Imagem: Honório de Medeiros
* Honório de Medeiros (honoriodemedeiros@gmail.com)
Certo amigo meu, até recentemente ateu, me contou acerca de sua conversão.
Disse-me ele que na meia-idade do conhecimento, na qual chegou por caminhos tortuosos, após perambulações de toda a ordem no universo dos livros, deu-se conta que era o momento de fazer um balanço em regra de sua vida passada e fazer um planejamento, mesmo que capenga, para o resto dos seus dias.
Um assunto, em especial, assim pensava ele, clamava por atenção: sua relação com a Fé.
Após esse primeiro ponto firmado, pôs-se a examinar o tema por um viés, digamos assim, oblíquo: entendeu que o importante era pensar acerca do mundo tal qual o estava encontrando, naquele momento. Colocou as mãos à obra.
Em sua procura, olhando para os lados, para trás e em frente, por todos os ângulos, de todas as formas, somente encontrou o horror, a escuridão mais negra, uma história de sangue e dor, excetuando-se um ou outro ponto de luz a sobreviver sabe-se lá como, nem por quê.
Explicou-me fazendo um paralelo: imagine, disse ele, o milagre da sobrevivência da Igreja no auge da Alta Idade Média, após a queda de Roma, quando iniciou o período que os historiadores antigos chamavam de "Idade das Trevas".
O mundo se transformara, então, em um caos. Mas a Igreja sobreviveu graças aos monges irlandeses, que no silêncio e na solidão de seus monastérios, copistas que eram, crentes integrais, legaram ao futuro a doutrina de Cristo.
É como se hoje em dia vivêssemos um período semelhante. Horror e escuridão, novamente, ou sempre, e o mal lutando com unhas-e-dentes para dominar, para ser hegemônico. Guerras, genocídios, estupros, roubos, torturas, infanticídios... A lista é infindável.
Se há o mal, disse-me ele, à guisa de conclusão, então há o Bem. Se há o Bem, então há Deus.
E, assim, por intermédio dessa estranha conclusão, de forma alguma absurda, ele chegou à Fé.
Deus o tenha.
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