* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Ariano, entrevistado pelo Cadernos, em certo momento lembra: "não sou um escritor de muitos leitores; costumo dizer que sou um autor de poucos livros e poucos leitores -, (...) Mesmo que eu não publique, tem um círculo de leitores que sempre lê o que escrevo."
Retruca o Cadernos: "Este é um circuito antimoderno, o circuito da comunidade interessada."
Qual uma confraria de amigos, na Idade Média, digo eu, onde foi iniciada essa tradição.
Assim é, assim será o caráter dos tempos atuais e futuros, no qual a imagem evanescente e superficial é tudo e as palavras, mesmo quando amalgamando belos e profundos textos, manjar para poucos.
A palavra é arte, arte fugidia, de domínio difícil e angustiante.
Relendo O Crime do Padre Amaro do imenso Eça, lá encontro essa ideia pela voz do seco Padre Notário:
- Escutem, criaturas de Deus! Eu não quero dizer que a confissão seja
uma brincadeira! Irra! Eu não sou um pedreiro-livre! O que eu quero dizer é que
é um meio de persuasão, de saber o que será que passa, de dirigir o rebanho
para aqui ou para ali... E quando é para o serviço de Deus, é uma arma. Aí está
o que é - a absolvição é uma arma."
A palavra é uma arma.
Recordo-me que dizia para meus alunos de Filosofia do Direito ser a confissão um inteligente serviço secreto, à serviço da aristocracia, para a manutenção dos interesses da elite dominante nos tempos medievais.
A palavra: arte ou instrumento. Às vezes ambos ao mesmo tempo.
Não somente a palavra escrita, mas também a falada, mesmo aquela que suscita nossos delírios: arma com a qual nos ferimos.
Natal, em 7 de março de 2015.
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