”. Depois se indaga: “Serão apenas anedotas
divertidas ou existe uma relação significativa entre tendência a comportamentos
excêntricos e capacidade de pensamento flexível?”[4]
Temos, assim, o “estranho” que vai suscitar a busca do
“padrão”.
Em seguida ele aborda o histórico da pesquisa científica em
busca da descoberta de um padrão em relação a essa conduta estranha detectada.
E nos informa que tudo começou com um geneticista comportamental, Leonard
Heston, nos anos 60, e seu estudo de crianças oferecidas para adoção por mães
esquizofrênicas, bem como sua descoberta de que “havia uma pequena dose de
esquizofrenia herdada que dotava essas crianças de uma tendência tanto para o
pensamento flexível quanto para um comportamento não conformista”.[5]
Ao longo dos anos muitas pesquisas foram feitas na tentativa
de corroborar essa hipótese. Mlodinow nos diz, em seu livro, que os cientistas
estavam no caminho certo. Questionários aplicados em crianças filhas de mães
esquizofrênicas tendiam a mostrar serem elas tão excêntricas quanto bem-dotadas
de pensamento flexível, sobretudo de natureza divergente.[6]
Entretanto, é bom ressalvar: existe um espectro que explica
até onde essa tendência é salutar. Na base da escala, temos aqueles que têm
inibição cognitiva, com pensamentos e ações convencionais; no topo, temos os
que podem ter dificuldade em se manter coerentes; no meio, entre as duas
extremidades, ficam os que têm uma tendência ao pensamento original e ao
desenvolvimento de um comportamento não conformista.
Por fim Mlodinow adverte que os psicólogos acreditam que uma
das diferenças-chave entre pessoas com personalidades no meio da escala e
aquelas que realmente sofrem de esquizofrenia, está na capacidade de se
concentrar, e de forma mais geral, de aplicar um tipo de inteligência analítica
e ordeira.
E, de forma muito interessante, surge uma conexão entre o
pensamento de Carlyle e o de Mlodinow. Com efeito, se nos perguntássemos de que
“massa” seriam feitos os heróis “condutores de homens, estes grandes homens, os
modeladores, padrões e, em sentido amplo, criadores de tudo o que a massa geral
dos homens imaginou fazer ou atingir”, não é tentador acreditar que Mlodinow
esteja certo quando propõe que foram eles excêntricos, bem-dotadas de
pensamento flexível, sobretudo de natureza divergente?
Homens ou mulheres que ousaram dizer “não”?
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